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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade - Enrico De Paoli
Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias.
Postado por Enrico de Paoli em 07/02/2011 às 00:00
O que mais me encanta na música é a capacidade que uma canção tem de mudar o seu estado de espírito. Seja de calmo pra animado, de triste pra feliz ou vice-versa. Mas uma das coisas que mais me impressiona no áudio é a maneira como nosso cérebro interpreta o som, como nos conhecidos efeitos Haas e Doppler da psicoacústica.

O efeito Haas, que carrega o nome de seu descobridor Helmut Haas, é o fenômeno que ocorre quando o cérebro interpreta duas fontes sonoras idênticas (com uma precedendo a outra) como se a primeira fosse absolutamente mais alta do que a segunda. Por isso ele também é conhecido como "efeito da precedência".

Quem nunca passou pela seguinte situação: um violão gravado em estéreo, captado com dois microfones afastados. Você abre o pan desses dois canais e tem a nítida sensação de que o lado esquerdo está muito mais alto. Ao olhar para os meters ou VU, eles indicam exatamente o oposto: o lado que soa mais alto tem menos nível na gravação. Como isso é possível ? Simples. O microfone que estava mais próximo da fonte sonora recebe áudio antes do outro. Estes milissegundos fazem acontecer o efeito Haas e o cérebro acha que ele é mais alto do que o áudio que chega depois, mesmo que tenha menos nível. Tendo dito isso. Hora de brincar!

Imagine o seguinte cenário: você está montando sua mixagem de frente para o computador. Volume pra cá, volume pra lá. Baixo elétrico no centro, voz também, guitarra mais pra um lado, piano mais pra outro. Tudo parece bem normal. Aliás, normal demais! Que tal dar uma enchida nessa mix vazia, fazendo esses dois elementos, guitarra e piano, que são mono, soarem maiores na mix? Então vamos lá.

Crie um novo canal de áudio. Copie o audiofile do piano para este novo canal. Agora você tem dois tracks com os mesmos audiofiles. Abra o pan destes dois tracks - um todo para a esquerda e o outro todo pra direita. Insira um short delay no track estéreo ou em um dos mono-tracks e vá atrasando (entre 1 e 30ms) apenas um dos tracks. Pronto. Sentado entre suas caixas de monitoração, você terá a nítida sensação de que o piano está indo para um lado do pan sem que você altere em nada o volume de nenhum dos lados. Se você fizer o mesmo com a guitarra, atrasando o outro lado, você terá os dois elementos abertos, porém com seus sons continuando a sair com o mesmo volume nas duas caixas sem que o cérebro perceba. Isso é um ótimo jeito de encher mais uma mix vazia, transformando um timbre originalmente mono em estéreo. Se a gente entende como as coisas funcionam, elas passam a ser ferramentas, e as regras de uso só dependem da criatividade de cada um!

Boas inspirações para todos.
Tags: pan
Postado por Enrico de Paoli em 03/01/2011 às 00:00
Segundo Murphy, "se há algo para dar errado, dará". E deu. Mês passado estava fazendo a tour norte-americana com Djavan, mixando os shows do novo álbum Ária. Estava em Miami Beach, no Jackie Gleason Theater /Fillmore. Com o PA bem alinhado e a sala soando muito bem, comecei as configurações na Yamaha PM5D. Não, eu não tinha levado um pen drive, pois no Brasil estava usando outra console e nos EUA usei mesas variadas. Então, o procedimento de "montagem" ficou como nos velhos tempos. A mesa precisava ser configurada.

Assim eu fiz. Mesa configurada. Canais com nomes. Alinhamento do PA usando o gráfico da própria mesa. Começa a passagem de som. Sabe aquele dia em que a passagem soa como um CD? Então. o dia estava assim. Hora de salvar a mesa. Peraí. Eu já devia ter salvo! Tá, mas não fazia tanta diferença assim. Eu não carregaria outra cena na mesa, ninguém abriria o show, eu não usaria essa mesa em outro lugar. Mas, ainda assim, claro que é um bom hábito salvar tudo e qualquer coisa que fazemos em um computador. Então, vamos salvar.

