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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
A feira compacta (e quase artesanal)
Enrico De Paoli
Publicado em 01/12/2013 - 00h00
arquivo pessoal
 (arquivo pessoal)
Existem alguns dizeres clichês, como "tudo é cíclico" ou "as coisas acontecem nos Estados Unidos dez anos (ou mais) antes de acontecerem no Brasil". Mas... se tudo é cíclico, algumas coisas podem acontecer antes no Brasil do que nos USA. Bem, fato é que as revistas americanas eram gigantes. Quase livros. E, no Brasil, nos anos 1980, nossas revistas de áudio e música eram quase panfletos. Hoje, temos no Brasil revistas admiráveis, como esta que você está segurando neste exato momento (óbvio!), e revistas clássicas americanas, como a Mix, que outrora só faltou ter capa dura de tão imponente e hoje parece mais uma revista do colégio. E as feiras de áudio e música?

Mês passado escrevi aqui, na nossa última página da Áudio Música & Tecnologia, a minha impressão sobre a Expomusic, em São Paulo. O título do meu texto foi "A Feira Gigante". E realmente era. Absolutamente impressionante. E logo depois embarquei para Nova York, onde, entre outros projetos, visitei a AES 2013 (Feira da Audio Engineering Society). A AES sempre foi a feira mais conhecida de todas, perdendo em tamanho, talvez, somente para a Musikmesse, na Alemanha. Há muito tempo venho percebendo o efeito da internet nas feiras internacionais. Começou a acontecer de se visitar os estandes e, em vez de se deparar com centenas de demonstrações de equipamentos, como sempre foi, as feiras foram mudando, e, então, a pessoa que te atendia no estande lhe estendia seu cartão de visitas e falava "visite nosso site e me mande um e-mail!". Meu Deus... Não é para isso que íamos às feiras, mas sim para ver pessoas reais (e não virtuais) e para ver, ouvir e brincar com os equipamentos.

Esta AES me deu a sensação de ter voltado no tempo, para uma época muito anterior à das feiras grandes e lotadas de exibições megalomaníacas de equipamentos revolucionários (quem se lembra do lançamento do Adat?). Pois bem, me senti na época em que existiam poucas marcas. E poucos produtos. Os estandes estavam pequenos. As pessoas que encontrei, em algumas situações, eram os próprios donos da marca (e da empresa) ou os inventores dos equipamentos.

Deu a sensação de um mercado em construção. Mas como assim? Em 2013, um mercado em construção? Sim! Aquele mercado acabou. Lembra da crise? Já disse algumas boas vezes aqui que não acredito em crise. Esta palavra é usada por quem não se adapta aos novos tempos, e, então, em forma de lamúria, diz que o mercado está em crise para justificar a decadência ou fracasso. As novas tecnologias tornaram fácil fazer equipamentos, e, por isso, fazer discos ficou ao alcance de todos. Mas não é fácil inventar os bons equipamentos! E assim como para se fazer um grande disco é preciso ser criativo e talentoso, a AES em New York mostrou humildemente que lança equipamentos (ou plug-ins) quem está antenado com o novo mercado e tem talento para inventar soluções. Claro que não são todos ali que estão descobrindo a nova roda, muito menos o novo fogo. Mas tem gente nitidamente prestando atenção às necessidades do mercado. Sim: necessidades! Porque num mercado onde há cada vez mais pessoas fazendo música em seus estúdios particulares, seria um pecado dizer que o mercado está em crise. Na verdade, o momento é fenomenal para quem tem um talento guardadinho e quer botá-lo pra fora, seja inventando os equipamentos ou o que fazer com eles.

Como sempre, bons sons pra todos. Curtam os brinquedos, e até mês que vem.


Enrico De Paoli é engenheiro de música. Trabalha em seu Incrível Mundo Studio ou móvel. Créditos vão de Djavan a Ray Charles. Saiba mais em www.EnricoDePaoli.com e conheça seus treinamentos Mix Secrets em engenharia de música.
 
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