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Revista Luz & Cena
Do Total Analógico ao Exclusivo Digital
Inauguração de Novo Estúdio de Gravação
Cintia Laport e Sólon do Valle
Publicado em 01/11/2002 - 00h00
Marcos Florence
 (Marcos Florence)
Dois mundos completamente distintos. De um lado, a paixão saudosista pelo analógico. Do outro, a busca por ferramentas digitais cada vez mais modernas e poderosas. Pode-se até duvidar, mas ambos fazem parte de um mesmo complexo: os Estúdios Mega. Enquanto o primeiro ostenta uma console SSL 9000 (a segunda da América Latina) e gravadores Studer, o segundo se orgulha por sua coleção de versáteis plug-ins para ProTools e a certificação concedida pela Dolby Laboratories para mixagens em cinema e DVD. M&T lá esteve e trouxe um pouco da história desses dois estúdios localizados em uma charmosa casa no bairro do Pacaembu, no coração da cidade de São Paulo, assim como procurou esmiuçar as principais técnicas utilizadas para a montagem das salas, trabalhos já realizados e uma conversa bastante esclarecedora com os profissionais envolvidos. Ao final, a conclusão de que seja qual for a vertente trabalhada, o mais importante continua sendo o comprometimento com a qualidade e (por quê não?) um empurrãozinho técnico ou mesmo estético para estimular a criatividade.

Console SSL9000 é a "Menina dos Olhos"

Tudo começou há cerca de dois anos no estúdio de gravação que fica no segundo andar do número 1050 da Rua Bahia, no Pacaembu. Nesta casa tombada pelo patrimônio histórico idealizou-se a construção de um sala que não só atendesse a todas as exigências requeridas por seus clientes mas que também oferecesse um algo a mais. O músico e técnico Carlo Bartolini foi a pessoa convidada para encabeçar este projeto, que contou ainda com a assessoria do inglês Jeff Forbes na acústica, Phillipe Neiva (um dos sócios do Mega) no planejamento e também de Alberto Fernandes, com suas opiniões valiosas a respeito de manutenção. 

 
Interior do estúdio de gravação. Em destaque, os difusores acústicos


Segundo Carlo, o principal plano de concepção foi a garantia de um estúdio onde imperasse a neutralidade acima de tudo. "Todas as paredes são acusticamente semelhantes, pois o objetivo foi fazer com que as pessoas escutassem aqui dentro o som mais próximo possível da realidade", explica. Para ele, a experiência de trazer a mesma filosofia, além das possibilidades técnicas e acústicas que são encontradas no exterior para o Brasil foi extremamente comemorada por todos. "Eu queria fazer o melhor", diz Bartolini, que há pouco mais de cinco anos voltou dos Estados Unidos, onde chegou a tocar em bandas, produzir alguns projetos e trabalhar em vários estúdios considerados os top em todo o mundo. Para quem não se lembra, Carlo era o guitarrista do Ultraje a Rigor na gravação do disco Nós Vamos Invadir Sua Praia, em 1980.
Um voraz defensor da causa analógica, Carlo garante que não há nada capaz de substituir um equipamento que "respire". Prova disso pode ser exemplificada através da presença da mesa SSL 9000 que, segundo ele, é capaz de transformar muito o som, bem diferente dos aparelhos digitais - para ele, transparentes e clínicos demais. "A grande vantagem de uma sala analógica é jogar o som em equipamentos onde você sabe que ele sairá diferente e melhor do que entrou", garante.

