![]() Lugar da Verdade - Enrico De Paoli
Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias. Postado por Enrico de Paoli em 01/06/2010 às 00:00
Eles estavam em toda a parte. Nos amplificadores de potência, em gravadores cassete e, até, nos populares "três em um". São os famosos ponteirinhos, formalmente chamados de VU (voltage unit). Eles existiam, justamente, por conseguirem mostrar a variação do volume do áudio na mesma velocidade que nossos ouvidos percebiam o som. Os VUs, então, com seus 0db calibrados para um determinado valor, permitiam que lêssemos o volume da música na qual estávamos trabalhando.
Mas que importância isso tem? Hoje em dia, trabalhamos com áudio digital. A preocupação dos fabricantes dos sistemas é para que os usuários não clipem o sinal. Já sabemos que em áudio digital não existe depois do 0db. Logo, se algo tentar ultrapassar o teto máximo, a ponta da onda é automaticamente clipada, ou cortada fora, causando um aquadradamento que, como sabemos, também gera um som terrível. E os VUs? Pois é. como os sistemas digitais só utilizam os Peak Meters, estes medem apenas os picos do áudio e da música, e não o nível médio de volumes, conforme nossos ouvidos escutam. Após a mixagem, você já se perguntou o porquê de cada música estar com um volume diferente? Simples! Todos nós queremos, ou deveríamos querer, gravar o áudio o mais quente (alto) possível. Então, fazemos de tudo para os nossos meters registrem quase no máximo, mas sem chegar ao vermelho. Se temos uma música com picos extremamente rápidos, imperceptíveis à velocidade dos nossos ouvidos, mantemos o áudio baixo o suficiente para que esses picos não alcancem o vermelho. Em uma música sem esses picos, conseguimos fazer com seu volume seja mais alto, sem que pico nenhum chegue perto do 0db (vermelho digital). Porém, quando mixamos uma música, não estamos sempre a comparando com as outras do disco já mixadas. No final do projeto, ao ouvirmos todas as faixas, nos deparamos com a triste surpresa de que cada mix soa com um volume diferente. Inevitavelmente, tendemos a gostar mais das que soam mais alto, e menos das mais baixas. Saudades das velhas agulhinhas, ou ponteirinhos? Para isso eles serviam... Se você se habituar a mixar sempre medindo o volume da sua música pelos VUs, terá muito mais noção do nível médio de cada mix. Mas onde encontrar VUs hoje em dia? Dentro dos próprios softwares. Existem VUs em plug-ins da Waves, Bomb Factory, PSP, entre outros. VUs: antigos sim, antiquados nunca. Enrico De Paoli é engenheiro de gravação, mixagem e masterização de música. Créditos incluem de Ray Charles a Djavan. Em breve, mais um grande disco sendo terminado! cartas@enricodepaoli.com. Postado por Enrico de Paoli em 01/05/2010 às 00:00
A tecnologia de hoje nos permite, com facilidade, pegar mixes emprestadas. Como tudo na vida, isso pode ser bom, ou ruim. O Pro Tools, por exemplo, tem uma função que se chama Import Session Data, nos permitindo coisas muito bacanas, antes impossíveis. Para se ter uma ideia, vamos supor que esteja mixando um disco todo gravado com a mesma banda, ou seja, esmos instrumentos, mesma microfonação, etc. Então, assim que acaba de mixar a primeira música, exaustivamente, ouve no carro, ou no iPod, e chega à conclusão de que você é realmente um gênio. A mix está sensacional.