Quando eu dava comando de salvar, a mesa informava que não podia salvar naquela cena, e, ao mesmo tempo, não me deixava mudar para outra. Tentei de tudo. Mudei o diretório. Usei um drive externo, mas nada parecia funcionar. Chamei o engenheiro da empresa de som pra ver se ele tinha alguma ideia. Ele tentou tudo o que eu já havia tentado e, de repente, esbarra no teclado de computador que está conectado à mesa. Este cai no chão virado para baixo e o teclado aciona alguns comandos aleatórios na PM5D. Um desses comandos infelizmente foi o Load de outra cena qualquer. Isso mesmo. A mesa havia carregado uma outra cena da memória por cima da minha cena não salva! Nossa, que arrependimento por ter pedido ajuda! Minha mesa estava pronta antes do teclado cair! Não precisava de nada. Era só esperar a banda voltar do hotel nos 45 minutos que eu tinha antes de começar o show. Isso mesmo! A banda não estava mais no palco para soundcheck e o show começaria em 45 minutos. E agora?

Eu sempre falo que devemos mixar para os ouvidos. É como sempre faço e é como eu tinha acabado de fazer antes do fatídico acidente. Mas naquele momento eu não mais podia "botar som na caixa". A casa já estava aberta para a entrada do público e, como eu disse, a banda não estava mais lá ! Ok. "Modo vôo cego" acionado! Renomeei os canais rapidamente e alinhei o PA sem música ou pink noise. Tive que usar a minha memória recente pra me lembrar de como o PA soava, o que sobrava e o que faltava nas frequências. Não era tão difícil, afinal, eu tinha acabado de fazê-lo menos de duas horas antes. Quanto aos canais, não refiz nenhuma equalização precisa, apenas filtrei os graves com o highpass filter dos canais que eu já sabia que não precisaria de subgrave algum, como a caixa da percussão, os pratos, a conga, os violões e vozes. Com um microfone SM58, passei um canal com a minha voz (e o PA desligado) para me certificar do ganho do pré-amp, e, a partir dali, imaginei os ganhos dos outros canais. Sempre chutando pra menos, pois é melhor um elemento começar baixo demais durante o show do que entrar muito mais alto do que deve. Além disso, fiz o patch dos efeitos na mesa. Me lembrei das salas que eu havia escolhido antes e alinhei os níveis dos reverbs e delays por instrumentos! Ou seja, lendo apenas os meters da mesa. Novamente, chutando pra menos pra não entrar nenhum delay berrando durante o show.

Na verdade, isso tudo parece muito assustador. Mas mesmo em um show "normal", onde tudo corre tranquilamente durante a passagem de som, a verdadeira mix acontece durante o show. Tudo muda quando o público entra. A acústica, o ruído de fundo e até a maneira que a banda toca. Claro que é mais tranquilo saber que cada fader levantado já está pronto. Mas, mesmo assim, durante o show pode ser necessário (e até comum) alterar a equalização, compressão e outras características de cada canal.

O show foi ótimo. Fica a lição de começar o dia salvando o projeto. E termino nossa página com a velha mensagem: mixe para a música e para o que seus ouvidos estão ouvindo dela.

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Mixa e masteriza em seu Incrível Mundo Studio e está mixando o PA da tour Ária, de Djavan. www.EnricoDePaoli.com
Tags: Murphy
Postado por Enrico de Paoli em 06/12/2010 às 00:00
Então, desde o ano passado a última moda nos Estados Unidos são os headphones com cancelamento de ruído. Sim, o que antes era somente usado para "fazer som", agora vem com uma função a mais: causar silêncio absoluto.

Pra que isso serve?

Essa resposta é bem óbvia. Você está num local com muito ruído e coloca os headphones. Voila. O barulho some. Então, se antes você tinha que ouvir música nas alturas pra compensar o ruído ambiente, agora, ao vestir os phones você se depara com um silêncio absoluto. Sim, os headphones não servem somente pra isso. Eles também tocam música!

Como isso funciona?

