Um compressor nem sempre oferece muita variedade de controles. Bastam quatro botões, componentes eletrônicos de alta qualidade, talvez umas válvulas e já se tem um bom produto. Quando uma empresa resolve ir mais além, corre o risco de piorar o que já está bom. Para saber até onde se pode envenenar um compressor sem matar o som, M&T testou o Drawmer DL 251, um compressor espectral duplo que apresenta bem mais do que o básico.
MONTANDO O SETUP
O compressor DL251 ocupa um espaço de rack e sua montagem é bastante simples. No painel traseiro, uma placa metálica cobre a chave seletora de voltagem, oferecendo um sistema bem claro de ajuste de tensão. Para operar com 110 volts foi preciso remover esta placa, trocar a posição da chave seletora e recolocar a placa girando-a em 180o (para deixar indicado claramente o ajuste escolhido). O cabo de alimentação é um tanto exótico, não apresentando o terceiro pino para aterramento e tendo um par de pinos cilíndricos um pouco mais afastados do que o padrão brasileiro de tomadas fêmeas, o que causou uma certa dificuldade para ligar o aparelho. Depois de encontrar um benjamim flexível o suficiente, tudo ficou mais fácil e pôde-se finalmente iniciar o cabeamento.
Duas entradas XLR, duas saídas XLR e dois side-chains TRS compõem o painel traseiro do compressor. Encontra-se ainda no painel traseiro um botão seletor entre -10 dBu e +4 dBu. Com as saídas do DL251 ligadas diretamente nas entradas do conversor AD da Layla 24, estava tudo pronto para o início do teste.
PARÂMETROS DE COMPRESSÃO
Os dois canais do compressor são exatamente iguais, ambos podendo ser controlados apenas pelos parâmetros do canal 1, se for acionado o botão stereo-link. Por isso, deste ponto do artigo em diante, trataremos apenas de um dos canais do aparelho.
O primeiro controle a ser ajustado é o gain (ganho) que pode aumentar ou diminuir o sinal de saída em até 20 dB. Da esquerda para a direita, encontram-se os clássicos controles de threshold, ratio, attack e release. Estranhamente, o controle de threshold apresenta valores mais baixos a medida em que giramos o botão no sentido horário, ao contrário do que seria numericamente intuitivo, mas de acordo com o aumento do efeito de compressão. Coisa de britânico. As faixas de valores dos controles são:
Threshold -40 dB até +20 dB
Ratio 1:1 até infinito:1
Attack de 0,5 ms até 100 ms
Release de 50 ms até 5 s
Além desses controles, encontramos ainda os botões soft knee, que suaviza a entrada da compressão em 10 dB antes e depois do threshold; o auto, que desabilita os controles de attack e release, otimizando continuamente estes tempos e proporcionando uma compressão mais sutil; o s/c listen, que direciona o sinal do side chain para a saída do aparelho e finalmente o bypass que conecta o soquete de entrada diretamente no de saída.
Dois mostradores indicam a redução de ganho (com nove LEDs, de 0 a 30 dB) e o nível de saída (com dez LEDs de -20 a +15 dB)
ESPECIAIS
O DL251 apresenta como atração especial os controles enhance e peak. O enhance é basicamente um preservador de ataque, que atua durante os primeiros milissegundos de atuação do compressor, impedindo que os parâmetros de compressão afetem os harmônicos agudos do instrumento. Na maioria dos casos, esses transientes são fundamentais para caracterização timbral do material trabalhado. Um único botão ajusta a quantidade de decibéis que se quer aumentar destes harmônicos (no máximo 10 dB).
Já o peak é um limitador de volume de saída, muito útil para evitar saturação em gravadores digitais ou picos de volume nocivos a sistemas de PA. Também só possui um botão, que ajusta o threshold acima do qual a compressão será infinita, ou seja, o volume máximo admitido na saída do aparelho. Esse controle pode atenuar em até 20 dB o volume de saída do compressor.
EM FUNCIONAMENTO
Nas instalações do estúdio Mills (RJ), pudemos testar o DL 251 com os instrumentos/ trilhas que tínhamos à mão: bumbo, caixa, baixo, voz e mixagem estéreo.
