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Revista Luz & Cena
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Era uma vez uma casa no meio do mato...
Por dentro do Casa do Mato, estúdio que é uma verdadeira fábrica de sucessos
Rodrigo Sabatinelli
Publicado em 01/10/2012 - 00h00
Gláucio Ayala
 (Gláucio Ayala)
Pense em uma casa super confortável, localizada no meio de uma floresta no alto da Gávea, bairro nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro. Do lado de fora dela, ilustres moradores, como esquilos, tucanos e miquinhos promovem uma sinfonia para lá de natural, enquanto dentro de suas salas grandes artistas, instrumentistas e produtores trabalham pesado na produção de um sem número de CDs e DVDs de sucesso. Estamos falando do Casa do Mato, estúdio de gravação que em 2011 recebeu o título de melhor estúdio de gravação do Brasil pelo Prêmio de Áudio, promovido pela AES.

Com duas salas de gravação e mixagem em 5.1, o local, administrado pelo produtor musical Marcelo Sussekind, o engenheiro de gravação e mixagem Ronaldo Lima, o engenheiro e produtor Dan Sebastian, o engenheiro Eduardo "Dudu" Botelho e o gerente de projetos Dany Levkovits, tem crescido a cada dia. Tanto é que, hoje, além dos projetos musicais realizados em seus ambientes, o espaço sedia a divisão carioca da Play It Again Sound Production, produtora paulista especializada em jingles e spots que atende ao mercado de televisão, tendo como clientes os canais Multishow, GNT, Globo, ESPN e Record.

Convidada por Dan e Sussekind, nossa equipe passou uma tarde no local. Caminhando por entre árvores e salas de gravação, o quinteto de sócios contou um pouco sobre a história do estúdio, fundado em 2006 para atender a uma demanda de mercado: a mixagem em 5.1. E entre doses de café bem passado - outra especialidade da casa -, descobrimos que o sucesso obtido até então ainda é pouco perto do desejo de quem vive e respira música - e, claro, ar puro - 24 horas por dia.

ESTÚDIO B UM DIA FOI A

Projetada em 2005 pelo engenheiro Ricardo Mizutani, a sala que hoje é chamada de Estúdio B por muito tempo foi a única do Casa do Mato. E no período em que reinou absoluta, abrigou importantes produções, de artistas de renome nacional e internacional. Em 2006, por exemplo, o cantor Santiago Cruz e a cantora Ana Carolina passaram por lá, respectivamente com os trabalhos Sentidos e Estampado.

No ano seguinte, Ana voltou ao estúdio para gravar Dois Quartos, e Danni Carlos, outra cantora pop, produziu seu Música Nova. O ano de 2008 também foi para lá de positivo para a sala, que teve, pela primeira vez, passagens de ninguém menos que Milton Nascimento, que gravou o CD Belmondo; além do Padre Fábio de Melo, que finalizou no local o DVD Eu e o Tempo, e do grupo Capital Inicial, que também finalizou um DVD, Em Brasília - Multishow.

"Em 2009 também tivemos projetos bem interessantes, como os de Vander Lee [Faro], Leila Pinheiro [Ao Vivo] e Detonautas [Acústico MTV], provando que estávamos no caminho certo. Em 2010, a coisa seguiu no mesmo ritmo, com trabalhos de artistas como Fino Coletivo [Copacabana], Milton [E a Gente Sonhando], que voltou à casa, e Jason Mraz, que gravou uma das faixas de seu disco The World As I See It", lembra Ronaldo, dando a palavra a Sussekind.

"É interessante, hoje, olharmos para trás e percebermos que muitos dos projetos que obtiveram sucesso nas rádios, nessa época, saíram daqui, dessa salinha. Começamos o negócio para atender a uma demanda do mercado, a finalização de projetos em 5.1, mas a coisa foi crescendo e, com o tempo, percebemos que havíamos nos tornado muito mais que isso", emenda o produtor, acrescentando que, no local, foram finalizados, ainda, DVDs dos cantores Tim Maia [In Concert, de 2006] e Wanderléia [Wanderléia, de 2008] e dos grupos Engenheiros Do Hawaii [MTV Ao Vivo, de 2007], Barão Vermelho [Box MTV Barão Vermelho, de 2006] e Monobloco [Ao Vivo, de 2006], entre muitos outros.



"Passei seis meses trabalhando nesse projeto do Tim [Maia]. Foi um projeto que corri muito atrás para realizar. Busquei o material na Globo, restaurei e finalizei tudo aqui. Trabalhei anos com o Tim e tinha vontade de eternizar algum de seus shows. Confesso que, durante as sessões de mixagem, sempre que ia finalizar uma música, pensava: 'poxa, se o Tim estivesse vivo, não ia gostar desse grave todo!'. Ele dizia que embolava o som", diverte-se Ronaldo.

Dan Sebastian conta que alguns dos trabalhos realizados na sala foram registrados em um setup composto de um Pro Tools 6.9., uma controladora Control 24, da AVID, um sistema de monitoração em 5.1, da Dynaudio, e processadores externos de marcas como Avalon, Universal Audio e ATI. De acordo com o sócio, a migração para versões mais modernas do software [Pro Tools] foi feita gradativamente. "Hoje, a sala opera com a versão 9, mas eu, especialmente, sou fã da versão 7", afirma.

