RSS Facebook Twitter Blog
Revista Luz & Cena
Review
Review
Áudio Música & Tecnologia
Publicado em 07/12/2010 - 17h19
Reciclagem musical

Recriar a trilha sonora de um longa-metragem lançado originalmente nos anos 60, e que trazia a finesse do jazz da época como seu tema, deve ser uma tarefa, no mínimo, complexa. Principalmente se desta participaram nomes importantes como os do compositor Burt Bacharach e do saxofonista Sonny Rollins.

Para tal responsabilidade foram solicitados dois gigantes da world music: Mick Jagger e Dave Stewart. O primeiro dispensa comentários, enquanto que o segundo - produtor e metade exata da dupla pop Eurythmics - vem se destacando além do trabalho que carrega há anos com a parceira Annie Lennox.

Juntos, os músicos assinaram toda a produção e composição do remake de Alfie, que volta às telonas sob o olhar do diretor Charles Shyer. A exceção ficou por conta da faixa-título, composta por Bacharach.

O álbum, que foi totalmente registrado nas salas de gravação de Abbey Road, abre com o vocalista dos Stones dando um banho de interpretação em Old habits die hard. A bela canção de Jagger e Stewart recebeu o Globo de Ouro de Melhor Canção Original, e ganha, de cara, duas versões, sendo uma delas acústica.

Nessas faixas, Jagger é acompanhado por uma banda ultracompetente, que destila timbres e execuções perfeitas de instrumentos como guitarras de 12 cordas, Hammonds e bandolins, por sinal, muito bem tirados de dento do lendário estúdio.

Esse formato (com original track mais unplugged track) é novamente considerado em Blind leading the blind, que surge com climas e BPMs variados.

Mas a grande surpresa fica mesmo por conta da participação da convidada de luxo, a bela Joss Stone, que aparece num impressionante duo vocal com Jagger em Lonely without you, além de deixar sua marca na dançante Wicked time e na faixa-título, que foi eternizada na voz de Dionne Warwick.

Há dias sem ser tirado do som, este CD serve, antes de tudo, para se mostrar como se faz uma verdadeira trilha sonora. O resto é balela!

(Rodrigo Sabatinelli)

Maturidade musical

Depois do lançamento do álbum Humanos, a banda gospel Oficina G3 volta em grande estilo. Além do que os olhos podem ver é o primeiro disco do grupo desde a saída de seu antigo vocalista, PG, e marca o início de uma nova fase musical.

Gravado no estúdio LORd G, em São Paulo, o álbum traz letras fortes e arranjos elaborados. Percebe-se unidade entre os instrumentos nas 14 faixas do CD e acredita-se que esta simboliza a real identidade do trio. Juninho Afram - incumbido de substituir PG nos vocais - está muito bem no novo posto. Duca Tambasco e Jean Carllos esbanjam, como Juninho, técnica e segurança na execução das músicas.

Segundo o produtor da banda, Gera, proprietário do estúdio onde o disco foi gravado, este é um álbum mais pesado e virtuoso e relata os pensamentos atuais da banda com arranjos híbridos - pegada do rock mais elementos do eletrônico. É um som alternativo. Já na primeira faixa, Mais alto, é possível perceber a diferença de sonoridade que há no CD. A seguinte, Réu ou juiz, deixa transparecer através de sua letra forte os indícios da maturidade musical do grupo.

Mas as novidades do lançamento do Oficina G3 não param por aí. Gera destaca que todas as faixas do disco estão encadeadas. Tem-se a impressão de que as músicas estão fundidas numa continuidade que, de acordo com o produtor, é inédita em discos da banda. Com as canções Meu legado, Atrás da porta e Além do que os olhos podem ver, esta ligação é perceptível. Este talvez seja o ponto alto do CD.

Propositalmente ou não, percebe-se no novo disco do grupo - até mesmo pela mistura do rock com o toque eletrônico - elementos atuais do cenário musical secular. Há faixas que remetem [sem perder a originalidade] à sonoridade da banda norte-americana Linkin Park. Em nada se parece com o que se chama de cover. O que há é o aproveitamento inteligente de uma sonoridade que deu certo no meio secular e tem tudo para se enquadrar nos novos padrões do segmento gospel.

De forma geral, o disco mantém a linha rock'n'roll e deixa de lado as clássicas baladas do gênero, que marcaram presença em álbuns anteriores. O atual encerra com a lenta Queria te dizer. A faixa exala suavidade e se encaixa bem após a profundidade sonora das que a antecedem.

Além do que os olhos podem ver foi gravado em Pro Tools Mix Plus. Para a microfonação, Gera optou pelos modelos NT1000 e NT3, da RODE, BETA 57, BETA 98, BETA 91 e SM57, da Shure, e B-ULS414 e D 112, da AKG.

(Ana Carolina Costa)


Histórico e inédito

Inacreditável é o mínimo que se pode dizer sobre o DVD O gênio Ray Charles - Live in Brasil - 1963, produto lançado recentemente pela Warner Music, que detém agora os direitos de lançamento e reprodução de toda a obra de um dos maiores soul men da história.

As imagens, registradas em preto e branco durante duas apresentações feitas no Teatro Cultura Artística, em São Paulo, foram extraídas de um videotape fornecido pela TV Excelsior - emissora que viabilizou a vinda do cantor ao país e que, na época, exibiu sua apresentação - e mostram Charles no melhor momento de sua carreira, do alto de seus 33 anos.

Aliás, a fidelidade da exibição no DVD é tamanha que até mesmo os comerciais das Lojas Erontex, um dos patrocinadores do show e do disco Ray Charles entre nós, compilação lançada pela Polydor na época para aproveitar a vinda do ídolo ao Brasil, não ficaram de fora.

O show começa com What´d I say e segue com Take these chains from my heart, You are my sunshine, Set me free e Country roads. Nada melhor, principalmente para quem o conhece a fundo.

Na seqüência deste set matador há outros petardos, como In the evening (Even the sun goes down), Just a little lovin´Margie e Hit the road Jack aparecem. Essa última, sem dúvida, a melhor de todo o espetáculo. As clássicas I Can´t stop loving you e Unchain My Heart também comprovam o vigor de Ray, que, jovem, cantava como poucos.

Com a morte de Charles em 2004, aos 73 anos de idade, ficou órfã uma incrível quantidade de fiéis, adoradores de sua musicalidade. Muito comum, uma avalanche de produtos, entre eles tributos, tomou conta do mercado fonográfico e, claro, do mercado de DVDs e entretenimento.

Descanse em paz, mestre!

(Rodrigo Sabatinelli)
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.