RSS Facebook Twitter Blog
Revista Luz & Cena
Mais 'espertinho', 20 anos depois - Parte II
Programa, o Novo Trabalho de Lulu Santos, Encontra Abrigo Ideal no Estúdio Fubá
André Luiz Mello, Jamari Franç
Publicado em 01/06/2002 - 00h00
Programa, dissecado pelo pessoal do Fubá

Eber Marcos, Igor Alves (roadie de Lulu), Christiaan Oyens e Alex de Souza conseguiram formar uma equipe afinada na criação de Programa. Todos eles contribuíram de alguma forma determinante para concretizar as idéias de Lulu Santos no estúdio e nesta entrevista dissecam o disco mostrando como conjugaram idéias e equipamentos para montar o último trabalho de Lulu.

Vocês chegaram a montar um setup básico para as gravações?
Eber Marcos:
Um artista como o Lulu não tem muito o que fazer nem o que testar. O som dele é muito pronto. É basicamente o Shure SM-57 no Vox e um microfone condensador, AKG C-414 na frente. Atrás somando com o D112 que passava em um Joemeek, outro pré-valvulado, para captar o grave, com a fase invertida. Básico. Sendo que o Shure SM-57 passava em um preamp Neve 9098, o 414 num pré valvulado Art Tube Pack, é um pré valvulado e compressor, com uma compressão leve 2:1, simples. A gravação do Vox, como é um falante só, botei só o SM-57 passando em outro Neve, e o de trás era o Sennheiser 421 passando em outro pré TubePack valvulado. Só que os de trás a gente não usou muito, utilizamos mais o som limpo. O som do disco é basicamente uma fusão do som do BassMan (quatro falantes de 10") com o AKG C-414 e o SM-57 e o Vox com o SM-57.

E a posição exata onde cada um está?
Eber:
O Bass Man, estamos usando mais na beirada do cone, angulado. Já o condensador está no meio do falante. No Vox a gente andou com o microfone mais pro centro do cone, sem angulação nenhuma, reto. Foi o som que mais se parecia com o que a gente estava escutando. Nossa tentativa aqui foi sempre reproduzir o que o Lulu já estava escutando. Ele estava usando um DynaComp, então o som da guitarra já vinha bem comprimido.

O Dynacomp é que tipo de processamento?
Eber:
É um pedal compressor da MXR. Ele usa bem atochado e em algumas músicas ele já manda o sinal muito pronto. No som de outras músicas a gente usa um Roland JazzChorus, que tem um som mais limpo e é mais funk, com o chorus. Esse setup é o setup rock n'roll. O SM-57 no Neve, e o AKG C-414 no microfone. Valvulado, sem microfonar nada por trás. Esse é o som do Jazz Chorus. Não ficamos colocando microfones de ambiente, tipo "vamos ver como soa na sala", é o som direto mesmo, o que ele queria. Já estava tudo na cabeça dele.

E na outra sala?
Igor Alves:
Lá estamos usando um amplificador Mesa Rectifier Tremoverb. É bem pesado, valvulado. E uma caixa Revolver, da Mesaboogie, que simula as Leslies antigas, com um falante giratório. A gente fez a microfonação de duas maneiras. Em algumas faixas a gente usou a microfonação em ângulos de 180°, pegando um ciclo da Leslie maior. E em 90°, com um ciclo menor quando o som é mais específico. A velocidade da Leslie é controlada pelo Lulu por um pedal chamado Acelerator, é como se fosse um pedal de aceleração mesmo.

Eber: O que altera nesse tipo de microfonação é a velocidade do som que vai rebatendo, quando ele acelera no final, dependendo da música. No amplificador tipo Leslie usamos dois AKG hipercardióides, com atenuação em 10 dB, passando em dois pré-amplificadores Neve 9098 e comprimindo num compressor dbx 1066 estéreo. A microfonação do Rectifier é apenas um falante num SM-57 um pouco angulado.


Alguns dos amplificadores usados na gravação, com seus os microfones

O set up da salinha que separa a recepção do estúdio ele usou para quais músicas?
Igor:
Ele usou em várias faixas. Especificamente quando ele queria usar o efeito Leslie nas canções.

