Mais de 100 mil pessoas passaram pelo Autódromo Internacional de Brasília durante três dias de música. De 25 a 27 de setembro, o Brasília Music Festival reuniu 32 atrações, entre bandas nacionais, internacionais e DJs. Em uma área de 250 mil metros quadrados foram montados dois palcos: o Brasília, destinado às atrações internacionais, como Simply Red, Pretenders, Alanis Morissette (leia matéria na página XXX) e Live, e bandas veteranas do cenário musical nacional, entre elas Capital Inicial, Fernanda Abreu, Titãs e Jota Quest, e o Alternativo, onde bandas iniciantes se revezavam. Além disso, havia também a Arena Eletrônica, um túnel sonorizado para abrigar os mais variados beats eletrônicos nacionais e internacionais.
Adiado por dois anos, o sonho do empresário Rafael Reisman tomou forma e colocou Brasília na rota dos shows internacionais. O BMF mostrou que, mesmo fora do eixo Rio-São Paulo - e a exemplo de outros festivais como Festival de Verão de Salvador, Pop Rock de Belo Horizonte e Ceará Music -, é possível organizar eventos de grande porte com excelentes resultados.
Equipamentos de ponta para os iniciantes
Com tradição no showbiz brasiliense, a Marc Systems assina os projetos de sonorização do palco Alternativo e da Arena Eletrônica, respondendo pela locação de todo equipamento de áudio para estes palcos. Marconi Barros, diretor da Marc Systems, revela que as experiências adquiridas nas edições passadas do Porão do Rock, evento já tradicional da cena roqueira de Brasília, contaram bastante na elaboração do projeto. "Utilizamos basicamente a mesma configuração do Porão [do Rock]. As bandas são quase as mesmas e já estamos acostumados a trabalhar para elas". Mas na verdade o carinho da equipe foi um pouco além. O fato de a Gabisom assumir a sonorização do palco principal do BMF fez com que os equipamentos top de linha de áudio da Marc Systems ficassem à disposição das bandas estreantes no cenário musical. Quem teve a oportunidade de tocar no Palco Alternativo do BMF utilizou o que há de melhor em equipamentos de som. "Montamos uma estrutura grande, algo que vai valorizar muito o trabalho das bandas", diz Marconi, satisfeito por proporcionar aos estreantes uma estrutura digna de bandas veteranas.
Marconi Barros, da Marc Systems, caprichou no tratamento a bandas em ascensão
A mesa Midas Heritage 3000 com 64 canais no PA, Midas Legend 3000 com 48 canais no monitor, e o sistema EAW dimensionado para atender às necessidades do espaço foram a base do projeto de sonorização do palco Alternativo. O palco recebia a cada noite de festival três bandas diferentes. Para elas, Marconi optou por um console com um número maior de canais no PA, a fim de evitar muitas alterações. "A idéia é deixar tudo mais ou menos pronto para todo mundo e diminuir o trabalho de nossos técnicos", explica.
O esquema foi o mesmo utilizado no Rock in Rio 3: quando o palco principal começa, o palco Alternativo - montado bem em frente - pára de tocar. "A idéia é deixar o publico à vontade para acompanhar os dois palcos sem precisar se locomover muito", conta Marconi. Para isto, o som foi dimensionado de acordo com as necessidades de cada palco.
O palco principal utilizou quatro torres de delay, o que aumentou sua área de abrangência. O alternativo, que não tinha a pretensão de ir tão longe, não utilizou o recurso, restringindo sua área a até cerca de 60 metros, com a house mix posicionada a 20 metros de distância do palco. "É possível curtir o som do palco alternativo estando próximo ao principal, mas nada agressivo. Nada que vá atrapalhar", revela Marconi.