- Bumbo:
Com uma leve compressão em 3:1 atenuando entre 5 e 10 dB, a compressão "careta" do bumbo surtiu um resultado esperado: deu uma encorpada no tambor, tirando bastante o som da maceta que originalmente estava bem presente (o baterista tinha uma pegada forte). Ao entrarmos com o enhance, o ataque do instrumento foi logo restaurado, sem diminuir o peso dado pela compressão. A ênfase de freqüências altas do enhance foi capaz de restaurar a presença do bumbo, agregando ao seu timbre uma ponta de agudo proveniente da pancada do pedal e tornando-o mais definido.
- Caixa:
No caso de tambores mais agudos, o enhance não se mostra tão eficiente. O que ocorre é que este comando devolve ao timbre o que a compressão havia tirado: exatamente os picos de ataque. Como a caixa é bem mais seca que o bumbo e não tem o mesmo grave, a ênfase de agudos após a compressão perde um pouco do sentido. O comando de peak, no entanto, mostra-se fundamental para a caixa, principalmente para música pop. Por mais regular que seja o seu baterista, ele nunca conseguirá executar dezenas de baquetadas com a mesma pressão ao longo da música. Com o peak limitando alguns dB, a pegada fica mais regular, ainda otimizando a captura pelo gravador. Desta maneira, o peak limiter atua exemplarmente, desde que sem exageros.
- Baixo:
Foi utilizado um modelo Wood de cinco cordas, sendo estas não tão novas, o que atrapalhou (mas não impediu) a realização do teste. Com a clássica "levada de dedo", o compressor atuou bonito, juntando peso e regularidade para resultar em um som redondo e "roncador". Já na levada com slaps, a sensação de som velado se assemelhou a do bumbo, antes do enhance. Acionado o bendito botão, não deu outra: brilho nos ataques, peso e presença. Muito bom!
- Voz:
Para um instrumento de espectro sonoro tão extenso, o DL 251 atuou como um bom compressor, normal. O enhance acrescentou um leve brilho, não podendo ser comparado a um shelving de agudos, que seria a ferramenta mais adequada para este efeito. Com o botão auto acionado, o circuito de detecção de dinâmica funcionou muito bem, comprimindo com naturalidade
- Mixagem estéreo:
O botão de stereo-link que o aparelho apresenta se aplica principalmente em programas complexos, como uma música já mixada. A escolha do tipo de funcionamento do stereo-link pode ser feita no painel traseiro e tem uma diferença fundamental: na posição peak o acionamento do compressor ocorre para qualquer pico (do canal 1 ou 2), enquanto que na posição average é feita uma média entre os dois canais, e esse sinal composto passa a ser o parâmetro de entrada para o compressor. Nos dois casos, a redução de ganho é idêntica nos dois canais, evitando a translação lateral da imagem mono. Com o auto (attack e release) acionado, o DL 251 funcionou a contento, tanto na atuação peak quanto na opção average, soando mais natural no segundo caso. A melhor utilização do DL 251 neste caso é como limiter (com o stereo-link na posição peak), podendo prevenir muitos sistemas de PA contra acidentes de operação.
CONCLUSÃO
A compressão é constantemente apontada como sendo a responsável por "velar" o som. Isso ocorre principalmente quando o material a ser comprimido apresenta um mínimo de graves, capaz de representar a maior parte da energia do sinal. Esse é o caso da música em geral. Para evitar que harmônicos altos e sutis sejam "achatados" pelo comportamento dos graves, duas medidas são normalmente tomadas: diminui-se a taxa de compressão e aumenta-se o tempo de ataque, o que nem sempre dá bom resultado. O grande mérito do DL 251 é exatamente a função Dynamic Spectral Enhancement (Valorização Dinâmica Espectral) que aplica uma ênfase dinâmica a uma parte seleta do espectro auditivo durante a compressão, evitando os efeitos colaterais do controle dinâmico. Uma vez ajustados os parâmetros de compressão, o Enhance pode ser acrescentado à vontade, somando ao timbre comprimido, o brilho original.
A página da Drawmer é
www.drawmer.com e o distribuidor no Brasil é a Hermes Music. Telefone: (11) 5585-2866.