Todas as áreas têm suas modas e tendências, e na produção de música a coisa não é diferente. Tivemos a moda dos porta-studios cassette. Esta os leitores mais jovens não devem ter conhecido... Tivemos a moda dos MIDI-studios com seus vários módulos (ou cérebros) de synths! Tivemos a moda dos pré-amps externos (que perdura por bons motivos). Tivemos a moda dos plug-ins (que, obviamente, perdura também) e a moda dos compressores. Esta última é cada vez mais explorada, falada, comprimida, achatada e distorcida, muitas vezes com muita personalidade e musicalidade. Sendo assim, se fala cada vez mais em comprimir o áudio, um canal, um subgrupo, ou a mix inteira. Mas... existe um outro atributo do áudio que fica praticamente sempre esquecido, de lado: o transiente.
O transiente é aquele iniciozinho muito, muito rápido do som. Aquele momento do início da onda. Aquele tempo que demora pra onda se formar, do silêncio ao seu pico. Falando assim, parece muito teórico. Mas o transiente é muito mais do que eu vou conseguir explicar nessa página.
Mesmo antes de falarmos de compressores ou processadores, plug-ins ou reais, cada som tem seu transiente natural. Ou seja, uma caixa de bateria tem um transiente muito mais rápido do que, digamos, um violino. O próprio piano pode ter transientes diferentes, dependendo do instrumento, de como é tocado e de como é captado. Por falar em captação, fala-se tanto em pré-amps, mas não tanto em microfones, quando estes, os microfones, são grandes responsáveis por como os transientes são captados em uma gravação. Obviamente, um microfone condensador é bem mais sensível aos transientes do que um dinâmico. Mas, ainda assim, existem microfones dinâmicos mais rápidos do que outros, e o mesmo com condensadores.
De volta aos prés, muitas vezes um pré mais famoso não vai te dar o transiente rápido que você precisa para um determinado timbre, em uma determinada base. Sim, o som de um instrumento tem que soar bem na base em que ele vai existir. Existem pré-amps mais rápidos e mais lentos, e o bom engenheiro sabe escolher o pré-amp certo para o som cuja base tem determinado arranjo, estilo, momento etc.
Vamos dizer que, quanto mais moderno o equipamento, mais rápidos foram ficando os transientes. Foram sendo desenvolvidos componentes capazes de captar e processar áudio com muita rapidez (de transientes). Mas não só os componentes: também o meio de gravação. A gravação digital grava e reproduz áudio com muito mais velocidade de transientes do que a fita analógica. E com a falta da famosa "compressão de fita", somada à facilidade de ter milhares de compressores abertos em uma sessão de mix (que antigamente só era possível para quem mixava em estúdios milionários e lotados de equipamentos), as mixes hoje são enfestadas de compressores e com os transientes sofridos. E, como disse ao longo do texto, nem sempre a falta de transientes é decorrente somente do uso dos compressores. Pode ser pela posição e/ou escolha do microfone, ou até mesmo pela natureza do som. O fato é que existem plug-ins que modelam estes transientes, e eles são muito, mas muito menos falados do que os compressores. Se eles tiverem um pouquinho mais de atenção, vocês se surpreenderão, pois a modelagem sutil desses transientes pode causar um impacto auditivo enorme em suas músicas.
Até mês que vem.
Enrico De Paoli é engenheiro de música. Suas produções, masters e mixes premiados com Grammys podem ser conhecidos e contratados através de seu website www.EnricoDePaoli.com. Lá você também pode saber mais sobre os treinamentos Mix Secrets.