Túnel eletrônico
O túnel para música eletrônica: DJs em destaque
Na tenda eletrônica, o projeto foi caprichado. "Lá nós exageramos", brinca Marconi, lembrando que música eletrônica pede um ambiente mais "animado". Muito sub e uma estrutura bem diferenciada foram utilizados. O espaço foi montado dentro de um túnel com estrutura metálica, cobertura de lona branca e dimensões apoteóticas: 9,8m de altura, 18m de largura e 60m de comprimento.
O projeto do túnel priorizou a posição do DJ, literalmente elevado ao status de figura central da festa. Nada de praticáveis junto ao chão. Foi armado um palco de três metros para abrigar todo o set dos DJs e seus convidados. Para sonorizar o espaço, um cuidado maior com os subgraves. O PA é fly posicionado em toda a extensão. Utilizamos dez EAW KF SB1000 e seis EAW KF SB850", diz José Luiz, o Zebrão, técnico de som da Marc Systems, explicando que a música eletrônica tem um ganho muito forte na região abaixo de 80Hz, onde está a pressão deste tipo de música. "Esta é a área do sub, é preciso reforçar esta área". Um dos destaques no túnel foi a apresentação do DJ Leozinho, que contou com o percussionista Rodrigo Parcionik exigindo um tratamento diferenciado para seu set. "Tivemos que microfonar tudo, misturando o som da rave com o som ao vivo, mixar os instrumentos da percussão com o DJ", conta. E como DJ não toca baixo, o som dentro da tenda ficou em 120dB.
As mesas de monitor do palco principal do BMF
Sistemas de som exclusivos para cada banda
O palco Brasília, que recebeu as atrações mais esperadas do festival, teve o projeto de sonorização elaborado pela Gabisom, empresa que também locou o equipamento de áudio exclusivamente para este palco. No comando estava Peter Racy, engenheiro de som responsável pela equipe da Gabisom no BMF, que explica, em linhas gerais, como foi o projeto do palco principal.: "utilizamos 15 elementos V-DOSC por torre, com 24 subs SB1000 por torre, além de seis dV-DOSC em cada torre lateral, usados como outer-fill para cobrir as laterais próximas ao palco".
O projeto também lançou mão de torres de delay para manter a timbragem do sistema à distância e como salvaguarda no caso de ventos laterais ou contrários. "Colocamos quatro torres de delay, duas a 70m e duas a 110m alinhadas fisicamente com o PA principal", diz Racy. A house mix foi posicionada a 40m do palco e teve 10m de profundidade para abrigar quatro consoles: duas Midas XL-4 e duas Yamaha PM1D. Com esta configuração, o trabalho dos técnicos de PA das bandas nacionais e estrangeiras foi facilitado, uma vez que não era preciso compartilhar a mesa com outras bandas. "Para nós, agilizava a troca entre bandas. Para os operadores, aumentava a confiança de ter sua própria console na qual ninguém mexeria, além de tê-la disponível mesmo quando outra banda estava em cena", explica Racy.
Grande parte do equipamento foi comum para todas as bandas. De especial só os pedidos de Alanis Morissette e Live. "Eles pediram alguns valvulados como Summit, e Avalon, além de alguns efeitos adicionais como a Lexicon 480, TC M5000, TC 2290, Eventide H3500", conta Racy. Quando questionado sobre possíveis dificuldades para alguns técnicos, o engenheiro de som revela que ninguém tocou nos gráficos KT 3600 disponíveis. "Permaneceram flat durante o festival inteiro. De modo que não houve dificuldades com o alinhamento do sistema". Como pressões médias do som do evento, o engenheiro revela medidas em torno de 115dB SPL (escala C) a 50 metros, com picos de 120dB. "Como o V-DOSC oferece uma cobertura muito uniforme, mesmo a grandes distâncias, não foi necessário sujeitar o público que estava mais próximo ao palco a pressões estúpidas para poder alcançar o fundo", explica.