Considerando a sonoridade da SSL 9000 tão especial quanto a de uma guitarra Les Paul ou um amplificador Marshall, o técnico não poupa elogios à console. Para ele, as SSL fizeram o som da maioria dos discos que fazem parte de nossa cultura moderna. "Mesmo que saia mais caro ter um estúdio com a 9000, para mim compensa pois consigo trabalhar com mais velocidade e versatilidade. O som já vem", afirma Bartolini, que caracteriza o som da mesa tão quente quanto o das Neves antigas, além de toda o poder possível em automação e equalização. "Pelo o que eu sei, ela é a única capaz de fazer mixagem estéreo e surround ao mesmo tempo pela quantidade de buses e auxiliares", acrescenta.
Não só preocupar-se com a perfeição acústica do espaço mas, principalmente, construir uma sala musical  este foi um dos principais cuidados tomados pela equipe. E para que nada fizesse com que saíssem deste caminho, a integração entre os profissionais foi fundamental. Carlo e o projetista acústico Jeff Forbes não se davam trégua e fizeram questão de discutir todos os detalhes, desde o piso da sala até a maneira de prender os tecidos utilizados para a forração das paredes. As reflexões foram minimizadas e o resultado foi uma sala onde o grave não é refletido de jeito algum.
Segundo Jeff, a interação começou com a escolha da mesa: "a princípio, a idéia era ter algo mais modesto, mas como Carlo falou com os diretores do Mega e conseguiu viabilizar uma SSL 9000... Tudo partiu dela". Sim, pois em seguida pensou-se a respeito dos monitores que seriam utilizados. Uma vez que já haviam sido definidas a console e as caixas, todo o resto seria resolvido com mais facilidade dentro da sala.
Quando a obra teve início, todo o piso original foi retirado o que, inclusive, rendeu a idéia de construir um estúdio em vários níveis. Sugestão essa que acabou não vingando. Foi então construído na técnica um piso flutuante, enquanto o estúdio em si permaneceria totalmente isolado. No começo, ele conta que a intenção era o uso de molas, mas o conservadorismo do construtor acabou impossibilitando esta opção. A forma encontrada, portando, foi a colocação de neoprene para o isolamento: "nós vendemos a idéia de que seria um material usado para a dilatação de pontes e o neoprene foi aceito".

Silêncio no Estúdio!

Para o revestimento das paredes foi utilizado um sistema importado dos Estados Unidos composto por tecidos cuidadosamente esticados por toda a superfície. O especialista Zeca Infante, do Rio de Janeiro, foi o profissional encarregado de toda a sua instalação. Em cima dos racks, Carlo havia pedido a Jeff a colocação de um material absorvente com o intuito de evitar reflexões. "Colocamos uma pedra porosa, importada da Europa, que absorve som. Ela é formada por vários pedacinhos grudados com uma resina. Possui 2,5cm de espessura e vem em placas de 50cm × 50cm", explica o engenheiro acústico.
Outro destaque no estúdio é o fato de o ar condicionado lá instalado ser quase inaudível. Um dos segredos desta eficiência deve-se à construção de uma área técnica no andar térreo da casa, com o objetivo de se estabelecer um caminho maior que minimizasse o ruído por causa da distância. Além disso, ficou definido que os dutos passariam externamente por cima da laje do estúdio de gravação, além da construção de um pleno que serviria para impedir também o barulho constante provocado pelos helicópteros que sobrevoam diariamente o local. Desta forma, o pouquíssimo ruído observado viria apenas dos ventiladores dos equipamentos.
O perfeito planejamento da refrigeração ajudou também a solucionar o que, segundo Carlo Bartolini, acaba sempre sendo um grande incômodo dentro da área técnica de controle. "Em função da minha experiência em trabalhar com a mesa SSL 9000, eu sei que ela acaba gerando muito calor. O resultado é um ambiente muito quente para o técnico que fica próximo a ela, ao mesmo tempo que muito frio para quem fica sentado no fundo da sala", reclama. Jeff solucionou este problema através da construção de um duto de ar condicionado bem em cima da console, com o objetivo de esfriar somente aquela parte onde há mais necessidade.
Várias possibilidades acústicas podem ser exploradas nesta sala de gravação havendo, inclusive, a presença de uma iso booth, ou uma segunda sala de controle mais sala de gravação com conexões digital/análoga/vídeo/sync para acessar qualquer equipamento da técnica. Este artifício possibilita, por exemplo, gravação ou edição em Pro Tools utilizando pré-amplificadores externos e um set adicional de monitores ATC amplificados, funcionando simultaneamente com a mixagem na sala de controle.

