Um fato reconhecido internacionalmente é a excelente qualidade técnica dos dubladores brasileiros. Nossos profissionais estão entre os melhores do mundo, além de marcarem nossas vidas com suas vozes características. Quem não se lembra das versões brasileiras para as cordas vocais de Bruce Willis, Tom Cruise, Sylvester Stallone? Entretanto, o mercado de dublagem, em termos de equipamento e locais para a sua produção, andava um tanto defasado. Nos últimos anos, no entanto, temos assistido a um crescimento substancial deste setor.
O estúdio Audio Corp é um exemplo. Em atividade desde o mês de fevereiro deste ano, o espaço implanta no país novas formas de gravação e mixagem para dublagem. Localizado no Rio de Janeiro, o local, construído em um grande galpão com cerca de 800m2, traz tecnologia de ponta em aspectos digitais e acústicos, além do seu maior investimento, o humano. "É preciso ter respeito pelos excelentes profissionais de dublagem no Brasil. Ao fazer o Audio Corp, deixei este cuidado explícito", garante Gil Monteaux, proprietário do estúdio. Todas as etapas da criação do estúdio receberam a atenção devida do engenheiro responsável pelo projeto, Sólon do Valle. "É muito difícil um projeto ser seguido da forma correta em todas as fases de seu desenvolvimento", afirma Sólon. Agradável, completo e pronto para o mercado, o Audio Corp representa o crescimento do ramo no Brasil.
Dublagem flutuante
Interessado em criar um ambiente onde tudo fosse o mais profissional possível, Gil Monteaux não mediu esforços para construir seu estúdio. "Aprendi mais sobre o assunto na criação do Audio Corp do que em toda a minha vida profissional", conta. Ex-sócio da mais conhecida empresa de dublagem do Brasil, a Herbert Richers, o empresário, que começou como estagiário no seu antigo emprego, afirma que decidiu deixá-lo para ter o próprio negócio devido às "diferenças filosóficas". Formado em Economia nos EUA, Gil se apaixonou pelo ramo de dublagem. Desde 1994 envolvido com o assunto, em 99 deixou a HR, quando começou a idealizar sua empreitada. Decidido, chamou então Sólon do Valle para desenvolver o projeto acústico, que deveria seguir as exigências dos padrões de áudio Dolby e THX. E assim foi feito.
O desejo de Gil era construir um estúdio em sua totalidade, e não somente adquirir uma casa e adaptá-la. "Nossa primeira preocupação foi o isolamento. Pensamos: qual a melhor maneira de fazer o piso? O Sólon sugeriu que o fizéssemos sobre molas. Trata-se de uma tecnologia alemã desenvolvida por uma empresa chamada Gerb do Brasil. Paralelamente, foram confeccionados tijolos especiais, maciços, que pesam mais do que o dobro do tijolo normal. Gastamos mais de 20 mil tijolos", explica Gil. Porém, antes desse processo foram utilizados 20m3 de concreto FCK 150 Brita 1 - o mesmo aplicado na pista do aeroporto Santos Dummont (RJ) - em uma estrutura que fosse capaz de suportar o peso dos estúdios, cerca de 31 toneladas. engenheiro Paulo Mills.
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A colocação das molas que mantêm o piso suspenso
Esta etapa foi projetada pelo passo seguinte foi, então, a colocação das molas, um capítulo à parte. A tecnologia aplicada permite a maior segurança em relação ao isolamento acústico, fazendo com que o local fique suspenso, evitando vibrações e ruídos. Para o projeto, foram utilizados 36 isoamortecedores do tipo P1B-83 e dez do modelo P1B-84. Assim, somando-se as constantes do total das molas usadas, o conjunto sofre uma deflexão de 1mm para cada 1.909 kg. Se multiplicada pelo peso total do estúdio, esta deflexão será de 16,25mm, estando dentro do limite das molas. O processo durou cerca de quatro meses.
