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Revista Luz & Cena
Áudio e Acústica - Omid Bürgin
Neste espaço falaremos sobre áudio e acústica.
Será uma extensão da coluna publicada todos os meses na revista Áudio Música & Tecnologia. Aqui os leitores podem fazer comentários, tirar dúvidas e fazer sugestões.
Postado por Redação em 12/08/2013 às 16:03
OMiD Academia de Áudio. Ilustração: Ivan Silva
Gravando Vocais no Banheiro (OMiD Academia de Áudio. Ilustração: Ivan Silva)
Gravando Vocais no Banheiro

Já se perguntou porque as pessoas tem a inclinação de cantar embaixo de chuveiros? Se você não cantou assim até hoje, terá que experimentar o quanto antes! Percebeu como a sua voz tem mais reforço, um timbre muito melhor e acaba saindo mais afinada? O que acontece? E se o som da voz melhorou tanto, não poderíamos aproveitar este recurso para as nossas gravações? 

Normalmente os chuveiros tem uma acústica muito interessante para ser explorada em um produção musical: os banheiros tem um reforço de graves através de acumulo de ondas estacionárias, muitos pré delays ou reflexões primárias por ter paredes reflexivas próximas e uma reverberação rica, por ter praticamente 100% de superfícies reflexivas, que disfarça de maneira elegante as "desafinações" do cantor. Para você se animar para fazer esta viagem junto, pense assim: Os banheiros com azulejos ou cimento queimado tem um campo reverberante muito similar às câmeras de reverberação, que eram muito populares nas primeiras décadas de estúdios de gravação, como as eco chambers da Record Plant. Quando eu trabalhava em Hollywood eu aluguei uma sala grande, que era a sede e estúdio principal da minha produtora musical. A sala se encontrava em um complexo de estúdios, que na verdade eram nada mais que as antigas eco chambers da Record Plant, que funciona até hoje na próxima rua. Eles eram um recurso indispensável na época, por falta de processamento eletrônico (ou digital, se for hoje) e estes espaços acústicos foram desativados, conforme a indústria de equipamento de áudio conseguiu alternativas boas. Estas eco chambers sumiram nos anos sessenta e foram transformados em espaços comerciais, como o meu estúdio, que na época do Elvis Presley, era usado exclusivamente para gerar a reverberação.  

Na era digital, a reverberação natural é algo que deveríamos cultivar e usar o máximo possível, sempre se lembre que o banheiro é provavelmente o melhor lugar para capturar reverberação natural. No mínimo deverá fazer parte da paleta de possibilidades de um produtor. O banheiro é tão importante, que até aqui na OMiDstudios, temos um routing subterrâneo para o banheiro. Sempre brinco com os clientes, que usamos esta conexão apenas quando não tem ninguém usando o banheiro. Já pensou a sonoplastia!?! :)

'O banheiro é a melhor fonte de reverberação natural para um dono de um Home Studio e um recurso indispensável em um estúdio comercial!'

Dito isso, você deve lembrar: ambientes podem ser adicionados depois com um processador de efeito, mas não podem ser removidos após a gravação da pista. Sendo assim, você precisa ter certeza de que o som de ambiente que você está captando faz parte do seu plano de gravação referente ao palco sonoro. Novamente, ter uma boa noção da mix final o ajudará a tornar as decisões corretas. Sempre enfatizo a criação de um palco sonoro em papel para ter clareza de como vai ser a mix final. Na dúvida, faça o posicionamento abaixo, de uma forma a ter mais som direto, ou faça um Setup de Reamping (veja posts anteriores), na qual você regrava a voz em uma pista separada, para gerar uma pista adicional apenas de efeitos (reverb).

Sendo assim, gravar os vocais no banheiro é uma escolha óbvia para um técnico de som experiente. Não há dúvida de que a reverberação será útil e bem-vinda no mundo digital. Mesmo que tenhamos processadores de efeitos incríveis, um som analógico/acústico é sempre mais rico em alguns detalhes, especialmente por suas irregularidades. Gravar o som de reverb não é difícil! O que complica um pouco é achar a medida certa da proporção entre o som direto e o reverb para fazer os ajustes de volume na hora da gravação. Isso é bastante complicado, por monitorarmos na mesma sala. Sendo assim, é importante saber como posicionar o vocalista e o microfone dentro do banheiro para não ter mais reverberação que som direto!  Vamos lá!