Essa resposta é menos óbvia, mas bem interessante. Do lado externo de cada earcup (concha do headphone), há um pequeno microfone embutido. Este microfone capta todo o barulho ambiente que chega ali naquele local, quase nos ouvidos do ouvinte. Então, esse áudio captado passa por uma inversão de fase e é alimentado nos auto-falantes do headphone.

Ou seja, o ouvinte escuta o ruído ambiente, e, junto com ele, ouve o mesmo ruído "invertido". Assim, um cancela o outro. Sim, pra isso acontecer esses phones usam um circuito ativo, amplificado e processado, e esse circuito usa algum tipo de bateria.

Na prática:

A idéia é fenomenal. Nos aeroportos e aviões é raro não ver muitas pessoas usando esses phones. Ainda que você não queira ouvir música, você pode vestir os phones somente para cancelar o barulho. Porém, a minha experiência com eles ainda está em fase de observação. Inicialmente, a sensação pra mim não é de um silêncio natural, mas sim de um vácuo nos ouvidos. Como se eu estivesse com aquela pressão que dá quando subimos a serra, ou no próprio avião. Isso me causou um certo desconforto. Aliás, as palavras certas seriam "uma certa agonia"! Porem, como sempre, quase tudo que se refere a áudio e música é muito pessoal. Vale a pena conhecer!

Até mês que vem.

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Visite www.EnricoDePaoli.com e conheça seu Incrível Mundo das Mixes & Masters. Projetos recentes incluem Ária, de Djavan: o disco e a mixagem da tour.
Tags: Vácuo
Postado por Enrico de Paoli em 01/11/2010 às 00:00
FAQ é mais uma daquelas palavras que surgiram depois da revolução cyber. Significa Frequently Asked Questions, e, na prática, é um documento que mostra uma listinha das frequentes dúvidas sobre algum assunto. Este Lugar da Verdade vai esclarecer, de forma simples (como sempre), dúvidas frequentes em relação a tom-toms.

Devo usar gates nos toms?
Durante a gravação, jamais. Você nunca sabe a nuance que o baterista pode vir a fazer em um tambor e corre sério risco de deixar informações de fora. Além do fato de que depois de tudo gravado você terá mais tempo pra ajustar o gate, se necessário ou desejado.

Devo fechar manualmente no computador todos os momentos que o tom-tom não toca?
Não é certo, nem errado. Os microfones dos tom-toms ficam muito perto das peles e estas vibram em ressonância enquanto outros elementos da bateria são tocados. Os canais dos toms podem conter um som estático, às vezes gerando até uma nota, o que pode ser indesejado. Por outro lado, se o timbre dessa vibração for agradável, pode ajudar a bateria a soar mais acústica e com unidade.

Como devo posicionar os toms na mix?
Sempre tive o hábito de ouvir os pequenos na esquerda e os grandes na direita. Mas se o áudio será acompanhado por um vídeo, com a bateria vista de frente, como em um show em DVD, pode ficar estranho o baterista fazer as viradas para um lado e o áudio acompanhar para outro. Como música não é filme, não soaria bem alterar o panorama da música de acordo com mudanças dos takes de filmagem. Em um DVD de show, para mim, a imagem segue o som, e não o contrário. Outra consideração: ouço com atenção aos tracks de overs e ambiências, pois é por eles que conhecerei o espaço do instrumento e saberei como as peças estavam posicionadas. Para timbres naturais, é importante que o posicionamento das peças respeite a posição nos overs e ambiências. Esta semana mixei uma música em que os toms não seguiam uma ordem de grande para pequeno ou vice-versa. Ouvi, então, os canais de ambiências para posicioná-los como estavam na bateria.

Qual o volume certo dos toms?
Sou adepto de automações, pois, para mim, não existe "bom na teoria". Ou soa bem, ou não soa. Por melhor que seja o baterista, ele não tem a perspectiva perfeita de como serão os volumes depois da mixagem. Logo, alguma manipulação pode se fazer necessária, e não somente em volumes, mas em EQ também.Há momentos em que preciso de toms explodindo, mas, em outras horas, posso já tenha volume de tom-toms demais nos canais de overs e ambiências. Nessas horas, pode ser necessário pilotar também estes outros canais. Lembre-se de que o som da bateria não vem somente dos canais individuais, mas da soma de todos. E só há um jeito de saber a combinação certa: ouvindo.

