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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
192kHz: Agora Sim... ou Não?
Enrico De Paoli
Publicado em 01/04/2002 - 00h00
Agora sim, perdi as contas de quantas vezes já ouvi esse termo na indústria milionária de venda de equipamentos de áudio. Não sou contra evolução. Claro que não. Mas às vezes parece que tem gente que nunca está satisfeita. Na verdade, o mercado criou este vício. Antes, os equipamentos eram instrumentos. Hoje existe uma nova classe de pessoas que são profissionais em sonhar (ou comprar) o recém-lançado e divulgar, com categoria, que o que até então era incrível agora não mais presta, e é obsoleto.
É claro que os fabricantes não podem parar. Lançando novos "brinquedos" a todo o instante. E que poder de sedução eles não têm! Se existe um método de propaganda que me irrita, é aquele que fala que "Mudou Tudo", ou "É Tudo Novo", ou quem sabe "Completamente  Reprojetado".
A Waves, fabricante de plug-ins excelentes que rodam em vários formatos de software, no ano passado lançou a versão 3.0 de seus famosos compressores, limiters, equalizadores e processadores em geral. E o gancho do marketing era extremamente simpático: "It's All New". Ou seja, o que eu tenho, não presta... fantástico! Então, todo esse tempo, eu venho mixando discos com um plug-in que não presta! Agora, foi a vez da Digidesign.
Falemos um pouco sobre o princípio da digitalização:
Durante anos, acreditou-se que a freqüência de amostragem (sampling rate) de 44,1kHz era o suficiente para reproduzir todas as freqüências que nós ouvimos, de 20Hz a 20kHz. A razão deste valor deve-se à descoberta de Nyquist, onde precisamos de duas vezes a quantidade de amostras para reproduzir "x" ciclos por segundo (Hertz). Logo, para reproduzir freqüências até 20 mil ciclos por segundo (20kHz), precisaríamos de 40 mil amostragens, ou um "sample rate" de 40kHz. Só que não acaba por aí... Precisamos também de um filtro "passa-baixas" (low-pass) eliminando qualquer freqüência superior à metade da taxa de amostragem, para evitar o "Aliasing". Este termo representa um erro que acontece quando freqüências mais altas do que a metade da amostragem são capturadas ou "sampleadas". Como não existem pontos ou amostragens suficientes para reproduzir aquela freqüência, o sistema digital "redesenha" ou interpreta aqueles pontos, formando uma freqüência mais baixa, ou uma distorção nas baixas freqüências do programa. Por isso 44,1kHz... assim o filtro em 20kHz teria "tempo e espaço" (roll-off) para filtrar "tudo" até  22,05 kHz.
OK... entendido isso, convencionou-se que a freqüência de amostragem de 44,1kHz era tudo de que precisávamos. Então surgiu o CD (compact disc). E samplers... e então DATs, e ADATs e outros gravadores digitais e os softwares e sistemas de gravação de áudio em computadores pessoais. Os DATs foram os primeiros a usarem uma outra freqüência de amostragem que logo ficou popular, a de 48kHz. Não que isso fizesse grande diferença sônica, mas nos impossibilitava de copiar CDs no domínio digital, segurando a pirataria... Que saudades!
Então, anos depois, chegou-se a uma conclusão realmente boa. Ouvimos teoricamente até 20kHz. Só que as freqüências acima destas, que não podemos ouvir, influenciam naquelas que ouvimos. Seus harmônicos interagem. Verdade pura. Realmente faz diferença. Então começamos a ouvir dizer que 48kHz não prestava mais. Não era igual a analógico... Começamos a ver equipamentos digitais com resolução de 96kHz de amostragem. Estes sim, superavam a performance dos analógicos com os benefícios dos digitais. Até que recentemente, fomos avisados que não é nada disso... 96kHz é pouco... parece que o som ainda é ruim... e a Digidesign lança o Pro Tools HD, com capacidade de gravar sessões com 192kHz de amostragem. Antes mesmo do lançamento oficial no Brasil, já ouvimos falar que alguém ouviu falar que foi feito um estudo, que para superar as características do analógico, precisaríamos de quase 400kHz de amostragem!
A preocupação é boa. A resolução e a resposta de freqüência também. Mas preocupado mesmo eu fico se não tiver o que gravar com tanta amostragem por segundo! Então não deixemos nossas faltas de amostragens causar falta de músicas boas em nossas gravações. Vamos fazer música, registrar gravações incríveis com o equipamento que a gente tem.
GRAVANDO!


Enrico De Paoli é engenheiro de gravação e PA. Atualmente está iniciando a nova tour do cantor Djavan. enrico@rio.com.br
 
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