Segue um pequeno guia. Lembre-se que para gravar temos apenas uma regra básica: não há regras! Assim, experimente as dicas abaixo, mas depois siga-as livremente, usando os seus ouvidos como juiz. Estes passos abaixo são pontos de partida bons para depois achar uma solução sua própria e original.  Experimente muitas possibilidades para saber como o seu banheiro se comporta para que, na hora de uma gravação, você ache o som mais indicado para a sua produção.

  1. Passo No. 01: Para começar, remova a cortina do banheiro. Se você tem um banheiro com box, tente remover as portas ou estará sem sorte, porque para funcionar, terá que ter uma abertura completa!  
  2. Passo No. 02: Posicione o cantor contra e perto da parede dos fundos, algum lugar no centro do chuveiro ou banheira. A banheira tem outras características interessantes a serem exploradas. Não esqueça de fechar o registro geral do banheiro, porque alguns cantores se emocionam tanto na performance, que poderão ligar o chuveiro sem querer! Microfones têm uma aversão à água!
  3. Passo No. 03: O microfone deverá ser posicionado cerca de 20 a 30 centímetros à frente do vocalista e uns 15 a 20 centímetros acima da sua cabeça, com a cápsula direcionada para baixo, em direção à boca do cantor, aproximadamente em um ângulo de 30 graus. Novamente, isso é apenas um ponto de partida, mas em geral é melhor apontar de cima para baixo, para pegar os graves que ressoam no peito da pessoa. O som fica mais encorpado. A razão do microfone não estar no nível da boca é para evitar os pops de consoantes como 'p' em palavra como 'people' ou 'povo'. 
  4. Passo No. 04: Assim que posicionado, movimente o microfone um pouco, ouvindo com fones de ouvido até achar o sweet spot. Não desperdice este momento. É aí que você vai aprender a ouvir e vai conseguir entender o relação de espaços a sonoridades e timbres. Se você tem cabos compridos, seria melhor você ouvir em um ambiente separado, usando monitores e pedir ao seu assistente de modificar a posição, igual ao que se faria em um estúdio de gravação. Monte um microfone de talk-back na sala de monitoração para você poder dirigir seu assistente.
  5. Passo No. 05: No final, verifique a relação de reverberação com som direto. Se houver muita ambiência, pendure um cobertor ou qualquer outro material de absorção poroso, como toalhas grossas ou um colchão na parede dos fundos do chuveiro, atrás do cantor. Uma outra possibilidade seria na parede oposta, em frente ao cantor, que pode ser mais acessível ou gerar uma sonoridade diferente. Em alguns casos, seria interessante colocar o cobertor nas duas paredes. Isso deverá eliminar também qualquer reflexão indesejada, inclusive um possível Flutter Echo, que poderá se construir nas paredes reflexivas paralelas e próximas. 
  6. Passo No. 06: Grave um trecho com o cantor cantando com volumes diferentes e escute o resultado depois em uma sala de referência, se possível a sua técnica, usando monitores. Este passo é essencial, se você fez o setup sem sala de monitoração separada. Grave o resultado e faça algumas alterações, seguindo todos os passos acima de novo. O mais importante é documentar bem o que está fazendo para depois poder se lembrar como fazê-lo novamente. Seu método deverá ser bem sistemático, igual a um cientista de laboratório. Escute os resultados em A/B, que deixa a diferença ainda mais nítida!

Assim que chegar em uma sonoridade ou em sonoridades interessantes, você terá o seu próprio Eco Chamber, igual ao dos grandes estúdios de gravação do século passado! Procure ouvir em momentos diferentes depois para não perder a referência do que você queria inicialmente. E, sobretudo, não comece a abusar da solução, dosando bem o quanto de reverberação você efetivamente vai querer!

Uma última dica: Se tudo der errado, você poderá pedir ao cantor cantar novamente em uma sala seca, como um  closet (a ser abordado em futuro post) e mixar o take com a reverberação por baixo deste take mais seco. Eu já fiz isso e funcionou muito bem! IMPORTANTE: Neste caso, é essencial gravá-lo mais duas vezes, para ter no mínimo três faixas finais, para assim evitar possíveis batimentos, que podem acontecer se houver apenas duas pistas de voz. O batimento acontece quando duas ondas sonoras, com frequências diferentes, mas muito próximas, chegam aos nossos ouvidos simultaneamente. Percebemos uma variação na intensidade do som resultante que aumenta e diminui alternadamente. Este som resultante é chamado de batimento e não é desejado neste contexto.