Eber: As músicas mais rock Todo Universo e Do Outro Mundo ele gravava com o setup de rock, a gente jogava a soma dos amps para um lado, dobrava pro outro, vinha com a Leslie em alguns pedaços dos refrões e dobrava em cima. E dava essa dinâmica. É um som mais espalhado, que ele curte mesmo.

Que outras coisas vocês foram descobrindo?
Igor:
Um detalhe interessante é que ele, ao contrário de muitos guitarristas, usou para gravar as guitarras um sem-fio da Shure, o U14D. Isso deu uma liberdade maior na hora de executar as canções. E teve a redução de ruídos de indução magnética. Funcionou mais como um filtro também.

Quais os pedais e processadores usados?
Igor:
Um TC Electronic Chorus pitch modulador e flanger, estéreo. Um pedal chamado Mutron 3+, um Dynacomp MXR, que é um pedal de compressão .Um eco DanEcho, da Danelectro. Ele usou também um pedal chamado Rotovibe, da Jim Dunlop e o Acelerator da Leslie. Dali basicamente usamos só o phase 90 MXR e o MicroAmp, que é como se fosse um pré, da MXR.

Em linha vocês não usaram nada?
Eber:
Só os violões (direct box) Countryman, pré Neve e compressor Demeter valvulado, que é um som que ele pede pra tirar bastante a baixa, esculpir o som. O som é bem mais agudo e bem comprimido.

E os violões?
Eber:
Basicamente usou um violão só, um Taylor modelo 812 CE, de seis cordas. Em algumas faixas foi o próprio Lulu que gravou os baixos, com um Danelectro quatro cordas. Nas guitarras foram usadas Jerry Jones de 12, feita sob encomenda, a guitarra Sitar Jerry Jones, uma Fender Stratocaster de 1980, duas Jaguar e duas Jazzmaster (novas).

Do ponto de vista operacional e logístico, o que é importante ter em um estúdio para um artista desse tipo? O nível exigido, os cuidados, o que pode e o que não pode...
Igor:
A gente tenta fazer um conhecimento do artista, das coisas que ele gosta e procurar deixar mais ou menos tudo pronto, para ele perder o menor tempo possível em detalhes. Tentamos chegar com a situação muito definida para que ele só execute.

Alex de Souza: Não tem que dar muitas opções para o Lulu. Tem que mostrar o caminho e se ele não gostar ele vai dizer. Não pode dizer que tem dez microfones para ele. É melhor dizer qual é o melhor e testar. Se ficar ruim obviamente o Lulu vai notar. Um coisa que fico brincando, é que ele tem muitos pedais, muitas coisas, então ele deixa tudo em display, como se fosse uma vitrine.

Existe aquela filosofia de não radicalizar muito na gravação, porque na mixagem, várias coisas podem ser adicionadas. Qual foi a filosofia na gravação?
Eber:
Procurei chegar num som que mais me agradava e que estou acostumado a escutar aqui dentro. Meti a mão mesmo, e o som chegava pronto no Pro Tools, usando meus pré-amps. Uma filosofia que a gente adotou neste disco foi que o Lulu queria construir o disco em cima de bases que soavam bem. A bateria ele queria que soasse muito pronta. Eu trabalhei quase um ano com ele na pré-produção. Com as críticas construtivas feitas pelo Lulu ao longo da demo, fui pegando o som e aprimorando até chegar a um resultado que ele realmente achou legal. Eu já gravei muita coisa flat. Mas com a necessidade de às vezes mandar a coisa já pronta você chega a um resultado melhor, porque vai construindo aos poucos. Não tive grandes trabalhos. Inclusive tem uma música da pré que vai pro disco. A base foi gravada na pré, a gente gravou de novo e a versão da pré ficou melhor. É a faixa Salto fino. No Pro Tools só pode mexer um canal por vez. Então era mais legal eu já mandar o som da batera que soasse agradável. É diferente de ter tudo ali na mão (com um Pro Control, por exemplo). Eu já colocava a guitarra em cima e agradava, tudo limpinho, agudinho. No máximo botava um compressor, fazia um master...