Ao começar a mixagem da segunda música, é possível importar os bons equilíbrios obtidos no mixer para a nova faixa, além de todos os plug-ins e parâmetros. Sendo assim, podemos, basicamente, mixar uma música só? Não, de forma alguma. Nem pensar! Insisto em dizer que mixagens são regências de arranjos e performances, e não tabelas de tabuadas com resultados perfeitos e únicos. Pegar mixes emprestadas, ou importar data de outras sessões, pode ser muito útil. Mas está longe de significar que a sua nova mix está pronta. E não é só isso. É comum, por exemplo, uma voz estar sensacionalmente encaixada em uma determinada música. Entretanto, quando se importam todos os settings dessa voz, incluindo volume, reverbs, eqs, compressão, entre outros, o resultado pode não ser o mesmo. Quando ouve a voz da mix atual, com os settings importados, soa péssimo. Completamente diferente do esperado! Você até acha que aconteceu algo errado na importação... Importar data de outra mixagem, incluindo todos os seus canais de efeitos, reverbs e delays, é muito útil como ponto de partida. Além disso, é possível importar também o que costuma usar no master (se esse é o seu método de trabalho) e as correções que faria em todas as mixes do disco devido a alguma falha na hora da gravação. Mas, ainda assim, a partir daí, você tem uma regência a fazer. São canais interagindo de forma diferente uns com os outros. Claro, se é um disco bem conservador, com um trio e uma cantora do início ao fim, importar data pode ser muito mais do que meio caminho andado. Contudo, basta lembrar que se em uma música o baixista passeia mais pelos registros altos do instrumento e, em outra, ele toca lá embaixo, usando a quinta corda, com certeza o equilíbrio dos graves da mix será tratado de forma diferente. A tecnologia é sensacional, mas ela ainda é feita para ser ouvida. Aprecie sem moderação. Use com bom gosto e os ouvidos. Postado por Enrico de Paoli em 01/04/2010 às 00:00
Então. Quantas vezes você terminou uma mix no seu estúdio e quando a ouviu nos pequenos falantes do seu laptop a voz estava alta, seca demais, o baixo sumiu, a caixa estalava de uma forma completamente não musical, bem como vários outros elementos soavam soltos e para fora da mix? Sim, ainda que tenha acontecido apenas uma das questões citadas, já é o suficiente para a mix ser ruim. O caso é grave, aliás. literalmente.
Se você mixa em caixas grandes, ou, até mesmo, nas pequenas, mas que reproduzem bastante as baixas frequências (normalmente, encostadas nas quinas das paredes), o problema pode estar justamente aí. As regiões graves da música são sedutoras, envolventes, macias. Têm o poder de ajudar a deixar tudo no lugar. Lembre-se de que, como já citei aqui várias vezes, nossos ouvidos funcionam de forma totalmente comparativa. Inconscientemente, nosso cérebro está o tempo todo comparando todos os elementos, e momentos, de uma mix. Quando algo soa alto, é porque estamos ouvindo coisas mais baixas o tempo inteiro. Quando algo soa agudo demais, é porque estamos ouvindo timbres menos brilhantes o tempo todo. Os graves, além de nos iludirem nesse aspecto, nos "forram a audição" musicalmente. Como assim? E o que acontece? Simples! Vamos supor que estamos montando uma mix na qual temos uma bateria com bumbo, contratempo e aro. Temos também contrabaixo, Rhodes e voz. Fazemos essa mix soar "redonda" em uma monitoração riquíssima em graves e subs. Normalmente, nesse caso, o volume da monitoração não é tão baixo. Lembra de quando falei que os graves seduzem? Pois é, tendemos a ouvir mais alto com eles também. O timbre do contabaixo e do bumbo são ricos nos subs, nos empurrando o peito a cada tempo do compasso. E, finalmente, transferimos essa mix para o laptop e de lá enviamos para os outros membros da banda, ou para o cliente. Quando ouvimos nos falantinhos do notebook, quase entramos em depressão absoluta. De repente o baixo sumiu. O bumbo é ouvido totalmente fora do plano conhecido, sem grave algum e com um "kick" sobrando nada musicalmente no arranjo. O aro estala alto e seco, e a voz fica alta em alguns momentos e afundada em outros. Perdido nisso tudo, tem um Rhodes tentando ser o elemento que amarra uma mix mal ajambrada, sem muito sucesso. Por que aconteceu essa tragédia ? Simples novamente: a mix não foi calcada em seus elementos fundamentais, e sim no envolvimento causado por um edredom de graves em torno do engenheiro de mixagem. Sua monitoração pode estar grave demais, ou, mesmo que esteja alinhada, seus ouvidos não estão alinhados com a monitoração. Que tal, como sempre, ouvir outras coisas nessa monitoração? Ainda assim, o foco desse tema de hoje diz respeito ao fato de a mix ter que soar decente quando ouvida em sistemas que não reproduzem os graves. Da mesma forma que mixar em caixas sem graves faz com que você tenha uma mix totalmente inesperada na região que você não ouve, é igualmente importante verificar se ela soará coerente em sistemas que não reproduzem as oitavas lá embaixo. Lembra das NS10? Quantas vezes você não perguntou como alguém conseguia mixar "naquilo"? Voilà. está aí a resposta. Postado por Enrico de Paoli em 02/03/2010 às 00:00
Qualquer que seja o software de áudio escolhido, ele já vem com, ao menos, as ferramentas básicas. Aliás, até mais do que básicas. Dá para fazer bastante coisa ali. Então, para que existem tantos plug-ins à venda no mercado? O primeiro motivo é quase óbvio. Vivemos na era do marketing, nos fazendo acreditar que precisamos demais do que está à venda. Se não tivermos, não somos "bons o suficiente", não somos capazes. Então, logo acreditamos que "os plug-ins que vêm junto" não prestam. Então, vamos deixar claro o seguinte: NÃO existe essa regra. Existem produtos inclusos ÓTIMOS, assim como existem plug-ins à venda não tão bons. Mas tem mais.