Um outro possível uso desta técnica de gravar no banheiro é apenas usar a versão banheiro em trechos com um contorno emocional mais alto, como no  Chorus, por exemplo. Em um futuro post, mostrarei como adaptar o corredor da sua casa para fazer algo similar, usando três microfones e dois gates, usado pelo cantor David Bowie! Também abordarei como usar o banheiro para gravar violão, violão e voz e no final as power-guitarras! Mas mesmo que o banheiro seja a primeira escolha para a voz, não é a única fonte de reverberação e, como vimos em post anterior, tem muitas possibilidades, como a reverberação do forno ou da geladeira.

Vamos então colocar a mão na massa? Tudo mundo já tomou banho? Vamos então passar o resto do dia explorando a acústica do seu banheiro? No final, não tem nada melhor que gravar no conforto da sua casa!

Postado por Omid Bürgin em 02/04/2013 às 18:09
OMiD Academia de Áudio. Ilustração: Ivan Silva
Comparação de Timbres do Forno e da Geladeira (OMiD Academia de Áudio. Ilustração: Ivan Silva)
Comparação de Timbres do Forno e da Geladeira
Gravou seus exemplos no forno? Observou os efeitos que descrevi no post anterior?

Como ficou? Desligou o forno, né?

Como vimos no post "A Reverberação Penetrante e Fria do Forno", você pode 'preparar' um tom extremamente brilhante, metálico e ressonante. Para sorte dos nossos técnicos iniciantes, uma grande gama de microfones servem para fazer este tipo de microfonação, porque a coloração cristalina de vidro, refletida pelo interior do forno de metal, não é nada sutil! Na Paramount usávamos os Royer 121 ou 122, mas um Shure SM57 pode ser bem mais acessível e criar efeitos parecidos. 

Você vai ficar impressionado com o resultado! O que mais me chamou atenção foi que o som ficou meio metalico, com sonoridade mais fria. O forno é reverberante, frio, vidrado (glassy) e o som resultante é tão estridente, que penetra bem qualquer mixagem. Sendo assim, é especialmente indicado para mixagens emboladas, que precisem deste tratamento para o som da guitarra aparecer.

O timbre é ESPECTACULAR!

Este efeito também funciona sem ser um re-amping: o músico pode tocar ou cantar diretamente para dentro do forno, com a mesma microfonação. Neste caso terá que procurar um banquinho mais baixo ou levantar o forno para alinhar as alturas. Mas não insista muito, a ponto de sacrificar o bem estar do músico para forçar o efeito desejado. 

Sabemos que a questão emocional é um dos ingredientes mais importantes na produção musical. O músico tem que se sentir a vontade e não deve ter nenhum impedimento para se expressar ou qualquer distração. É importante envolver o músico, mostrando como ele/ela vai soar melhor fazendo este tipo de microfonação.

A acústica do forno tem algumas peculiaridades: como o recinto exagera as frequências agudas, mas ao mesmo tempo transmite alguma reverberação, é indicado para gravar alguns instrumentos de sopro, com conteúdo grave à médio, como oboé ou fagote. Isso também depende da boa vontade do seu músico, de querer tocar para um forno.

Outras aplicações interessantes para o forno são: gravar vocais (lead or backing), gaita e alguns instrumentos percussivos, como shaker ou claves. 

Mas você ficou no mínimo curioso em testar os seus outros eletrodomesticos, nao ficou? 

Como novo adepto de re-amping, fiz o mesmo em outras sessões, dessa vez usando a geladeira (que mostrei no primeiro post) e a lava-louça, comuns em casas norte-americanas. Inclusive, nos OMiDstudios, mantemos encostada no corredor uma geladeira dos anos 50, que comprei bem barato por não funcionar mais, somente para este fim.

A geladeira tem uma sonoridade bem quente, intima e focada, bem diferente do forno frio, estridente e reverberante. 

