Será que algum dia estaremos satisfeitos? Este assunto, realmente, não sai de moda. Quem tem estúdio, sempre tem alguma coisa para comprar. E o pior é que, cada vez que compramos algum equipamento novo, parece que esta compra nos faz precisar de mais outra coisa qualquer. Parece piada. Mas quantos de nós nunca compramos um equipa-mentozinho só porque tinha um espaço sobrando no rack?
As obsessões variam de pessoa para pessoa. Uns não podem ver um microfone novo. Outros não podem ver um microfone velho! Há os que querem ter todos os tipos de pré-amplificadores do mundo (acho que eu sou um desses - risos). E agora a nova geração de nerds, com perdão da palavra, que não suportam ficar meia dúzia de hertz atrás, em velocidade de processamento com os computadores. Onde vamos parar?
Não canso de receber e-mails de leitores perguntando o que comprar. O que é melhor. O que vale mais a pena. Mac ou PC? Pro Tools ou Digital Performer? Corsa ou Fiesta? Eu adoraria saber o que o leitor realmente gostaria de ouvir. Assim eu não o decepcionaria! Se os leitores são como eu, que quando faço uma pergunta já sei direitinho o que quero ouvir de resposta, já devo ter frustrado vários! Então, eu tenho duas respostas para os que querem saber o quê comprar de equipamento. Comprem o que vocês quiserem, e o que vocês precisarem. A ordem das prioridades vai depender do orçamento, do objetivo e dos equipamentos que vocês já têm no cardápio dos seus estúdios. Absolutamente, não sou nem um pouco contra comprar algo que você não precise tanto assim. Afinal, temos sonhos. E, se alguns deles são ter ferramentas para esculpir nosso trabalho, podemos nos considerar pessoas com sonhos bem saudáveis. Eu mesmo quero mais um pré-amp Neve. Aí acho que dou uma paradinha. Que mentira! (risos)
Mais difícil do que parar de comprar, ou ao menos parar de querer comprar, é começar o estúdio. O que comprar? Ter uma mesa ou fazer tudo dentro do computador? Quantos canais? Novamente, Mac ou PC?
Bom, sem dúvida nenhuma, o início deve ser mais racional. Dois fatores devem ser analisados antes de ser dado o pontapé inicial em um estúdio: objetivo/necessidade e orçamento/crescimento.
O objetivo vai dizer exatamente o que o estúdio realmente precisa ter para operar: quanti-dade de canais, estrutura, instalação, como serão as produções etc. O melhor é ser realista e imaginar os trabalhos em pleno andamento. Quem será o cliente? Você venderá hora de estúdio ou projetos concluídos?
Hoje em dia, em grande maioria os estúdios de pequeno e médio porte são particulares. Os donos são seus próprios clientes. Eles estarão usando o estúdio para produzir os projetos que, então, serão os produtos a serem vendidos. Se este é o seu caso, levante as mãos para o céu. Pois você, certamente, aceitará trabalhar de uma forma um pouquinho diferente, ser for necessário, para economizar alguns milhares de dólares. Não quero deixar ninguém triste lembrando que hoje ele estava a mais de R$2,80. Agora, se você estiver comprando equipamento para o seu cliente usar, prepare-se! Porque se tudo correr normalmente... Seu cliente é chato, exigente e facilmente seduzido por marcas caras, equipamentos raros, 192 kHz etc. E o que mata é que ele talvez nem saiba lhe explicar o que é um kHz sequer. Muito menos 192!
Vamos continuar supondo que o estúdio é seu. Os equipamentos são para você usar, ser feliz e chegar a resultados que lhe deixem mais feliz ainda. Tente usar antes de comprar. Se não for possível, ao menos veja se alguém que você conhece ou admira usa. Normal-mente, uma marca ou modelo que todo mundo usa é boa. Afinal, não é possível que todo mundo tenha ficado louco ao mesmo tempo. Mas lembre-se também que personalidade de escolha é uma característica relativamente escassa. Então, estude suas compras. E aí vai a frase de que eu mais gosto: confie nos seus ouvidos. Ouça com os olhos fechados. Não compre muitas coisas provisórias porque, normalmente, elas acabam virando oficiais. Planeje o crescimento do seu estúdio mas, ao mesmo tempo, não compre um Mac G4 para daqui a cinco anos você comprar um Pro Tools. A tecnologia não o vai esperar e quando você, finalmente, estiver pronto pra comprar o tal do Pro Tools, nada disso existirá mais. E o seu investimento do G4 não lhe gerou nem dinheiro, nem felicidade, e nem uma nota de música gravada!
Então, planeje um sistema básico. De qualidade. Dentro do seu orçamento. E que, acima de tudo, resolva seu problema. Isso é o que você precisa para lhe gerar dinheiro para, então, comprar o que você quer.
Enrico De Paoli é engenheiro de PA e estúdio. Grammy 2002 com Marcus Miller. Atualmente, em tour com Djavan (PA). Contato através do E-mail:
enri-co@rio.com.br
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