Lugar da Verdade
Profissional x Amador
Enrico De Paoli
Publicado em 27/03/2013 - 08h03
Estes dois termos são frequentemente usados como engrandecedor ou pejorativo, respectivamente. Mas, de fato, não são. Vou começar fazendo uma analogia: todo mundo quer ser VIP. Ouvimos essa palavra pra cá e pra lá. Se você sai à noite, vai num show, num evento, numa festa, você quer ser VIP. Quem é VIP é "bacana", quem não é, não tá com nada. Teoricamente, os VIPs seriam os organizadores da festa, seus convidados mais íntimos e familiares. Por exemplo: num show da Madonna, os convidados pessoais dela são os VIPs. Mas, hoje, quem não está na lista VIP não se sente "top". Há eventos que têm mais VIPs do que convidados normais! Que tal este evento ser um evento mais íntimo, então, em que todos são igualmente importantes?
Quando eu era pequeno, me impressionava com a palavra "profissional". Eu queria o iô-iô profissional, a bicicleta profissional, tudo profissional. Se havia a opção "profissional", eu achava que o resto era, então, ruim. E desde cedo eu descobri a música e o áudio, e claro, eu queria ser. profissional. Mas o que é ser profissional? Ser melhor do que o amador? Nossa! "Amador"? Quem quer ser amador? Essa palavra insulta (risos)! Assim como não ser VIP não te faz uma "pessoa desnecessária", ser amador definitivamente não te faz um incapaz. Da mesma forma que eu não nasci filho da Madonna ou pai do Justin Bieber, e não necessariamente serei VIP nos shows deles, eu decidi que a música e o áudio seriam, além de paixão, a minha profissão. Eu optei por ganhar a vida fazendo isso. E, claro, a partir do momento em que eu sou pago pra fazer música e áudio, isso se torna a minha profissão, e eu, um profissional.
Mas ninguém quer ser amador! Claro. E ninguém quer ser incapaz, ou pouco importante a ponto de ser desnecessário no show da Madonna (risos)! Mas por que? Simples: porque aprendemos que ser amador é ser fraco. Errado! Por mais que eu ache que o segredo da felicidade está em encontrar algo que você realmente ame fazer, talvez você não consiga fazer de tudo o que você ama uma profissão. E não por isso você tem que deixar de " brincar" daquilo.
Vale a pena ser profissional do áudio e música? Depende. Em primeiro lugar, você precisa? Você não se imagina fazendo mais nada na vida? Você tem um emprego que detesta e fica louco pra chegar em casa e ligar seu Mac e trabalhar em uma gravação? Já é um ótimo indicador, então. Mas e se essa gravação fosse de uma música que você detesta? E se o seu cliente fosse um chato? E se não fosse somente uma música chata desse cliente chato, mas um disco inteiro? Álbum duplo! E se na sexta-feira à noite você não tivesse terminado a sua mixagem e tivesse que passar ainda o sábado e o domingo afinando vozes? Tá com saudades do emprego velho? (risos)
Outro fator a considerar: como cobrar? Quanto você vale? Que pergunta difícil! Mais difícil ainda do que ser ou não VIP (ou amador)! Você quer dar um preço à sua arte? Ser profissional é isso. Mas, se você realmente ama muito, e descobriu que definitivamente nasceu para isso, o mercado e o tempo darão o preço pra você, ou pagarão sem sofrer e você sem insistir. E se nada disso acontecer, você é um amador e vai se divertir muito fazendo áudio e música, porque, no fim, isso é realmente o que interessa. Se você não estiver se divertindo, não vale a pena estar fazendo, e muito menos valerá a pena estarem lhe pagando!
Divirta-se!
Enrico De Paoli é profissional do áudio e da música desde os dez anos de idade. Visitem www.EnricoDePaoli.com e conheçam a sua história e discografia. Conheçam também seu programa de treinamentos de engenharia de música, MixSecrets.