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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Monitores de Estúdio
Eles não são um enfeite
Enrico De Paoli
Publicado em 01/01/2014 - 00h00
divulgação
 (divulgação)
A revolução digital é um barato. De repente, todo mundo pode tudo. E não estou sendo debochado! De repente todo mundo pode mesmo tudo. Muitas pessoas viram analistas políticos. Muitas viram top models. Esta revolução também ajudou na formação de vários gourmets e baristas! E muitos viraram produtores fonográficos e engenheiros de música. E novamente enfatizo: não estou sendo irônico. A facilidade com os computadores e a internet, sem sombra de dúvidas, ajudou a muitos desenvolverem suas paixões. E, pra mim, isso é a base de tudo: sem paixão, não fazemos nada. Ao menos nada que valha a pena.

Ok. tendo dito isso, tenho visto nas redes sociais uma vasta coleção de fotos bacanérrimas de engenheiros de música compartilhando suas paixões. Seus estúdios. Suas conquistas em adquirir equipamentos. Seus santuários. Muita coisa legal mesmo. E, no meio delas, uma quantidade assustadora de fotos que mostram caixas de som colocadas onde deu pra colocar. Onde sobrou. Onde coube. Onde. onde não atrapalha! Bem, vamos direto ao ponto: monitores de áudio são possivelmente as peças mais importantes do estúdio inteiro. Eles definitivamente não podem ficar onde sobrou, e sim serem posicionados na área vip do estúdio, num lugar pensado pra eles. Aliás, não apenas isso. Vejo fotos de estúdios com milhares de dólares investidos em um computador, preamps, microfones, mas com caixas de som nitidamente escolhidas com menos cuidado do que o resto do sistema. Não estou falando de preço, pois nem sempre o que é mais caro é melhor. E, além disso, como áudio e a música são artes invisíveis, é inquestionável que o que é um bom som pra uma pessoa pode não ser para outra. Bem, se isso se aplica a objetos físicos, imagina em relação a sons e timbres! Sendo assim, os monitores de estúdio devem ser escolhidos com cuidado, respeitando definitivamente os seus ouvidos, e não serem comprados com o dinheiro que sobrou e colocados no lugar que deu.

Não vou entrar em méritos de marcas e modelos, mas podemos falar de algo mais simples, mas que pode mudar o som do seu estúdio para um nível consideravelmente superior, e gastando pouco, ou nada: onde colocar as caixas? Vejo caixas colocadas em prateleiras elevadíssimas, com o som delas passando muito acima dos ouvidos do engenheiro, ou ali na mesa, logo ao lado do computador, pertíssimo dos ouvidos. Eu vejo de tudo, mas estes dois cenários são, digamos, os mais comuns. Vamos levar em consideração alguns fatores:

- Qualquer gerador de som, seja um instrumento ou uma caixa de som, precisa de um espaço até que todos os timbres gerados por aquele corpo físico se torne o som do instrumento. Ou, neste caso, o som deste monitor de áudio. Vamos exagerar no exemplo pra ele fazer mais sentido: se você colocar seu ouvido a 5 cm do woofer, você ouvirá graves predominando. Se encostar o ouvido no tweeter, ouvirá agudos. Um espaço é necessário para os sons dos dois falantes se somarem e então virarem um timbre só. Ok, mas vale lembrar que uma caixa de som emite sons pelos dois falantes e pelo corpo todo da caixa. A disposição destes falantes no espaço da frente da caixa faz com que aquele conjunto se torne apenas um corpo gerador de som. E para o nosso ouvido entender aqui como apenas um elemento, é necessário um espaço.

- Duas caixas de som idênticas soam completamente diferentes quando dentro de espaços acústicos diferentes. Mas não precisamos ir tão longe. Apesar de existir a prática de se usar monitores de estúdio deitados, normalmente eles soam melhor em pé. E o motivo é simples: normalmente estes monitores pequenos têm um woofer e um tweeter, e o som é dividido em duas faixas de frequências e endereçados para o faltante certo para ser reproduzido. Com as caixas deitadas, ouvimos os agudos ligeiramente depois dos graves, pois os tweeter ficam mais longe de nós do que os woofers. Parece pouco, mas este atraso pode causar um probleminha de fase justamente na região onde existe o encontro (crossover) dos dois falantes. E esta região calha de ser bem onde fica a voz do cantor. Ou seja, caixas em pé normalmente te darão uma sonoridade mais bonita na região média do som.

- Ainda continuando o tópico acima, uma pequena reflexão numa parede pode soar desastrosa para o engenheiro, e o motivo também é simples: pense nos seus monitores posicionados, porém, ao lado de um deles, há uma parede. O som sai dele, bate nessa parede e é imediatamente refletido para os seus ouvidos. Mas este som refletido viajou um pouquinho mais do que o som direto para chegar também aos seus ouvidos. Como o som viaja sempre na mesma velocidade, este som refletido chega aos seus ouvidos com um microatraso. Não o suficiente para você o identificar como um eco, mas o suficiente para se somar no som direto e, em várias frequências, esta soma estar fora de fase. Pronto. Você conseguiu destruir o som da sua caixa de som com o famoso "comb filter". Mas e a solução? Tirar a parede? Bem, normalmente isso não é possível num home studio. Então, sente-se na sua posição de mixagem, e com a ajuda de alguém, coloque um pequeno espelho na parede até você ver de rabo de olho a sua caixa de som no espelho. Ok, naquele lugar você pode pendurar um difusor acústico, ou simples espumas que absorvam o som. Problema resolvido.

Depois de tudo isso feito, ouça alguns discos e veja a diferença. E, então, poste novas fotos nas redes sociais. Bons sons para todos!

Enrico De Paoli é um engenheiro multi-Grammy. Produz, mixa e masteriza em seu Incrível Mundo Studio ou por aí! Créditos vão de Ray Charles a Djavan. Conheça também seus treinamentos Mix Secrets. Site: www.EnricoDePaoli.com
 
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