Devo usar reverbs nos toms?
Como sempre, não existe uma regra. Já sabemos que o som dos toms não vem somente dos canais deles, mas também das ambiências, se existirem. Logo, essas ambiências podem já adicionar reflexões aos timbres. Mas pode ser que a música caminhe para momentos mais explosivos. Nestes, você precisará de algum reverb e micro-delays nos toms. Mas saiba que é muito, mas muito comum, um determinado volume fixo de reverb nos toms não funcionar para a música inteira. De novo, nestes momentos, a automação pode ser mais amiga do homem do que o cachorro!

Enrico De Paoli é engenheiro de gravação, mix e master. Atualmente divide seu tempo entre projetos no Incrível Mundo e mixando a tournê Ária, do Djavan. www.EnricoDePaoli.com
Tags: batera
Postado por Enrico de Paoli em 06/10/2010 às 00:00
"Me vê um estúdio, por favor. Pra viagem."

Nunca tive o hábito de usar laptop para música. Sempre usei o "computador do estúdio" para áudio, e o "lap" para todo o resto. Este mês fui fazer a primeira edição do Mix Secrets em Brasília e preparei o MacBook para o evento. Realmente o mundo está muito prático e portátil. Rodamos o software com a mix sem o menor problema. Os plug-ins rodavam transparentemente. O Mac conectado a um projetor exibia meu "estúdio móvel" na parede em um belo tamanho... Tanto a mesa de mixagem quanto a máquina de gravação.

O que antes só se encontrava em um estúdio multimilionário, agora estava ali, dentro daquele notebook que chegou despercebido comigo dentro de uma mochila. Quando imaginaríamos que teríamos um número quase infinito de compressores e equalizadores à disposição? E dentro de uma mochila! Não me refiro a um paliativo... São belíssimos compressores e equalizadores!

Esses sistemas de gravação de mixagem são para os jovens engenheiros e produtores como as câmeras digitais são para a criançada: simplesmente normais. Hoje faz parte do hábito olhar atrás da câmera após tirar uma foto. Eu já vi uma criança procurando o display atrás de uma câmera 35mm numa festa de aniversário! Um jovem engenheiro de som não deve conseguir imaginar como seria mixar uma música com apenas dois compressores e um reverb. Aliás, os compressores que vêm grátis no software normalmente não são suficientes para eles. Pois acredite: eles são sim. Mixamos uma música ali, sem usar nada "de outro mundo".

Voltando ao estúdio móvel, após o evento, subi para o quarto do hotel e levei o estúdio comigo. Prático, não? Como eu sempre digo, não tem investimento melhor para um produtor do que uma boa monitoração. Levei também meus headphones e um par de caixinhas amplificadas, igualmente portáteis, porém studio grade, ou seja, de nível profissional.

Mesmo trabalhando com tecnologia todos os dias da minha vida, fiquei impressionado com o que eu podia fazer ali. Claro, não substitui o espaço acústico ao qual você está acostumado, mas na minha frente eu tinha uma verdadeira suíte de edição e mixagem. Na vida tumultuada que temos hoje, isso realmente tem um valor incrível. O que antes era uma pequena brincadeira ficou sério. Realmente dá para fazer muita coisa com um estúdio que cabe dentro de uma mochila. E, claro, simultaneamente, dá para ver e-mails, postar fotos no Facebook e enviar e receber arquivos de seus clientes sem ir ao correio.

Há cada vez menos motivos para não fazer música. Podemos trabalhar quando a inspiração nos visita, em qualquer lugar. Cuidado apenas para não fazer outra coisa da vida e, acredite, invista na sua monitoração. Boa viagem!
Postado por Enrico de Paoli em 01/09/2010 às 00:00
Por mais que tirar som de bateria seja um dos maiores prazeres de um engenheiro de som, é indiscutível que, em música cantada, o timbre da voz tem uma importância ímpar. Na voz estão contidas várias informações que são ouvidas inconscientemente: a personalidade do cantor, a intenção, a letra da música, a emoção...

