Conta-se a história de um austríaco chamado Frederico Knieps que, de repente, se vê apaixonado por uma equilibrista e casa-se com ela. Escrito em 1938, pelo poeta alagoano Jorge de Lima, o poema "O Grande Circo Místico" é sugerido como tema para um musical encomendado a Edu Lobo, pelo Teatro Guaíra, cerca de 40 anos mais tarde. Edu convida ninguém menos que Chico Buarque como letrista, e daí para aquela produção começar a tomar forma foi um pulo. A primeira encenação acontece em 1983, no Paraná, pelo Ballet Guaíra. Logo seguindo no mesmo ano para a cidade de São Paulo. Mas foi só. Poucos foram aqueles que tiveram a chance de estabelecer um contato mais íntimo com os personagens desse espetáculo.
Mas ele está de volta. Realizada no último dia 10 de novembro, no Via Funchal, em São Paulo, a peça adquiriu nova roupagem e convidados mais do que especiais. Com direção artística do próprio Edu Lobo, contou com a participação da Orquestra Jazz Sinfônica, de São Paulo, além de estrelas do naipe de Jane Duboc, Mônica Salmaso, Paulo Moura, Quarteto em Cy, Cássia Eller, MPB4, entre outros. A sonorização ficou nas mãos da própria empresa da casa, a Gabisom, em parceria com a R4, de Roberto Ramos, e a ARP, das unidades móveis de gravação.
NOVO PA
A principal novidade em termos de projeto sonoro, por parte da Gabisom, foi a utilização do novo sistema de P.A. V-DOSC. Ou seja, estamos falando de um Difusor de Onda Sonora Cilíndrica, onde o "V" refere-se ao desenho da configuração da lente acústica empregada na seção das médias e altas freqüências. Seu índice de dispersão de som nas altas é de 90º horizontalmente e de, no máximo, 20º verticalmente - procurando-se evitar qualquer desperdício de som.
Projetado na França, esta é a segunda vez em que o sistema V-DOSC é apresentado no Brasil - a primeira foi durante a apresentação do Deep Purple, no mesmo local. O contrato de aquisição do sistema incluía o treinamento de três profissionais da locadora paulista por parte de um dos técnicos da fábrica. Um deles foi Valter P. Silva que, não por acaso, é a pessoa responsável pelos trabalhos realizados no Via Funchal. "Foram dois dias de curso e, hoje em dia, podemos dizer que somos certificados pelo sistema V-DOSC. Depois das explicações você passa até a enxergar os demais sistemas com outros olhos. Foram muitas informações úteis que, normalmente, quem sabe acaba guardando para si. Não passa para os outros. Isto tudo facilita ter um entendimento maior e que consiga chegar a um máximo de rendimento e aproveitamento do equipamento.", comenta.
O sistema utilizado neste evento foi um Fly P.A. composto por 16 caixas Three-way (8 em cada lado), cada uma delas possuindo dois falantes de 15", quatro de 7" (fazendo o médio-grave), além de mais dois drivers. Os amplificadores são da L-Acoustics e já vieram recomendados pela fábrica. Veio acompanhada ainda toda a cabeação e sistema de içamento, com exceção da parte de AC - já que vai variar de acordo com cada companhia, seja ela européia, norte-americana etc. A fábrica se encarrega em mandar a "ponta viva" e cada uma delas faz aquilo que seja mais adequado.
O Crossover utilizado é um XTA, e que obedece aos parâmetros estabelecidos pela própria Cox Audio, fabricante do sistema V-DOSC. Isso mesmo. Seria o "segredinho" deles. Para cada ambiente distinto existe uma série de dados pré-definidos já testados anteriormente para que possa ser conseguido o limite máximo de aproveitamento em variadas situações.
