RSS Facebook Twitter Blog
Revista Luz & Cena
Capa
ESTÚDIOS DOUBLE SOUND
Aprovados por Disney e George Lucas
Lígia Diniz e Paulo Mills
Publicado em 01/09/2002 - 00h00
Leonardo Rozário
 (Leonardo Rozário)
Desde a primeira vez que os estúdios Double Sound apareceram na M&T, em 1996, praticamente tudo mudou. O que era uma simples sala em uma casa alugada virou um pequeno complexo, com cinco estúdios de dublagem e uma sala de mixagem recém-inaugurada. E não pára por aí: além de ter-se firmado como um dos principais estúdios para a dublagem de desenhos animados da Disney e da Dreamworks, o Double Sound vem investindo bastante em seu estúdio de mixagem e é o primeiro do Brasil a ostentar o selo de qualidade THX, criado por George Lucas para certificar estúdios e salas de projeção. Baseada em um sistema Pro Tools com mesa Pro Control, a sala tem a monitoração 5.1 controlada por um cérebro THX, que controla as caixas do sistema. A idéia é tornar viável a mixagem made in Brazil das versões brasileiras das produções importantes, que por enquanto ainda são feitas nos grandes estúdios dos EUA. Mas, se depender do empenho dos sócios Marcelo Coutinho e Luiz Guilherme D'Orey, é só uma questão de tempo. Nessa conversa, ficamos sabendo dos planos da dupla e aprendemos também como é o processo de dublagem.

COM A DISNEY DESDE O INÍCIO
O Double Sound começou com uma sala só, baseada em um DA-88 e as fitas eram encaminhadas para um gravador U-Matic. O estúdio - hoje a sala A - foi pensado para fazer qualquer coisa. Começaram com música e passaram pouco a pouco a fazer versões brasileiras dos vocais das músicas da Disney. Decidiram então se enveredar para a área de dublagem de diálogos. "Começamos devagarzinho, com um filme aqui e outro ali. Era um mundo completamente novo", diz Marcelo Coutinho, sócio e diretor artístico do Double Sound.
Este mundo novo incluía desde os scripts, traduções e adaptações até a gravação da dublagem em si, além da relação com diversos profissionais, como os diretores de dublagem e os próprios dubladores e seus sindicatos. A palavra estúdio acaba significando algo bem maior, muitas responsabilidades e um processo que vai desde a tradução até a edição.
A escolha por esse caminho na área de dublagem tem a ver com as atividades dos sócios Luís Guilherme D'Orey e Marcelo Coutinho. O diretor técnico D'Orey começou a trabalhar com direção musical de desenhos animados em 1992. As dublagens para filmes eram feitas nos estúdios da Dell'Arte, enquanto as músicas de filmes para cinema eram gravadas nos estúdios da Som Livre, onde D'Orey trabalhava, e que usava fitas de duas polegadas. A Som Livre tinha um estúdio de cinema, com som surround, que era alugado para a Dell'Arte. Foi lá que D'Orey e Marcelo, então diretor musical da Disney no Brasil, se encontraram.
Os dois ficaram vidrados no trabalho de som para desenhos animados. "Começamos logo com o filet mignon", diz Marcelo, lembrando que as primeiras experiências foram com filmes da Disney. O contato foi o diretor de dublagem Telmo Perle Münch, do Dell'Arte, que fazia as traduções para os desenhos animados. "Ele era o homem-Disney no Brasil, o responsável por todos os projetos", explica Marcelo.
Marcelo Coutinho explica que o trabalho de dublagem inclui somente as vozes de diálogos e músicas. A parte de foley, incluída no chamado M&E (music and effects), nunca é refeita nas versões em outras línguas: a original é sempre usada. Isso porque as vozes são gravadas em uma pista diferente e esta será a única pista a ser modificada na versão com a dublagem dos diálogos. Nos filmes grandes, o M&E - tudo menos o diálogo e o vocal das músicas - é igual para o mundo inteiro. Os estúdios internacionais mandam as vozes somente para referência.
Até mesmo coros podem ser - e são, com freqüência - dublados para o português. Coutinho conta que já houve o caso em que refizeram um coro em um dialeto africano. O filme era O Rei Leão II [que saiu apenas em vídeo e DVD] e os direitos de gravação do tal coro haviam sido liberados apenas para a distribuição nos Estados Unidos. Coutinho conta que acabaram gravando, em africano, para o mundo inteiro. "Tivemos que ouvir e copiar sílaba por sílaba, consultando até o Consulado africano", lembra D'Orey. 