Esta área separada serve tanto para isolar instrumentos, como também para uma mini-técnica, ou para lá instalar um sistema de Pro Tools. Neste espaço ainda há um patch extenso para conexões de vídeo digital e analógico ligado à mesa, o que possibilita um acesso muito mais fácil. Da mesma forma que, se houver a necessidade, pode-se abrir este local para aumentar a sala em suas dimensões.
Na monitoração são usados cinco caixas acústicas ATC SCM 150 Pro com amplificação ativa e dois subwoofers ATC SCM 1.15A Pro ativos com 1000W de amplificação cada, produzindo resposta de freqüência flat de 18Hz a 20kHz. Já nos near field, monitores ATC SCM 20A Pro com amplificação ativa de 350W por caixa, além de Yamaha NS 10, com subwoofer próprio da Hot House e amplificadores Hot House M500 Monoblock, conectados com cabeamento tipo audiófilo. Completando, Auratones de 5" com amplificação ARX.

Paralamas Inauguram Sala de Gravação

Para fones de ouvido foi desenvolvido um sistema da Furman com mixer mono de oito canais, quatro canais estéreo e talkback individual para cada músico. O Mega disponibiliza fones Beyer, Sennheiser e AKG. Mas se for o caso de oferecer ainda uma outra referência de escuta da mixagem, foi construído um lounge onde está instalado um set de Tannoys, além de um active subwoofer ligado a um amplificador conectado a um patchbay. Cuidado também na parte elétrica - tudo star ground - e onde cada tomada é conectada diretamente ao quadro com fiação de 32 ampères.
Entre os microfones que compõem o seu set, o Mega coloca à disposição os AKG D12, o Royer Ribbon, os CAD M350 e M95, o Audio-Technica ATM25, o Shure SM7, além dos clássicos Neumann U87 etc. "Mas o microfone que eu levaria para uma ilha deserta, com certeza, seria o 57!", diz Carlo sorrindo.
Forbes conta que se ateve a uma pesquisa detalhada com o objetivo de escolher da melhor forma possível os tipos de madeira que seriam utilizados para a confecção dos difusores acústicos. Neste caso, sua principal fonte foi a Rua do Gasômetro, em São Paulo, onde pode ser encontrada qualquer espécie de madeira que seja necessária. Acompanhado de sua equipe, ele experimentou várias delas tocando-as e batendo-as para sentir a sua sonoridade e reflexão. As escolhidas foram Ipê (cujo verdadeiro nome é Cumaru) e Curly Maple, muito utilizada em instrumentos musicais. Já para o piso, nada de tábua corrida (não é muito sólida) ou mesmo taco (pois acaba soltando). A escolha ficou por um tipo de taco de maior dimensão que tem como garantia o seu encaixe macho/fêmea pelos quatro lados, além de também ser colado e parafusado ao chão. Jeff criou também um espaço para rodapé técnico que circula por toda a sala de gravação, permitindo que sejam feitas modificações e/ou inserções na fiação de forma completamente facilitada e sem danificar as paredes.
Para os vidros foi usado um conjunto de quatro laminados com cerca de 30mm de espessura. Pode até parecer exagerado, mas o resultado é bem interessante pois, além de proporcionar o isolamento, também deixa o ambiente extremamente amortecido. Bate e não responde. Outro fator interessante é a presença de duas cortinas que podem ser posicionadas por cima dos difusores dependendo da solução pretendida. Uma de espessura mais fina, por exemplo, pode ser usada para segurar os agudos no caso de ser montada uma bateria próxima a ela e ter a intenção de um som mais vivo mas sem muita volta de pratos.
E digamos que o estúdio já tenha começado muito bem. "Com o pé direito", como dizem. Afinal de contas, a grande inauguração aconteceu com a gravação do novo disco dos Paralamas do Sucesso que, após a recuperação do vocalista Herbert Viana, volta ao cenário musical brasileiro. Um belo começo para muitas coisas boas que parecem já estarem por vir.