Nem sempre um plug-in, por mais caro e nobre que seja, serve para todas as situações. Mas, antes disso, para que mesmo tantos plug-ins? Bem, de fato não é somente o marketing. Vamos lembrar que vários desses softwares foram feitos em cima de designs reais, emulando equipamentos de verdade. Esses equipamentos de verdade naturalmente geravam características diferentes nos timbres. Mas... como assim? Uma válvula gera um tipo de distorção harmônica. Um transistor tem características diferentes. Designs com as mais variadas disposições têm comportamentos mais diferentes possíveis em timbres, em regiões de frequências, em faixas de ganhos, em tempo de resposta, etc., etc., etc. Se somarmos essas infinitas variações de características que um equipamento ou plug-in tem aos mais variados tipos de tracks com informações musicais variadas, temos uma vasta gama de possibilidades. Pensemos em um compressor. Já escrevi exaustivamente sobre compressores, mas acho que nunca será o suficiente (risos). Um LA2A tem como característica trazer a região mediana da dinâmica para volumes mais altos. Por causa do design, isso acaba realçando frequências em torno de 400 ou 500Hz em muitos casos. Logo, se sua sessão tem um track magro de voz, o uso do LA2A pode engordar harmônicos nessa região e resolver seu problema como nenhum outro plugin. Porém, por mais nobre que seja esse design, se você usá-lo em uma voz já anasalada, os resultados podem não ser tão bonitos. Equalizadores. Para que tantos? Experimente fazer um teste. Abra dois EQs diferentes em um mesmo track. Coloque 5dB de 100Hz em cada um, e deixe os dois em bypass. Agora, ative um deles e ouça o resultado. Coloque novamente em bypass e imediatamente ative o outro. Provavelmente os resultados serão completamente diferentes. Por quê? Se fossem equipamentos reais, a resposta é simples. Como dito antes, diferentes designs e topologias causam diferentes comportamentos no timbre. Plug-ins são nada mais, nada menos, do que fórmulas complexas de cálculos que alteram o áudio digitalizado. Porém, cada plug-in tem fórmulas completamente diferentes e, com isso, causam resultados distintos nos timbres. Assim como nos equipamentos reais, nem sempre essa alteração no timbre combina com a música. Mas a gente precisa ter todos? Claro que não. Pense nos plug-ins (ou equipamentos) como ferramentas. Existe o básico necessário. Outras são ferramentas peculiares, específicas. Mas, no fim, o que vale é o que você está acostumado a usar. E como sempre, não use nada aleatoriamente. Independente do plug-in ser caro, ou barato, respeite o que você ouve, e tome suas decisões baseadas somente nos seus ouvidos. No final, ninguém vai saber o que você usou, mas vai saber se a música move, ou não. Postado por Enrico de Paoli em 01/02/2010 às 00:00
O nome "gravadoras não existe à toa. Algumas empresas desenvolveram a tecnologia de gravação de áudio e música, e se encontraram com a faca e o queijo nas mãos. Não existia outro jeito de gravar música, senão com eles. O que as gravadoras tinham era extremamente sedutor aos artistas, que passariam a ganhar por discos vendidos e não somente se apresentando ao vivo. As gravadoras tinham seus estúdios, seus produtores, seus engenheiros de áudio, e seus músicos. Eles fabricavam artistas. Parte da fórmula era a glamurização da imagem e a mistificação na personalidade deles. Estava criada a receita Hollywood. O filme Ray, que conta a história da vida de Ray Charles é um ótimo exemplo desse assunto.