O processo de dublagem começa com a chegada de uma fita DA88, junto com um vídeo de referência. Pela Internet é mandado o script, que é enviado então ao tradutor. Nos grandes filmes, os produtores vão mandando diversas preliminares do que será o produto final, enquanto o filme ainda não está pronto. "Nesse meio tempo, já vamos fazendo os testes de voz para escolher qual dublador se encaixa melhor em cada personagem". Isso acontece cerca de três ou quatro meses antes de um filme acontecer. Por isso, eles vão mandando para os outros países as partes que vão ficando prontas, "para já ir adiantando o trabalho", explica Coutinho.

No processo de testes de voz, são selecionadas no mínimo três opções, que são então enviadas para os Estados Unidos, e a produção do filme é quem escolhe qual o dublador mais adequado. Estes testes de voz são enviados através da Internet, no caso da Disney, utilizando um programa chamado Channel D. A escolha dos candidatos é fruto do bom senso, e baseada em uma "carta criativa" enviada pela produção, onde são descritas as características do personagem. "Quando você escuta a versão em inglês, já se lembra da voz de um dublador que tem a ver com a original", afirma Marcelo.


O estúdio de dublagem A, onde tudo começou

MARKETING VERSUS COMPETÊNCIA
Nos últimos quatro ou cinco anos, vem se observando um número muito grande de dublagens feitas não por dubladores profissionais, mas por atores famosos - de preferência globais - que vão emprestar suas vozes não por serem as mais adequadas, mas porque seus nomes são garantia de boa bilheteria. Marcelo e D'Orey explicam que estes dubladores amadores, que foram recrutados pela primeira vez numa jogada de marketing da Disney, recebem um nome especial: star talents.
Na opinião dos sócios, essa foi uma tática para atrair o público adulto, que sempre teve um certo preconceito em relação a filmes dublados, muito em função de uma tradição de dublagens ruins, especialmente de filmes e seriados de televisão. "O problema é que muitas dessas pessoas não falam inglês e precisam ler legendas. E é comprovado que lendo as legendas, o espectador perde 30% das imagens. Os star talents trouxeram então o público adulto que ia ao cinema ouvir seus artistas preferidos". Segundo a Disney, as vozes famosas significaram um aumento de 15% na bilheterias de desenhos animados dublados.
O processo de seleção dos star talents é bem diferente: no caso da Disney, por exemplo, é a direção no Brasil, comandada por Garcia Jr., quem aponta os atores que têm a ver com o papel. Os profissionais do Double Sound ficam fora desta escolha, porque é basicamente uma questão de marketing e não de talento e criatividade. O mesmo tipo de processo acontece também na dublagem de músicas, como foi o caso do filme Tarzan, em que Ed Motta fez as vozes que no original eram de Phil Collins, enquanto o ator Eduardo Moscovis dublou Tarzan.

