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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade - Enrico De Paoli
Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias.
Listando posts com a tag Murphy.
Postado por Enrico de Paoli em 03/01/2011 às 00:00
Segundo Murphy, "se há algo para dar errado, dará". E deu. Mês passado estava fazendo a tour norte-americana com Djavan, mixando os shows do novo álbum Ária. Estava em Miami Beach, no Jackie Gleason Theater /Fillmore. Com o PA bem alinhado e a sala soando muito bem, comecei as configurações na Yamaha PM5D. Não, eu não tinha levado um pen drive, pois no Brasil estava usando outra console e nos EUA usei mesas variadas. Então, o procedimento de "montagem" ficou como nos velhos tempos. A mesa precisava ser configurada.

Assim eu fiz. Mesa configurada. Canais com nomes. Alinhamento do PA usando o gráfico da própria mesa. Começa a passagem de som. Sabe aquele dia em que a passagem soa como um CD? Então. o dia estava assim. Hora de salvar a mesa. Peraí. Eu já devia ter salvo! Tá, mas não fazia tanta diferença assim. Eu não carregaria outra cena na mesa, ninguém abriria o show, eu não usaria essa mesa em outro lugar. Mas, ainda assim, claro que é um bom hábito salvar tudo e qualquer coisa que fazemos em um computador. Então, vamos salvar.

Quando eu dava comando de salvar, a mesa informava que não podia salvar naquela cena, e, ao mesmo tempo, não me deixava mudar para outra. Tentei de tudo. Mudei o diretório. Usei um drive externo, mas nada parecia funcionar. Chamei o engenheiro da empresa de som pra ver se ele tinha alguma ideia. Ele tentou tudo o que eu já havia tentado e, de repente, esbarra no teclado de computador que está conectado à mesa. Este cai no chão virado para baixo e o teclado aciona alguns comandos aleatórios na PM5D. Um desses comandos infelizmente foi o Load de outra cena qualquer. Isso mesmo. A mesa havia carregado uma outra cena da memória por cima da minha cena não salva! Nossa, que arrependimento por ter pedido ajuda! Minha mesa estava pronta antes do teclado cair! Não precisava de nada. Era só esperar a banda voltar do hotel nos 45 minutos que eu tinha antes de começar o show. Isso mesmo! A banda não estava mais no palco para soundcheck e o show começaria em 45 minutos. E agora?

Eu sempre falo que devemos mixar para os ouvidos. É como sempre faço e é como eu tinha acabado de fazer antes do fatídico acidente. Mas naquele momento eu não mais podia "botar som na caixa". A casa já estava aberta para a entrada do público e, como eu disse, a banda não estava mais lá ! Ok. "Modo vôo cego" acionado! Renomeei os canais rapidamente e alinhei o PA sem música ou pink noise. Tive que usar a minha memória recente pra me lembrar de como o PA soava, o que sobrava e o que faltava nas frequências. Não era tão difícil, afinal, eu tinha acabado de fazê-lo menos de duas horas antes. Quanto aos canais, não refiz nenhuma equalização precisa, apenas filtrei os graves com o highpass filter dos canais que eu já sabia que não precisaria de subgrave algum, como a caixa da percussão, os pratos, a conga, os violões e vozes. Com um microfone SM58, passei um canal com a minha voz (e o PA desligado) para me certificar do ganho do pré-amp, e, a partir dali, imaginei os ganhos dos outros canais. Sempre chutando pra menos, pois é melhor um elemento começar baixo demais durante o show do que entrar muito mais alto do que deve. Além disso, fiz o patch dos efeitos na mesa. Me lembrei das salas que eu havia escolhido antes e alinhei os níveis dos reverbs e delays por instrumentos! Ou seja, lendo apenas os meters da mesa. Novamente, chutando pra menos pra não entrar nenhum delay berrando durante o show.

Na verdade, isso tudo parece muito assustador. Mas mesmo em um show "normal", onde tudo corre tranquilamente durante a passagem de som, a verdadeira mix acontece durante o show. Tudo muda quando o público entra. A acústica, o ruído de fundo e até a maneira que a banda toca. Claro que é mais tranquilo saber que cada fader levantado já está pronto. Mas, mesmo assim, durante o show pode ser necessário (e até comum) alterar a equalização, compressão e outras características de cada canal.

O show foi ótimo. Fica a lição de começar o dia salvando o projeto. E termino nossa página com a velha mensagem: mixe para a música e para o que seus ouvidos estão ouvindo dela.

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Mixa e masteriza em seu Incrível Mundo Studio e está mixando o PA da tour Ária, de Djavan. www.EnricoDePaoli.com
Tags: Murphy
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