Peter Racy foi responsável pela equipe brasileira de áudio do palco principal
Interferências climáticas
Eventos em locais abertos sempre pedem cuidados diferenciados no que tange ao planejamento de som. "Tivemos que projetar o som a cerca de 250m no campo, além de manter a cobertura nos camarotes que estavam na lateral, e chegavam a ter 7,8m de altura", diz Racy, considerando que a cobertura deve ser o mais homogênea possível, desde a frente até o fundo e as laterais. Brasília tem como características climáticas altas temperaturas e taxas baixíssimas de umidade relativa do ar, fatores que, segundo o engenheiro de som, dificultariam a projeção do som. "Além disto, verificamos que, devido aos ventos que varrem a planície constantemente, o ar estava excessivamente carregado de poeira, que se comportava praticamente como um grande tijolo virtual suspenso no ar". Com estes desafios em pauta, Racy utilizou técnicas de angulação vertical para concentrar mais energia no fundo e jogar o som do PA para a área mais distante do campo. "Com ângulos progressivamente maiores entre os elementos, conseguimos manter a mesma pressão nas áreas mais próximas ao palco".
Além do clima diferenciado, a poeira concentrada no autódromo, principalmente durante os momentos mais animados dos shows, deixou técnicos e operadores bem preocupados com os equipamentos. Era comum ver integrantes das equipes de som com panos e produtos de limpeza tentando, em vão, manter os equipamentos limpos. "Não houve danos, mas de volta ao depósito foi uma manutenção pesada, abrindo e limpando faders, fontes, racks, periféricos, filtros de ar..."
Detalhes da energia
Foram 250 mil metros quadrados de área livre, dois palcos e uma tenda eletrônica. "Estamos aqui com a maior estrutura já montada em Brasília. Temos geradores em todos os pontos onde existem estruturas montadas para o festival", diz Tonildo Alves, sócio-presidente da SOS Energia Móvel, empresa que forneceu energia para todo o BMF, referindo-se aos camarotes, área de alimentação, tenda, palcos e áreas de serviço montadas no autódromo. "Vamos gerar 100% na energia consumida no festival, algo em torno de 2,8 MVA". Comparando, esta energia daria para iluminar uma cidade com aproximadamente 10 mil habitantes. "É muita energia que está sendo consumida em um espaço tão pequeno", conclui.
Trazer os geradores até o autódromo para alimentar os equipamentos e posicioná-los nas áreas indicadas foi a tarefa mais fácil. Cabear toda a estrutura exigiu muito mais da equipe técnica. "Tudo isso foi um grande desafio porque Brasília nunca sediou um evento deste tamanho e a equipe utilizada aqui é praticamente toda de brasilienses", revela Alves. A CEB, Companhia Energética de Brasília, desenvolveu toda a parte de projeto para o cabeamento, incluindo as eletro-calhas, dentro de pequenas valas que foram abertas no chão do autódromo para a passagem dos cabos de energia, áudio, vídeo e iluminação. Para não causar interferências, as eletro-calhas foram construídas com uma divisão no meio para separar os cabos de sinal dos cabos de energia.
Mesmo sem experiência com eventos do porte do BMF, a SOS Energia Móvel se preocupou com a segurança e a qualidade da energia, o que significa uma estrutura muito boa em cabos, proteções e geradores. Alves chama atenção para os cabos utilizados no evento. "Estamos trabalhando com os cabos da [empresa americana] Anixter, uma das maiores fabricantes mundiais de cabos", conta. Estes cabos, de acordo com Alves, possuem classe de encordoamento 5, bem flexível e com cobre nobre estanhado. "O isolamento desses cabos também é especial, são de EPR com teflon, um isolamento que não existe no mercado nacional. Indicado para 2000kW, enquanto os nacionais são para 1000kW", explica, complementando que estes cabos suportam uma capacidade de corrente muito superior aos nacionais. Para cobrir toda a área foram necessários 10 mil metros de cabos de energia.