Sendo assim, a geladeira ou o lava-louças, ambos revestidos com plasticos, são muito úteis se você esta procurando um som mais caloroso e intimo: coloque o microfone na mesma posição dentro do eletrodomestico, da mesma maneira que fizemos no forno. As grelhas, se forem revestidas por plastico, podem ficar para criar um som mais difuso e homogêneo, ou podem ser retiradas para ter um som mais reverberante.

Geladeiras ou lava-louças funcionam muito bem para metais, especialmente trompetes, flugelhorn ou trompa. Mas experimente com outras fontes sonoras e crie a sua própria lista de resultados.

O importante é aumentar a variedade de possibilidades, assim você pode diversificar a paleta de cores, como um pintor faz, misturando possibilidades diferentes, antes de começar a pintar o quadro.

Eletrodoméstico:

Forno:

Geladeira ou Lava-Louça

Instrumentos:

guitarra, gaita, vocais, sopros com conteúdo grave à médio, instrumentos percusivos idionfónicos, como shaker ou claves)

vozes, guitarras, metais (trompete, flügelhorn, trompa)

F/X:

frio, metalico, reverberante, penetrante, emfase em agudos

quente, intimo e focada

Microfones:

SM-57, Royer 121/122, AKG414, Sennheiser 421

SM-57, AKG414, Sennheiser 421, Neuman U87

Posicionamento:

no centro do forno, com a capsula do microfone virado para frente (lado aberto).

no centro do forno, com a capsula do microfone virado para frente (lado aberto).


Para mais possibilidades sonoras: Tanto no forno quanto na geladeira (ou lava-louça) experimente afastar a fonte sonora. Isso funciona especialmente bem com os metais. Neste caso o músico tem que mirar a boca do instrumento para o microfone e a distância terá que ser testada. Coloque o forno num lado da sala e vá afastando o músico. A reverberação colorida continua a atuar no microfone, que deve continuar no centro do eletrodoméstico.

Bons experimentos!


Omid Bürgin é compositor, projetista acústico e produtor musical. Fundou a Academia de Áudio (OMiD Academia de Áudio), que oferece cursos de áudio, produção, composição e music business e dispõe de estúdios para gravação, mixagem e masterização. E-mail: omid@omid.com.br, Tel. (11) 2307.0707, Rua Cardeal Arcoverde 928, São Paulo.
Postado por Omid Bürgin em 25/03/2013 às 22:11
OMiD Academia de Áudio. Ilustração: Ivan Silva
Re-amping Clássico de uma Guitarra na Paramount (OMiD Academia de Áudio. Ilustração: Ivan Silva)
Re-amping Clássico de uma Guitarra na Paramount
No último post, escrevi sobre a dependência da nova geração de técnicos aos equipamentos de áudio e como poderíamos aproveitar melhor das acústicas das nossas casas para conseguir criar sons e timbres originais e inovadores. O grande número de digital effects processors no mercado nos faz esquecer frequentemente que todos os estúdios de gravação tinham originalmente os tais eco chambers, usados para gerar reverberações e ecos naturalmente.

Junto com o primeiro exemplo, gostaria ainda de compartilhar um pouco da minha experiência de trabalho como Técnico de Som. Acredito que são estes pequenos acontecimentos nas nossas vidas que dão nosso norte, nos formando e muitas vezes modificando o nosso percurso. Espero que isso possa ajudá-lo em sua carreira.
Uma experiência que me influencia até hoje aconteceu na Paramount Recording Studios, onde trabalhei como técnico de som. Era uma produção de Hip-Hop, gênero que estava em ascensão no começo dos anos 90, salvando muitos estúdios da falência. Assim, passaram pela velha Paramount todos os tipos de 'Ice's', como Ice Cube, Ice-T ou Vanilla Ice, que deixaram muitas outras histórias para contar... :)

O que me impressionou foi essa sessão, que já se estendia noite adentro, na qual o produtor do projeto pediu para levar o sinal da guitarra para a cantina dos funcionários, para usá-lo como um 'insert' na gravação. Como técnico ainda bastante inexperiente e com minha mente jovem, fiquei pensando: "Puxa-vida! A Paramount tem todas as acústicas possíveis, como salas de pedras, salas revestidas de madeira, etc, além de todas as parafernálias de áudio que um técnico possa imaginar! Usar uma sala para 'pegar' a sua reverberação, tudo bem, mas logo a cantina dos funcionários???". A esta altura, provavelmente não preciso nem falar das várias paredes de periféricos que tínhamos. Só o Microphone Cabinet era uma viagem! Você se lembra quando, no filme Matrix I, Neo pediu armas, e os ármarios de armas não paravam de chegar? A impressão que eu tinha ao ver todos aqueles equipamentos do estúdio era algo assim!