O uso de star talents no lugar de dubladores profissionais têm vantagens comerciais, mas não necessariamente de qualidade. "Muitas vezes o ator é ótimo, mas não está acostumado a dublar e não tem a mesma facilidade e o domínio dos dubladores, então acaba levando muito mais tempo", admite Coutinho. A Disney foi a pioneira no uso de star talents, seguida por Dreamworks, Warner e Universal, entre outras. Mas hoje ela já está começando a abrir mão do recurso: o filme Lilo & Stitch, lançado em junho somente em cópias dubladas, já não traz nenhuma voz global.
Nos Estados Unidos, é usado o termo voice actors - ou seja, atores de voz - para denominar os dubladores profissionais. "Quando um dublador começa a ler o script, ele já começa a fazer todo o gestual, parece que ele mesmo é o boneco", elogia D'Orey, explicando que os primeiros voice actors foram os atores de rádio, que também precisavam passar todas as emoções através da voz: Orlando Drummond, Jorge Ramos, Milton da Mata, entre outros.
Depois da escolha dos dubladores do filme e com as traduções dos diálogos também já feitas e revisadas, começa o processo de gravação. Segundo D'Orey, este estágio leva cerca de dez dias para ser completado, com um turno de oito horas por dia. "A dublagem em cinema é feita em um ritmo muito mais lento que em televisão", diz o diretor técnico do estúdio. Depois da gravação, feita em Pro Tools, a equipe do Double Sound faz a edição dos diálogos. A mixagem é feita nos estúdios dos Estados Unidos, por enquanto.
Um grande divisor de águas no mercado de gravação e mixagem de cinema foi a entrada do DA88, no meio dos anos 90. "Saímos da fita de duas polegadas para um formato muito menor e mais prático. Foi o mesmo que o ADAT fez pela música, só que com uma tecnologia ainda mais apurada e mais voltada para o cinema", lembra Coutinho.
E foi nessa que Coutinho e D'Orey embarcaram, já que, até então, os estúdios do Rio trabalhavam fazendo a dublagem diretamente em U-Matic, ou seja, no vídeo. "O vídeo tinha dois canais: enquanto em um ficava o original, sendo mandado para o ouvido do dublador, o outro gravava a dublagem", conta D'Orey. "Na verdade, eram vários dubladores em um canal só. Se numa cena houvesse cinco vozes, ficavam as várias pessoas na sala, se revezando no microfone! E tem estúdio que faz isso até hoje, por incrível que pareça", diz ele.
Coutinho e D'Orey entraram de cabeça na DA88, gravando cada voz em uma pista diferente. O Double Sound foi um dos primeiros estúdios a gravar em multipistas, seguindo uma diretriz da própria Disney, que apontava o gravador como tendência. "Gravando em uma só pista, a mixagem se torna muito complicada. Imagina se um dos personagens tem que gritar no meio da cena! Os próprios dubladores tinham que modular a voz no microfone: 'Vai gritar? Então se afasta!'", exemplificam.
Além disso, a dublagem era feita na mesma ordem do filme. Se o filme começasse com o personagem principal e mais dois, os três se reuniam, a cena era dublada e ficava pronta. Em seguida, se fossem outros os personagens, outros dubladores se reuniam e faziam a cena. E assim por diante. A escalação era bastante complicada, porque os grupos das cenas tinham que ser formados, nos chamados esquemas, para que as gravações não atrasassem ou ficassem mais caras.

CINEMA DITA TENDÊNCIAS PARA MÚSICA

O Double Sound e seu DA88 começaram a mudar esse processo e foram até criticados pelos outros empresários do setor, de acordo com Marcelo Coutinho. O trabalho dos diretores de dublagem ficou bem diferente: ao invés de fazer a gravação de cada cena de uma vez só, ele passou a ter que fazer tantas vezes quantos fossem os personagens. Como eles ganhavam por hora, passariam a ganhar bem mais. "Tentamos então pensar de que forma adequar a remuneração, de forma que eles ganhassem mais, mas sem representar um aumento tão grande nos gastos", diz Coutinho.
 A solução foi fazer com que os diretores de dublagem se tornassem parceiros do processo, ganhando por minuto de filme. Entre as vantagens do multipistas sobre o U-Matic, está a praticidade: segundo eles, gravando em um só canal, loops [divisões dos scripts de dublagem] inteiros tinham que ser refeitos, com os dubladores de todos os personagens presentes, no caso de apenas um deles ter errado. Além disso, o dublador sozinho faz seu trabalho mais rapidamente. Por essas e outras - sem falar da qualidade técnica - o gasto maior com os diretores acabou sendo compensado pela facilidade que o DA88 e a gravação em multipistas trouxeram para o processo de dublagem.