A maior dificuldade, segundo Alves, foi mesmo o tamanho do evento. "Estamos em uma área superior a 100 mil metros quadrados e montar uma estrutura de fornecimento de energia para um lugar assim não é muito simples", diz. Foram 30 dias de planejamento, mas na hora da montagem muita coisa ainda foi mudada. Os ajustes não pararam até o momento das passagens de som e luz. "Mudamos potências de grupos, posicionamentos, a forma de atendimento dos circuitos, back ups de segurança. Se uma máquina parar tem outra preparada", conta.
A inovação na área de fornecimento de energia ficou por conta das máquinas que trabalham em paralelo. "Colocamos uma primeira máquina, que é um grupo gerador com 463 KVA, o maior fabricado no Brasil, e com tecnologia de ponta. Ele me permite trabalhar em paralelo com outros grupos", conta Alves. Explica-se: se uma empresa colocar dois grupos geradores, um funcionando e outro de estepe, e um tiver problemas o fornecimento de energia é transferido para o outro, mas existe uma interrupção de energia durante esta operação. "Um precisa parar, depois ligamos o outro para voltar a energia, isso não é instantâneo", complementa Alves. Já com esta tecnologia em paralelo, o fornecimento de energia é ininterrupto. "Dois geradores trabalham juntos alimentando a mesma carga, se um pifar o outro sozinho assume sem interrupção. Isso é uma inovação aqui no centro-oeste", resume. Este sistema, desenvolvido por uma empresa francesa com sede no Brasil, SDMO do Brasil, estreou em Brasília alimentando o palco principal do BMF.
O stage manager, Periquito, que cuidou do palco principal do BMF
Movimentação do palco Brasília
No ramo de shows desde 1987, quando começou como roadie de Rita Lee, Luiz Fernando, o Periquito, já passou por quase todas as áreas do showbiz. "Já operei som, trabalhei como produtor, baterista. Estou envolvido com tudo o que envolve show e musica há 16 anos", diz. Contratado por César Castanho, produtor geral do festival, com quem já trabalhou em outros eventos como Rock in Rio 3, Periquito assumiu a função de stage manager do palco principal, que sempre é muito trabalhoso. "Cheguei aqui uma semana antes do inicio do festival". Ele conta que planejar o cronograma de um evento deste porte é complicado, já que as coisas nem sempre saem como planejado. É caminhão que atrasa, são mudanças de projeto em cima da hora. Mesmo com todos estes imprevistos, a equipe conseguiu terminar tudo antes do prazo, permitindo até uma antecipação na passagem de som. "Alanis passou o som bem mais cedo que o previsto, um dia antes", diz.
De acordo com Periquito, este adiantamento da equipe é muito bom para resolver os estresses que sempre surgem em montagens como esta. No caso do BMF, os imprevistos ficaram por conta do empilhamento do PA. "Calculamos um peso, mas quando empilhamos vimos que era maior. Tivemos que descer tudo e melhorar a estrutura para empilhar novamente", comenta.
No projeto de sonorização, elaborado pela Gabisom, foi previsto que, assim como no PA, cada banda tivesse seu sistema independente. Foram quatro consoles, duas Midas Heritage 3000 e duas Yamaha PM1D, para atender a monitoração das bandas. Eram quatro grupos de equipamentos distintos. "Cada um tem o seu, ninguém está invadindo o do outro", diz Periquito. Pensando assim, o stage manager planejou acomodar dois sistemas de um lado do palco e outros dois do outro lado. "Mas quando a equipe da Gabisom chegou, decidimos colocar tudo de um lado só. Eles preferem assim". Na avaliação do stage manager, este esquema de trabalho é muito mais simples, profissional e confortável para os técnicos. "Os técnicos trabalham com tranqüilidade por que sabem que ninguém vai mexer no sistema deles. É um sistema top de trabalho, quatro bandas no palco e quatro sistemas nos bastidores".