Agora imagine a minha cara de besta quando o produtor pediu para 'preparar o forno'. Wow! What's cooking? Confesso que a essa hora já me batia uma certa fome! Aprendi então que isso significava tirar as grelhas do forno, deixa-lo aberto com um banquinho de madeira na frente e o amplificador de guitarra montado em cima. Depois, posicionar um microfone estrategicamente bem no centro do forno, com a cápsula virada para fora. Nos próximos 30 minutos da sessão, testávamos e alterávamos estas posições. O microfone usado era um Royer 121 ou 122 (mas um Shure 57 fará o trabalho!).

A ideia era fazer um re-amping, usando a sonoridade do forno como efeito! O processo de regravar um sinal já havia sido usado por compositores de música eletro-acústica, como Pierre Schaeffer, nos anos 1930 e 1940 ou Karlheinz Stockhausen e Edgard Varèse depois nos anos 50 e 60, ambos pioneiros na música eletrônica experimental. Quem provavelmente popularizou esta técnica foi Roger Nichols (técnico de áudio do Steely Dan, John Denver, Beach Boys, Stevie Wonder, Frank Zappa, etc). Em 1970, o legendário Phil Spector remasterizou Let it Be, dos Beatles, passando o sinal seco da guitarra por um amplifcador. Exemplos históricos não faltam! A prática é bastante comum no vocabulário de um produtor hoje, porque aumenta as possibilidades sonoras tremendamente, criando novos timbres. E foi exatamente essa a busca pelo Santo Graal da qual participei às duas da manhã na Paramount. 

Essa experiência foi tão marcante, que eventualmente me levou a querer escrever esta série de posts. Como diretor de uma escola de áudio, procuro incentivar os alunos a apreciarem as coisas mais básicas, orgânicas e naturais, como as acústicas do nosso dia-a-dia. Não se deixe cegar pelos jargões sofisticados dos plugins e todo o marketing ao seu redor. Você já reparou que as produções de hoje soam todas meio iguais? Por que será?

Então, vamos lá: para isso funcionar, você deve mandar o sinal seco da mesa para o amplificador (use um Aux Send ou Direct Out), microfonar o som da maneira descrita acima, e enviá-lo via um mic pre para um outro canal da mesa. Este novo sinal da re-amplificação será usado como efeito, geralmente mixado abaixo do sinal seco (e junto com outros possíveis efeitos) para criar a sonoridade final desejada para a guitarra! 
 
Espero que meu leitor peça licença para sua mãe ou esposa para fazer esta experiencia de um re-amping no forno. Se não tiver forno, também pode partir para a geladeira, que será tópico do meu próximo post. A intenção é ampliar as possibilidades da sua paleta de timbres em futuras captações, encontrando um som mais original e criativo. Compare os resultados! Se quiser me mandar trechos curtos, você tem o meu email abaixo. Depois posso postá-los para que todos possam ouvir o resultado dos outros. Este exercício é um 'must' para os futuros técnicos, que deveriam saber produzir um cenário de re-amping. Então, o que está esperando? Vamos pra cozinha! 


Omid Bürgin é compositor, projetista acústico e produtor musical. Fundou a Academia de Áudio (OMiD Academia de Áudio), que oferece cursos de áudio, produção, composição e music business e dispõe de estúdios para gravação, mixagem e masterização. E-mail: omid@omid.com.br, Tel. (11) 2307.0707, Rua Cardeal Arcoverde 928, São Paulo.
Postado por Omid Bürgin em 19/03/2013 às 14:38
OMiD Academia de Áudio. Ilustração: Ivan Silva
Re-amping da Guitarra usando a Acústica da Geladeira como Efeito (OMiD Academia de Áudio. Ilustração: Ivan Silva)
Re-amping da Guitarra usando a Acústica da Geladeira como Efeito
Pense nisso: hoje em dia, temos disponíveis mais processadores de efeitos e plug-ins digitais buscando emular espaços acústicos do que um técnico de 50 anos atrás poderia sequer sonhar. Tirando alguns efeitos realmente inovadores (considerando não só emulações de eventos acústicos), a maioria não passa de emulações, afinal, eles não contém espaços reais neles. São apenas algoritmos que procuram reproduzir ambientes acústicos do nosso dia-a-dia.