O tempo foi passando, e o departamento de marketing foi ganhando força com a grande fabricação de sonhos e de nomes cada vez mais gigantes. O eterno poder de sedução que a tecnologia tem fez aparecer então os estúdios particulares. Estes pertenciam a donos apaixonados por áudio, música e tecnologia, e logo começaram a chamar a atenção de produtores, e das próprias gravadoras. Surgia a terceirização dos estúdios na produção de vários discos. Curiosamente, nem todos os projetos eram mais gravados pelas gravadoras! Com a tecnologia acelerando o desenvolvimento dela própria, as gravadoras começaram a sentir o custo e a energia necessária para manter seus estúdios atualizados. Os departamentos de marketing e os gerenciamentos de catálogos (editoras), passaram a ser mais importantes e necessários dentro de uma gravadora, do que seus próprios estúdios, que lentamente foram sendo fechados. A gravadora se tornava um grande escritório, onde se contratavam artistas, produtores, músicos e também, estúdios. Os discos ainda eram sucesso. Vendiam muito. Lembre-se que não existia forma de duplicá-los em casa. Os ouvintes e compradores de discos já podiam, sim, gravar cassetes em casa... Mas era um processo relativamente lento e a qualidade deixava a desejar. Além de que o cassete tinha algumas inconveniências, como dificuldade para encontrar a música desejada, em cada local sua sonoridade era uma surpresa, e degradação nítida da qualidade do áudio em curto tempo de uso. Portanto, o produto que as gravadoras comercializavam, vendia cada vez mais. Ouvir discos era bacana. Presentear era um luxo. Ganhar de presente, uma delícia. A tecnologia galopava, e surgiam os home studios. Estes demoraram um pouco para ter qualidade de "discos de verdade", mas criavam-se ali apaixonados por gravação e produção, até que o inevitável aconteceu... os estúdios pequenos começaram a roubar trabalhos de estúdios multimilionários. Estes começaram a fechar nos quatro cantos do planeta. Mas isso não afetava as gravadoras. Pelo contrário, elas pagavam cada vez menos para produzir um disco, e gastavam cada vez mais com o marketing pra deixar mais artistas famosos, muito famosos. Eles não percebiam que a tecnologia de gravação não só não mais lhes pertencia, mas também era descentralizada e avançava num ritmo assustador. Muitos acham que o problema surgiu quando o usuário caseiro passou a poder gravar ou duplicar CDs. Eu tenho outra opinião. O CD, que antes era um produto prático, bacana, portátil, tocável em qualquer lugar, passou a ser simplesmente inconveniente. Grande, raramente com mais de uma música boa, com aquelas caixinhas que viviam quebrando e o pior, quando a gente estava no carro, o CD que queríamos estava em casa, e vice-versa. Onde foi que as gravadoras erraram? Onde todo mundo erra quando se depara com uma crise. Afinal, uma crise não é nada mais, nada menos, do que uma mudança nos hábitos. Enquanto a maioria reclama que "as coisas não andam bem e não são mais como antes", o inteligente se beneficia da mudança. As gravadoras preferiram reclamar que os discos não vendiam mais "por causa da pirataria" em vez de aproveitar a tecnologia para criar o novo jeito de se comercializar música. Ninguém mais ouve CDs. Ouvimos arquivos. A TIM vende música. A Apple vende música. E as gravadoras tentam vender discos. E quando finalmente eles descobrirem que deveriam vender downloads, aqueles deixarão de existir. Pois muito em breve não precisaremos mais ter os arquivos conosco, como já é realidade em sites como o YouTube. O futuro próximo está nos provedores de conteúdo virtual e venda de acesso às obras. Eles contratarão artistas, lançarão músicas novas, clipes e farão nomes ficarem famosos. O CD pode estar no fim da vida, mas mercado não vai acabar e muita música vai ser gravada, mixada e masterizada. As gravadoras estão sendo reinventadas. Será que só elas não perceberam? Ou estão preparando uma grande surpresa para nós? Postado por Enrico de Paoli em 11/01/2010 às 00:00
Tanto em e-mails de leitores, como em diversas palestras e workshops, é comum eu ouvir perguntas do tipo "posso usar dois compressores juntos?", "posso usar distorção na guitarra depois dela gravada?", "posso gravar com reverb e delay?", "posso insertar compressão ou EQ no master da mix?". etc.