Por falar em bastidores, Periquito revela que o palco principal do BMF foi um dos melhores em que ele já trabalhou. "O espaço que eu tenho aqui é muito maior do que aquele que tenho no palco, eu posso montar aqui quatro bandas tranqüilamente". O esquema de trabalho para as equipes ficou muito simples. Os sets das bandas podiam ficar montados em pontos estratégicos atrás do palco desde a passagem de som da banda até a hora do show, tudo isso com espaço de sobra para movimentar os praticáveis. "Podemos trabalhar tranqüilamente, as entradas e saídas do palco estão bem localizadas, dá para fazer todas as trocas no tempo certo. Isso aqui é o ideal". As medidas do palco ilustram bem a satisfação de Periquito e sua equipe. Foram 22m de frente e 13m de fundo no palco e, só para os bastidores, mais 13m de fundo por 40m de largura. "É metro que não acaba mais! Praticamente quatro palcos atrás do palco", vibra.
O relacionamento com as bandas estrangeiras foi o melhor possível. "Os gringos sempre chegam na surpresa. Quando vêem que está tudo acontecendo dentro da normalidade, que o equipamento e o palco são de primeira linha, eles relaxam", conta Periquito. O clima fica tão tranqüilo que a conversa entre eles nem passa por equipamentos. "Eles querem saber do Brasil, de Brasília, do presidente, do futebol. Eles já sabem que com o equipamento está tudo certo", diz, lembrando que hoje em dia já existe uma equiparação entre os esquemas de trabalho de brasileiros e estrangeiros. "Hoje nós aqui exigimos a mesma coisa que eles".
Para Zorro, o áudio da TV deve ser parecido com o áudio do CD
Com gravação e transmissão de flashes ao vivo pela Rede Globo de Televisão, o Brasília Music Festival precisou de um suporte técnico a mais. Unidades móveis de gravação e edição de vídeo, as UMs, estacionaram na lateral do palco principal para captar, tratar e transmitir áudio e vídeo para a emissora de TV. Zorro, engenheiro de som responsável pela unidade móvel de gravação de áudio, utilizou uma Yamaha PM1D para mixar só a parte de música em sua UM. "A parte de ambiente é mixada em outro carro", conta.
Zorro explica ainda que o áudio que sai do PA é o mesmo que vai para a UM. "Só que cada um equaliza do seu jeito", diz, explicando que ao vivo, para o público do autódromo, as coisas são um pouco diferentes. "Na arena, por exemplo, como há caixas, subwoofers etc, você compensa o que se ouve direto do palco com as caixas e faz o equilíbrio. Na UM, temos que ver pela linha, é um outro tipo de equilíbrio, pede uma equalização diferente". De acordo com o engenheiro de som a idéia é deixar o áudio mais parecido com o CD que as pessoas ouvem em casa. Na mixagem para a TV os canais são separados: música e vibração do público "Nós recebemos um L/R, mixamos na nossa UM e depois passamos para eles [na outra UM] juntarem com o público, apresentador que está no ar e vinhetas", explica.
A Unidade Móvel da Rede Globo vista por dentro
O trabalho de Zorro começa na house mix, onde ele grava, ou anota, dependendo da mesa utilizada, os dados sobre os canais utilizados pela banda. "Quando eles fazem o show com a PM1D, eu gravo com o disquete e levo para a UM todos os dados. Quando a mesa é analógica, eu anoto tudo em papel", explica. Estes dados correspondem aos canais utilizados pelo técnico para ligar microfones e instrumentos e servem para guiar a equalização da equipe da UM, mesmo que a timbragem seja diferente.
