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Revista Luz & Cena
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Equipamentos para um Home Studio (Parte VI)
Interfaces de Áudio: Especificações (Parte I)
Lucas Ramos
Publicado em 23/04/2012 - 16h51
Nas últimas edições falamos sobre softwares de áudio, que são os responsáveis pelo registro, edição e manipulação do som dentro do computador. Agora vamos iniciar outra série de colunas sobre interfaces de áudio, que são as responsáveis pela entrada e saída do som na sua máquina. Sem as interfaces de áudio não é possível ouvir ou gravar nenhum som em um computador, e é por isso que elas são imprescindíveis para qualquer estúdio.

Explicando de forma bastante simplificada, a interface de áudio é o dispositivo responsável pela transferência do som para dentro e para fora do seu computador. Todo computador já vem com um dispositivo de áudio interno, que permite a você falar com alguém pela internet e ouvir sons. Porém, esses dispositivos não têm a qualidade necessária para o áudio profissional em relação à conversão (A/D e D/A) e à latência. Por isso, se você pretende fazer gravações e trabalhos de qualidade, é essencial ter uma boa interface de áudio.

Hoje em dia há centenas de opções no mercado, que variam muito em termos de preço, opções oferecidas e aparência. Mas qual é a melhor? Como sempre, isso vai depender das suas necessidades (e orçamento, é claro), como veremos mais à frente. Mas, primeiro, é preciso conhecer algumas especificações das interfaces de áudio para, então, poder julgar qual é a melhor opção para você.



Mac ou PC?

Uma especificação muito importante, mas que, por incrível que pareça, muitos esquecem, é a compatibilidade com o sistema operacional. A maioria das interfaces pode ser usada em PCs ou Macs, mas há muitas que só rodam em um sistema (por exemplo, a Apogee, só funciona com Macs, e algumas da E-mu só com PCs).

Para ser compatível com PCs, é preciso que a interface disponha de um driver ASIO, enquanto que para trabalhar em Macs é preciso ter um driver CoreAudio. Sempre verifique isso antes de comprar uma interface de áudio.



CONEXÕES ANALÓGICAS

Primeiramente, é preciso saber que tipos de sinais você pretende gravar. Isso porque cada tipo de sinal requer uma conexão diferente, e as interfaces têm uma quantidade específica de cada conexão. Há três tipos de conexões de entrada analógicas (falaremos sobre as conexões digitais a seguir) que geralmente encontramos em um home studio:

- Linha:
o Nível de sinal: alto (aprox. 300 mV)
o Impedância de entrada: 10 kΩ
o Conector: TS/TRS (conhecido como "banana") ou RCA
o Exemplos: teclados e synths, mixers e mesas, tocador de CD/CDJ, pré-amplificadores, processadores (compressores, EQ etc.)

- Microfone:
o Nível de sinal: baixo (1,5-70 mV)
o Impedância de entrada: 1 kΩ
o Conector: XLR (conhecido como "cannon")
o Exemplos: microfones

- Instrumento:
o Nível de sinal: médio (400 mV)
o Impedância de entrada: 500 kΩ
o Conector: TS (conhecido como "banana")
o Exemplos: guitarra, baixo, violão elétrico (instrumentos que utilizam captadores)

Há interfaces que utilizam entradas do tipo "combo", que podem ser utilizadas com conectores XLR de cabos de microfone ou conectores TS (ou TRS) de cabos de equipamentos ou instrumentos.



Também é preciso saber quantos canais (de entrada e saída) você precisa na sua interface. Em relação aos canais de entrada, não é muito complicado: basta pensar nos instrumentos que você pretende gravar simultaneamente e contar o número de canais necessários. Uma bateria (que geralmente é o instrumento que requer mais microfones) precisa de 4 a 12 microfones (dependendo do setup), enquanto que uma gravação de voz e violão pode ser feita com somente 2. Mas é sempre melhor sobrar do que faltar. As interfaces geralmente variam entre 2, 4 e 8 entradas (há algumas com 16 ou mais).

O número de saídas é um pouco mais complicado. Além das duas saídas para os monitores (caixas de som), há diversas outras conexões que podem ser necessárias em um estúdio. Por isso, é importante considerar as suas necessidades em relação ao número de saídas na hora de escolher a interface ideal. Vamos conhecer algumas possíveis necessidades para as saídas de uma interface:

- Mandadas de fone - As mandadas de fone são usadas para enviar o sinal para os amplificadores de fones dos músicos, para estes monitorarem durante a gravação (similar aos monitores de palco). Cada mandada de fone requer uma ou duas (mono ou estéreo) saídas de linha.

- Summing - Uma das "modas" atuais dos estúdios é a utilização de um Summing Mixer. Assim, em vez de exportar a mixagem direto do programa de áudio (procedimento conhecido como "bounce"), os canais são enviados (geralmente em grupos) para um Summing Mixer (similar a um mixer). Nele, o usuário pode ajustar os níveis e depois gravar o sinal da saída. Para isso, utilizam-se de 8 a16 saídas de linha. Portanto, se você tem a intenção de utilizar um Summing Mixer, precisará de muitas saídas. Reza a lenda que esse processo dá mais "vida" à mixagem, acrescentando aquela sonoridade "analógica" ao som (e funciona!). Mas vamos abordar esse assunto com mais calma em outra edição da coluna.