Os sócios Luiz Guilherme D'Orey e Marcelo Coutinho


Para Coutinho e D'Orey, o segundo grande divisor de águas foi o Pro Tools, que começou a ser usado antes no cinema e depois foi cooptado pela música. "A maioria das inovações tecnológicas chega primeiro ao cinema para depois passar para o campo da música. O cinema dita as tendências", acredita Coutinho. "Um exemplo é o surround, que começou com a telona, passou para os home theaters e depois para a música, e daqui a pouco vai invadir os jogos eletrônicos também", completa D'Orey.
"Com o Pro Tools, diminuiu bastante aquela história de 'está um pouco desafinado, vamos de novo'", afirma Coutinho. De acordo com ele, com o DA88 já era possível fazer algumas pequenas afinações, mas os recursos eram muito limitados e o risco de distorcer a gravação, mudando o timbre, muito grande. "Com a tecnologia do Pro Tools, tudo mudou e é impossível não seguir essa tendência, porque é para lá que o mercado vai. Mesmo com todo o investimento necessário, não há outro caminho", diz ele, lembrando que o Double Sound é proprietário de sistemas da Digidesign há quatro anos.
Os sistemas Pro Tools, que hoje são utilizados desde a gravação, foram adquiridos a princípio apenas para o trabalho de edição, que é o terceiro estágio do trabalho do estúdio, depois da seleção de dubladores e da gravação. Nessa etapa, é feito todo o ajuste fino do lip sync [sincronização do movimento dos lábios com as falas dubladas]: o técnico pode estender ou comprimir e adiantar ou atrasar as falas para que caibam melhor no movimento dos personagens do vídeo, sem mudar o pitch.

Todos esses detalhes têm que chegar à mixagem totalmente prontos, até porque os técnicos americanos não conhecem a língua portuguesa e não saberiam fazer a edição, já que não sabem quais são os sons determinantes no idioma. "As mixagens são sempre feitas nos estúdios da Disney. Então, chega a hora de mixar Lilo & Stitch, por exemplo, e os técnicos vão mixar quinze línguas diferentes. 80% da mixagem é igual, composta de panoramas e reverbs, tirados de uma master baseada na mixagem original. A edição é importante justamente porque você precisa colocar o cara na pista certa na hora de encaixar a sua gravação", diz D'Orey.
A edição, antes do advento do Pro Tools, também era feita nos Estados Unidos. A fita de DA88 era mandada para os grandes estúdios com a gravação da dublagem bruta e a edição era feita diretamente lá. Mas os técnicos acabavam cometendo vários erros por desconhecimento da língua, cortando sons importantes, como o b de um "bom dia". A confusão só era percebida na hora da mixagem, com a presença dos brasileiros, que sempre acompanham esta etapa lá nos EUA para garantir a qualidade para o público brasileiro. Mas, assim que as condições tecnológicas permitiram, a edição passou a ser feita no Brasil, o que hoje é considerado imprescindível.

O SONHO DA SALA DE MIXAGEM E O SELO THX
Fazer a edição nos próprios estúdios da Double Sound trouxe ainda vantagens para a fase da gravação. "Sabendo que teremos a facilidade de editar os diálogos, a dublagem fica mais livre. Às vezes, estamos com um ator que precisa fazer uma cena super difícil e ele consegue fazer uma gravação muito boa, com emoção, mas que passa um pouco do tempo... Tudo bem, isso não é mais problema, porque podemos ajeitar na edição", explica Coutinho.
Na opinião de D'Orey e Coutinho, outro responsável por criar tendências e ditar o futuro tecnológico do cinema é o produtor e diretor George Lucas. O idealizador de Guerra nas Estrelas tem a seu dispor uma equipe de pesquisadores dedicados a desenvolver novas tecnologias em áudio e vídeo. E, para garantir que o padrão de suas produções pudesse ser mantido nas salas de projeção, criou o selo de qualidade THX, depois estendido também para salas de mixagem e pós-produção.

 
Os estúdios de dublagem E e F são praticamente iguais e foram projetados pelo americano George Augsburger.