Vale lembrar que em engenharia de música, existem dois tipos de "podes e não podes". Um deles é o técnico, matemático e físico. O outro é o simplesmente musical. Ambos são bastante fáceis de serem respondidos; vamos lá. Posso fazer o bounce da minha mix em 16 bits? - Resposta: NÃO. Mesmo que sua sessão tenha sido gravada em 16 bits, todo o processamento do software ocorre em resoluções muito superiores a esta. Tanto nos plug-ins quanto no próprio mixer virtual. Então, o ideal é ter o arquivo final da mix em 24 bits, para que o mesmo chegue na masterização com a maior bitagem possível. Posso inserir compressão e equalização no master fader da minha mix? - Resposta: DEPENDE. Esta é uma questão que fica entre as decisões musicais e matemáticas. Você pode, sim, inserir o que desejar no master da mix. Afinal, a mix é sua, e é você que decide como ela deve soar. Se inserir um compressor ou EQ faz sua mix toda ganhar mais vida, vá fundo. Porém, lembre-se que se você comprimir demais o master da sua mix, depois não tem volta. Se você está com os ouvidos cansados ou não tem plena confiança na sua sala, talvez seja inteligente deixar essa decisão final por conta do masterizador. Lembre-se também que a função da master é justamente fazer as músicas ficarem sonicamente coerentes dentro de um disco. Se você apertar tanto a mix, pode não restar muito espaço pra o trabalho. Lembre-se ainda que, se você usar um limiter do tipo L2, não ditherize sua mix pra 16 bits. Veja a pergunta anterior. Posso enviar minhas mixes para masterização em um CD Audio? - Resposta: NÃO. Poder pode, se não houver outra alternativa. Porém, o CD Audio, além de ser um formato de 16 bits, é uma mídia de codificação e playback em tempo real; com isso, erros ocorrem tanto no momento de gravação quanto no de leitura do disco. Os players têm software de correção de erros, logo o arquivo escutado não é mais idêntico ao arquivo gravado. Um CD ou DVD data consegue transportar e manter os arquivos das mixes idênticos aos originais, e é mais indicado para ser a mídia de transporte dos seus arquivos. Um HD, pendrive, ou até mesmo envio online também podem ser usados. Posso usar mais de um compressor em um canal? - Resposta: SIM. Lembre-se também que você pode não usar nenhum compressor. Compressores são ferramentas que modificam a dinâmica do áudio e com isso modelam a música. As vezes pode acontecer de você ter chegado num resultado quase perfeito com um compressor. Mas, se você modificar os ajustes do mesmo pra chegar onde quer, perderá o ponto onde já chegou. Sendo assim, pode ser mais fácil você fazer o que está faltando com outro compressor logo após este primeiro. Posso inserir um plug-in de reverb no canal da voz? - Resposta: NÃO. A natureza do reverb é a reflexão somada ao som direto de uma fonte. Quando falamos, nossa voz chega no ouvinte somada às reflexões do ambiente onde estamos. O reverb não substitui a voz, e sim se soma a ela. Em uma mix, devemos manter o reverb num track auxiliar. Enviamos a voz pra esse track através de um bus ou effect send. Então, esse track auxiliar conterá o som das reflexões da voz seca. Lembre-se de manter o parâmetro Mix do plug-in em 100% Wet, de forma que você não some voz direta neste track também. A voz direta fica só no canal original dela, e a reverberação neste canal auxiliar. Misture a gosto ! Posso mixar de fone? - Resposta: SIM. Não existe uma regra dos monitores que você usa. Nem tampouco que eles sejam totalmente flat. Monitores em estúdio não são chamados de referência à toa. Eles são seu guia. Você precisa gostar e confiar no que ouve. Fones têm a desvantagem de não permitir que você ouça um pouco de reflexões naturais do ambiente. Mas nem sempre sua sala é perfeita no caso de um home studio. E, os fones lhe mostram muita definição por estarem tão próximos aos ouvidos. Lembrese que uma mix não deve apenas soar bem nas caixas ou fones que você usa pra mixar, e sim, deve soar coerente em