Ao fim de sua construção, a laje flutuante em questão ficou com 20cm de espessura. Para o teto foram criadas outras duas lajes, também com 20cm cada, separadas por 40cm de lã de rocha. O objetivo do projeto era atingir um nível de ruído igual a NC20. "O elemento mais importante em um estúdio de dublagem é a voz. Portanto, tivemos cuidado total não só na escolha dos equipamentos para essa finalidade, como também em relação ao isolamento acústico. Durante a criação do projeto usamos software simulador de resultados EASE, para que tudo ocorresse da forma planejada", explica Sólon.
Vírgulas douradas
Não só a construção da estrutura que abriga o estúdio recebeu atenção devida. O sistema de condicionadores de ar também mereceu destaque. Era preciso desenvolver um projeto que suprisse todo o galpão - que abrigará mais dois novos estúdios já em fase de construção, semelhantes ao já existente, destinados à gravação. Para a função, dois aparelhos de grande porte foram instalados pelo engenheiro Tomaz Pereira. Um computador implantado em cada um deles acompanha tanto a medição de temperatura, quanto os níveis de ruído produzidos pelos mesmos. Cada ar condicionado possui capacidade de suprir todo o ambiente, ficando um de reserva. Outra grande preocupação foi o sistema de No-Break. Grande parte dos ruídos existente em estúdios é provocada pela enorme quantidade de equipamentos ligados em diferentes freqüências elétricas. Para evitar essa sujeira sonora, foi desenvolvido um No-Break gigante, composto por 25 baterias automotivas que, ao todo, pesam cerca de 400kg.
Com esse cuidado, a acústica interna de cada sala foi desenvolvida para estabelecer o índice correto de perda, evitando reflexos espúrios e cancelamentos através da cuidadosa angulação de superfícies e da difusão e absorção de som. Segundo Sólon do Valle, "o tratamento se baseia muito em madeira, pela doçura do som. Há ainda lã de vidro e espuma absorvedora. Não é exatamente uma acústica viva, mas não se trata também de uma sala tumular. As paredes são duplas, com duas camadas de lã de rocha". As portas possuem estrutura metálica maciça e pesam 400kg cada. Três delas dão acesso à sala de gravação, permitindo silêncio absoluto no seu interior.
O ineditismo na gravação das vozes separadas
As intenções do empresário Gil Monteaux são bem claras: modificar, profissionalizar, elevar o mercado de dublagem no Brasil. A julgar pelo projeto de construção de seu estúdio, estas três diretrizes parecem facilmente alcançáveis. E ao observar este cuidado, é possível prever o zelo na escolha dos equipamentos de gravação. Para executar a substituição de diálogos, gravações de foley e locuções, dois sistemas Pro Tools HD2 realizam o serviço. Para que tanto? O dono da bola explica: "há 20 anos não falávamos no formato DVD. Hoje, quando um cliente dubla um filme, ele pode utilizá-lo em TV, cinema e o próprio Disco Versátil Digital. Tenho recebido diversos longas-metragens antigos para serem re-dublados. A qualidade do áudio já não estava boa. Acreditamos que nos tornamos mais competitivos porque sabemos que nosso produto vai durar muito mais tempo. Se um cliente paga R$10 mil para uma dublagem que irá durar 10 anos, serão R$1 mil por ano. Já se esta durabilidade for de 20 anos, serão R$500. Embora o padrão exibido hoje pelas emissoras de TV seja de 48kHz e 16bits, sempre há uma perda ao retransmitir o sinal de áudio. Quando trabalhamos com 96kHz essa perda nunca será maior que em 48kHz. Além disso, já estamos prontos para a TV digital e o DVD Audio. Ainda oferecemos o back-up em 96kHz sem custo adicional". Esta cópia de segurança pode ser feita também através dos gravadores Tascam DA-98.
