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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade - Enrico De Paoli
Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias.
Listando posts com a tag equalizador.
Postado por Enrico de Paoli em 06/09/2011 às 18:06
Essa talvez seja a pergunta mais comum por trás das cenas da indústria fonográfica. "Quantos dB a mais na voz?", "quantos dB a menos no reverb?" e "tira quantos dB da guitarra?" são algumas frases recorrentes. Mas, afinal, o que é dB? O dB, ou decibel, é uma medida logarítmica e comparativa. Um décimo de um bel é, teoricamente, a menor variação de volume perceptível ao ouvido humano. Teoricamente. Mas essa variação de decibéis não se aplica somente a volumes de um canal de instrumento ou voz. Em equalizações, por exemplo, se uma voz está um pouco escura, precisamos de mais brilho, mais agudo. Então vamos lá: quantos dB de 10 kHz precisamos adicionar no equalizador? Lembremos de que o equalizador não é nada mais do que uma ferramenta que nos permite aumentar ou diminuir os volumes das frequências. Logo, de volta aos decibéis.

Compressão? A mesma coisa. Um compressor diminui a variação de volume de um canal de instrumento, voz ou o programa musical completo. Logo, diminui em "tantos" decibéis o volume de um evento sônico. Sim, mas quantos dB? Como disse antes, dB é uma medida relativa, logo um som é "x" dB mais alto do que outro. Mas não é só isso que é relativo: 1 dB de voz a mais em uma música não é o mesmo que 1 dB de voz a mais em outra, pois por mais que a medida seja igual, a sensação auditiva depende do arranjo, da performance, do microfone, do cantor e da dinâmica daquele track.

O que toca junto com aquela voz naquele momento? Ou, mais importante ainda: o que vinha tocando até aquele momento? Se a mix foi construída no decorrer da música e o arranjo cresceu muito até aquela parte da faixa, 1 dB a mais de voz no refrão pode ser necessário para que o ouvinte ache que ela continua no volume "certo". E mais: embora sensível a mudanças, o ouvido se acostuma facilmente a muitas situações. Quantas músicas possuem vozes super altas, "na cara", ou mixes muito fechadas nos agudos? Elas só soam estranhas para nós se estivermos ouvindo algo muito diferente antes, ou, claro, se o tal timbre não combinar com a música e seu arranjo.

Os decibéis também são relativos nos equalizadores, e 1 dB de agudo é diferente em cada EQ. Se estivermos falando de equalizadores analógicos, mudam os componentes, o design e a topologia do equipamento. Se falamos de plug-ins, mudam os algoritmos e fórmulas. Na prática, mudam a curva de equalização, os harmônicos e - o mais importante - como os ouvidos percebem tudo isso no decorrer da música.

Gosto de usar, como exemplo, um caso de quando eu mixava a turnê Ao Vivo, do Djavan. Na música Pétala havia um lindo solo de sax do Marcelo Martins, que começava num registro mais grave e delicado e ia se construindo até terminar em uma nota longa e altíssima. Em seguida, Djavan voltava, cantando num registro suave. Se eu não mexesse no timbre dele naquele momento, sua voz pareceria "apagada" para os ouvidos que estavam "equalizados" pelo solo de sax que tinham acabado de ouvir. Para que a voz soasse natural e encaixada depois do solo, eu tinha que adicionar de 6 a 8 dB de média-alta e lentamente ir trazendo a voz de volta para a sua equalização "normal". Desse modo, tudo soava natural e encaixado. Sim, dB é algo muito mais relativo do que matemático. Esqueça os números: mixe para a música! E para os ouvidos.

Enrico De Paoli é engenheiro de gravação, mix e master. No momento, está mixando um single do Jorge Vercillo. Conheça o Mix Secrets, sua turnê de palestras e treinamentos. Informações em www.EnricoDePaoli.com.
Postado por Enrico de Paoli em 04/09/2007 às 17:10
Indo direto ao assunto: realmente faz diferença usar o compressor antes ou depois do equalizador? Sim, faz. Muita diferença, e vamos ver por quê.

