Sólon do Valle
Publicado em 01/02/2003 - 00h00
Há pouco tempo, uma aluna minha do IATEC me disse que "tinha aprendido comigo a viajar nos conceitos de áudio". Ela é compositora, tecladista e cantora, e decidiu estudar Áudio para se desenvolver na área de produção musical. A afirmação tem uma conotação positiva; não se refere a viajar num sentido de "se perder", e sim de meditar e chegar a conclusões enriquecedoras. Descobriu que o Áudio não é uma ciência fria, e sim uma forma de arte, firmemente baseada em princípios científicos.
Quando eu era um estudante, e mais tarde quando me iniciei na profissão de engenheiro de áudio, muita gente - pouco criativa, certamente - comentava, num tom entre a crítica e a gozação, que eu viajava demais. Minhas viagens tinham sempre o mesmo roteiro: novas sonoridades, novas formas de captar e processar os sons, pilhas altíssimas de caixas acústicas, escolas de áudio, publicações técnicas, e música, muita música, música mesmo acima de tudo. Coisas de um cara viajandão.
Mas que coisa! Não é que essas infindáveis viagens foram se tornando a realidade do dia-a-dia? Não apareceram novos instrumentos musicais? Não apareceram centenas de processadores digitais e virtuais? Não se modernizou a técnica de projeto acústico, usando programas incríveis de computador? Não surgiu o line array? Não surgiram escolas sérias de áudio? E revistas especializadas?
Concluo hoje que eu não estava viajando, pelo menos num sentido delirante ou inconseqüente. Apenas tinha a coragem, perante mim mesmo e perante os demais, de pensar no desenvolvimento de nossa profissão e de nosso mercado.
Viajar é muito bom.