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Revista Luz & Cena
Músico na real
Free Jazz Festival
"Causos" dos Bastidores
Redação
Publicado em 01/01/2001 - 00h00

Tocar em um festival internacional de música é um sonho para qualquer músico, ainda mais quando se trata do Free Jazz Festival, evento que reúne o que há de melhor na música instrumental, misturado às novas tendências mundiais em três dias de muito som e muitas emoções.
No artigo deste mês, pretendo dar uma visão das expectativas e realizações de quem participou com muita honra do evento desse ano no Rio e em SP como tecladista do grupo de Marcos Suzano. Com todas as idas e vindas, negociações, surpresas e alegrias a que tive direito.

Estúdio Discover 31/12/99, 6:15h da manhã

Denílson Campos queima um segundo CD com as mixagens feitas e refeitas de "Flash", novo trabalho de Marcos Suzano que deve ser mandado para o Japão na primeira semana de janeiro, para cumprir o rigoroso dead line de lá com lançamento para março. Enquanto isso, nós vamos ouvindo (com sono e muito cansaço) as músicas em outro CD já pronto depois de mais de 200 horas de estúdio entre pré produção, programação, gravação e mixagem. Eis que as inevitáveis perguntas aparecem: "será que ficou bom?", "quem serão as pessoas que irão comprar esse CD?"
- "Um bando de malucos que gosta de som de verdade", sugere Suzano.
- "Você acha que exageramos na dose?" eu pergunto, babando na gravata na condição de co-produtor exausto e morto de medo que tenhamos que remixar alguma música.
- "Às vezes", opina Denilson.
- "Quero só ver como vai ser para tocar isso aí ao vivo com esses milhares de overdubs de percussão e teclados", arrisco para mudar um pouco o rumo da conversa.
- "Quero ver ONDE vamos tocar esse trabalho, em condições legais de as pessoas ouvirem", preocupa-se Suzano.
- "Acho que por aqui, só se fosse no Free Jazz", digo meio sem convicção.
- "É, pode ser...", concordamos os três e levantamos a duras penas para encerrar a sessão, o CD e o milênio.

Estúdio Bariri, julho de 2000

Encontro o seguinte recado na secretária eletrônica:
- "Aí, Fernando, Suzano na área! Fomos convidados para tocar no Free Jazz, liga pra mim quando puder".
A vontade que a gente tem nessas horas é a de entrar pelo fio do telefone e saber logo de todos os detalhes. Vamos tocar em qual palco? Na mesma noite de qual artista? Vai rolar credencial? Vamos poder assistir outros shows? Vamos poder levar convidados? E a primeira dama, como é que fica? Ou fica em casa?
Interessante é que, nesses casos, a última pergunta que se faz é sobre cachê, sendo que a penúltima é a mais importante: quantos ensaios?
Como em qualquer grupo de músicos profissionais, todos fazem vários trabalhos ao mesmo tempo, por isso optamos em nos concentrarmos nos ensaios uma semana antes das apresentações, pois já teríamos feitos outros shows desse trabalho e só restaria a fase de envenenar um pouco as músicas, bolar umas surpresas e afiar as programações, climas e solos.

Estúdio Bariri, setembro de 2000

Uma dor aguda no lado esquerdo do peito me persegue há três semanas. Aparentemente, causada por um encontrão no meio da rua. Ela não me deixa e, apesar do pronto-socorro ortopédico ter me dito que estava tudo certo após chapas de raio X, ela continua lá, aborrecendo e dificultando a respiração. Insisto na cota diária de nicotina, pensando que tudo não passa de um traumatismo externo até que... durante uma sessão de gravação de uma trilha sonora para TV, em pleno domingo à noite, a dificuldade em respirar se torna bem mais forte e sou obrigado a interromper o trabalho e ir ao hospital no outro dia de manhã para exames detalhados e diagnóstico mais preciso do que o de um pronto-socorro traumatológico.