Em uma das idas aos Estados Unidos para mais uma mixagem de uma dublagem feita no Double Sound, Coutinho e D'Orey começaram a pensar em construir uma sala para que todas as etapas da versão brasileira dos filmes pudessem ser feitas aqui, incluindo a mixagem final. Há cinco anos, os dois sócios alugaram o andar de baixo do prédio em que já funcionava o estúdio A. Analisando a planta, decidiram fazer dois novos estúdios de dublagem, "com toda tecnologia de ponta", porque os três que já existiam (além da A, o Double Sound contava com mais duas salas, B e C, em outro prédio na mesma rua) já não estavam dando conta da produção. A área mais larga da planta foi reservada para a sonhada sala de mixagem.
As plantas foram então encaminhadas para o projetista americano George Augspurger. "Foi fax pra lá e pra cá, porque ele não fala por telefone e ainda não tinha e-mail", lembra D'Orey. Terminadas as obras dos novos estúdios de dublagem (E e F), seguindo à risca o projeto de Augspurger, o estúdio de mixagem teve que esperar mais um pouquinho. "As obras da sala de mixagem foram feitas num passo mais lento, com mais cuidado", explica ele.
D'Orey conta que, notando que a sala estava ficando muito boa, começou a pensar que não deveria arriscar montando os sistemas por conta própria. Era o começo do 5.1. "Seria um investimento muito grande e eu, mesmo já tendo experiência em áudio, achei que deveria recorrer a um especialista", diz. Foi então que a idéia da THX surgiu na cabeça de D'Orey. Pesquisando o site do selo, ele descobriu que existia um programa especial, chamado PM3, para estúdios de médio porte.
Foi assim que, no final do ano passado, o Double Sound se tornou o primeiro estúdio do Brasil a ter o selo THX/Lucas Film. Depois de enviados os dados necessários, a THX mandou a planta e todas as especificações de modelos de caixas e a que distância e altura deveriam ser colocadas, além da amplificação e de detalhes de onde deveria ser posicionada a tela. "Tudo milimetricamente detalhado e baseado no projeto de Augspurger".

De acordo com Coutinho, para mixar alguns filmes da Universal e de outros estúdios, mesmo que seja em português, é condição sine qua non que o estúdio tenha o selo THX. Ele explica ainda que a certificação é um meio de controlar a monitoração dos estúdios, não havendo critérios em relação ao resto do equipamento, como as consoles. "O George Lucas foi muito esperto, porque quando surgiu o 5.1, todo mundo colocava as caixas de qualquer forma. Ele foi o primeiro a criar um padrão", completa D'Orey.
Concluído o projeto e adquiridos os equipamentos, D'Orey e Coutinho chamaram a empresa carioca Ground Control para fazer a instalação. O passo seguinte foi a vinda de um técnico da THX para fazer o alinhamento e a medição das caixas do sistema da sala de mixagem. Depois as medidas foram levadas para os laboratórios da THX, onde foram analisadas para o estúdio ser enfim certificado. "O padrão deles é super rigoroso, não pode haver nenhum ruído de fundo. Se eles não gostarem, dizem que não têm condição de conceder o selo e pronto", diz Coutinho.

O estúdio de mixagem do Double Sound ficou pronto em julho. Baseado em Pro Tools, com três interfaces 888/24, com uma mesa Pro Control, o sistema usa o CC4, um controlador de crossovers da THX, que gerencia as sete caixas do sistema. São três monitores ativos MPS 2510P atrás da tela, e quatro MPS 2525, além do subwoofer MPS 5310, todos M&K. O primeiro filme a ser mixado em 5.1 no Double Sound será Barbie Rapunzel, parceria da Mainframe Entertainment com a Mattel, fabricante das bonecas. Para coordenar os trabalhos no estúdio, foi chamado o técnico Marcos Sabóia.