Este assunto me ajuda a responder uma outra pergunta clássica: usar plug-ins é tão bom quanto usar equipamentos reais? Claro que isso rende um outro artigo. Mas, com tantas vantagens e desvantagens, como tudo na vida, nesse caso podemos dizer que, usando plug-ins, temos uma enorme facilidade e rapidez em comparar se o EQ soa melhor antes ou depois do compressor. Trocar a ordem de dois plug-ins é obviamente muito mais rápido do que parar a sessão pra recabear os equipamentos. Essa rapidez é crucial na comparação tímbrica, não nos deixando esquecer do som que está em nossa curta memória para detalhes tão sutis.

Se entendermos a lógica, fica mais fácil definirmos quem usar primeiro em cada situação (e se é necessários usá-los!). Eu sempre procuro conhecer a mecânica pra entender os porquês na prática. Dito isso, a mecânica de um equalizador é basicamente aumentar ou diminuir o volume de dada região ou freqüência. Esse ajuste é fixo, ou seja, teoricamente é uma constante. Se você aumenta 3db em 1000 Hz, essa equalizada resultará em uma soma de 3 db nessa região, de forma linear e não dinâmica, enquanto o EQ estiver ligado. Ou seja, esse valor de 3db é teoricamente fixo, não se alterando independentemente do momento da música.

Já o compressor é um processador dinâmico. Sua atuação é totalmente ligada à dinâmica do programa que passa por ele. Relembrando a natureza desse brinquedo, o compressor tem uma linha imáginária que se chama threshold. Tudo o que for mais alto do que essa linha é então comprimido pela razão (ratio) escolhida. Ou seja, passagens de baixo volume não são alteradas, e no momentos em que o áudio é mais alto do que o threshold escolhido é então diminuída a variação de volume.

Entendemos, ou melhor, relembramos os básicos das duas ferramentas mais usadas na engenharia da música. Agora vamos experimentar as duas situações: eq > compressor, e compressor > eq. Tentem isso em casa!

Imaginem um canal de voz em que a região média é um pouco inconstante. Ora o médio está presente o suficiente, ora não. Um bom remédio pra isso seria, talvez, diminuir a faixa dinâmica dessa região. Logo, se aumentarmos o volume da região dos médios no equalizador antes do compressor, este, por sua vez, comprimirá mais essa região do que qualquer outra, porque elá estará mais alta, tocando a linha imaginária (threshold), antes das outras. Incrível, não? Sim, mas e se o custo disso for então uma voz muito média? Sem problemas... aí então entra o equalizador depois do compressor. Este pode retirar um pouco da mesma região, de forma que o médio seja sutilmente reduzido, sem que o compressor perceba.

Imaginemos um cenário oposto ao de cima... Temos uma guitarra um pouco chapada. Gostaríamos que os graves dela respirassem mais, variassem um pouco mais de dinâmica. Se diminuirmos sutilmente o volume dessa região antes do compressor, este atuará nos graves apenas quando eles tocarem o threshold, enquanto as regiões médias estarão sendo comprimidas mais intensamente. Esse grave pode então ser recolocado com um EQ depois do compressor.

Resumindo: o equalizador que precede a compressão, empurra freqüências a serem comprimidas. O equalizador insertado após a compressão trabalha livremente, sem nenhuma interferência, ou melhor, intervenção dinâmica.

Esse assunto rende mais umas mil páginas..., mas em nenhuma delas eu conseguiria mostrar o que vocês vão perceber fazendo e ouvindo.

Este foi mais um capítulo da série "Conheçam as regras, para então poderem quebrá-las"!

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Enrico De Paoli
é engenheiro de gravação de música. Mixagens e masterizações são feitas em seu Incrível Mundo Studio. Atualmente em gravação, mixagem e masterização com a cantora Gláucia Nasser. 
cartas@enricodepaoli.com
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