Mas a pergunta que todo mundo se fazia era mesmo "por que em Brasília?" Marconi Barros, morador da cidade, não demora para enumerar os motivos. "Brasília hoje é uma cidade com mais de dois milhões de habitantes, estamos na capital do pais, temos uma rede hoteleira de primeira qualidade, um aeroporto bem estruturado que recebe o terceiro maior tráfego aéreo do país e a maior renda per capita do Brasil", enumera e conclui: "nada mais justo que a nossa cidade entre para o circuito dos grandes eventos nacionais". Marconi lembra ainda que o showbiz de Brasília está em plena ebulição. "Trabalhamos muito aqui na cidade. O Reveillon aqui em Brasília reúne 300 mil pessoas", conta.
No cenário brasiliense, a Marc Systems aparece como uma das empresas mais bem equipadas para atender a eventos de grande porte. Parte desta fama se deve aos investimentos de Marconi e sua equipe. "O Porão do Rock, por exemplo, já tem cinco anos e nós investimos muito. Quanto não havia recursos, fazíamos de graça por acreditar no projeto, sabíamos que cresceríamos juntos". E foi com este mesmo espírito que a empresa apoiou a idéia de Rafael Reisman desde o inicio. "Eu e Rafael somos amigos. Sempre acreditei neste projeto e agora ele aparece como um divisor de águas. Vai chamar a atenção do Brasil para Brasília e gerar muitos benefícios para as empresas que trabalham aqui".
Com a palavra, os operadores
O conforto estava garantido pelos sistemas de som independentes planejados pela Gabisom, mas ainda assim as opiniões foram divergentes. Alguns operadores enfrentaram problemas durante os shows, porém tiveram sempre a assessoria dos técnicos da empresa à disposição para ajudar. Interferências climáticas e técnicas à parte, o balanço do festival, do ponto de vista dos técnicos operadores de PA e monitor que passaram pelo festival, foi positivo. Equipamentos de primeira linha e apoio para as equipes: tudo que os operadores gostam.
No monitor do Charlie Brown Jr, Ohata teve um dia difícil. "Choveu muito à tarde e tivemos que interromper a passagem de som", diz o técnico operador, anunciando que este era apenas o início dos seus problemas. À noite, durante o show, o problema foi mais grave. O microfone do vocalista da banda, Chorão, falhou em meio a uma música. "Nós passamos o som à tarde e foi tudo bem. À noite deu problema. Foi algo relacionado com a freqüência de rádio de segurança", diz Ohata baseando-se na explicação dada pelos técnicos da Gabisom, que prontamente resolveram o problema.
Além do microfone, Ohata também precisou lidar com a disposição do palco, em sua opinião, muito diferente daquela em que a banda está habituada a tocar. "Normalmente o side do Charlie Brown fica bem na ponta do palco, onde o Chorão gosta de ouvir tudo muito alto". De acordo com o técnico operador, o vocalista da banda tinha que ir para a frente do palco, onde não havia caixa de som para fazer seu retorno. "Não estava do jeito que ele gosta. Na frente ele só ouvia o PA", explica Ohata que, mesmo com estes contratempos, vibrou bastante ao encontrar uma Midas Heritage 3000 à sua disposição. "Na minha opinião é uma excelente mesa por causa do pré e da equalização. Indiscutivelmente, é a melhor mesa que existe".
Já Dinho, operador de monitor do Tihuana, banda que também se apresentou na última noite de festival, não teve a mesma sorte. "Quando cheguei e vi duas Midas Heritage 3000 pensei logo: se mandarem escolher eu pego ela", conta. Mas não foi possível escolher e, mesmo sem conhecer a Yamaha PM1D, Dinho foi em frente, assessorado pela equipa da Gabisom. "O Júlio Correa, da Gabisom, falou que ele estava ali para ajudar no que eu precisasse". E a ajuda foi tão bem-vinda que, em pouco tempo, o técnico do Tihuana já descobria as vantagens de operar uma mesa digital. "Eu achei [o console] muito ágil para levantar todo o monitor. Já tem gráficos e é muito pratica de usar", diz Dinho, revelando que estava com receio antes de começar a operar, mas depois conseguiu domar a mesa. Mesmo empolgado, Dinho não pensa em trocar a Midas. "Podiam fazer uma PM1D da Midas, uma mesa digital da Midas com o pré da Midas, a equalização da Midas, tudo só que digital", brinca.