Após muito tempo encarando a chatice misturada com a tensão de tirar chapas de tudo quanto é jeito do meu pulmão, chego à conclusão que a tela do aparelho de raio X, apesar de perder para um Pro Tools no quesito "cor", ganha disparado na categoria "originalidade de traços" e "conteúdo". Além de proporcionar ao meu médico (que trocou o baixo do conjunto "A Bolha", para ser um incrível clínico geral e brincar de ser músico nas horas vagas) o diagnóstico que eu não queria ouvir de jeito nenhum:
- "Vai ter que parar de fumar cigarros comerciais, artesanais e artísticos de uma vez por todas, pois o seu pulmão está se queixando, infeccionado, inchado e sem capacidade de recuperação".
Uma semana de repouso absoluto e estamos a três semanas do festival! Minha ansiedade se mistura a uma depressão diante da possibilidade de não poder tocar se não melhorar, e a um quase desespero em não poder enfrentar uma expectativa tensa dessas sem um apoio "nicotínico". Torço para que os antibióticos funcionem.
Felizmente, dez dias depois, nova bateria de radiografias indica que a crise passou e que posso voltar a estudar e me preparar para o Free Jazz com tudo a que tenho direito. Que susto!

Estúdio Eco Som, 16/10/00 às 18h

O primeiro ensaio é uma festa. O reencontro dos amigos que não conseguem esconder a excitação em estarem participando de um evento tão importante na música instrumental, aquele calor de uma expectativa como se fosse a primeira vez.
Para reproduzir os sons do CD "Flash", que vai ser a base do repertório das nossas apresentações, Suzano convidou dois percussionistas da pesada para dividir a missão entre instrumentos tradicionais, triggers e pads. São eles: Jovi Joviniano, fiel companheiro de muitas batalhas e conhecido por injetar o swing de samba no trabalho de Fernanda Abreu, e Alison, virtuoso do repinique e filho do grande percussionista Trambique, um dos grandes das gravações dos anos 70 e 80.
A parte de teclados assume duas funções que se interligam e interagem o tempo todo: uma é a harmonia propriamente dita das músicas com predominância de sons de piano, piano rhodes e pads diversos, enquanto a outra parte é a do "noise" que inclui, além de samplers processados de diversas fontes, arpegiadores e efeitos.

Resolvi dividir o meu setup em duas partes que se interligam. Dessa forma desencavei meu master keyboard e selecionei a "rapaziada" que estaria sob seu comando: ligado ao primeiro dos MIDI outs estava o módulo de piano Proformance, que me acompanha há mais de 10 anos (quando será que vão inventar alguma coisa com som melhor para substituí-lo?); no segundo MIDI output era o Access Virus, muito usado no CD para efeitos e arpegios ensandecidos; no terceiro MIDI out, o Nord Lead para pads e efeitos e filtros; por último, o Korg Triton que faz um pouco de tudo com destaque para o som de piano Rhodes, pads com arpegiadores, filtros pseudo-analógicos. Além disso, pelo fato de o Korg ser um teclado de bom toque e de 76 notas, ele seria o principal em algumas músicas sem aquela impressão de estar tocando num brinquedo de plástico (tal como eu sinto ao tocar no Nord Lead ou mesmo num teclado de 61 notas).
As estantes com o Kawai (master keyboard) e o Triton ficavam em "L" de maneira que, sem muito malabarismo, era possível tocar em um outro teclado ou mesmo nos dois, ou no Nord e no master se fosse necessário.
Tudo isso ligado a um mixer, com os outputs do módulo do piano indo separadamente para dois canais e voltando no mixer, e os outros teclados entrando no mixer e saindo L/R para o P.A.
Como cereja no sorvete, uso o Nord entrando num Kaoss Pad da Korg, que é um multi-efeito com variações possíveis em tempo real, se você passa o dedo numa superfície com luzinha que fica modulando no escuro e o faz se sentir um DJ por alguns instantes (é o suficiente).
Tirar essa tralha toda de meu estúdio em Rua Bariri e levar para o estúdio de ensaio é uma tarefa quase para o super-homem, mas duro mesmo é vencer os menos de dois quilômetros que separam meu estúdio do EcoSom, em Botafogo, cruzando a rua São Clemente com todos os seus colégios sem tentar cortar os pulsos.