Na prática, a grande vantagem das gravações em sistema Pro Tools é a possibilidade da captação em canais separados, proposta não realizada em estúdios que utilizam o equipamento U-Matic, revolucionário em seu tempo, porém ultrapassado método de gravação de dublagem. A inserção de vozes é realizada da seguinte forma: o estúdio recebe, juntamente com a cópia do filme - quase sempre no padrão Super VHS - a ME (trilha composta por músicas e efeitos - daí a sigla - já sem as vozes dos atores).
O empresário Gil Monteaux
No Audio Corp há o costume de transportar a imagem para um computador Macintosh G4, para que avanços e rebobinagens possam ser feitos sem desgastar a fita. Neste ponto, os atores gravam separadamente suas falas. Muitas vezes são necessárias correções e inserções de efeitos, eliminados erroneamente na produção da ME enviada para o estúdio. O console escolhido para mixar essas vozes e efeitos é um Digidesign Control 24, com pré-amps Focusrite. Para a captação das célebres vozes, um excelente Neumann M149 faz com perfeição o serviço. Além dele, um Shure SM89 shotgun, um Sennheiser MKH 416 P48 U-3 e um Shure SM-57 estão disponíveis para outras funções. A equalização dessas vozes é executada através de inúmeros plug-ins, além de pré-amplificadores valvulados, como o Avalon VT737 SP. O sistema de monitoração é composto por cinco caixas Genelec, modelo 1031A, além de um subwoofer também Genelec, modelo 1094.
O Audio Corp apresenta...
"Outro dia fui questionado sobre o porquê de os estúdios de música serem muito melhores que os de dublagem no que se diz respeito a equipamentos e visual. A resposta é simples: os artistas que freqüentam os estúdios musicais são também seus clientes. No ramo de dublagem, o cliente, ou seja, os canais de TV, produtoras etc, nunca visitam o estúdio contratado. Isto criou um certo relaxamento. Mas, na verdade, é preciso que o trabalho seja realizado com prazer para que seja bem feito. E para isso é necessário que haja uma preocupação com dubladores, técnicos e demais funcionários. É isso que procuramos fazer. Somos uma equipe", despeja Gil, que se orgulha de trabalhar ao lado de Cláudia, sua secretária, Silvana, sua programadora, e Sérgio Nogueira, técnico de mixagem oficial do local.
A técnica: semelhante a um estúdio musical
Para o empresário, "a idéia do Audio Corp, hoje, não é ser a maior empresa de dublagem no Brasil, mas a melhor. Queremos que o cliente que tenha um filme para ser dublado saiba que em nenhum outro estúdio seu trabalho ficará melhor. Não estou visando lucro. Digo isso de coração. Sou um apaixonado pelo mercado de dublagem e quero que seus profissionais tenham o respeito merecido. Espero que outros estúdios cresçam com a gente, para que o nosso trabalho seja nivelado por cima. Ainda estamos longe disso, mas espero estar inaugurando uma nova etapa na dublagem brasileira". Em quatro meses de funcionamento, cerca de 20 filmes passaram pelas salas do AC. Embora Gil concentre seus esforços no setor de dublagem, outros planos fazem parte de seu negócio. "Quero poder criar a Audio Corp Records e investir em outras atividades. Mas estamos indo devagar, com os pés no chão", conta. Agindo de forma coerente com as suas intenções e naturalmente trabalhando por prazer - "quando chega a noite, quero acordar logo para vir ao estúdio. Amo isto aqui" dificilmente Gil Monteaux e sua equipe não terão êxito em seus objetivos. E para dizer a verdade, ao que parece ele já o tem.
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Aprovado por todos
Em seu curto período de funcionamento, o Audio Corp já recebeu os maiores nomes da dublagem no país. Abaixo estão as declarações de alguns desses profissionais em relação ao novo estúdio.
1. Orlando Drumond (Scooby Doo, Alf, Popeye, Burt Lancaster, Bill Cosby, Ben Gazzarra, Mel Brooks...)- "Fico honrado em participar de uma nova geração de dublagem em termos técnicos. Este é para mim um estúdio de primeiro mundo".
