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Revista Luz & Cena
Na estrada
Uma nova revolução
RPM volta aos palcos com equipe reformulada e parceria com fabricante de microfones
Rodrigo Sabtinelli
Publicado em 06/03/2012 - 21h49
AM&T
 (AM&T)
Na matéria de capa de nossa edição 243 (dezembro de 2011), falamos sobre a volta aos palcos do grupo carioca O Rappa depois de um hiato de pouco mais de três anos, período em que seus integrantes se dedicaram a projetos paralelos, como a produção de CDs solo e a participação em shows de outros artistas. Nesta edição, "a volta" a ser destacada é a do RPM, que surgiu nos anos 1980 e, já naquela década, explodiu nas rádios com sucessos que até hoje fazem parte do inconsciente coletivo brasileiro.

Novamente na estrada desde a última Virada Cultural de São Paulo, realizada em abril de 2011, Paulo Ricardo (baixo e voz), Fernando Deluqui (guitarras), Luis Schiavon (teclados) e Paulo P.A. Pagni (bateria) têm, agora, em sua equipe técnica, profissionais que fazem parte da história do áudio no país. No comando do PA, Wilson Roberto Gonçalves, o Wilsão, que tem passagens por equipes de artistas como Charlie Brown Jr., Egberto Gismonti, Fábio Jr., Simone e Sá & Guarabira, e por estúdios como o lendário Vice-Versa. Nos monitores, Paulo Farat, que já trabalhou com Milton Nascimento, Ivan Lins, Maria Bethânia, Guilherme Arantes e Capital Inicial, entre outros, e em estúdios como Mosh, NossoEstúdio e o já citado Vice-Versa.

Na atual turnê, Elektra, que também dá nome ao novo álbum do quarteto, Wilsão e Farat assumem a responsabilidade de fazer soar o mais natural possível uma banda que desde sempre é cheia de particularidades do ponto de vista conceitual/musical (quem não se lembra, por exemplo, das "torres" de teclados e sintetizadores tocados por Schiavon e das baterias acústica e eletrônica unidas em um só setup?). Para isso, eles apostam no "simples", sem deixar, claro, a ousadia de lado.

Convidada por Farat, nossa equipe passou uma tarde com a equipe da banda durante a passagem de som do mais recente show que o quarteto realizou no Rio de Janeiro, no Citibank Hall, e ainda acompanhou bem de perto - de cima do palco - a apresentação. No bate-papo com a dupla de técnicos, tivemos conhecimento, por exemplo, de quais microfones são usados na captação de alguns instrumentos e como é feita a mixagem dos monitores do quarteto.

Ainda estiveram presentes na "roda" o técnico de bateria Alex Pinto, o técnico de teclados China, o técnico de guitarras e baixo Adriano Colono e o produtor técnico da banda Wagner "Jaspion" Shimizu.

DIGIDESIGN NA HOUSE E AUDIO-TECHNICA NO PALCO

A passagem de som estava prestes a começar quando Wilsão nos chamou para uma rápida conversa na house mix. Entre um ajuste e outro antes de a banda subir ao palco, ele nos disse que tem caído na estrada com os consoles da família Digidesign, agora fabricada pela Avid. Para Wilsão, a essa altura do campeonato, o importante é trabalhar com equipamentos que lhe proporcionem segurança e qualidade no trabalho.

"A Digi tem modelos para todos os gostos, mas o mais importante é que são produtos que atendem às minhas necessidades como operador. Aqui, no RPM, eu deixo 'em aberto' essa coisa de modelo. Quando vamos fazer um show em determinada cidade, solicito apenas que o console seja Digi/Avid. O resto é comigo", explica.


E se na house mix Wilsão conta com equipamentos da antiga Digidesign, no palco ele trabalha com diversos modelos da Audio-Technica. No bumbo da bateria de Paulo Pagni a opção é por um robusto ATM 250. Na caixa do instrumento são usados dois ATM 650, um em cada uma das peles.


Para os quatro tons são disponibilizados quatro ATM 350. O contratempo e os overs de bateria são captados, respectivamente, por microfones Beyerdynamic MCE 530 e 930. Porém, de acordo com Wilsão, que não abre mão de microfonar ele mesmo o instrumento, em breve estes devem ser substituídos por modelos Audio-Technica correspondentes. "Como eu mesmo subo no palco e posiciono cada um dos microfones, sei bem o que funciona e o que não funciona", afirma.


As guitarras de Fernando Deluqui são captadas por um par de Shure SM57. "Um em cada amplificador. Bem fechadinhos nos falantes, para que eu possa 'jogá-los' em estéreo no PA", conta o operador. A voz de Paulo Ricardo é captada por três microfones diferentes - um ATM 410, um AEW 4240A e um AE 4100 -, enquanto as de Paulo Pagni e Schiavon recebem três Pro 61.


Em um set acústico, no qual a banda toca versões "desplugadas" de Wish You Where Here, do Pink Floyd, e Dois, grande sucesso da carreira solo de Paulo Ricardo, o cajón, tocado pelo baterista, é captado por um Beta 52, da Shure, e o harmonium, tocado por Schiavon, recebe um AE 3000, da Audio-Technica.


Sobre a mixagem durante os shows, Wilsão é curto e grosso. "Não fico 'rodando botão'. Aqui, você ouve música. Não tem ginástica ou pirotecnia. O técnico tem que reproduzir o som que está sendo captado pelos microfones do palco, não tem que ser 'maior' que o artista. Meu papel é transportar o áudio de lá de cima para quem está aqui embaixo. Nada além disso", descreve.