Equipamento - Sala de Gravação Mega

Console
- SSL 9000J series, 80 canais, LCR panning, 5.1 monitor section

Gravadores
- 2 Studer A 827 Gold 2" 24 track, com transporte modificado
- 2 Headstacks de 2 polegadas 8 canais (+1 de time code)
- 2 × 9ch Aria 100% class-A discrete input/output amplifiers
- Super gravadores análogos com 1/4" por canal, para gravações de bases ou como masters p/ mixagens 5.1 "surround master recorder"
- Sincronizadores Lynx 2.
- Ampex ATR 102 altamente modificada, 1", 2 canais com conversão para 1/2" e opção entre eletrônica Ampex ou Custom ATR audiophile grade transformerless input/output amplifiers
- Pro Tools HD 2, com I/O 192 (3x), Sync, Midi I/O, AV option XL Meridien (p/ integração com Avid), 13 slot Expantion Chassis, Sample Cell II Plus, Sample Cell II TDM Module, Mac G4 867 MHz com 512 MB RAM e DVD-Rom, Apple Cinema Display,128 GB de DigiDrive Hard Disk storage, ATI-2 Tape Backup (50 GB), Geffen Extend-it e muitos plug-ins e softwares.
- 8 canais de Benchmark input analog/digital converters
- 16 canais de Benchmark output digital/analog converter
- Prism Sound soft clipping limiters
- Tascam DA 98HR 8 canais 24 bits, até 192K com A/D, D/A externos
- Tascam DA 45 DAT de 24 bits
- Sony CDR W-66 com conversores de 96kHz p/ 44,1kHz e superbitmapping.
- DVD Philips 950 AT

Main Monitors
- 5 ATC SCM 150A Pro 3-way com amplificação ativa (Three Channel)
- 2 subwoofers ATC SCM 1.15A Pro ativos com 1000W de amplificação cada

Nearfield monitors
- ATC SCM 20A Pro, 6.5" woofer e soft dome tweeter, amplificação ativa de 350 W por caixa.
- Yamaha NS10 com dois amplificadores Hot House M500 Monoblock, 350W (um por caixa)
- 1 subwoofer Hot House ASB-12 ativo de 450W
- 2 Auratone 5" com amplificação ARX.

Studio Monitors
- ATC SCM 20A
- Yamaha MSP 5 Biamp
- Sistema de fone de ouvido Furman HD 16 Headphone Mixing Station, mixer de 8 canais mono, 4 estéreo e talkback para cada músico (em mixagens individuais)
- Fones de ouvido Beyer, Senheiser, AKG.

Dynamics
- Fairman TMC, stereo, 17 válvulas, similar ao Fairchild 670
- Universal Audio LA-2A (2x)
- Universal Audio 1176 Blackface (2x)
- Altec 438C, compressor/mic pre
- Empirical Labs Distressor w/ British Mod & Image link (2x)
- SSL 384 master compressor
- BSS 901, frequency dependent compressor
- BSS 402, stereo de-esser/comp/limiter
- Drawmer DS 501, stereo Power Gate

Preamps, EQ's
- Fairman TMEQ, 6 band parametric eq, stereo, 22 válvulas
- Neve vintage 1089 preamp/eq (igual ao 1073) (2x)
- API 550 B parametric EQ (2x)
- API 560 graphic 10 band EQ (2x)
- Universal Audio UA 2-610, stereo tube preamp/eq
- Little Labs PCP Instrument Distro
- Little Labs In Between Phase com Hi-z Direct Boxes (2x)
- Little Labs Hi-z Direct Boxes (2x)

Signal Processors
- Lexicon 960L SE com 2 DSP Cards
- Eventide Orville
- TC Electronic 2290
- TC Electronic Fireworx
- Zoom 9200 Advanced Reverb (4 channels)
- Yamaha SPX 90
- Lexicon PCM 41 Digital Delay
- Electrix Filter Queen
- Electrix Eq Killer
- Roland SRE-555 Tape Echo
- Demeter Stereo Spring Real Reverb
- BBE 882 (2x)

Patch Bay
- Analógico, Digital, Vídeo
- Ligações principais feitas com cabeamento tipo audiófilo
- Kramer VS 2042 video component matrix

AC
- 46 kVA Powerware sistema de no-break com saída balanceada a transformador
- Geradores Maquigeral 80 kVA, garantindo fornecimento ininterrupto de energia

Vídeo
- Projetor Panasonic PT L501U LCD
- Da-lite 1.76 × 1.76m em tela de projeção
- Sony PFM 510, 42" Plasma TV

Extras
- DK Audio MSD 600M/SA 6-channel, Phase Meter, Audio Vector, Spectrum Analyser, Level Meter etc.
- Leitch FR 684 video distribution amplifier
- Macintosh iMac G3 600 MHz w/ Intranet Lan connection
- Epson C40 UX printer
- Sitting Machine Aeron Chair (3x)