O posicionamento do side, mais recuado que de costume, foi bom na opinião de Dinho. "Podíamos dar muito volume porque o cantor não chegava a encostar no side", diz, explicando que, às vezes, o cantor chega muito perto das caixas de side e gera microfonia. "A única coisa que estava ruim era a visão que eu tinha do palco, eu não enxergava quase nada", reclama. A disposição dos consoles acabou atrapalhando a comunicação entre operadores e músicos. Organizados dois a dois, Midas Heritage na frente e Yamaha PM1D atrás, os consoles posicionados atrás ficaram mais distantes dos músicos. "Eu não conseguia ver o vocalista durante o show", conta Dinho.
Um pouco mais íntimo da PM1D, Aurélio Kauffman, operador do monitor de Fernanda Abreu, achou ótimo reencontrar a console no palco do BMF. "Eu já tinha trabalhado com ela uma vez há um ano e achei muito fácil de trabalhar", diz Kauffman. De acordo com o operador, o console já vinha com alguns comandos pré-ajustados como a curva dos monitores, por exemplo, "o resto era só equilibrar". Para o show de Fernanda Abreu os ajustes foram simples, já que só a cantora utiliza in-ear, e o resto da banda, caixas. "Ela gosta de ouvir a banda toda no ouvido e, como eu uso um E1 [Shure ESM600 com fone E1 e molde para o ouvido], procuro colocar tudo considerando que vai haver muita sobra [dos monitores da banda]", detalha Kauffman, explicando que, como a banda toca com caixas de monitor no palco, Fernanda ouve as freqüências mais graves através do vazamento da monitoração convencional.
Fernando Borges, técnico de PA do Ultraje a Rigor, elogiou bastante o equipamento locado pela Gabisom. "É até raro a gente poder trabalhar com tantos recursos". Optando pela Yamaha PM1D para comandar o PA, Borges procurou poupar tempo. "Eu já fiz outro festival, o Pop Rock, em Minas Gerais, com ela e já tinha muita coisa pré-setada". O resultado, segundo Borges, foi positivo já que muita gente o procurou para elogiar o som. "Fiquei muito feliz, porque festival é sempre complicado. Temos pouco tempo para passar o som, é sempre bem corrido".
Outro fã da Midas que precisou de ajuda para operar a PM1D foi Macarrão, técnico de PA do Tihuana. "Com a Midas eu já estou acostumado", diz Macarrão. O técnico elogiou a ajuda prestada pela equipe da Gabisom. "Eles me auxiliaram, mas nós trabalhamos um pouco limitados nesses casos, não ficamos muito à vontade". E mesmo com certa dificuldade no começo, Macarrão reconhece que a insegurança inicial foi positiva. "Fiquei mais preocupado que o normal e assim prestei muito mais atenção no que fazia", conta revelando que gostou de operar o console digital.
Para Ronaldo Lima, técnico responsável pelo PA de Fernanda Abreu, a noite não podia ser melhor. À vontade no comando da Midas XL4, Lima fez um show tranqüilo e ainda teve oportunidade de confraternizar com outras bandas. "O técnico do Simply Red, Gary Bradshaw, gostou do som e, no meio do show de Fernanda, me convidou para assistir ao show dele", conta. Feliz com o comentário, Lima logo reconheceu a qualidade do áudio do espetáculo do colega, - unanimemente elogiado por todos os técnicos que estavam no festival. "Fiquei de boca aberta. Aquilo que era som!". Avaliando o trabalho de Bradshaw, Lima observa que o engenheiro de som tem o domínio perfeito do show, consegue trabalhar os altos e baixos das músicas sem perder o controle. "Ele tem o show inteiro nas mãos e os músicos são todos de estúdio, excelentes".