Ao contrário do que a maioria pensa, a escolha do microfone faz muito mais diferença do que a escolha do pré-amplificador. Mas há uma "coisinha" que pode mudar ainda mais o som da voz: o próprio cantor.

Ao gravar voz, algumas questões que vão muito além de equipamento merecem atenção. Por exemplo, como o cantor está cantando? Como é a emissão? Como está a intenção da voz? Imagine um teatro. Existem várias maneiras de ler uma mesma frase de um texto. Bom, não vou conseguir demonstrá-las nesta página! Mas é por aí. Gravando vários takes de voz com intenções diferentes podem-se conseguir boas opções para diferentes partes da música.

A intenção e emissão interagem diretamente com o tipo de música e também com a distância do microfone. Cantores têm mania de afastar o mic ao cantar uma parte mais forte. Essa mania vem da noite, e não é de todo ruim. Porém, ao se afastar do microfone, a voz não perde somente volume. O timbre perde corpo e grave. Se for um vocalista com a voz naturalmente magra, isso pode ser um problema, principalmente porque o afastamento acontece justamente nos refrões, e a gravação acaba ficando com o pior timbre de voz justamente em uma das partes mais fortes da música.

Lembre-se que, quando se grava qualquer fonte sonora, está se fazendo, inclusive, a captação do espaço acústico onde aquela fonte se encontra. Logo, quanto mais perto do microfone, maior a sensação de proximidade da voz. Quanto mais longe, mais a captação também registra o espaço e a sala. Assim como qualquer decisão, esta pode ser boa ou ruim. Uma balada com a voz grande, gravada colada no microfone, funciona muito bem. Se a música pede espaço e a voz do cantor (ou cantora) não é pequena, um pouco de distância pode soar bem. O compressor pode ajudar a nivelar os volumes entre a voz seca e direta e o ambiente no qual ela foi gravada.

Afinação não é tudo, mas é imprescindível. Uma voz desafinada soa mal. Mas, hoje em dia, afinação é o mais fácil de ser consertado depois. Claro, é melhor um cantor afinado e ponto final. Mas entre escolher um take por sua afinação ou por outras virtudes como timbre, emoção e emissão, definitivamente escolha o último. A afinação pode ser melhorada depois, com softwares dedicados a isso.

Além da já citada proximidade do mic, uma das melhores formas de partir para outro timbre de voz é cantar diferente. Com mais ou menos "ar" na voz. Mais ou menos diafragma. Cantar com o rosto sorrindo também muda a intenção.

Como sempre, ao contrário do que a indústria nos vende hoje, existem muito mais coisas do que simplesmente equipamentos.

Até mês que vem!
Postado por Enrico de Paoli em 09/08/2010 às 00:00
Ela chega de mansinho, atrai, e aos poucos vai fazendo com que nós queiramos mais e mais. Aconteceu nos anos 80, quando músicos se viram não resistindo às "novidades tecnológicas", que na época se resumiam a pedais, porta-estúdios e baterias eletrônicas. De fato, eram irresistíveis! Faziam com que todo mundo virasse dono da banda.

Nos anos 90, a "novidade" foi que essa tecnologia, com um fatal poder de atração, transformasse todos os músicos em tecladistas. Os workstations, teclados sintetizadores e/ou samplers com altíssimo poder de programação e seus sequencers e baterias eletrônicas embutidos, permitiam com que todos os músicos virassem produtores e arranjadores. Os computadores pessoais, conhecidos como PCs, migraram da sala ou escritório para dentro do estúdio. Praticamente ainda não gravavam áudio, mas gravavam MIDI e tinham um poder de edição enorme, que praticamente fez nascer os home studios e as produções independentes. De repente, todo mundo era tecladista, arranjador e produtor. Mas e os antigos e famosos (e necessários) músicos? Não adianta. Não dá tempo de fazer tudo. A quantidade de excelentes instrumentistas estava diminuindo. Muita gente fazendo coisas ótimas. Produções "caseiras" invejáveis. Muitas que iam até parar em grandes discos, no mundo todo mas este mesmo mundo estava fabricando menos músicos.