qualquer sistema que a reproduzir. Posso mixar em volumes altos? - Resposta: NÃO. Claro que isso é uma questão particular, pessoal. Porém, os nossos ouvidos têm uma compressão natural. Quando ouvimos música em volumes altos, os próprios ouvidos comprimem a mix. Logo, você passa a ter dificuldades de perceber se alguns elementos sobram mais altos do que deveriam na mix. Além do fato de que altos volumes cansam os ouvidos em pouco tempo e causam perda da audição. Essas são algumas de infinitas perguntas. Porém, no fim, independente do que você faça, o que importa é chegar a um resultado musicalmente incrível. Quando a música está pronta, ninguém sabe o que fizemos, tanto quando fica bom, ou quando fica ruim. As pessoas gostam ou não. A música emociona, ou não. E é isso o que importa. Postado por Enrico de Paoli em 01/12/2009 às 00:00
Então, começamos uma mix. E o mais importante é o momentum. Não deixar o pião parar de girar. Durante uma sessão de mixagem, parar para pensar em qual reverb ou delay utilizar pode causar um hiato difícil para recuperar o fio da meada depois. Claro... paradinhas para o café, ou descontrair com o seu cliente pessoalmente, ou virtualmente, têm o seu valor. Dar cinco minutinhos de descanso aos ouvidos, também. Mas perder o pique por motivos técnicos não é a melhor das opções. Sendo assim, aqui vai uma sugestão: antes de começar a mix, faça na sua sessão um self-service de reverbs, delays e, talvez, pitch-shifters (chorus / flangers / doublers).
Há algum tempo, essa técnica só era possível se a mixagem estivesse ocorrendo em um estúdio milionário. Não tínhamos equipamentos o suficiente para sair abrindo efeitos na mesa assim. Hoje é mais fácil. Em seu console virtual, dentro do seu computador, crie alguns canais auxiliares. Então, adicione três reverbs, um curtinho a la Room; outro médio, tipo Plate; e um Hall. Crie também alguns canais auxiliares para delays. Novamente, um curtinho, tipo slap; um médio; e também um longo. Neste caso, como não sabemos exatamente o quanto de feedback vamos querer, é possível utilizar o próprio auxiliar do canal do delay endereçado para ele mesmo. Dessa forma, você fabrica o feedback, que ainda pode ter automação durante a mix. Começou a mix. não se preocupe agora em solar cada canal e ouvir independentemente. Lembre-se de que você está regendo músicos e o que cada um está tocando faz sentido se em contexto com os outros. Às vezes, um timbre pode parecer magrinho sozinho, mas complementa otimamente bem o arranjo desta forma. Como sempre, imagine o seu Soundstage, ou Palco Imaginário. Posicione seus músicos nesta área, e comece a se divertir com o self-service! Duas coisas SUPER importantes agora: ninguém disse que um elemento precisa ter um reverb estático no mesmo volume do início ao fim da música. E também, o que faz um som parecer molhado é justamente contrasta-lo ao lado de um outro som seco. Sim, nosso cérebro é muito comparativo. Além disso, não existe uma regra dizendo que se uma máquina (ou plug-in) de reverb ou delay está em uso para um instrumento, ela não possa ser usada em outro. Daí a graça de mixar em um self-service em vez de um a la carte. Bon appetit! Enrico De Paoli é chef de mixes e masters em seu Incrível Mundo Studio. www.EnricoDePaoli.com - emails para cartas@enricodepaoli.com. Postado por Enrico de Paoli em 01/11/2009 às 00:00
Expressão conhecida por músicos do mundo todo, significa o ato de treinar e educar os ouvidos. Em conservatórios de música e escolas, desde cedo o Ear Training (ou ditado em português) é ensinado e praticado. Nas aulas de música, os ouvidos são treinados para o reconhecimento dos intervalos das notas musicais, assim como seus tempos e ritmos. Pouco falada na Engenharia da Música, a educação dos ouvidos costuma ser a última a ser lembrada, ficando atrás dos modernos plug-ins, placas de áudio, pré amps e instrumentos virtuais. Fala-se muito de como fazer música, mas pouco de como escutamos música.