Sala de Estar
- 5.1 Tannoy Reveal system
- Tannoy PS 110 B active subwoofer
- Denon AVR 2802 Surround Receiver
- Panasonic TC29P22 LB
- Sony Playstation II DVD
- Painel com conexão p/ patch-bay, ligações de audio, digital, video, sync.
FIM DO BOX

Mixagem para DVD e Cinema Também é no Mega

Desde o início, o estúdio de mixagem para cinema foi projetado tendo como objetivo atender às exigências da Dolby. Foi inaugurado um pouco antes da sala de gravação do segundo andar, e seus responsáveis orgulham-se pelo fato do local estar sempre atolado de trabalhos dos mais variados. Entre os projetos realizados recentemente, podemos citar os DVDs de Gilberto Gil e Cidade Negra, além do filme O Invasor, de Beto Brant.
A sala possui um sistema de monitoração completamente digital, onde basta o apertar de alguns botões para que a configuração instalada se direcione mais para cinema ou então para DVD. Foram escolhidos três monitores Genelec 1038, enquanto nas paredes estão colocadas caixas passivas JBL LSR32 para o sistema de surround. Da marca australiana ARX estão sendo usados os amplificadores ZR550, além de duas unidades de subwoofers Bag End.
Na parte de gravação há, além do Pro Tools com conversores Benchmark, dois Studer A827 Gold de 2" dotados de eletrônica para masterização; Ampex ATR 102 de 1" e dois canais e opção entre eletrônica Ampex ou Custom ATR; Tascam DA-98HR com oito canais de 24 bits; DAT Tascam DA-45 de 24 bits; Sony CDR W-66 com 96kHz; Philips DVD 950 AT etc.
E com o objetivo de detalhar ainda mais a respeito de todo este processo de mixagem e autoração, M&T tratou de conversar com o técnico responsável pela sala: Armando Torres Júnior. A seguir, conceitos defendidos, técnicas usadas e uma dura crítica à indústria do cinema - "nós temos que estar sempre pesquisando e correndo contra o tempo para cumprir os prazos. Há vezes em que o diretor ainda chega aqui e nem sequer sabe explicar o que quer, e a gente tem que adivinha", denuncia.

Quando o cliente chega aqui, quais são etapas realizadas até o produto final?
No caso de cinema, a gente faz a edição de som aqui. Ou seja, pegamos o material de produção, o som direto, e tratamos de fazer toda a edição sincronizada com a imagem. Depois vem a aplicação de ambiências, que seriam os backgrounds, a criação de efeitos, os ruídos de sala (que são os passos, roupas, objetos etc.) e, em seguida, temos a edição de som fechada. A partir dele, passa-se para a sala de mixagem, onde começamos a fazer o pré de diálogos, que seria a mixagem de todos as falas do filme, para então ser feita a nivelação dos seus BGs. A partir daí, vamos somando as camadas, fazemos os prés de BGs, os prés de efeitos, ruídos de sala e partimos para a mix final. Na mix final nós teremos todas essas pistas que mixaremos junto com a música. Após esta fase, nós temos o print master, uma masterização para MO Disk, a qual vamos transferir para a câmera ótica até sair um negativo de som. É feita a cópia e já está pronta para a exibição.


Fale-me do processo para o DVD...

Como esta sala é mais voltada para masterização e codificação, a gente recebe uma fita em formato DA-88 ou sessões de Pro Tools das músicas já mixadas. Pode ser feita a montagem aqui, ou ela já vem pronta. A montagem seria a fusão entre as faixas que estejam faltando, dependendo do show. A partir disso é feita uma masterização, depois uma codificação Dolby, é feito um DVD-R e vamos ouvir o som nos aparelhos de consumo convencionais para checar como está o resultado. Estando ele aprovado, a gente começa a fazer as codificações finais. No meu caso, eu faço primeiro a codificação em 5.1, depois a codificação em estéreo e, em seguida, o DTS (quando será incluído no DVD).

