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Revista Luz & Cena
Editorial
Audição e Marketing
Sólon do Valle
Publicado em 01/04/2002 - 00h00
Audição e Marketing

Afinal, até onde conseguimos ouvir? Será que isto muda com os tempos?
Quando apareceram os LPs microssulco, com "som ortofônico de alta fidelidade", eu era ainda muito criança para me preocupar com essas futilidades, mas me lembro de ouvir os adultos elogiando o realismo da reprodução daquelas bolachas negras e brilhantes. O som era mono, mas quem se importava com isso?
Então veio o estéreo. O tal realismo se tornou "total". Ninguém poderia conceber algo mais moderno ou perfeito para o consumidor. A fita cassete, lançada em 1963 e que lá pela metade dos anos 70 conseguiu atingir um padrão de qualidade razoavelmente bom para música popular, nunca rivalizou com o LP em transparência, embora não apresentasse os estalos e chiados das bolachas de vinil enegrecido. Aliás, a cor negra do vinil já era uma aberração. O cloreto de vinil, de que são feitos os LPs, é quase transparente. O preto vem de carbono em fino pó, misturado ao cloreto apenas para imitar a coloração dos antigos discos de 78 rotações, prensados em shellac, a quebradiça substância que durou até o começo dos anos 60. Puro preconceito: um disco transparente não seria visto como coisa séria!
Depois veio o CD, lançado como a perfeição sonora absoluta. Sem chiados nem estalos, sem distorção e de durabilidade infinita. Os audiófilos conservadores (eles sempre o são) torceram o nariz para a nova mídia, que ainda está bem viva apesar da pirataria descontrolada. Os consumidores o adotaram rapidamente, ao mesmo tempo em que esqueceram seus velhos vinis. Ao mesmo tempo, toda aquela romântica maquinária usada na era da gravação analógica vem dando lugar aos sistemas digitais que, mesmo sem o "calor" dos analógicos, estão se impondo pelo baixo custo, mínima manutenção, fácil expansão, pequeno tamanho e... já ia me esquecendo, boa qualidade de som.
A escalada do DVD-Audio e do Super Audio CD está acontecendo exatamente agora. A qualidade de som é muito superior à do "velho" CD, o som parece até analógico! Sample rates estratosféricos estão surgindo, tanto nos sistemas de gravação como de reprodução. Tá certo que de 44.1 para 96kHz há uma diferença sensível, e que de 16 para 24 bits a melhoria é radical. Mas será que de 96 para 192kHz a melhoria justifica o esforço? E quanto tempo iremos aguardar até que alguém proclame que 24 bits não são o bastante, e apareça com um formato de 32 bits / 384kHz para o consumidor?
É tudo questão de esperar... o departamento de marketing irá responder. Em breve.

Sólon do Valle
 
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