MICROFONAÇÃO ESPECÍFICA
Duas consoles estão sendo usadas no P.A.: uma PM 4000 e outra PM 2000. A decisão de separar o controle do P.A. em duas mesas partiu da premissa de que poderia facilitar imensamente a operação. Na primeira foi mixada a "cozinha" por Roberto Ramos (bateria, percussão, contrabaixo, guitarra e teclado), enquanto na segunda estava todo o restante da orquestra nas mãos de Maurício Trindade. Apesar de estar disponível um rack de efeitos, só foi utilizado um Lexicon PCM81, no intuito de soar o mais natural possível. No setor de gate compressores: 10 Drawmer DS 202 e 12 compressores dbx 160XT. O SPL trabalhado foi de, no máximo, 96 dB.
No monitor, o técnico Paulo Farah operava uma mesa Soundcraft Series Five com gráficos Klark-Teknik. Eram utilizados, no entanto, apenas 28 canais (além de seis vias!) com o controle da chamada "cozinha" e dos microfones dos solistas. Efeitos como um PCM 70 Lexicon e outro SPX 990 Yamaha estiveram disponíveis ao operador, além da utilização de monitoração Meyer e amplificação Carver.
Quanto aos microfones, um rider requisitado pelo operador da própria orquestra foi seguido à risca. Além dos específicos para cada instrumento, foram utilizados dois Sennheiser MKH 416 em formação X/Y e que representariam, praticamente, o ouvido do maestro através de uma cobertura completa de toda a dinâmica sonora. Os 10 microfones utilizados pelos solistas (de mão) são todos Shure UHF 58B, e os dois usados no púlpito Crown.
Segundo Valter, da Gabisom, não houve nenhuma precaução muito especial no intuito de evitar interferências: "Isso não acontece porque temos à nossa disposição uma gama muito grande de freqüências que podemos utilizar. E se, no caso, descobrirmos alguma interferência antes de começar o evento, basta trocarmos". Para ele, o cuidado deve estar concentrado no trato com o próprio sistema V-DOSC por parte de alguns técnicos. "Já que estamos falando de um sistema de alta definição e baixa distorção, o operador precisa prestar atenção para que durante a mixagem algumas freqüências não sobressaiam mais do que as outras", explica.
AMPLIFICANDO E GRAVANDO ORQUESTRA
Trabalhando há quatro anos como técnico de P.A. da Jazz Sinfônica, Maurício Trindade defende uma concepção o mais próxima possível do que seria um "som clássico". "Mas há outras concepções além dessa. Como é o caso, por exemplo, de alguém colocar uma frase de flauta bem no meio daquele momento onde toda a orquestra está tocando. Não posso fazer mais nada além de amplificá-la para que possa ser ouvida", comenta.
Músico, além de ter estudado orquestração e arranjo na Universidade de Berklee, em Boston, ele diz que seria praticamente impossível exercer tal função se não fosse por sua formação musical. "Eu não conseguiria mesmo", reconhece. Afinal de contas, estamos falando de um trabalho de dedicação plena. Maurício acompanha os ensaios, lê a partitura do maestro para descobrir onde e quando precisará "pilotar" mais o fader, além de contar com a presença do diretor artístico da orquestra bem ao seu lado durante as apresentações mais importantes. "Isto acontece, principalmente, quando trabalhamos com vários arranjos diferentes. Como é o caso de hoje...", continua.
Referindo-se à utilização do novo V-DOSC, Trindade comenta: "é muito linear e equilibrado. A primeira vez em que eu o utilizei foi aqui mesmo no Via Funchal com um show do Deep Purple e a própria Jazz Sinfônica. Naquela ocasião, eu senti a necessidade de colocar um front fill, mas neste show de hoje não usei, pois se tratava de algo mais acústico".
Ao todo, foram cerca de 80 músicos espremidos em um pequeno espaço utilizando, praticamente, um microfone para cada um dos instrumentos. Maurício cita novamente os Sennheiser MKH 416 seguindo a técnica X/Y para fazer a ambiência natural da orquestra. "No caso de músicas como 'Beatriz', por exemplo, onde não usamos muita 'cozinha' atrás, o que evita maiores vazamentos, nós os utilizamos para amplificar o ambiente geral", explica.