 
O CC4, da THX, controla as caixas do sistema da sala de mixagem


O isolamento das salas novas do Double Sound - salas de dublagem E e F, e sala de mixagem - foi feito segundo o sistema box in box, ou caixa de sapato. "Como as salas ficam no subsolo, com terra embaixo, fizemos uma espécie de rasgo no chão, que isolou a laje do resto do prédio. Cortamos toda a lateral onde iria ficar a mixagem e demos um espaço de cerca de 70cm", explica D'Orey. "Não existe contato entre uma parede e outra".
A sorte de Coutinho e D'Orey foi que o prédio pertencia anteriormente a uma fábrica de computadores e a parede do subsolo tinha um pé direito bastante grande, suficiente para este sistema de isolamento: eram cerca de 6m de altura.
Os dois sócios lamentam que a parte de foley - dublagem de ruídos de sala - não seja muito trabalhada no Brasil. Eles acreditam, no entanto, que o som para cinema nacional está melhorando bastante e cada vez menos concentrado no som direto. "Além disso, o costume de mixar o som no exterior está crescendo e isso é bom na medida em que as tendência e avanços tecnológicos internacionais são incorporados à atividade aqui no Brasil. A indústria de cinema americana é uma máquina que funciona 24 horas por dia. Eles têm muito a ensinar para a gente. E é isso o que a gente quer: que ninguém precise viajar para os Estados Unidos e pagar US$700 por hora de mixagem", afirma Coutinho.
Esta busca pelo futuro da tecnologia é levada a sério pelo Double Sound. O responsável por olhar sempre adiante é D'Orey. "Hoje o 5.1 é uma coisa super normal. Qualquer estúdio tem", exemplifica. "Agora a preocupação é o que fazer para melhorar a qualidade do 5.1 e proporcionar um diferencial. Um sistema surround você compra no Ponto Frio! Mas a gente sabe que não é bem assim: existe um parâmetro e normas de posicionamento para que o cliente possa ouvir no estúdio da mesma forma que vai ouvir no cinema".

Depois de organizada toda essa estrutura para dublagem e mixagem para cinema, será que não dá uma vontade de fazer algo também na área musical? "A gente tem pensado bastante nisso, em fazer um braço do estúdio para música, um Double Sound Records", diz Coutinho, cuja formação é mesmo na música: ele é cantor lírico.
A idéia vai além: eles pensam em criar um selo de gravação. "Não sou um expert em tecnologia, mas uma coisa boa eu tenho: meus dois ouvidos. Sei julgar o que é bom e o que é ruim", afirma Marcelo. Mas os planos ainda estão na gaveta: "o problema é que quando se fala de música, tem-se que falar de mercado. E sabemos que essa parte hoje é muito difícil. Muitos projetos legais não dão certo porque você não consegue vender ou emplacar", completa, lembrando ainda que, mesmo já tendo a estrutura para gravação, ele precisaria de uma equipe só para a parte musical.


A TV É QUEM FAZ A MÁQUINA FUNCIONAR
O Double Sound faz dublagem para TV, home video e cinema, trabalhando com Disney, Dreamworks, Universal, Warner, além de uma parceria com uma empresa americana que tem contatos com distribuidoras de desenhos pequenos. O valor e os prazos influenciam a atividade, claro: "Em televisão, são cinco episódios por dia; tudo é baseado em data. É preciso ter mecânicas diferentes para o trabalho em cada tipo de produto", diz D'Orey.
Coutinho admite que o que faz a máquina andar mesmo é a TV. "O volume de trabalho em televisão é o que faz isso aqui funcionar no dia a dia, porque é uma quantidade de trabalho enorme", diz ele. Os filmes para cinema são trabalhos grandes, mas em volume imensamente menor. Os grandes filmes chegam geralmente no começo do ano, para que estejam prontos para as férias de julho, ou no meio de ano, para as férias de verão. Os últimos trabalhos feitos no Double Sound foram os sucessos Spirit - O Corcel Indomável - da Dreamworks e Lilo & Stitch, da Disney. O próximo trabalho, também da Disney, será a dublagem de Treasure Planet, ainda sem título em português.
Outro segmento que tem ganhado força é o chamado direct-video, longas-metragens animados numa versão mais simples, que são lançados diretamente em vídeo, como foi o caso de Rei Leão 2, de 98, e de Atlantis 2 e Barbie Rapunzel, que vão começar a ser dublados. Também fazem parte do currículo do Double Sound dublagens de séries como Spin City e Popular e desenhos animados. "A gente alimenta 50% do Disney Channel [canal de TV por assinatura] no Brasil, e dois outros estúdios dividem o resto", conta D'Orey.
O contato é feito a cada filme. "Não existe contrato, temos que ser eficientes em todas as produções. É a qualidade de cada trabalho que chama o próximo", diz Coutinho. Os diretores de dublagem dos grandes estúdios fazem a distribuição de seus trabalhos para os estúdios de dublagem conforme a qualidade e a disponibilidade de cada um. "Um trabalho de dublagem nunca é elogiado. Se ninguém reclamar, é porque está tudo bem", concluem.

