Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias. A Vez do Brasil
Postado por Enrico de Paoli em 01/07/2006 - 00h00
Vários de vocês devem conhecer a famosa revista de áudio americana Mix. Aquela que sempre teve capas glamourosas, com fotos de estúdios multimilionários de grande porte, que pareciam mais saguões de hotéis cinco estrelas do que salas de mixagem. Não que eu não goste. Mas não é esse o ponto.
Essa mesma revista neste mês apresenta uma capa em tonalidade verde, o logotipo da revista em amarelo, e bem grande em branco a frase "CADÊ O DINHEIRO?". Engraçado, não é típico para americanos assumirem crise ou fracasso. Com o que, diga-se de passagem, eu concordo. Acho que a crise começa na cabeça e prolifera na propaganda. Mas, se eles estão falando em alto e bom tom, na matéria de capa da possivelmente maior revista de áudio profissional do mundo, é porque realmente eles não sabem onde ele está. O dinheiro. Porém, ainda com tudo isso, a revista traz vários artigos baseados em soluções. Em dicas, oportunidades e, acima de tudo, otimismo. Como também é típico deles. E eu definitivamente compartilho da mesma filosofia e estilo de vida. Para se ter uma idéia dos assuntos, os títulos das matérias são: Cadê o dinheiro? (capa), Sobrevivência do estúdio, Para onde a música vai?, O engenheiro versátil, Créditos sim, quando merecidos, Ferramentas do momento, Sessões à distância, Todo veículo a todo instante (difícil de interpretar o título, mas fala das novas tendências de distribuir música). A seção que fala de equipamentos desta vez está focada em hardware. Como tudo é cíclico, companhias re-investem em equipamentos não piratáveis, porém que se encaixam perfeitamente no mercado dos pequenos estúdios independentes. Tanto em uso, quanto em cifras. Mais uma reportagenzinha testando o Pro Tools 7, que praticamente todos nós podemos ter, e mais uma placa FireWire (ainda não temos o suficiente delas.), desta vez fabricada pela Focusrite, ainda usando heranças de Rupert Neve, ao menos no nome. (Para quem não sabe, a Focusrite foi fundada por Mr. Rupert). A sessão de ao vivo, cada vez mais gigante. Shows não param. Afinal, não são pirateáveis e não precisam de um novo formato de mercado, como a música gravada. Existe uma seção que fala das capitais norte-americanas das gravações: 1. LA Grapevine (novidades do mercado em LA), que desta vez não anunciou nenhum grande estúdio falindo, mas falou que o Ocean Way comemora dez anos de lock-out de uma de suas salas por um único engenheiro de mixagem. Pra mim, isso já é praticamente uma sociedade. não mais cliente. Ou seja, de volta àquela questão: o estúdio é ótimo quando você é seu melhor cliente. 2. New York Metro (as últimas do mercado nova-iorquino), também otimista, contando sobre um estúdio que abriu as portas em 2005 e já está ocupado até 2007, devido ao que o dono classifica como qualidade, serviço, experiência de mercado e diversificação. E ainda fala sobre as prioridades que artistas, produtores e investidores têm com o dinheiro no mercado hoje. Raros serão os casos de dinheiro investido em gravações. Algum ainda vai para mixagem, porém com muitos dando cabeçadas mixando em casa mesmo e (talvez erroneamente) deixando para "consertar na master", que antes era apenas o processo de preparar a música para a mídia fabricada, e hoje é o estágio em que se consertam as calamidades tímbricas cometidas no processo econômico. Porém, analisando tudo isso, o que ocorre no momento é bom. No meio da tão comentada gigantesca crise, vemos que o mercado independente nunca esteve tão quente. Parece que, quanto menos gravadoras e discos grandes, mais projetos menores existem. Fácil de entender. Com um computador em casa, e boas idéias, hoje se pode fazer um disco. Talvez esse disco ainda não venda tanto, mas ele existe. Num mercado como esse, que cada vez mais artistas e estúdios têm, não tenho como falar em crise. O Brasil é um dos maiores países do mundo em número de micro-empresas e profissionais liberais. Enquanto as gravadoras gigantes deixam de ser tão gigantes assim, novos milhares de computadores surgem em quartos de dormir, com novos trabalhos gravados. As idéias estão se formando. O Brasil também é um dos maiores países internautas do mundo. Estão vendo a ligação? Os discos hoje não necessariamente servem apenas para serem vendidos. Eles divulgam a música e o trabalho do artista. Promovem shows e geram o maior patrimônio que um artista de qualquer tamanho pode ter: o fã. As idéias não param de surgir. Todas são boas (desde que não seja investir milhares de dólares em monitores, microfones, pré-amps e computadores para fazer música pra ringtones de celular!). O que antes era nosso obstáculo - ter que ter milhões de dólares para ter um som decente com uma Neve ou SSL, ou rezar para arranjar um emprego como assistente num desses poucos estúdios, hoje não é mais. Definitivamente o momento é ótimo para o áudio no Brasil. E que boa coincidência as cores da capa da Mix. Deixe seu comentário
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