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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Cuidado com o que você ouve
Enrico De Paoli
Publicado em 23/05/2013 - 22h41
Uma vez escrevi um artigo chamado "Cuidado com o que o cliente ouve". Nele, eu mencionava o perigo de apresentar algumas sonoridades ao seu cliente com pouco cuidado e zelo, e aquilo estampar a qualidade geral do seu som, além de "desalinhar" o ouvido (do seu cliente e o seu) para subjugar o que de fato soa bem. Sou da seguinte teoria: quem tem qualidade, tem qualidade em tudo. Nas coisas simples ou nas complexas. Numa simples cópia de monitor, numa gravação de voz guia ou numa mixagem final para um disco de lançamento mundial. Afinal, se você foi agraciado e vive fazendo música, você tem uma responsabilidade com quem lhe deu esse dom. Há muitos anos, meu amigo João Paulo Mendonça, saxofonista, produtor e arranjador, me falou uma frase que nunca foi esquecida: "Toda vez que você pegar um instrumento, faça um som bonito. Ainda que seja uma única nota". Eu uso essa dica até hoje e sempre a usarei.

Esse antigo artigo sobre o que o seu cliente ouve me fez lembrar que tenho falado pouco sobre o que considero o que há de mais importante em estúdios, home studios, produções grandes, independentes e até mesmo se você estiver dentro do seu quarto mixando no seu notebook: monitoração. Nada é mais importante do que o que você ouve. Não tem pra microfones, compressores, os tão desejados pré-amps vintage, conversores, plug-ins, mixers externos... Enfim, absolutamente nada vai te dar algo melhor do que conseguir ouvir e saber como realmente soa a sua música.

Mas. qual é a monitoração boa? O estigma de que monitores normalmente são muito caros faz com que os donos de pequenos estúdios rapidamente deixem essa parte por último. Grande erro! Vamos por partes.

- As melhores caixas de som de estúdio são aquelas nas quais você mais gosta de ouvir música, e não necessariamente as que você vê nas fotos dos grandes estúdios. Vá em lojas, visite estúdios, frequente lugares, experimente! E, acima de tudo, como sempre, respeite o seu gosto.

- Caixas grandes geram sons grandes. Caixas pequenas geram sons pequenos. Uma não é melhor do que a outra! Suas mixagens serão ouvidas em todos os tipos de sistemas e devem soar bem em todos eles. Caixas grandes ficam mais longe de você, e, com isso, você ouve mais som refletido das paredes, dependendo mais da qualidade acústica da sua sala. Caixas pequenas, por estarem mais pertinho dos seus ouvidos, soam mais diretas, te fazendo ouvir em menor volume o som refletido das paredes da sua sala. Porém, mesmo assim a acústica faz diferença. Não deixe a sua sala pra lá. Se o orçamento não comporta no momento um grande projeto, procure entender os básicos da reflexão e absorção do som e invista um pouco em materiais básicos para condicionamento da sua salinha antes de comprar aquele pré dos seus sonhos.

- Caixas grandes são capazes de reproduzir frequências mais graves. Caixas pequenas, menos. Caixas minúsculas não reproduzem quase grave algum. Isso não é um mal - é uma característica, que, se for respeitada, pode ser muito bem usada. Atenção: não tente fazer uma mix soar grave numa caixa pequena. Há chances de que a sua mix tenha muito mais graves do que você está ouvindo!

- Subwoofers são uma bela adição às caixas pequenas e uma ótima solução para estúdios de pequeno porte. Mas lembre-se: suas mixes também serão ouvidas em sistemas sem graves. Então, use o sub para conhecer as regiões graves da sua mix, mas não se apoie exclusivamente neles para ela soar bem.

- Fones! Por que não? Use bons headphones, aos quais você esteja acostumado. Eles são ótimos amigos que podem estar ao seu lado em momentos difíceis. onde você estiver.

Falamos de todos os tipos de caixas: caras, baratas, grandes e pequenas, com e sem sub. Mas, afinal, qual é a caixa certa? Há teorias sobre se mixar ouvindo em um set de monitores ou em dois ou mais. Eu já fui das duas opiniões, mas há muito tempo mixo usando somente um par de caixas. Porém, hoje a minha opinião é a seguinte: escolha o seu set e mixe nele. Conduza a sua mixagem naquelas caixas até que ela esteja completa, musical, estruturada. Este, então, é um bom momento para você ouvir como essa mix soaria em outros sistemas. Em um falantinho de um MacBook, em um som grande. Nos seus phones. O esperado é que a sua mix soe bem em todos os sistemas, mas não espere que ela soe com lindos graves no MacBook! Respeite as diferenças dos sistemas de reprodução.

Seguindo esses passos, você certamente evitará aquela surpresa desagradável de entrar no carro do seu amigo com um CD recém-mixado e descobrir que você não tinha ouvido como sua mix realmente soa. Se ainda assim soar mal, convide seu amigo pra ir no seu carro!

Até mês que vem.

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Mixa, masteriza e produz em seu Incrível Mundo Studio e em outros cantos do planeta. Conheça os treinamentos Mix Secrets: acesse www.EnricoDePaoli.com
 
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