Você tem bibliotecas de samples?
No caso de cinema, conforme vamos fazendo o trabalho, vamos também colhendo material. Se você for viajar, por exemplo, pode levar sempre um gravador, um MD, um DAT portátil e captar sons para já ir fazendo uma biblioteca sua. Eu armazeno sempre os ambientes que eu acho interessantes. Nos filmes que eu edito, gosto de usar sons nativos e não sons de CD, pois dão mais veracidade. Um bar americano, por exemplo, é totalmente diferente de um bar brasileiro! Eu acho horrível quando "o som não veste a imagem", um termo que nós usamos bastante. Armazeno as minhas bibliotecas em Jaz drive, zip, CD com arquivos de áudio e de dados e DDS. Eu devo ter uns 300 gigas de som guardados. Isso é muito útil.
Para DVD, como a gente só faz master mais a finalização, não há muito dessas coisas. É mais saber adequar o som para aquele tipo de mídia. Porque, às vezes, no estúdio ele pode soar super bem, e na hora que vai para determinada mídia, não tem o mesmo resultado. Em DVD, não podemos esquecer de cuidar muito bem de toda a parte elétrica e eletrônica da codificação do áudio, ou melhor, o controle do sample rate, o controle do clock etc. Afinal, muitas pessoas codificam o DA através de um programa de autoração mas não cuidam do clock e do sample rate. Nós procuramos cercar ao máximo neste aspecto para evitar problemas e perda de qualidade.

Quais são os softwares utilizados para a autoração de um DVD?
Há o DVD Creator e o Fusion, ambos da Sonic Solutions, além do DVD Studio Pro, da Apple. São os mais usados que eu conheço. Como nós temos a codificação Dolby do áudio 5.1 garantimos um total controle do streaming de áudio 5.1, que seriam as normalizações de diálogos para diferentes mídias. Quando você está codificando um áudio para DVD é necessário ouvir esse áudio em 5.1 e, em seguida, fazer na codificação o downmix para ver como é que vai sair o som em diferentes etapas do trabalho. Caso contrário, mesmo que o 5.1 esteja perfeito, para uma pessoa que não o tem e ouve no estéreo, esse downmix soará ruim. Temos, por exemplo, que codificar o Dolby a 448kb/s e o estéreo a 256, senão os dois não tocam simultâneos com o DTS.

Fale da versatilidade desta sala em relação aos equipamentos.
No caso de mixagem para cinema, nós estamos usando uma console Sony DMX-R100, e muita coisaem Pro Tools. Nós trabalhamos aqui 100% em digital, não usamoos nada analógico. Por quê Pro Tools? Pela versatilidade e o uso de plug-ins que, especialmente para cinema, são algo fundamental. Certa vez, eu tive que usar cerca de 12 câmeras de reverberação para um filme, porque havia momentos onde o espaço era fechado, em outro havia espaço aberto, um banheiro, um galpão etc. Poderíamos usar a mesma câmera trocando os settings dela, mas se você tem o Pro Tools há a possibilidade de abrir um plug-in para cada um e pronto. Também uso muito o System 6000 para reverberações 5.1, pois ele é capaz de mudar completamente o som de voz e criar uma espacialidade.

Quais são as principais preocupações quando se faz áudio para DVD e cinema?
Em DVD, o cuidado é em como vai soar no consumidor final. Você pode ouvir no estúdio e estar uma maravilha, mas depois quando vai para o consumidor final cada receiver tem um alinhamento, assim como as suas monitorações etc. Já para cinema, como aqui no Brasil ainda não há uma padronização das salas, torna-se complicado o controle deste som. Neste caso, eu tiro a minha referência dos muitos filmes a que eu assisto em diferentes salas. O principal problema é que esses lugares de exibição têm um índice de reverberação muito alto. Ou seja, na hora em que você estiver mixando, é preciso contar com esses problemas. Assim como a distância entre as caixas, pois será necessário fazer uma série de compensações no seu estúdio para que quando o filme vá para um sala de 300 lugares ainda dê uma boa resposta. Há de se ter também um controle muito grande entre o médio e o agudo, afinal corre-se o risco de o som ficar muito estridente, ou até de atingir um excesso de agudo que resulta num som sibilado. Na minha opinião, atualmente, o cinema é a mídia mais complicada, devido esta ausência de padrões.

