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Revista Luz & Cena
Análise
Pro Tools HD
Olhando Bem de Perto
Sólon do Valle
Publicado em 01/09/2002 - 00h00

Temos visto e, principalmente, ouvido muitas demonstrações do Pro Tools HD mas, para frustração nossa, ainda não tínhamos tido a oportunidade de olhar e ouvir mais de perto - quer dizer, em nosso próprio laboratório - este produto.
Recebemos, para esta análise, um sistema HD1 composto de um Mac G4 de 733MHz, um módulo 192, um módulo 96 e um módulo Sync. Nosso maior interesse e curiosidade eram para a qualidade de áudio - afinal, trata-se de uma evolução tecnológica pela Digidesign que, mais do que simplesmente aumentar as taxas de amostragem de seu produto principal, elevou consideravelmente sua qualidade de som audível, mesmo quando trabalhando nas mais baixas taxas. Isto significa que mesmo quem jamais quererá gravar em altas taxas (será?!) usufruirá de uma sonoridade superior à do até então carro-chefe da linha, o aclamado 888|24.

AUDIÇÃO
Muito curiosamente, o que primeiro espanta ao se ouvir a interface 192 são os graves. Como se sabe, as altas taxas de amostragem (de 88,2kHz para cima) em nada afetam a resposta de graves num sistema digital.
No entanto, a primeira coisa que ouvimos na 192 foi uma mixagem feita em nosso "anti-go" 888|24, de material previamente gravado, através do software Saw Studio, no Estú-dio Mills, que é baseado na interface Echo Layla. Ou seja, apenas "meio em Pro Tools" e anterior ao lançamento do HD. O material, em 24 bits e 44,1kHz, já com ótima quali-dade, ganhou imediatamente vida nova ao ser remixado no HD, através da interface 192. E olha que o sistema tinha poucos plug-ins instalados, e tivemos que substituir plug-ins elaborados da versão antiga por outros, inferiores, da versão nova!
Em seguida, descobrimos que os agudos também são mais "limpos", mais "secos" que os do sistema anterior. E que os médios são também mais definidos, com um "punch" bem mais acentuado que favorece os instrumentos de ataque forte, como a caixa da bateria, os slaps do baixo e vários instrumentos de percussão, sobretudo os latinos como as congas. Ou seja, embora a enorme melhora da qualidade dos graves seja responsável pela surpresa inicial, bastam alguns minutos de música e atenção a cada instrumento para descobrir que - de fato - a interface 192 é quase obra divina.
A conclusão a que chegamos é de que a Digidesign, além de atualizar as características do sistema para os padrões de alta densidade de hoje, também investiu pesado na qualidade do hardware. Melhores conversores, não somente mais rápidos na amostragem mas superiores na precisão; e melhores componentes, como por exemplo os capacitores, que respondem pela melhora dos graves.
Em seguida, ouvimos o mesmo material através da interface 96. Seu som é excelente e até supera o da "antiga" 888|24, mas... o coração bateu mais forte mesmo foi pela 192.

CURIOSA EXPERIÊNCIA
Uma curiosa experiência, sugerida por Astor Silva, da Digidesign, rendeu um resultado bem esclarecedor para aqueles que fazem a clássica pergunta: "Para quê gravar em 24/96, se depois para fazer um CD reduzimos para 16/44?"
Pois bem, assim o fizemos, mas o resultado foi além do esperado. Gravamos, com microfone a condensador, alguns instrumentos de percussão a 24/96. A reprodução deste material foi, como era de se esperar, de uma transparência enorme.
Em seguida, usando o algoritmo da Pro Tools em sua segunda melhor precisão a partir da melhor, convertemos o formato do arquivo para 16/48, e ouvimos o resultado. Embo-ra parte da transparência, e sobretudo a qualidade de som nos decaimentos tenham-se perdido, a "assinatura sonora" da interface foi mantida - trata-se, ainda, de "som de Pro Tools 192".
Depois, a surpresa. Gravamos, nas mesmas condições, os mesmos sons diretamente em 16/48... e o som saiu pior! Concluímos que o processo de conversão deve de algum jeito "arredondar" o sinal, aproveitando os samples antigos entre os novos (mais escas-sos) para daqueles extrair alguma informação que é passada para o sinal em 16/48. Na gravação diretamente em 48kHz, parece que alguma coisa "no meio" se perde irremediavelmente.

MEDIDAS
Poucas medidas foram feitas, por um motivo muito simples: o Pro Tools HD tem maior definição sonora que nosso instrumento de medida, o excelente analisador Neutrik A2D. Assim, as medidas revelaram tão-somente as deficiências do analisador, como distorção de 0,003% quando o Pro Tools hoje fica pelos 0,0007%.
A resposta de freqüências é o único item que nosso analisador "mereceu" medir. Para a interface 192, conforme a taxa de amostragem fosse de 48kHz, 96 kHz ou 192kHz, encontramos freqüências de corte de, respectivamente, 22,3kHz, 44,5kHz e estontean-tes 89,1kHz. A freqüência de corte da baixas freqüências é absolutamente incalculável de tão baixa, uma vez que em 10Hz a perda era praticamente invisível.
Notem os velhos amantes do analógico que nenhum gravador dos "bons tempos" pode-ria sonhar com uma resposta até 40kHz...


A resposta da interface 96, nas baixas freqüências, foi equivalente à da 192. Já nas altas freqüências, embora muito boa, a resposta mostrou-se ligeiramente inferior, com uma queda de 0,23dB em 20kHz mesmo à taxa de amostragem de 96kHz. Com sam-pling rate de 48kHz, a perda não piora, embora a freqüência de corte caia, como é natu-ral, para cerca de 22kHz.


NÍVEL MÁXIMO DE SAÍDA
Consideramos como máximo nível de saída analógica aquele em que a distorção har-mônica a 1kHz atinge 0,1%.
Para a interface 192, medimos um nível máximo de saída de 9,788V, correspondentes a +22,0dBu.
Para a interface 96, o nível máximo de saída alcançou +21,7dBu.



Conclusão
Os resultados que conseguimos obter confirmam o trabalho de pesquisa e desenvolvi-mento investido pela Digidesign em seu produto principal. Se, na versão anterior do Pro Tools, a qualidade de som era muito boa, nesta nova linha ela se mostra excelente. Quem já ouviu de perto, sabe.


Sólon do Valle, editor técnico de M&T, é engenheiro eletrônico, especializado em Áudio.
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.