2. Waldir Santana (Homer Simpson, Eddie Murphy, Richard Lynch, Paul Bates...) - "Comecei a conhecer dublagem em 1958. Passei pelas principais empresas de SP e RJ. Acompanhei a instalação e evolução de muitas delas. Eu diria que esta casa está preparada para atender à demanda de todo e qualquer sistema de emissão de som e imagem que possa vir a acontecer a partir do DVD".
3. Dario de Castro (Arnold Schwarzeneger, Gerard Depardieu, Jean Claude Van Damme, Jon Voight, Kevin Kine...)- "Aqui dentro percebo que há um total aproveitamento da voz. Posso me ouvir sem qualquer tipo de interferência de ruído. Falo em um tom médio que é facilmente captado. Isso é importantíssimo na gravação."
4. Marisa Leal (Elizabeth Perkins, Jessica Lange, Marisa Tomei, Melaine Griffith...) - "O fone de ouvido, como usamos aqui, facilita o trabalho. Ficamos mais livres pra dar vazão à emoção. Quando se trabalha tanto tempo na dublagem, há uma tendência em usar mais a técnica do que propriamente a emoção. Aqui, eu senti que podia me preocupar mais com o trabalho de atriz."
5. Milton Damata (Bruce Willis, Al Pacino, Warren Beatty, Harrison Ford, Dustin Hoffman, Jean Paul Belmondo, Martin Sheen, Paul Newman, Richard Dreyfuss, Robert Redford, Russel Crowe...) - Quem ficar fora desse esquema, muito bem montado, está fora da realidade. Vai ficar pra trás. Vai ser atropela
Relação de equipamento
Gravador:
Pro Tools HD2 com Interface 192 I/O com placa de expansão e Sync I/O
Console:
Digidesign Control 24
Monitores (surround):
05 Genelec 1031A
01 Subwoofer Genelec 1094
Pré-amplificadores:
Avalon VT 737 SP
Microfones:
Neumman M 149
Shure SM 89 Shotgun
Sennheiser MKH 416 P48 U-3
Shure SM 57
Sistemas de back-up:
Tascam DA-98 HR
Tascam DA-78 HR
Rorke Data RDD 1000 DDS4
Extras:
2 headphones Sony MDR 7506
Teclado Digidesign Pro Tools TDM USB
Amplificador para headphones Samson Q5
Final Cut PRO 3
Projetor Sony 92" com tela Da-lite
TV 34" Sony XBR
TV 32" Philips wide screen
2 monitores LG Flatron 775 FT 17"
2 monitores LG Flatron E701 S 17"
Mixer Behringer MX 602 A
Data Video - TBC 3000
Video Codec Canopus ADVC 100
Video Card Pro Max
Relação de plug-ins
Vocalign Pro
Pitch'n Time
Digidesign Reverb 1
Dolby Surround Tools
Surroundscope
Waves Platinum Bundle
Waves C4 Multi Band Parametric Processor
Waves Renaissance Reverberator
Waves Renaissance Compressor
Waves Renaissance Equalizer
Waves Renaissance Vox
Waves Renaissance Bass
Waves Renaissance De Esser
Waves L1 Ultra Maximizer
Waves Maxx Bass
Waves Q10 Paragraphic Equalizer
Waves S1 Stereo Imager
Waves C1 Parametric Compander
Waves PS22 Pseudostereo
Waves Enigma
Waves Super Tap
Waves Mondo Mod
Doppler
Ultra Pitch
Meta Flanger
Waves True Verb
Waves De Esser
Audio Track
PAZ - Psychoacoustic Analyzer
Waves L2 Ultra Miximizer
Waves Linear Phase Equalizer
Waves Linear Phase Multi Bend
Waves 360 Surround Tools
Waves M 360 Surround Manager
Waves R 360 Surround Reverb
Waves S 360 Surround Imager
Waves L 360 Surround Limiter
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