A Audix é uma marca norte-americana de microfones que vem expandindo seu mercado no Brasil. Com uma lista de produtos incluindo mais de 30 modelos de microfones divididos em diferentes categorias, ela se tornou uma interessante opção num ramo concorrido, onde vários fabricantes mais novos competem com aquelas marcas mais tradicionais e conhecidas. Nesta edição iremos analisar o os microfones dinâmicos D6 e i5, que estão entre os modelos mais conhecidos da Audix.
PESO NOS GRAVES
Comecemos, então, pelo D6, que é um microfone do tipo dinâmico com uma resposta de frequência de 30 Hz a 15 kHz. Por suportar níveis de pressão sonora de até 144 dB, este microfone se tornou uma boa escolha para instrumentos que produzem frequências graves, como baixo, bumbo e surdo, tanto em produções ao vivo como no estúdio. Graças ao seu padrão polar do tipo cardióide, o D6 consegue um bom isolamento, podendo rejeitar com eficiência o vazamento de som de outras peças num kit de bateria, por exemplo. De acordo com o gráfico de resposta de frequências, o D6 tem um corte de quase 10 dB em torno de 500 Hz, e ganhos de quase 10 dB em 5 kHz e 10 kHz, além de outro ganho de alguns dB por volta de 60 Hz (veja os gráficos). Com essa resposta de frequência, o D6 facilita tirar um som bom logo de cara e ajuda a encaixar melhor o baixo ou o bumbo entre os outros instrumentos ainda na gravação.
Porém, essa "pré-equalização" pode ser boa ou não, dependendo do seu método ou estilo de música que está sendo produzido. Alguns engenheiros de áudio preferem microfones com uma resposta de frequência mais "flat", tirando um som mais cru na hora de gravar e deixando para equalizá-lo mais tarde, na mix. Da nossa parte, achamos que o D6 é uma ótima escolha, principalmente para gravações de rock, ou qualquer produção onde se queira soar "moderno". Cortar médios e aumentar um pouco os graves, além de dar uma presença em torno de 5kHz a 6kHz são coisas que muitas vezes fazemos ao equalizar um bumbo. Se um fabricante disponibiliza um microfone com essa curva de equalização já vindo de fábrica, isso só nos ajuda a timbrar o instrumento, e já pensamos em como ele soará na mixagem. Além do mais, mesmo que este microfone seja pré-equalizado, sempre é possível mexer nas frequências durante a mixagem. No final das contas, como ocorre com qualquer microfone, equalizado ou não, vai depender da preferência do engenheiro gostar da sua sonoridade ou não.
Numa gravação ao vivo de uma banda de rock alternativo para um programa de rádio, usamos o Audix D6 no bumbo da bateria e pudemos comprovar a sua eficácia em rejeitar o vazamento de som de outras peças do kit. Como a banda inteira estava na mesma sala tocando junta, essa rejeição se tornou ainda mais importante, principalmente porque era um requisito tanto da rádio quanto dos músicos soar o mais cru possível, sem muitos efeitos. O som do bumbo ficou com punch e conseguiu sobressair em relação aos outros instrumentos, sem que fosse necessário mexer muito na equalização. A única equalização feita após a gravação foram um pouco de ganho em torno de 6 kHz e um corte em torno de 300 Hz, além de um high pass em 50 Hz.
Já numa gravação de guitarra, usamos o D6 num cabeçote Mesa Boogie ligado num alto-falante também da Mesa, de 4X12. O som até ficou definido, mas pelo fato do microfone já cortar bastante médios, achamos que o timbre ficou magro demais, principalmente quando a guitarra tinha distorção. De fato este não é dos microfones mais versáteis (também experimentamos esse modelo em vocais e o timbre ficou muito magro), mas o Audix D6 está seguramente entre os melhores naquilo para o qual foi concebido: gravar com definição e qualidade instrumentos graves que produzam alto nível de decibéis, tais como bumbo e baixo.
