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Revista Luz & Cena
Notícias do front
As Partes de um Sistema de Sonorização (Parte 8)
Gerenciadores de Sistemas
Renato Muñoz
Publicado em 07/11/2013 - 17h28

Dando sequência à nossa "saga" dos equipamentos de sonorização, agora irei falar sobre os gerenciadores de sistemas. Alguns técnicos acham que estes aparelhos estão com os dias contados, enquanto outros ainda acreditam na importância deles e não conseguem se acostumar com sua ausência, cada vez mais notada nos sistemas de sonorização.

Como veremos mais à frente, a modernização dos sistemas de sonorização está tornando cada vez mais desnecessária a utilização do gerenciador. Caixas e amplificadores processados já fazem boa parte do seu trabalho. Mais uma vez, veremos que a falta de conhecimento técnico é uma barreira para a sua utilização.

Antes dos processadores digitais, todo o trabalho era feito analogicamente e com diversas restrições. Não se fazia muito mais do que a simples divisão de frequências. Hoje, com 90% dos equipamentos sendo digitais, este trabalho deveria ser, em tese, mais fácil. Porém, na sua grande maioria, eles ainda são subutilizados. A utilização de softwares em conjunto com estes gerenciadores torna a sua aplicação ainda mais fácil, mas a já conhecida falta de informação ou até mesmo falta de vontade dos técnicos de sistemas (que praticamente não existem nas suas funções básicas) tornam a situação atual ainda mais complicada.

DE ONDE VIERAM OS GERENCIADORES DE SISTEMAS?

Uma ferramenta chamada Crossover foi uma das grandes soluções encontradas em um sistema de sonorização. Este aparelho dividia as frequências e as mandava para os seus respectivos transdutores (passando antes pelos amplificadores), fazendo com que os sistemas se tornassem muito mais eficazes.

Durante muito tempo, os crossovers analógicos cumpriram seu papel, porém, com a evolução das caixas e dos sistemas, novos parâmetros, como compressores, equalizadores, inversores de polaridade e delays, entre outros, começaram a ser necessários. Acrescentar estes equipamentos analógicos ao sistema não era nada prático. Não podemos esquecer de que estamos falando de equipamentos analógicos, então, se quiséssemos colocar um compressor ou um equalizador em uma saída do crossover, teríamos que fazer isto fisicamente, o que tornava inviável ter um bom processamento em sistemas com muitas entradas e saídas.

Lembro da primeira vez que vi um sistema grande (o PA do Hollywood Rock em 1993, da empresa Clair Brothers) utilizando um sistema todo analógico, eles usavam um equalizador Yamaha Q1027 na saída da console, um crossover Yamaha F1040 para fazer a divisão das frequências, um delay Yamaha D1500 em cada saída, para fazer as correções de tempo, e um compressor dbx 160 em cada saída, para fazer a compressão das saídas.

Foi então que, no início da década de 1990, surgiram os primeiros gerenciadores de sistemas digitais. Estes novos equipamentos se aproveitaram das facilidades do processamento digital (que também era uma novidade) e se tornaram uma ferramenta indispensável para qualquer sistema de grande porte.



GERENCIADORES DIGITAIS

Estes aparelhos se firmaram no mercado em meados da década de 1990, e podemos dizer que até hoje são muito encontrados em sistemas de médio e grande porte. Com a melhora do processamento digital, o trabalho com estes novos equipamentos não parou de evoluir.

Pude presenciar como o surgimento deste produto gerou muita desconfiança entre os técnicos (mal informados), que, por medo do desconhecido, ainda optavam pelos crossovers analógicos ou subutilizavam as novas ferramentas (história que continua se repetindo ainda hoje com novos produtos de áudio).

Mesmo com um começo gerando uma certa descrença daqueles que sempre trabalharam com equipamentos analógicos, os gerenciadores digitais rapidamente conseguiram encontrar um bom lugar nos sistemas de sonorização, e logo os técnicos notaram as vantagens destes novos itens. Além, é claro, de haver o processamento digital, em que a perda do sinal de áudio é mínima ou nenhuma, agora várias ferramentas estavam no mesmo lugar. Mesmo os primeiros gerenciadores já possuíam várias funções internas, tornando mais fácil o trabalho dos técnicos de sistema.



GERENCIANDO SISTEMAS

Quanto maior e mais subdividido for o sistema, certamente maior e mais precisa será a cobertura sonora dentro do ambiente que está sendo sonorizado. Porém, para que tudo funcione corretamente, o técnico deve ter controle sobre todas as partes individuais do tal sistema.

Imagine um sistema com:

01. PA L Top 04. PA R Top 07. Sub 10. Sub Outer 13. Delay 1 L
02. PA L Mid 05. PA R Mid 08. Outer L 11. Front L 14. Delay 1 R
03. PA L Low 06. PA R Low 09. Outer R 12. Front R 15. Delay 2

Agora imagine como você faria para ter o controle de todas estas entradas e saídas. Como seria para equalizar, comprimir, inverter a polaridade ou acertar o tempo de delay de cada um destes pontos do sistema de sonorização? Somente com a ajuda de um ou vários gerenciadores é possível fazer este tipo de trabalho com segurança.


