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Revista Luz & Cena
Editorial
Saudade Tem Idade
Sólon do Valle
Publicado em 01/09/2002 - 00h00
Você se lembra de quando tinha que esperar quase um minuto para conseguir uma linha de telefone, e outro tanto para que a ligação se completasse, para então tentar entender as palavras de seu interlocutor no meio do ruído? Tem saudade disso? OK, estamos na era da telefonia móvel... sente falta de seu primeiro celular, que pesava um quilo, tinha que ser pendurado no cinto, produzia mais chiado do que som, e cuja bateria durava meia hora?
Recorda o tempo em que, para conseguir as especificações de um produto estrangeiro, tinha que mandar uma carta para o fabricante e aguardar duas semanas pela resposta? Sente saudades desse tempo?
Tinha mesmo prazer em ter que limpar seus discos de vinil antes de ouvi-los, com aquelas escovas esotéricas e aqueles líquidos misteriosos? Adorava quando uma fita cassete enrolava ou se partia? Ou tinha um gravador de rolo cuja cabeça sempre sujava e ficava magnetizada... que coisa adorável!
Gostava da imagem de seu videocassete de quatro cabeças, principalmente com uma fita VHS surrada de locadora?
Sente falta daquela calculadora de manivela e da máquina de escrever que ficavam sobre sua mesa no escritório? Curtia ficar na fila do banco para pagar suas contas?
E quando fazia frio, e você tinha que se desenrolar do cobertor para diminuir o volume do televisor?
As discussões sobre a qualidade do áudio digital hoje soam preconceituosas, ridículas, coisa de velho. Tudo bem, você pode gastar uma fortuna e gravar em analógico para conseguir aquele timbre "vintage", mas não por uma questão de qualidade. Com as atuais densidades de gravação, há algum gravador analógico que chegue perto do digital em qualidade de som?
E as fotos que você vê nas revistas, inclusive na nossa? Consegue distinguir as que foram tiradas com câmeras digitais? Ainda mais que todas foram digitalizadas para a diagramação...
Outra recordação não muito saudosa virá por aí, mais cedo ou mais tarde: o rádio FM, com seus chiados, falhas e distorções variadas. Seria melhor do que o rádio com qualidade de CD?
Agora discutimos a TV e o cinema digitais. Será que vale a pena nos preocuparmos com isso? É claro que, em alguns anos, as imperfeições atuais terão sido superadas e esquecidas. E será que você terá saudade das cópias riscadas e esburacadas de filmes que hoje são exibidas nos cinemas?
Se você respondeu "não" a pelo menos uma dessas perguntas, tem que reconhecer: o digital veio para ficar em sua vida.

Sólon do Valle
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