Chegou então o esperado ano 2000. Esperava-se "chegar ao futuro". E de fato, foi mais ou menos isso que aconteceu. A revolução digital deu origem a outra maior ainda: a revolução virtual. No nosso assunto, isso quer dizer plug-ins. Hoje não precisamos mais ter equipamentos. Tudo ficou descartável. Plug-ins não ocupam espaço. Parecem nunca ser suficientes. Precisamos realmente disso tudo? Será que não é possível fazer uma grande mix com os plug-ins "que já vêm no sistema"? Sim, dá. Essa febre fabrica grandes entusiastas. Rende resultados tecnológicos inimagináveis, mas definitivamente tira do foco a música. A engenharia de áudio feita para a música. Não dá pra dizer se isso é bom ou ruim. Simplesmente é como é. É o que está acontecendo. Da mesma forma que ver um grande instrumentista, hoje em dia, é um bálsamo de tanta beleza, ver um engenheiro de mix fazendo um disco para a música também o será em breve.
Postado por Enrico de Paoli em 05/07/2010 às 00:00
Os americanos usam muito esse termo. Ao contrário do que parece, experience em inglês não significa "experiência", mas sim um tipo de "evento". Logo, vamos falar sobre o que faz uma gravação, ou uma mix, se tornar um "Evento Sônico".

Claro que tudo começa com uma música boa. Como tudo na vida, existem algumas regrinhas que os bons compositores conhecem, mas ninguém se guia somente por elas. Vários grandes hits inesquecíveis quebraram essas regrinhas e são sensacionais. Voltando para o lado do áudio, sempre gosto de lembrar que se não há música, não há áudio. Logo, uma música ruim nos leva a um áudio ruim. Bem, a música pode ser ruim, mas se gravada por uma ótima equipe, com poderosos equipamentos. teremos um bom áudio, entretanto um mau "Evento Sônico".

Vamos pular agora para o estúdio durante o processo de gravação e arranjo.  Da mesma forma que na música, no áudio também existe "tensão e alívio". Uma harmonia fica tensa, suspensa, agonizando para ser resolvida. e, finalmente, se resolve, ou quase! No áudio, o mesmo acontece. A mix de repente seca, esvazia, a voz fica sussurrada "na cara". A bateria fica em um plano atrás, toda mais fechada em timbre, quase feia, mas, naquele contraste, linda. E quando chega o refrão, todo mundo cresce, explode. Bem... como isso seria possível sem contar com o arranjo? Não seria.

Sem gravação, não há nada para se mixar! Portanto, durante o processo de gravação, vale valorizar o arranjo em comunhão com a engenharia de áudio. Criar elementos com um médio nervoso, outros com uma leve explosão na região subgrave. Criar espaço para quando chegar o momento do ápice, você ter para onde crescer, não só musicalmente, mas também sonicamente.

Lembre-se de que cada instrumento sacado por um percussionista de seu case pode gerar uma infinidade de timbres, padrões musicais, sons, cores e impactos. Durante a gravação, vale ir pensando em como um vai reagir com os outros. Se microfonar todos de pertinho, na hora de somá-los na mix, você não vai obter espaço e dimensão. Então, pense na posição física de cada um. Simule essas distâncias ao posicionar os microfones na gravação de seus respectivos takes, e terá muito mais facilidade de encontrar espaço para eles ao levantar os faders.

Não dá para que todos os instrumentos fiquem "na cara", ou que fiquem longe, afundados em reverbs. Também não dá para que todos sejam ricos em graves. É importante que um seja pequeno em som, para quando o outro entrar, preencher o "grave de que sentíamos falta..". Os contrastes são extremamente atraentes. Lembra da "tensão e alívio"?

O objetivo deste artigo é lembrar que, apesar das regras conhecidas, muitas vezes é difícil dizer exatamente o que é certo ou errado no quesito "prender a atenção do ouvinte". O objetivo aqui não é apenas esse, mas sim o de fazer da sua experiência auditiva um "Evento Sônico"!

Divirta-se.

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Gravou, mixou e masterizou inúmeros discos. Além disso, já mixou mais de mil shows em todo o mundo. cartas@enricodepaoli.com.
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