Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias. Quem arranja amigo é
Postado por Enrico de Paoli em 02/10/2006 - 00h00
Pois é, o que faz um engenheiro de som, mixer ou sound designer, numa página de revista técnica de áudio, falando de arranjo? Arranjo não seria assunto de músicos? Tá bem, em duas frases de artigo, já temos confusões e controvérsias suficientes...
Afinal de contas, quem é músico? Quem toca um instrumento é instrumentista e inevitavelmente músico. Agora, é totalmente possível alguém ser arranjador e não ser um instrumentista virtuoso. É possível ser um produtor de discos também, cheio de talento e musicalidade, dom de dirigir e tirar o máximo de cada um, sem tocar instrumentos. Em contrapartida, um instrumentista pode ser virtuoso e saber pouco ou nada de arranjo e muito menos de produção fonográfica. Então, chego à conclusão de que há engenheiros de som que são músicos, sem necessariamente dominar um instrumento. Porém, conhecer os instrumentos, assim como conhecer música e arranjo, só tem a somar. Ok, se eu estivesse ministrando uma palestra e agora perguntasse ao público "quantos já estavam fazendo uma mixagem e, ao levantar os faders da mesa, acharam que a música já soava automaticamente bem?", tenho certeza de que veria algumas poucas e felizes mãos ao alto. Por outro lado, se perguntasse quantos já tiveram que recomeçar uma mix do zero algumas vezes e, por mais que passassem horas na música, alguns canais ou instrumentos sempre soavam altos demais, sobrando, certamente veria no mínimo o dobro de mãos para cima. Bem, imagino que, se chegaram até aqui, devem estar interessados no porquê deste triste e trabalhoso fenômeno: arranjo. A física e a música se cruzam o tempo inteiro. Notas são freqüências, que são ligadas a tempo. Tempo também representa ritmo e por aí vai. Não vou entrar em nada que seja, digamos, chato para este fim de revista. Já devo ter falado disso antes: antigamente, antes dos multi-pistas, a mixagem era feita pelo maestro. Violinos mais fortes, violas menos... Ou então, numa gravação ao vivo, o engenheiro ajudava a mixar os volumes através do posicionamento de microfones. Pois, para quem não imagina, volume (ou mixagem) também faz parte do arranjo. Mas, quando temos um instrumento emitindo uma nota grave, que ocupa um grande espaço físico e musical, naquele momento não há muito espaço de sobra para outros eventos graves ou de baixa freqüência. Ao mesmo tempo, se temos instrumentos preenchendo totalmente em tempo e volume as regiões médias, como guitarras, gaitas, cordas, metais, não sobram muito espaços para... o cantor. A mix vira um prato de restaurante a quilo, onde não sentimos o gosto de nada. E agora? Fomos contratados para mixar e não pra dar palpite no arranjo. Pois bem, este curto artigo serve para os que fazem os arranjos e têm o apoio da tecnologia do home studio dos dias de hoje, com infinitos canais. Que vocês usem apenas os canais necessários e em boas horas (da música!). Bem, para os que têm que salvar músicas super-arranjadas... vocês têm algumas saídas: escolher o que mais amarra o arranjo da música e usar aquele instrumento como pilar de sustentação. Ou escolher momentos: digamos, na intro a guitarra predomina, no refrão o piano... Outro bom truque é, ao aparecer um novo elemento, que ele surja mais alto do que o normal e que depois seja bem recolhido. Dessa forma, o ouvinte inconscientemente aprende aquele instrumento, e ele será ouvido até o fim da música (ou do disco) sem que atrapalhe outros de freqüências similares. E, por fim, favor não deixarem pra encaixar a voz no fim. Pode ser uma boa prática, em músicas cheias, mixar a voz pra bateria e encaixar os outros instrumentos depois. Salve-se quem puder! Deixe seu comentário
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