- Surround - Apesar de não ser tão comum nos home studios (devido, em parte, à necessidade de bastante espaço físico), um sistema com monitoração surround necessita de seis saídas de linha para 5.1 (oito saídas para 7.1).

- Inserts - Uma saída e uma entrada. Se você dispõe de processadores analógicos (compressor, EQ, limiter etc.), é preciso ter uma saída e uma entrada de linha para fazer um "insert", com o sinal saindo do computador, indo para o processador e voltando processado para dentro do computador. Se for estéreo, é preciso contar com duas saídas e duas entradas de linha.


Mais conexões?

É bom lembrar que é possível que você queira expandir a infraestrutura do seu estúdio mais pra frente, e isso provavelmente significará um aumento no número de entradas e saídas do seu sistema. Há interfaces que dispõem de drivers que permitem utilizar mais de uma interface ao mesmo tempo (geralmente até quatro delas), podendo, assim, aumentar o número de entradas e saídas.

Esse tipo de ligação "em cadeia" é conhecido como "daisy chain". Outra opção para aumentar o número de conexões (entradas e saídas) é utilizar as conexões digitais (como ADAT ou MADI). Se a sua interface já tiver outras conexões digitais ou um driver que permita utilizar mais de uma interface, isso diminuirá o custo de uma expansão futura.



CONEXÕES DIGITAIS

Muitas interfaces dispõem de conexões digitais, que podem ser utilizadas em conjunto com as analógicas (linha, microfone, DI etc.). Assim, com a utilização de um conversor (A/D) externo, é possível aumentar o número de entradas e saídas do seu sistema através dessas conexões, já que as conexões digitais do tipo S/PDIF são capazes de transferir dois canais por conexão.

Além da possibilidade de aumentar o número de entradas (e saídas) de um sistema, uma das grandes vantagens que as conexões digitais trazem é tornar possível a transferência de sinais entre dispositivos sem que haja perda de qualidade, tanto nos cabos quanto nas conversões A/D (e D/A). Essa é uma das grandes razões que fazem esse tipo de conexão bastante popular em estúdios.

Muitos pré-amps também já vêm com conversores que permitem conectá-los à sua interface através das conexões digitais. Inclusive, algumas interfaces podem ser utilizadas dessa mesma forma (conhecido como modo "standalone"), pois também dispõem de saídas digitais. Além disso, há diversos outros dispositivos que também utilizam conexões digitais, como gravadores multipista, efeitos e conversores.

Há quatro tipos de conexões digitais comumente encontrados em interfaces de áudio. Então vamos conhecer um pouco mais sobre cada um.

S/PDIF
Número de canais: 2
Conector: S/PDIF coaxial (igual ao RCA) ou S/PDIF óptico (Toslink)
Aplicação: CD/CDJ, DAT, MiniDisc, Efeitos etc.

AES/EBU
Número de canais: 2
Conector: AES/EBU (igual ao XLR)
Aplicação: conversores, gravadores multipista, efeitos etc.

ADAT (Toslink)
Número de canais: 8 canais em até 48 KHz, ou 4 canais em até 96 KHz (conhecido como S/MUX)
Conector: óptico (Toslink)
Aplicação: ADAT, gravadores multipista, pré-amps, conversores etc.

MADI
Número de canais:
44,1 KHz - 64 canais
48 KHz - 56 canais
88,2 KHz - 32 canais
96 KHz - 28 canais
176,4 KHz - 16 canais
192 KHz - 14 canais
Conector: MADI coaxial (tipo BNC) e MADI óptico (tipo SC-Plug)
Aplicação: Mesas digitais, gravadores multipista, pré-amps, conversores etc.



MIDI
Embora não transfira dados de áudio, outra conexão digital que pode ser útil para um home studio é a MIDI, e muitas interfaces de áudio dispõem de entradas e saídas MIDI. Apesar de a maioria dos dispositivos MIDI de hoje utilizarem uma conexão USB, muitos (especialmente os mais antigos, como guitarras MIDI, módulos de som, samplers etc.) precisam de uma conexão MIDI. Portanto, se você tiver necessidade de entradas e saídas MIDI, pode ser prático ter essas conexões na sua interface.



Os tipos e a quantidade de conexões (inputs/outputs) são especificações muito importantes de uma interface de áudio, pois sem as conexões desejadas não é possível fazer as ligações necessárias no seu estúdio. Porém há outros aspectos que também devem ser considerados na hora de escolher a interface ideal para o seu home studio, pois irão afetar a qualidade das suas gravações diretamente (como os conversores e pré-amplificadores). Mas isso vai ter que ficar para a próxima edição!

Mês que vem tem mais... até lá!

Lucas ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do Iatec.
e-mail: lucas@musitec.com.br

 
Conteúdo aberto a todos os leitores.