Já comentei em edições passadas sobre o fato de que nossos ouvidos agem como microfones e o cérebro como um super processador do áudio captado por eles. Ou seja, sem o cérebro, os ouvidos seriam como microfones desplugados. Temos, então, duas questões: o ouvido capta áudio de forma acústica (através de sua membrana, micro ossinhos e cartilagens) e converte essa informação em impulsos elétricos que são enviados e processados pela CPU, o cérebro. Como o ouvido não apenas é feito de uma matéria que naturalmente sofre alterações com o meio, mas também de matéria viva e suas variações naturais, as informações chegadas ao cérebro podem variar bastante. Então, o Criador embutiu no nosso processador algumas correções dinâmicas. Por exemplo: se escutamos um som com pouco brilho, logo nos acostumamos. Se o volume está alto, também logo nos acostumamos. Se a voz está alta, logo nos parece normal. Se o PA do show está ruim, lá pelas tantas parece que foi ficando melhorzinho, etc. Então, o que foi feito para ser uma defesa em prol de nossa sobrevivência e conforto, no mundo da produção de música, o fato de nossas referências serem variáveis se torna um obstáculo. Por isso, é importante que às vezes possamos parar para descansar alguns minutos os ouvidos, e até ouvir alguma outra fonte musical para resetar nossa referência, audição e processador. Ok, esse não é exatamente o tópico ainda, mas é importante saber que os ouvidos podem sim variar, e muito rápido. Ear Training no mundo do áudio consiste em acostumar os ouvidos com as frequências, com os pans, com os volumes e as dinâmicas de uma música. Mas não só isso. É também a possibilidade de conhecer e reconhecer o verdadeiro som dos instrumentos e suas variações quando tocados com "pegadas" diferentes. É você ouvir os timbres do dia a dia e apreciá-los musicalmente: o grave e o estéreo super complexo de um avião passando por cima de você, a ressonância de um sino de igreja, o posicionamento do som de várias vozes de uma multidão ao redor da sua cabeça. Se você se pegar analisando esses eventos sônicos e os imaginando em uma mix, entendendo suas características, quando estiver de frente para uma console, virtual ou real, a sua biblioteca de sonoridades estará mais ampla. Educar os ouvidos, musical e tecnicamente, está em perceber que uma master altíssima não tem apenas mais volume, ela soa diferente. O miolo do programa musical passa a ser mais intenso, mais nervoso. Isso pode, ou não, ser desejado. Assim, como escrevi há pouco tempo, o volume de uma master deveria ser consequência, e não meta de uma sessão de masterização. Educar os ouvidos é escolher um microfone pelo o que se ouve. Ou melhor, já conhecer as características de um determinado microfone para, então, saber que o deve escolher quando estiver ao lado de um músico, ouvindo acusticamente sua sonoridade. Além disso, de como esse novo instrumento se encaixará na produção em andamento, contrastando com os tracks já existentes. O treinamento consiste também em ouvir uma mix e saber que nem sempre o que te incomoda deve ser alterado. Às vezes, mexer em algum outro elemento para mudar a percepção do que incomoda pode ser o melhor caminho. Ou seja, é o refrão que entra baixo, ou é a saída do solo terminando muito alta? Mas, na maioria das vezes, o treino dos ouvidos não se dará no estúdio. Você pode estar em um corredor e perceber o eco que sua voz faz nas paredes e, ao entrar no quarto, notar que a cama absorve completamente qualquer reflexão. Eu poderia ir até o fim da edição de janeiro, mas já deu para perceber que a partir do momento no qual entender o que se ouve, vai se divertir muito mais e se sentir seguro aprovando ou reprovando sonoridades, seja de equipamentos ou de mixes, famosos ou não. Enrico De Paoli Grava, Mixa e Masteriza música. E treina quem pretende fazer o mesmo. Créditos vão de Ray Charles a Djavan, passando por milhares de talentosíssimos nomes desconhecidos. cartas@enricodepaoli.com www.EnricoDePaoli.com página 3 de 8
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