Mesmo que você tenha um sistema simples, com apenas duas saídas, o gerenciador ainda se faz necessário. Desta forma, o trabalho de distribuição para o sistema, que nestes casos normalmente é feito pelo console de PA, fica sendo exclusividade do gerenciador. Assim, cada técnico (PA e sistema) pode trabalhar no seu equipamento.

Não é só no PA que encontramos os gerenciadores: no monitor eles também podem e devem ser usados. No side ou em algumas caixas de monitor, alguns gerenciadores possuem processadores (equalizadores, compressores ou delays) tão bons que muitas vezes são utilizados para processar sinais de áudio (instrumentos).

QUAL O FUTURO DOS GERENCIADORES?

Infelizmente, esta resposta não é das melhores. É certo que existe uma grande tendência do mercado de se acabar com os gerenciadores de sistemas como conhecemos nos últimos dez anos. Aquele rack digital que estávamos acostumados a ver ao lado da mesa de PA definitivamente está com seus dias contados. A grande tendência do mercado (para o bem ou para o mal) é que se utilize cada vez mais o processamento do sistema ou dentro dos amplificadores das caixas ou, como já é possível (e já feito há muito tempo), dentro das próprias caixas, eliminando assim o nosso (agora antigo) gerenciador do sistema.

O que acontece é que a maioria dos novos amplificadores externos ou colocados nas caixas de PA (independentemente do seu tamanho) possuem processadores internos que têm a capacidade de fazer os cortes de frequências, compressão, equalização, inversão de polaridade etc. Funções que anteriormente era feitas externamente.


O grande problema desta nova tendência é que, para se trabalhar corretamente com os ditos sistemas inteligentes, precisamos de profissionais bem preparados, que dominem bem estas novas ferramentas (aí é que os problemas começam a aparecer). Utilizar um sistema deste exige conhecimento técnico e um pouco mais de trabalho.

AS MESMAS DIFICULDADES DE SEMPRE

O que acontece é o seguinte: a desculpa das empresas de sonorização e dos seus técnicos é de que o sistema já vem pronto de fábrica e que não precisa de nenhum tipo de ajuste depois que está instalado (porque, milagrosamente, como ele é um sistema processado, já sai da caixa pronto para ser utilizado em qualquer situação).

Na verdade, isso não passa de uma desculpa barata para tentar se evitar ter trabalho. Qualquer um destes sistemas possuem um software de gerenciamento que comanda todas as caixas e amplificadores, fazendo com que o técnico do sistema (quando ele conhece esta possibilidade) tenha um controle maior sobre o que está acontecendo. Acontece que para isto tudo funcionar da maneira correta, o técnico do sistema deve interligar todas as caixas e/ou amplificadores (normalmente com um cabo de rede). Além disso, ele deve ter um laptop com o software correspondente ao sistema e, o que é mais difícil, saber utilizar tudo isso corretamente. Ou seja, para funcionarem de uma maneira correta, os novos sistemas demandam mais trabalho e conhecimento técnico dos funcionários da empresa de som, mas o que tenho visto cada vez mais são técnicos de sistema sem o mínimo interesse ou motivação para montar o sistema da maneira correta.

CONCLUSÃO

Não acho que a culpa seja toda do técnico do sistema: os donos das empresas de sonorização têm uma bela porcentagem de culpa neste tipo de situação. O raciocínio deve ser o seguinte: "vou comprar um sistema todo processado, assim meus funcionários não precisam fazer nada, apenas montar as caixas". A lógica dos donos de empresas de sonorização deve ser a seguinte: "se o sistema já é todo processado e, de acordo com o que todos os vendedores me disseram, 'já vem pronto para ser utilizado', para que eu vou me preocupar em dar algum tipo de informação ao meu funcionário sobre como este sistema funciona?".

O máximo que eu preciso dizer a ele é que quando um técnico mais chato começar a questionar a cobertura sonora das caixas, a quantidades de caixas, seu posicionamento ou seu alinhamento, entre outros pontos, tudo o que é preciso dizer para ele é "o sistema é processado e ajustes não são necessários".

Na verdade o que eu tenho visto muito são empresas com bons sistemas de sonorização, porém com pouquíssima ou nenhuma infraestrutura técnica e profissional para fazer com que todos estes equipamentos sejam utilizados da maneira correta. O que acontece normalmente é que nem 50% do sistema é realmente utilizado.

Enquanto as empresas que fabricam equipamentos se desenvolvem criando produtos que na teoria possuem um resultado sonoro melhor e podem ser manuseados com mais precisão por uma grande variedade se softwares, nós aqui no Brasil preferimos ficar com a parte mais fácil trabalhando apenas com presets.

Renato Muñoz é formado em comunicação Social e atua como instrutor do Iatec e técnico de gravação e Pa. Iniciou sua carreira em 1990 e desde 2003 trabalha com o Skank.
e-mail: renatomunoz@musitec.com.br
 
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