Estúdio Ecosom, 17/10/00 às 18 h

A mistura de loopings e humanos tocando em tempo real sem nada sequenciado, nem click no ouvido de ninguém, dá bastante trabalho para ficar natural. Acho que não existe nada mais cafona do que quando você está assistindo um show com aquele som normal de gig ao vivo e, de repente, entra aquele som sequenciado ou em MD, masterizado, comprimido, com o estéreo todo certo etc..
É inevitável o choque e a sensação de estarmos sendo logrados de alguma forma. Pensamentos variam entre "o som desse P.A é muito vagabundo" ou "os caras não estão tocando nada, está tudo gravado".
Transformar uma apresentação de música instrumental num Karaokê é indesculpável, mas precisamos de alguns loopings e efeitos que fazem parte da música e que, nas condições reais de execução numa programação com mais dois outros grupos na mesma noite e no mesmo sistema de som, fica muito difícil de dar certo.

Meus arpegiadores estão sincados pelo master Kawai que manda MIDI clock para os módulos e onde posso programar o andamento de cada música por patch do Kawai, uma função que não vejo com muita freqüência em outros master keyboards. Mas que, felizmente, compensa o peso estupendo do M 8000. Uma luzinha piscando ao lado do display me dá uma referência do andamento que foi programado e, como estamos tocando sem click, através dela vejo como está o nosso timing e posso fazer pequenos ajustes com minhas gigantescas mãos de polvo.
Dá trabalho mas, afinal de contas, é para isso que se ensaia.
Entretítulo: Estúdio Ecosom, 18/10/00 às 13 h

Ao contrário da maioria dos estúdios de ensaio, onde o ar condicionado não alivia o clima senegalesco que se instala em pequenos espaços depois de uma ou duas horas de trabalho, o ar condicionado do EcoSom é uma potência para esquimó nenhum botar defeito. Só que, por um erro logístico, fiquei estacionado bem embaixo de uma das saídas para o Pólo Norte e para afugentar um desagradável torcicolo que estava querendo se instalar (idade?) tratei de levar um bom casaco, apesar da temperatura externa de 35 graus.
A temperatura interna do ensaio também está alta. Muitas vezes, o que imaginamos no aconchego de nosso lar acontece de uma maneira totalmente diferente na hora de tocar. Pessoas diferentes têm velocidades diferentes para assimilar idéias, ainda mais quando se está num grupo que se conhece e toca junto há algum tempo como é o nosso caso. Trabalhar com idéias musicais não escritas, embora seja muito "cool", às vezes dá margem a alguns "achismos" que atrasam o lance musical. No entanto, se eles forem encarados pela ótica da amizade e do respeito, podem render grandes frutos.
A tensão e a expectativa nas vésperas de um evento importante podem conduzir a uma certa impaciência, e isso precisa ser evitado de qualquer maneira, pois como você sabe, leitor, quanto mais ansioso você fica, mais irá demorar a chegar a um final feliz.
De qualquer maneira, o repertório está bem passado e ainda temos mais um ensaio para acertar os últimos detalhes, além de passar o show umas duas vezes no estilo "ferido não tem ajuda", ou seja, sem parar se acontecer algum problema. Tudo para simular a situação on stage o mais próximo possível.
Um bom banho quente e uma boa noite de sono ajudam bastante a esquecer a tensão.