Mas "O Grande Circo Místico" não pára por aqui. Vai ainda se transformar em um CD e em um programa de televisão. A gravação foi realizada pela mais nova das três unidades móveis da ARP - com a utilização de três mesas O2R, além de mais uma O1V, da Yamaha. "Estou usando mais uma mesa porque, neste momento, opero com 75 canais de entrada de microfone e não caberiam em apenas três", explica Francisco Russo, o "Zorro".
Basicamente, estiveram sendo utilizados os processadores da própria mesa, além de um splitter Klark-Teknik, 1 pré-amp 90/98 Neve, um gravador DAT Otari e mais o processador TC Electronics Finalizer. A mixagem do disco será realizada pela própria equipe da ARP ("Zorro" e o assistente Ricardo Mascarenhas), sem falar da mixagem para a TV - em Dolby Digital Pro Logic.
Segundo "Zorro", gravar uma orquestra sinfônica não é uma tarefa fácil, mas também não deixa de possuir uma certa "fórmula" que consiste, basicamente, em uma boa microfonação para captar o melhor de cada instrumento, além de evitar o máximo de vazamento possível. Na platéia, ele utiliza três AKG (um 414 e dois direcionais), e mais um Sennheiser.
O show contou ainda com a participação do maestro Nelson Ayres, direção geral de Maurício Marques e Carlos Eduardo Braga, e vários artistas como Renato Braz, Jane Duboc, Bernardo Lobo, MPB4, Quarteto em Cy, Fat Family, Arnaldo Antunes, Cássia Eller, Nando Reis, Mônica Salmaso e Daniela Mercury.
Relação de EquipamentoS
- P.A.
16 V-Dosc 3 way (2×15", 4×7" e 2× drivers 1,4")
08 SB 218 (2×18")
01 Multi Distro L-Acoustics MD 24
24 amplificadores L-Acoustics LA 48
01 console Yamaha PM 4000
01 console Yamaha PM 2000
- Drive Rack
01 Control Output L-Acoustics CO 24
02 Eq. Klark-Teknik
02 Digital Processor XTA DP 226
10 Gate Drawmer DS 202
12 Compressores dbx 160 XT
01 Analisador Klark-Teknik DN 6000
01 Efeito Lexicon PCM 80
01 Efeito Yamaha SPX 1000
02 Efeito Yamaha SPX 900
01 Efeito Sony DP 7
- Monitor
01 Console Soundcraft Series Five
06 Eq. Klark-Teknik DN 360
01 Efeito Lexicon PCM 70
01 Efeito Yamaha SPX 990
02 Gate Drawmer DS 202
02 Quad-gate Drawmer DS 404
01 Compressor dbx 160 XT
01 Compressor dbx 900 Series
- Monitores Meyer:
USM1 com 15" + driver
UM1A com 12" + driver
UM1B com 12" + driver
- Amplificação Carver
- Microfonação
Input PM 4000
Bumbo Shure 52B
Caixa Shure 57B
Hi-Hat AKG 460
Over L AKG 460
Over L AKG 460
Conga Low EV 408
Conga Hi EV 408
Perc Pop 1 Sennheiser 421
Perc Pop 2 Sennheiser 421
Timpanos EV RE 27
Vibrafone AKG 460
Xilofone AKG 460
Baixo DI
Guitarra Sennheiser 409
Piano L DI
Piano R DI
Voz (1 a 10) Shure UHF 58B
Over Sennheiser MKH 416
Over Sennheiser MKH 416
Violão DI
Sax Sennheiser 421
Bass DI
Guit. Shure 5M 57
Input PM 2000
Violinos (1 a 6) AKG 417
Violinos (1 a 5) Isomax
Violas (1 a 4) AKG 418
Cellos (1 a 3) AKG 419
Cellos "Y" Isomax
Bass "Y" Shure SM 98
Bass "Y" Sennheiser 421
Flautas "Y" AKG 535
Oboé Shure SM 57A
Clarinetes "Y" Shure SM 57A
Fagote Sennheiser 421
Trompas (1 a 2) EV 408
Trumpete "Y" EV 408
Trombone "Y" EV 408
Tuba EV 408
Sax alto "Y" Sennheiser 421
Sax tenor "Y" Sennheiser 421
Sax barítono Sennheiser 421