"Também gosto muito da versão 7. Não sei exatamente o porquê, mas acho que tem uma estabilidade que as outras versões do software não têm. Eu e Dan a usamos para gravar, já o Dudu [Eduardo] prefere a 9. No fundo, é questão de gosto mesmo, porque, naturalmente, cada uma conta com suas particularidades e isso acaba atraindo a um e não a outro engenheiro ou produtor", completa Sussekind.



ESTÚDIO A: A NOVA E IMPONENTE SALA

Apesar do pouco tempo de funcionamento - apenas um ano -, o Estúdio A também já abrigou importantes projetos, dentre eles os trabalhos das cantoras Ana Carolina e Isabella Taviani, respectivamente Ensaio de Cores e Eu Raio X, e das bandas Jota Quest [Folia e Caos], Capital Inicial e Skank [Rock In Rio 2012]. Segundo Ronaldo Lima, antes mesmo da construção da sala a equipe do Casa do Mato entendia que, independentemente de o antigo estúdio estar funcionando muito bem, atendendo ao primeiro time da música brasileira, era preciso ter um ambiente de grande porte, no qual fosse possível, por exemplo, gravar um quarteto de cordas, um piano ou uma bateria maior.



"No Mega, enquanto fui funcionário, gravei muita gente da MPB, ou seja, artistas que costumavam utilizar formações com instrumentos como esses - pianos, cordas etc. No entanto, quando passei a trabalhar somente aqui, por conta da estrutura menor, não tinha como atendê-los. Com a construção da sala nova, retomamos o contato com essa turma, que hoje nos procura por saber que temos condição de realizar trabalhos grandiosos", conta Ronaldo.

Com uma técnica que mede 38,48 m2 e é equipada com uma plataforma Pro Tools HD 3, um console D-Command, da Avid, e um sistema 5.1 de monitoração Dynaudio, composto por caixas Air 25 e Air 20, o Estúdio A conta, ainda, com quatro ambientes de gravação, sendo um deles uma sala de 40 m2. Projetado sob layout sugerido pela equipe de engenharia da Dynaudio, com adaptação feita pelo engenheiro John Sullivan em parceria com Sussekind e Ronaldo, ele foi totalmente construído em um local que, antes, era uma pedreira.


"Fizemos tudo do zero. Liberamos a área onde ficava a pedra, instalamos as estruturas metálicas de sustentação e iniciamos a concretagem. Fizemos tudo dentro do layout que escolhemos, claro, com algumas modificações para ajustes da nossa planta. Ainda no cimento, a sala já 'respondia' de forma muito boa. Não tinha sobras e soava 'redondinha'. Por isso, não tivemos necessidade de corrigi-la com milagrosos materiais acústicos", disse Sussekind.

PRODUTORA DE ÁUDIO PARA PUBLICIDADE

Não bastasse o funcionamento contínuo das duas salas, na casa também funciona a sede carioca da produtora paulista Play It Again Sound Production, pela qual a equipe do estúdio vem realizando importantes trabalhos de produção de áudio para publicidade de grandes marcas e órgãos, tais como Itaipava e Eletrobras, entre muitos outros. O fluxo de trabalho é, segundo Dan, completamente variável. De acordo com ele, em algumas situações as trilhas são totalmente gravadas no local e mixadas em São Paulo. Em outros casos, são feitas na casa somente parte das etapas de produção, como o foley ou mesmo a locução.

"Nossa estrutura é capaz de atendê-los, portanto vivemos nessa parceria saudável. Se eles precisam muito de nós, sabem que podem contar. Mas, em alguns trabalhos, participamos de forma mais discreta. Tudo depende da demanda que nos é passada. Hoje, o Casa do Mato funciona como uma subsede da Play, que tem, ainda, unidades em Curitiba e está iniciando suas operações em Portugal", resume.



O FUTURO É AGORA

Apesar de as duas salas já tomarem quase que totalmente o tempo dos sócios, eles têm em mente investir, futuramente, na construção de mais um ambiente, possivelmente uma sala de mixagem, que deve ser chamada de Estúdio C. "Hoje, o local que deve abrigar esse espaço é um escritório, mas, em breve, devemos transformá-lo. A verdade é que estamos num lugar confortável, amplo, que permite a criação de inúmeras coisas, desde uma sala de pré-produção até uma de masterização. E como todos nós gostamos de trabalhar muito, não vai haver problema algum construirmos mais um ambiente", explica Ronaldo.

"Os trabalhos de produção que costumo realizar, assim como os dos demais sócios, alimentam o Casa do Mato em cerca de 60, 70% do tempo. O restante é destinado ao uso de outros produtores que desejam trabalhar em um estúdio de grande porte no Rio de Janeiro e que ainda prezam pela tranquilidade. Quem vem aqui, trabalha e, acima de tudo, se diverte. Pelo menos é o que percebemos a cada projeto finalizado, seja por nós ou por terceiros", emenda Sussekind.

"O forte do nosso estúdio sempre foi a capacidade de produção, naturalmente por sermos profissionais com larga bagagem de mercado. E exatamente por isso temos nosso time de músicos e arranjadores, que atendem não somente a nós, mas a outros produtores, caso necessitem utilizar essa estrutura, independentemente do estilo de música que estejam gravando", encerra Dan. 


 LISTA DE EQUIPAMENTOS


 
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