Estúdio Ecosom, 19/10/00 às 13 h

Para animar o último ensaio e também dissipar o clima tenso de ontem, chamamos uns poucos amigos para servirem de cobaias auditivas do nosso set. Estamos todos confiantes, já que poderemos dar os últimos acertos em cada parte individual e prestar atenção àquelas coisas tão importantes que, às vezes, são esquecidas numa performance coletiva como dinâmica, tocar ouvindo o que o outro está fazendo e, finalmente, se divertir um pouco tocando! Afinal, é para isso que se faz música, não é mesmo leitor?
Mas o que é isso? O ar condicionado não está funcionando hoje?
-"É um problema de fase na eletricidade", avisa o dedicado Paulinho, do EcoSom. - "Já avisei e os caras da Light já estão vindo aí para consertar", continuou.
Vou até a padaria em frente comer um pedaço de pizza e quando volto lá está a carrocinha da Light parada próximo ao estúdio. Parece que tudo será resolvido tranqüilamente mas... Epa, a carrocinha está indo embora!
-"E aí, Paulinho, tudo resolvido?" , pergunto morto de vontade para fumar um Hollywood depois da pizza e do cafezinho.
-"Infelizmente, não. Esses caras que vieram não têm autorização para trocar uma determinada peça e resolverem esse tipo de defeito. Já entraram em contato com a empresa e ela vai mandar as pessoas qualificadas", responde Paulinho um pouco suado.
Incrédulo com a burocracia elétrica, olho o relógio e vejo que são 14 horas. Nosso ensaio está marcado até as 17 horas, e ainda tenho uma gravação às 19 horas na Barra. Se os caras consertarem em uma hora, ainda dá tempo de acertar os últimos detalhes modificados ontem e passar o show uma vez.
Vou, sucessivamente à padaria, ao bar da esquina, entro e saio do estúdio 43 vezes e, por incrível ironia do destino, as outras salas do estúdio continuam funcionando. Menos a nossa! Sem ar condicionado e sem força devido aos problemas de fase.
Paulinho ameaça de morte os caras da Light por telefone e já está suando sem parar, mas ninguém chega para trocar a maldita peça. A essa altura, já comi duas dúzias de coxinhas de galinha, mais 10 pedaços de pizza, cinco litros de caldo de cana e 84 cafezinhos. Lá estou eu completamente enjoado, sentado na calçada da Real Grandeza à espera de celebridades internacionais da Light para poder, ao menos, dar uma passada no show na ordem das músicas que serão tocadas amanhã.
São 16:15h quando os caras chegam e em apenas cinco minutos está tudo funcionando. Temos, portanto, 40 minutos para ensaiar, já que todos têm compromissos mais tarde.
Alguém lembra que nossa apresentação por contrato é de 45/50 minutos, por isso se nos apressarmos um pouquinho o andamento das músicas, dará para passar o show todo...
Será que Deus é mesmo brasileiro?

MAM, 20/10/2000 às 14 horas

Chegou o grande dia. Aliás, já chegou bem mais cedo, porque o mixer para teclados pedido na lista de equipamento, por alguma razão, não havia pintado e depois de uma batalha de celulares, tive que voltar ao meu estúdio, desplugar um monte de coisas e levar o meu Mackie para não ficar na pilha de chegar lá, não ter mixer e ainda me dar mal na cronometrada passada de som. Pela programação da produção, nossa passagem seria de 14:45 h até 16 h.
Chegamos lá dentro do horário combinado e tivemos a feliz surpresa de constatar que não é só no Brasil que existe a insatisfação João Gilbertiana com o som.
Também na Índia o fenômeno se apresenta e nos é trazido pelo virtuoso da tabla Talvin Singh que, apesar de ter mandado uma lista de equipamento prevendo uma banda, DJs etc., mudou de idéia e trouxe para o Free Jazz um set formado só de percussão acústica composto por ele, um primo e uma amiga. Todos ótimos músicos, mas tantos microfones assim sem avisar... Valeu, João! Você está fazendo escola pelo mundo inteiro.
Parabéns para a equipe técnica que atuava no Rio pela paciência e tentava manter um astral elevado. No entanto, só conseguimos entrar no palco às 18 horas e teríamos que parar às 19 horas, pois a casa abriria para o show marcado às 20 h e nós seríamos os primeiros a tocar.
Não precisa nem dizer que essa passada de som foi uma confusão total e quem ia acabando de montar passava para o P.A e o retorno. Só conseguimos tocar juntos duas músicas até a hora de irmos em casa tomar um banho e voltar correndo para o MAM.
Apesar da pressa, com a destreza de Marcelo Sussekind e João Damasceno, tudo funcionou. E também como já sabemos que passada de som confusa, na maioria dos casos, significa um bom show, ninguém se desesperou. A não ser o pessoal que mora longe do lugar do show e que precisou brincar um pouco de Schumacher para chegar no horário marcado.
Começa o show e a recepção do público é maravilhosa, compensa tudo. Os climas vão se sucedendo e a empolgação viaja do palco para a platéia e volta num fluxo constante de energia que nos deixa felizes e motivados.
Durante a música "Airá", de Carlos Negreiros, uma espécie de suíte afro-brasileira com várias partes, acontece o mais inesperado em 20 anos de carreira: ao final do dueto de piano e pandeiro, nos dois últimos compassos, a estante de teclado sucumbe e ... cai no chão!
Movido pelo susto e sem entender o que estava acontecendo direito, consigo chegar ao fim dessa parte como se nada tivesse acontecido, só que com o teclado no chão e com a platéia ululando.
Sinceramente, poucas vezes fui tão aplaudido delirantemente. O público veio abaixo e eu, apesar das pernas bambas, segui fazendo cara de gênio e tocando no outro teclado enquanto os roadies levantavam o master e refaziam as ligações. Tudo isso sem parar a música. Acho que foi meu momento "The Who". Depois vi o D'Angelo derrubando a bateria no show de propósito e achei meio sem graça, tudo muito armado...
O show agradou bastante, mas fiquei com os nervos em pandarecos apesar de ter me saído bem no sufoco da hora.
Consegui, simultaneamente, voltar a fumar, brigar com minha mulher e não assistir a mais nada do Festival naquela noite.