Quais foram os principais trabalhos que vocês realizaram aqui na parte de áudio?
Os últimos foram os DVDs de Gilberto Gil, Cidade Negra, a autoração do DVD do Skank, a remasterização de um DVD do cantor Daniel, e também o filme O Invasor. Nós executamos uma média de dez trabalhos por mês, onde o áudio já vem pronto, mas a gente tem uma preocupação com a qualidade de codificação. E aqui aparece de tudo, desde Placido Domingo, Deep Purple, Paul McCartney, Beatles, Ray Charles, muitas óperas etc. É até uma forma da gente estar conhecendo o que está sendo feito lá fora. Como projetos futuros nós teremos o DVD dos Paralamas do Sucesso, o de Milton Nascimento, entre outros.

Quando um trabalho vem com defeito vocês tentam consertar?
Sim, mas dependendo do erro nós até o devolvemos. Principalmente, quando o erro é conceitual. Se nós notamos o defeito, costumamos montar um relatório comunicando o acontecido no trabalho e, se eles autorizarem o conserto, a gente faz. Caso contrário, não. Não podemos mexer porque se trata de uma obra de autoria de alguém. Só para citar um erro que chegou até aqui, recebemos certa vez um DVD que tinha cerca de um segundo de reverb na voz. Era um som encharcado, horroroso.

Qual é o principal elemento problemático para fazer um filme?
É o tempo, com certeza. Enquanto os caras mixam o filme em 20 semanas, a gente precisa mixar aqui em apenas duas. Tirando o fato de que nós temos que estar sempre pesquisando e correndo contra o tempo para cumprir os prazos, há vezes em que o diretor ainda chega aqui e nem sequer sabe explicar o que quer e a gente tem que adivinhar. O mixador de cinema, na realidade, precisa ser um técnico, ter a estética do filme e a psicologia para saber lidar com todas as pessoas envolvidas: o diretor, o produtor executivo, o sound designer e até com ele mesmo. Afinal de contas, ele terá que contentar não só a ele como a todos.

Equipamentos Mega Cinema e DVD/SP

01 Digital Mixing Console Sony DMX R100 completa
01 ProControl Pro Tools Controller
01 Pro Tools 5.1 Mix Plus 24 Bits
03 Pro Tools Interface 888/24
05 Pro Tools Mix Farm Card
01 Pro Tools Sync Interface Universal Slave Drive
01 Pro Tools AV Option Xl
01 Pro Tools Axis Joystick
04 Digidrive 10.000RPM / 72 GB
02 Firewire Hard Drives 40 GB
04 Seagate Hard Drive 18 GB
02 gravadores Tascam DA-78HR
01 gravadores Tascam MX-2424 com Mix View
01 MMR-8 Tascam com MM-RC
01 DAT Tascam DA60 Mk.II
01 CD Player Denon
01 dbx Subharmonic Synthesizer 120xp
01 ARX Afterburner Enhanced Compressor/Limiter
01 HHB Radius 30 Tube Compressor
01 Cedar DHX Dehisser
01 Cedar CRX Decrackler
01 Cedar BRX + Debuzzer
01 SR 26 Dual Time Code Distributor/Reshape
01 System 6000 TC Electronic
02 dbx Drive Rack Loudspeaker Management System
01 Dolby E 571 Encoder
01 Dolby E 572 Decoder
01 Dolby 737 Soundtrack Loudness Meter
01 Dolby 563 Dolby Surround Encoder
01 Dolby 569 Digital Audio Encoder
01 Dolby 562 Multichanel Decoder
01 Dolby Cinema Sound Processor CP 65
01 Dolby Ds10/Ds 4 Print Master System
01 Aardvark Aardsync Master Clock/Sync
03 Power Amplifier ARX ZR 550
06 JBL LSR 32
03 caixas Genelec 1038A
02 Subwoofer Bag End.

Pro Tools Plug-ins.
Waves Gold Bundle, Aphex, Reverbone, Focusrite, Altiverb, Wider, Sony Oxford Equalizer, Pultec Equalizer, Realverb 5.1, Tc Megareverb/Equalizer, Drawmer Dynamics, Amp Farm, Channelstripe etc.


 
 
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