VERSATILIDADE COM QUALIDADE
Enquanto o D6 se propõe a ser um modelo mais direcionado para aplicações específicas, o i5 pode ser considerado um "faz-tudo", tanto no estúdio quanto ao vivo, podendo ser utilizado em praticamente qualquer tipo de gravação de áudio. Porém, na nossa opinião, é na caixa de bateria e em amplificadores de guitarra que este modelo da Audix mostra todo o seu potencial, uma vez que foi concebido para ser uma alternativa para aquele modelo clássico de microfone já bem conhecido dos engenheiros de som. Da mesma forma que "aquele" microfone dinâmico tem sido usado há anos nas aplicações mais diversas (desde vocais até overheads de bateria), o i5, ainda que não seja exatamente a melhor escolha para esta ou aquela aplicação, dificilmente irá soar ruim. Portanto, se você quer uma opção diferente, mas sem perder a qualidade, experimente o i5.
Como foi dito anteriormente, o i5 é particularmente muito bom na caixa de bateria, não apenas por ter um som bem aberto (com mais brilho do que aquele microfone famoso e clássico), mas também por apresentar uma boa rejeição das outras peças do kit. O i5 tem um padrão polar fixo cardióide e uma resposta de frequências de 50 Hz a 16 kHz, além de suportar níveis de pressão sonora de até 140 dB. Como podemos ver pelo seu gráfico de resposta de frequências, o i5 tem um ganho de aproximadamente 5 dB em torno de 150 Hz, segue relativamente flat nos médios e possui outro ganho de cerca de 10 dB em torno de 5 kHz. Esta curva de equalização é particularmente muito boa em guitarras, uma vez que se obtém uma boa presença nos médio-agudos e se mantém o punch dos médios. Em nossas aplicações, o i5 sempre se saiu muito bem em gravações de guitarra, tanto limpa quanto distorcida, ainda que com um timbre um pouco mais agudo do que o seu principal concorrente. Neste caso, se você achar que o i5 esteja soando muito agudo, basta movê-lo em direção à borda do alto-falante (dica importante de técnica de microfonação, já abordada em edições passadas da AM&T: quanto mais o microfone apontar em direção ao centro do alto-falante, mais agudo o som irá ficar).
Já na caixa de bateria, o i5 apresenta um som definido e mais "estalado", o que é ótimo se você quiser ter bastante som de esteira - por sinal, em nossas produções, o i5 costuma ser a melhor escolha para captar a esteira. Caso você prefira o som do corpo da caixa, basta apontar o i5 para o centro dela, bem no meio da pele. Se preferir o timbre com rimshot, direcione o microfone para o aro da caixa, pois ele irá captar mais harmônicos. Outra característica deste microfone é que ele soa um pouco mais "limpo" do que o seu maior concorrente, talvez por ser flat nos médios. Resumindo: se você quiser uma caixa com mais brilho, peso e som mais limpo, o Audix i5 é uma ótima opção. Este microfone também já foi usado nos vocais da mesma banda que gravamos ao vivo para o programa de rádio. Como o vocalista e guitarrista tinha uma voz sussurrada e teve que cantar com o amplificador próximo de si, o i5 foi bem-sucedido em dar aquela presença e definição extras ao seu vocal, ao mesmo tempo em que conseguiu rejeitar bem o vazamento dos outros instrumentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Escolher um microfone é uma questão de gosto pessoal. O que soa melhor para uns pode não soar tão bem para outros. Além disto, fatores como estilo de música e timbres de voz ou instrumento a serem gravados também precisam ser levados em conta. Mas podemos categoricamente afirmar que para quem grava e produz músicas de rock/pop contemporâneo e até outros estilos musicais, o i5 e o D6 são desejáveis opções no mercado de microfones, com uma relação custo/benefício bastante favorável. Muito mais do que meramente se buscar outro modelo porque está "enjoado" dos microfones "industry standard", trata-se de uma questão de adicionar uma nova e original ferramenta ao seu arsenal de gravação.
Alexandre P. Cegalla atua como engenheiro de som há mais de 10 anos, e já produziu artistas no Brasil e no exterior. Atualmente, é proprietário do Studio Bunker em Curitiba (www.studiobunker.com.br).