E se o lema de Wilsão é a simplicidade no que diz respeito à operação, não poderia ser diferente quando o assunto é a inserção de efeitos nos inputs da banda. "Eu nunca uso gate. É algo que faço questão de destacar. Na verdade, trabalho com o mínimo possível de coisas. Reverbs e delays são efeitos que utilizo pontualmente. Por que é que vou lançar mão de um reverb mecânico se uma casa como essa [o Citibank Hall] já tem uma 'sala' naturalmente boa?", pergunta.

PARA OS MONITORES, PM5D

Depois do papo com Wilsão, foi a vez de Paulo Farat nos "receber". Na lateral do palco do Citibank Hall, o técnico aproveitou alguns minutos de descanso para contar como anda sua vida ao lado dos "errepeêmes". Para começar o papo, ele nos disse que uma das maneiras mais interessantes de se começar uma turnê é "sair do zero" na concepção dos monitores.

"Quando o Schiavon me ligou no final do ano passado, ficou bem claro que daríamos uma cara totalmente nova para o som da banda. Obviamente, moldada às características da sonoridade original e bem conhecida do RPM e também ao CD novo, na época em fase de finalização e mixagem", lembrou. "Como nenhum dos quatro sofre de 'achismo' e todo mundo sabe muito bem o que quer ouvir no stage, ficou extremamente fácil conceber a estrutura dos monitores para o novo show", acrescenta.

O primeiro passo foi, segundo Farat, definir o console. Ele optou, então, pelos 48 canais e 24 sends da Yamaha PM5D. "É uma mesa que sempre me 'abraçou' e que teria exatamente a sonoridade que eu queria no palco e para a banda. A opção, no entanto, não impede que, durante a nova turnê, outros modelos de mesas possam vir a ser usados", adianta.

Depois de escolhido o equipamento, o técnico decidiu que o sistema de monitoração da banda seria híbrido, contendo in-ears, monitores de chão e side fill. A prioridade, no entanto, seriam os in-ears.



MONITORAÇÃO HÍBRIDA

Nos shows da nova turnê, o vocalista Paulo Ricardo usa o sistema Shure PSM 900 com fone Westone Elite, um dos prediletos de Farat. Em sua mix, quatro máquinas de efeitos - um hall, uma simulação de sala com early reflections, delays no tempo e beat de cada música, e o room da bateria - deixam tudo soando muito natural, transportando o clima do disco novo para o palco.

"Como ele [Paulo] não tem o horroroso vício de colocar a voz extremamente mais alta que a banda, essa mix é muito agradável e os efeitos fazem sua parte como deve ser. Como complemento à mix dos fones temos dois monitores de chão 'encostados', com extremo discernimento, para serem usados caso aconteça algum imprevisto com a transmissão", explica Farat.

"O volume desses monitores tem dois 'steps', um com os fones e outro completamente diferente, no caso de apenas utilizarmos o som dos falantes. Exatamente a mesma mix, apenas com o volume do master alterado", completa.

Nos baixos, um amplificador, a poucos metros do microfone central, faz o trabalho de sub. Complementando essa mix, há, ainda, um microfone extra, que fica coberto durante todo o show, pronto para ser usado especialmente na comunicação entre Paulo Ricardo, Farat e Shimizu.

O tecladista Luiz Schiavon é, entre todos os músicos, aquele que tem a concepção híbrida de monitores mais detalhada, pois além dos muitos instrumentos que toca ao vivo, utiliza apenas um dos dois fones em seu ouvido. Para seu in-ear, outro Shure PSM 900, segue uma mix geral.

Para o seu monitor de chão, posicionado estrategicamente atrás do setup, uma mix diferente é feita. "Ela contém samplers, sequencers, bateria e baixo, que não sobrecarregam o trabalho dos fones e dão uma folga confortável e uma soma bárbara no palco", destaca Farat. Além dos fones e da caixa citada, Schiavon também usa dois monitores de chão, nos quais ele próprio mixa seu sistema de teclados.

Nos fones do guitarrista Fernando Deluqui também é feita uma mix geral. Na sua caixa de chão, a concepção é semelhante à de Paulo Ricardo. Se o músico precisar, pode tirar um lado do fone, pois o monitor e o side fazem sua parte. "Não há nenhum tipo de 'mirabolice'. Trabalhamos com guitarras de sobra, para que sua execução seja confortável", explica Farat.

O baterista Paulo Pagni utiliza apenas um monitor e um sub, da mesma forma híbrida, colado na mix dos in-ears. A diferença é que ele tem uma mesa com a mix de Farat e o click separados. "O ear fica na bateria, como via reserva. Para ele, uma máquina de efeitos é suficiente. Nada mais. O resto é com o próprio Pagni", diz o técnico. "No set acústico do show, utilizo o monitor do Fernando para uma mix do Paulo [Pagni], pois ele deixa o fone na bateria e vai para a linha de frente do show (com percussão e vocal) só de monitor e side nesse momento", completa.

De acordo com Farat, esta é a concepção que chegou bem perto da conhecida sonoridade da banda, e, claro, do clima das novas músicas, sempre com uma mistura de timbres dos grooves eletrônicos, teclados e rock'n'roll. "Acho que é uma solução que agradou a todo mundo e acredito que poucas modificações sejam feitas durante o resto da turnê", encerra.
 
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