Macksoud Plaza, 21/10/2000 às 13 h

Depois de uma noite lustrando o bico em casa sem dormir, sou animado por meu grande companheiro, o trumpetista Nilton Rodrigues, que manda eu levantar a cabeça, esquecer o que houve ontem e parar de fumar.
-"Tudo ao mesmo tempo?" pergunto meio incrédulo.
-"É, ao mesmo tempo" responde o meu amigo sem dar chance aos meus resmungos.
Recebemos um recado que a passagem de som está um pouco atrasada (valeu "João" da tabla!) e assim posso descansar um pouco, tentar fazer as pazes com minha mulher pelo telefone e mudar o clock interno para fazer uma apresentação sem paranóia.

Jockey Clube, São Paulo 21/10/2000

As notícias correm e somos super bem recebidos na passagem de som pela turma do Cláudio Feijão, velho companheiro do tempo em que os animais falavam e que as turnês tinham três meses de duração. Sob seu comando, fizemos uma das melhores passagens de som da minha vida em termos de rapidez, objetividade e resultados. Gostaria de agradecer nominalmente o carinho e o profissionalismo dos roadies Ricardo "Bolão" Amaro, Ronaldo "Bozo" Góes, Wagner "Jaspion" Shinizo; ao técnico de monitor Fernando Narciso e ao técnico de P.A. Guilherme Canaes (que adiantou sensivelmente o lado do nosso operador, João Damasceno) e pairando sobre tudo isso, a figura lendária de Pena Schmidt.
O show foi excelente, tocamos com tranqüilidade e disposição e o público respondeu com entusiasmo e alegria. Não precisei que teclado nenhum caísse para que meu trabalho fosse reconhecido. Ficamos todos muito felizes e fomos assistir aos outros shows da noite de Femi Kuti e D'Angelo.

Aeroporto Santos Dumont, 22/10/2000 às 11 h

Após o merecido, embora curto, repouso do guerreiro, chegamos de volta ao Rio, onde já havia outros compromissos de estúdio me esperando à tarde. Pinta um pequeno problema: nosso roadie arrumou uma namorada em SP, nos embarcou em Congonhas mas, ao chegar no Rio, percebi a roubada de estar sem ajuda para transportar meus "patos mortos", isto é, meus teclados. Além de ligá-los de volta na Rua Bariri para mais uma sessão de gritos e gargalhadas.
Contactada a produção do evento eles mandaram, gentilmente, uma van para o meu transporte. Só que ela não dava altura na garagem do meu prédio, e para isso contei com a ajuda de meus fiéis porteiros - terminando essa saga enfileirando teclados na portaria do meu prédio e transportando-os de volta para dentro do estúdio.
É meio bizarro, mas é o mundo real, leitor. Como dizem os nossos irmãos da América do Norte: "the show never stops".

Vejo você no próximo mês de volta ao estúdio com um sampler que faz alterações de pitch e tempo independentes entre si e sem perder qualidade sonora. Será?
Até lá.

Fernando Moura é tecladista, produtor e arranjador. É pós graduado em música para cinema, televisão e multimídia na Grã-Bretanha. www.trip.com.br/mouramusic
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.