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Revista Luz & Cena
Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias.
O COMPRESSOR VERTICAL
Postado por Enrico de Paoli em 04/05/2007 - 16h55
Enquanto alguns assuntos se mostram totalmente passageiros, como Bush no Brasil e quem ganhou o Big Brother, outros parecem que nunca morrerão, como é o caso dos milhares tipos de usos de um compressor de áudio e a palhaçada da CPMF. Acho que chegaremos a conclusões mais felizes analisando o eterno assunto compressor, por um ângulo muito pouco falado: vertical.

Recentemente escrevi sobre os compressores clássicos e seus equivalentes virtuais, falando das diferenças de designs e musicais entre alguns deles. O básico a gente sabe... O compressor diminui a faixa dinâmica do áudio, ou seja, o volume mais baixo e o mais alto ficam mais próximos, seja por necessidade técnica ou musical. Se olharmos para o som em um plano X,Y - onde a escala horizontal é de faixas de freqüências que podemos comprimir separadamente através de um compressor multi-bandas, e a vertical é volume -, falemos sobre algumas maneiras diferentes de manipular essa escala.

Quando um produtor diz ao engenheiro "vamos botar um compressor nessa guitarra!", ou "acho que a voz tá muito comprimida!", o que extamente ele quer? Imaginemos essa tal escala vertical sendo do volume mais baixo ao mais alto do som. Quando aplicamos um compressor, diminuimos essa diferença. Mas temos várias maneiras diferentes de o fazer. Podemos fazer os picos não soarem tão altos. Podemos achatar um pouco a região média da dinâmica, não tocando nos picos, e ainda podemos realçar tudo o que acontece na parte bem baixa da música ou track, sem comprimir o resto da escala vertical desse som. Todos esses métodos geram resultados diferentes e são chamados de compressão.

HLC (High Level Compression) - Esse talvez seja o tipo de compressão mais usado - mesmo através de decisões infelizmente aleatórias. Se o que você busca é volume, este é o tipo de setting a ser usado. Com a razão (ratio) não tão baixa, e o attack e release relativamente rápidos, com o threshold (limiar) posicionado perto da região de picos do som, o engenheiro consegue contê-los bastante e com isso aumentar o makeup gain (ganho de saida), resultando em um ganho substancial de volume do programa ou track.

Como tudo na vida é uma troca, e não existe nada que tenha só vantagens, o preço desse método pode ser: aumento substancial da energia RMS em relação aos picos causando uma certa fadiga auditiva, assim como uma sensação artificial da performance (a menos que seja um efeito desejado), e possivelmente algum tipo de distorção da forma natural da onda. Vale lembrar que, se o que incomoda antes de aplicar essa compressão é a diferença de volume entre notas ou sílabas, na região mediana da dinâmica, de nada adianta achatar os picos. Talvez o que você queira então seja Mid Level Compression.

MLC (Mid Level Compression) - Esse é um tipo de setting demais de útil. Com ele, você não terá todo aquele ganho em volume, mas se o objetivo é fazer notas ou sílabas ficarem mais tight, mais justinhas em volume, sem que se mastiguem os transientes e picos naturais da performance, MLC pode ser uma boa pedida. Lembrando que estamos olhando pra escala de volume verticalmente, abaixamos o threshold do compressor consideravelmente abaixo da região de picos. Digamos, próximo do topo da região que você quer comprimir. Se, por exemplo, o threshold estiver por volta de -40 dB, e a razão relativamente baixa, tipo 2:1, tudo o que passar desse limiar estará então sendo reduzido pela metade. E se então aumentarmos o ganho de saída em aproximadamente 20 dB, estaremos fazendo toda a faixa dos 60 dB do topo da escala, então caber em uma faixa de apenas 40 dB, sem alterar os picos da escala.

É claro que esses números podem variar de acordo com o volume do áudio em questão. Lembre-se de brincar com o attack e o release, de forma a não mastigar as entradas das notas com attacks muito rápidos, e não causar o famoso e quase sempre indesejado pumping com releases longos. O pumping acontece quando, digamos, um bumbo rápido comprime um vocal, devido ao release lento demais. Ou seja, muito depois que o bumbo já parou de tocar, o compressor ainda está comprimindo outros elementos, tornando bastante artificial o seu uso.

LLC (Low Level Compression) - Com certeza o mais raro tipo de compressão. Principalemente nos dias de hoje em que ninguém parece querer saber de nada que seja "low level" (baixo volume)! O LLC é muito interessante para se ressaltar passagens extremamente baixas, tipo em um diálogo onde a ambiência precisa ser mais audível, ou em uma música acústica, ou clássica, onde notas e nuances precisam subir em volume, sem que o resto da escala seja alterada, perdendo sua naturalidade. A melhor maneira de usar o LLC na verdade é através de um expander que tenha controle positivo no volume floor.

A maioria dos bons gates tem algum controle do volume em que o áudio estará enquanto não atingir o threshold de abertura. O gate/expander da Waves, por exemplo, tem esse controle que varia de menos infinito a mais 12 dB. Com isso, torna-se possível usar esse expander, de forma que tudo o que estiver abaixo do threshold soe mais alto do que quando estiver acima! Dessa forma, podemos comprimir a faixa mais baixa da dinâmica de um programa ou track.

Vale lembrar que, em um programa já hiper-comprimido e achatado, não há muito que se possa fazer... Sim, podemos usar um expander para resgatar um pouco de sua dinâmica, seus transientes e respiração rítmica e natural da música. Uma música muito alta pode parecer boa nos primeiros minutos, mas talvez se torne cansativo ouvir um disco inteiro assim. Os ouvidos gostam do contraste entre o som e o silêncio. Se você começar a refeição pelo sorvete, que graça terá a sobremesa?


Enrico De Paoli é engenheiro de mixagem e masterização. Clientes enviam projetos para o seu Incrivel Mundo das Mixes e Masters, e acompanham à distância, recebendo provas online para degustação.  cartas@enricodepaoli.com
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