As guitarras e o pedaos isadps em Programa

Alex: O Lulu sempre quis ouvir a música mixada, ainda na gravação. Coisa que em um estúdio análogo seria muito difícil fazer, porque não tem fader. O Pro Tools viabilizou isso. A gente gravava, o Eber mixava por uma hora, já estava um som bom, e aí ele botava mais coisa. Ele construía em cima do que já tinha certeza. Foi requisito básico. Ele pedia a toda hora que esse tipo de coisa acontecesse.

A gente acaba percebendo que ele conta muito com a opinião de vocês...
Eber:
Nunca houve uma pergunta tão aberta, do tipo "O que você acha?". É mais uma coisa de perceber. Um dia ele me falou que queria ouvir as coisas soando mais vivas. E pensei "Como consigo chegar nesse resultado?". Todo mundo fala para não gravar comprimido. Em nenhum momento usei compressão pesada. Usei compressão leve, até para simular a compressão de fita, algo em torno de 2:1 em alguma kick, caixa. E já equalizando. O que eu estava tirando e adicionando já era aquilo mesmo, porque já conheço o trabalho.

Ele não usou fone, certo?
Eber:
Só na gravação de batera e baixo com a guitarra. Quando era overdub ele se monitorava pelos monitores da técnica. Ele ouviu pelos monitores e achou interessante. A gente conseguiu um bom resultado de gravar na mesma sala. Com o auxílio de um ClearSonic, um divisor de acrílico (que separou a bateria da técnica), conseguimos um resultado dele gravar se monitorando por caixa e com pouquíssimo vazamento.

Eber: E ele não gravou com a guitarra no talo, usou um volume bem razoável. E a proximidade dos microfones também não dá tempo de vazar. A gente até solou, mas pelo volume que a gente estava utilizando - com a Dynaudio - lógico que não abrimos lá no alto, mas é uma coisa imperceptível. Não valia à pena usar o fone.

Quais microfones foram usados na bateria?
Eber:
D112 no bumbo passando no Neve 9098 e indo para o compressor Demeter. Na caixa, o Shure SM-57 passando no Neve indo pro compressor dbx 1066. Esteira SM-57 na Yamaha O2R direto. Tom tom o Sennheiser 421, passando na O2R. No over: dois AKG C-414, passando no TL Audio (pré-valvulado) e também num equalizador Aphex 109 Tubessence.

E como foi o baixo?
Eber:
Foi ligado no Pod, pegando o sinal direto, em linha, sem o processamento do Pod e o outro vindo do Pod. O sinal limpo ia para um pré Tube Pack valvulado e para um equalizador Yamaha. A linha é direto para a O2R e daí direto para o Pro Tools. Esse som pode vir processado. O baixo que o Lulu tocou foi captado pelos amplificadores BassMan, com a mesma microfonação e os mesmos pré-amps que a gente usou para a guitarra.

Quando gravavam mais músicos ao vivo aqui como era a distribuição física?
Alex:
Bateria no canto, a gente em um semi-círculo e o Lulu no meio com o microfone. Com quatro ou cinco músicos a gente gravava simultâneo, como se fosse ao vivo. Todo mundo de fone. A guitarra guia passa por um Pod Line 6 para simular um amplificador. Isso é uma coisa para simplificar a gravação de base e não ter que se preocupar com a guitarra. A gente se preocupou com a bateria e o baixo. E o resto ficava para depois.

E voz? Aproveitou alguma coisa da pré?
Eber:
Não. Tem muito vazamento. Estamos utilizando dois setups diferentes. Foram dois setups de voz: um é o Solid Tube com Joemeek e Aphex 109. O outro setup é o mesmo mic, com Neve 9098 e um compressor dbx 160XT. Tem ainda uma terceira opção que é com o SM-57 ligado no TubePack e equalizador o Aphex 109, para tirar uma voz com sonoridade estranha - quando ele faz o rap. Então tem uma voz hi-fi, e uma voz low-fi, ruim.

Fubá Estúdio: www.fubastudios.com.br; fuba@fubastudios.com.br
www.lulu.com.br

 
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.