Para mais informações, ligue para (21) 2589 1352 ou confira o site www.doublesound.com .
Esta matéria foi feita com a colaboração do produtor musical Carlos Mills


CC4 - CONTROLADOR DE CROSSOVER 5.1 DA THX
O CC4 da THX foi desenvolvido com o objetivo de resolver a maioria dos problemas de monitoração 5.1, corrigindo as particularidades do sistema de alto-falantes e da acústica de cada sala de mixagem, para que resulte numa monitoração padrão. Para isso, o CC4 foi projetado para atuar em duas frentes: no gerenciamento de graves e na resposta em freqüência do sistema. Além disso, o CC4 permite alternar entre quatro fontes de sinal, solar cada canal da monitoração, bypassar a equalização THX e controlar analogicamente o volume. O crossover atua em torno de 80 Hz, filtrando os cinco canais principais com 12 dB por oitava. Todos os cinco canais passam também por filtros passa-baixas de 24 dB / oitava, que são somados ao canal LFE (low frequency effects ou efeitos de baixa freqüência). Para os que gostam de tremer o chão, o aparelho permite dar +10 dB de ganho no canal LFE. Veja nos diagramas abaixo, como o sistema é montado.

Para saber mais, visite o site www.thx.com

LISTA DE EQUIPAMENTOS

Sala de Mixagem
1 Tela retrátil 92" Da-lite
1 Reverb 5.1 Lexicon 960
3 Monitores ativos M&K MPS 2510P
4 Monitores surround M&K MPS 2525
1 Subwoofer ativo M&K MPS 5310
1 Superfície de controle Pro Control Fader Pack
1 Superfície de controle Pro Control
1 Superfície de controle Pro Control Edit Pack
3 Pro Tools 888 /24
1 Projetor de vídeo Sony VLP W10 HT
1 Controlador de crossover THX CC4 5.1
2 Amplificadores para surround Bryston 4B
3 Equalizadores Rane GE 60
Plug-ins Pro Tools: Maxim compressor, Autotune (Antares) e Pitch'n Time (Serato)
Pro Tools Dolby Surround Tools

Estúdio A
1 Compressor estéreo Avalon VT 747
1 Mesa 24×8×2 Mackie VLZ
1 Harmonizer Eventide DSP 4000B
1 Processador digital Lexicon MPX-1
4 Gravadores Tascam DA-88
1 Amplificador Tascam PA20 MKII

Estúdio B
1 Amplificador Alesis RA-100
2 Monitores Yamaha NS10
1 Mesa 16×4 Mackie CR 1604-VLZ
1 Gravador Tascam DA88

Estúdio C
1 Mesa Alesis 1632
1 Amplificador Alesis RA-100
2 Monitores Yamaha NS10
1 Mesa 16×4 Mackie CR 1642-VLZ
1 Mesa 16×4 Mackie CR 1604-VLZ
1 Gravador Tascam DA88

Estúdio E
1 Amplificador Alesis RA-100
1 Pré-amp mono Avalon M5
2 Monitores Yamaha NS10
1 Compressor dbx 160A
1 Gravador Tascam DA88
1 Amplificador para fones Yamaha A100

Estúdio F
1 Pro Tools 888 / 24 Mix Plus
1 Amplificador Alesis RA-100
1 Pré-amp mono Avalon M5
2 Monitores Yamaha NS10
1 Compressor dbx 160A
1 Mesa 16×4 Mackie VLZ 1604 Pro
1 Amplificador para fones Yamaha A 100
1 Pré-amp/compressor/equalizador Avalon VT 737

Sala de máquinas (estúdio de mixagem)
2 Gravadores Tascam DA 78HR
4 Gravadores Tascam DA 98
2 Conversores S/PDIF / AES / EBU Tascam IF AE8
3 Conversores D/A Tascam IF DA8
1 Mixer Yamaha MX124 12 canais

Microfones
3 Shotguns Sennheiser MKH 416 P48 U-3
1 Cardióide Shure SM 7A
2 AKG C414
2 Audio Technica AT 4050/CMS
1 Neumann M-149
2 Neumann TLM 193

 

 


 
Tags: capa
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.