Realmente, é incrívelmente prático ter à disposição milhares de espaços acústicos com um único clique. Mas como esses efeitos se comparam com os espaços acústicos reais? Sabemos que deixam a desejar, principalmente quando pensamos em salas acústicas incríveis como a Sala São Paulo, Abbey Road Studios e outros lugares famosos por seus espaços acústicos. Em grande parte, usamos os periféricos e plug-ins por pura conveniência, não é?

Sempre me perguntei por que as pessoas, na maioria das vezes, se contentam com uma aproximação eletrônica ou digital, quando o som do seu próprio banheiro ou cozinha estão bem ali, podendo produzir resultados finais muito mais inovadores e originais. Sei que provavelmente você não tem uma sala sinfônica no fundo do seu quintal, mas todos nós dispomos de uma grande gama de espaços acústicos, sonicamente distintos! Saber como usar estes espaços não vai apenas expandir a sua paleta sônica, mas pode também surpreendentemente estimular sua criatividade.

"Com um pouco de experimentação, alguma sorte e muita boa vontade, você vai conseguir sonoridades que jamais encontraria no seu rack de periféricos ou nos bancos de efeitos dos seus plugins."

Decidi começar uma série de textos abordando este assunto, mostrando como podemos aproveitar os espaços que temos em nossas casas e apartamentos para fazer gravações fantásticas! E ainda de graça! Você só precisa de um set-up básico de gravação, um bom fone de ouvido e de muitos cabos para poder alcançar todos os cantos da sua residência da sua mesa de controle. Lembre-se que é muito melhor ter cabos longos sem nenhuma emenda, que você mesmo pode construir, do que tentar juntar os cabos que você já tenha, conectando um ao outro.

Não pense que só porque você mora em um apartamento pequeno você não tem espaços grandes o suficiente para serem usados. O delay espaçoso não é o único efeito a ser explorado! Vamos descobrir muitos outros espaços e micro-espaços na sua casa, todos com a sua assinatura acústica própria! Já gravou na sua banheira? Já fez um re-amp usando o forno como espaço acústico? Como ficaria a sua voz microfonanda e cantada para dentro da pia da cozinha?

Gravar nestes espaços pode alterar o som da voz ou de qualquer instrumento de uma maneira estranha e maravilhosa. E nada impede você de juntar os novos efeitos adquiridos com o seu arsenal já existente, caso você não possa viver sem o seu super double delay.

Me lembro dos dias de experimentação de cinquenta anos atrás. John Lennon, por exemplo, gostava de experimentar maneiras diferentes de gravar a sua voz. Até experimentou fazer uma gravação procurando se aproveitar acusticamente do efeito Doppler, parecido com o som Leslie (um tipo de vibrato), com um microfone pendurado girando ao redor dele. Não conseguindo o efeito que queria, ele mesmo se pendurou, girando e cantando ao redor do microfone! No final, este projeto foi abandonado e não foi para nenhuma gravação dos Beatles, mas foi este espírito inovador que permeou todas as gravações incríveis que conhecemos dos anos 60 e 70, quando ainda existiam poucos periféricos e nenhum plugin! Bandas como Led Zeppelin ou Steely Dan também se destacam com suas grandes inovações de gravação.

Espero com este blog estimular a nova geração de técnicos a largar a dependência dos equipamentos para mergulhar em lugares não explorados, experimentando os sons que nos rodeiam naturalmente: tudo dentro das muitas acústicas e micro-acústicas das nossas próprias casas.

Omid Bürgin é compositor, projetista acústico e produtor musical. Fundou a Academia de Áudio (OMiD Academia de Áudio), que oferece cursos de áudio, produção, composição e music business e dispõe de estúdios para gravação, mixagem e masterização. E-mail: omid@omid.com.br, Tel. (11) 2307.0707, Rua Cardeal Arcoverde 928, São Paulo.
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