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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade - Enrico De Paoli
Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias.
Listando posts com a tag Training.
Postado por Enrico de Paoli em 01/11/2009 às 00:00
Expressão conhecida por músicos do mundo todo, significa o ato de treinar e educar os ouvidos. Em conservatórios de música e escolas, desde cedo o Ear Training (ou ditado em português) é ensinado e praticado. Nas aulas de música, os ouvidos são treinados para o reconhecimento dos intervalos das notas musicais, assim como seus tempos e ritmos. Pouco falada na Engenharia da Música, a educação dos ouvidos costuma ser a última a ser lembrada, ficando atrás dos modernos plug-ins, placas de áudio, pré amps e instrumentos virtuais. Fala-se muito de como fazer música, mas pouco de como escutamos música.

Já comentei em edições passadas sobre o fato de que nossos ouvidos agem como microfones e o cérebro como um super processador do áudio captado por eles. Ou seja, sem o cérebro, os ouvidos seriam como microfones desplugados.

Temos, então, duas questões: o ouvido capta áudio de forma acústica (através de sua membrana, micro ossinhos e cartilagens) e converte essa informação em impulsos elétricos que são enviados e processados pela CPU, o cérebro. Como o ouvido não apenas é feito de uma matéria que naturalmente sofre alterações com o meio, mas também de matéria viva e suas variações naturais, as informações chegadas ao cérebro podem variar bastante. Então, o Criador embutiu no nosso processador algumas correções dinâmicas. Por exemplo: se escutamos um som com pouco brilho, logo nos acostumamos. Se o volume está alto, também logo nos acostumamos. Se a voz está alta, logo nos parece normal. Se o PA do show está ruim, lá pelas tantas parece que foi ficando melhorzinho, etc. Então, o que foi feito para ser uma defesa em prol de nossa sobrevivência e conforto, no mundo da produção de música, o fato de nossas referências serem variáveis se torna um obstáculo. Por isso, é importante que às vezes possamos parar para descansar alguns minutos os ouvidos, e até ouvir alguma outra fonte musical para resetar nossa referência, audição e processador.

Ok, esse não é exatamente o tópico ainda, mas é importante saber que os ouvidos podem sim variar, e muito rápido. Ear Training no mundo do áudio consiste em acostumar os ouvidos com as frequências, com os pans, com os volumes e as dinâmicas de uma música. Mas não só isso. É também a possibilidade de conhecer e reconhecer o verdadeiro som dos instrumentos e suas variações quando tocados com "pegadas" diferentes. É você ouvir os timbres do dia a dia e apreciá-los musicalmente: o grave e o estéreo super complexo de um avião passando por cima de você, a ressonância de um sino de igreja, o posicionamento do som de várias vozes de uma multidão ao redor da sua cabeça. Se você se pegar analisando esses eventos sônicos e os imaginando em uma mix, entendendo suas características, quando estiver de frente para uma console, virtual ou real, a sua biblioteca de sonoridades estará mais ampla.

Educar os ouvidos, musical e tecnicamente, está em perceber que uma master altíssima não tem apenas mais volume, ela soa diferente. O miolo do programa musical passa a ser mais intenso, mais nervoso. Isso pode, ou não, ser desejado. Assim, como escrevi há pouco tempo, o volume de uma master deveria ser consequência, e não meta de uma sessão de masterização.

Educar os ouvidos é escolher um microfone pelo o que se ouve. Ou melhor, já conhecer as características de um determinado microfone para, então, saber que o deve escolher quando estiver ao lado de um músico, ouvindo acusticamente sua sonoridade. Além disso, de como esse novo instrumento se encaixará na produção em andamento, contrastando com os tracks já existentes.

O treinamento consiste também em ouvir uma mix e saber que nem sempre o que te incomoda deve ser alterado. Às vezes, mexer em algum outro elemento para mudar a percepção do que incomoda pode ser o melhor caminho. Ou seja, é o refrão que entra baixo, ou é a saída do solo terminando muito alta?

Mas, na maioria das vezes, o treino dos ouvidos não se dará no estúdio. Você pode estar em um corredor e perceber o eco que sua voz faz nas paredes e, ao entrar no quarto, notar que a cama absorve completamente qualquer reflexão. Eu poderia ir até o fim da edição de janeiro, mas já deu para perceber que a partir do momento no qual entender o que se ouve, vai se divertir muito mais e se sentir seguro aprovando ou reprovando sonoridades, seja de equipamentos ou de mixes, famosos ou não.

Enrico De Paoli Grava, Mixa e Masteriza música. E treina quem pretende fazer o mesmo. Créditos vão de Ray Charles a Djavan, passando por milhares de talentosíssimos nomes desconhecidos.  cartas@enricodepaoli.com   www.EnricoDePaoli.com
Tags: Training
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