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Revista Luz & Cena
Review
Garbo - Discurso Romântico Com Finalidade Erótica (Independente)
Rodrigo Sabatinelli
Publicado em 04/03/2012 - 22h36
divulgação
 (divulgação)
Há alguns anos, o cantor e compositor Eduardo Garcia, mais conhecido como Garbo, deixava sua banda, O Espantalho. Na época, para nós, amigos mais próximos, o rompimento soava como uma espécie de aborto, afinal de contas, aguardávamos ansiosos pelo lançamento daquele que viria a ser o primeiro álbum de estúdio do quinteto. Produzido por ninguém menos que Chico Neves, um fã confesso do trabalho de Garbo e, claro, d'O Espantalho, o disco sequer foi prensado e, como diria meu velho pai, "correu à boca miúda", em formato digital, somente para um ou outro, digamos, mais chegado.

Apesar de tudo, o fim da banda deu uma sobrevida ao músico, que, ainda entulhado por esboços, se reuniu a alguns amigos - inclusive esse que vos escreve - para executar algumas de suas canções que não haviam sido gravadas. Tais rascunhos começaram a sair do papel em encontros esporádicos na casa de um outro amigo, uma cobertura em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, onde tocávamos, comíamos e bebíamos tardes adentro. E quanto "aquilo tudo" estava prestes a virar uma nova banda, Garbo debandou. Pegou suas coisas e voltou para Belo Horizonte. E fez bem. Ele precisava mesmo de um tempo. Precisava se alimentar de uma quase solidão para, realmente, dar vida a um novo trabalho, a seu modo. E deu.

No ano passado, novamente sob a batuta de Chico Neves, Garbo entrou em estúdio para gravar seu primeiro disco solo, Discurso Romântico Com Finalidade Erótica. O trabalho, lançado inicialmente em pequenos "drops" por meio do SoundCloud (plataforma que vem sendo largamente utilizada por artistas independentes), mostrou mais uma vez o quão surpreendente é esse artista/amigo, que sempre deu de ombros para o sucesso fácil e, por conta disso, sempre teve que lutar por seu espaço. E, para ele, conquistar algo sempre significou ser, acima de tudo, verdadeiro.

A tal verdade de Garbo está mais do que presente nas dez faixas que compõem esse "discurso". Discurso "dissonante", já que o músico abriu mão das guitarras tortas e dos baixos precisos que sempre lhe acompanharam para se arriscar numa concepção musical completamente diferente de tudo o que já fez: um disco que tem sua base harmônica composta somente por instrumentos de sopro e uma nada convencional bateria. No trabalho, um mix de diversos momentos da carreira de Garbo. De canções inéditas, como a incrível Babilônia 336, que inaugura, literalmente, essa nova fase, e a doce Scliar, embalada por uma melodia convidativa, às já conhecidas do repertório d'O Espantalho Perdão e Vem Brincar. Sem falar em Dois, belíssimo tema que, até então, só havia sido registrado por Garbo em uma pré-produção caseira (daquelas que a gente faz para não esquecer a canção e, um dia, gravá-la "de verdade"), Bovary e Pandemia (que tocávamos juntos na tal cobertura), O Elegante, H.E.V.U.A e Quem Vem Lá, outras grandes composições.

Ao seu lado, no disco, executando essas canções, estiveram os músicos Leonardo Brasilino (trombone), Juventino Dias (trompete e flugelhorn), Sérgio Danilo (sax, clarinete e flauta transversal), Isaque Macedo (tuba) e Lincoln Cheib (bateria), que seguiram os arranjos criados pelo também músico e artista plástico Julio Curi. Mixado e masterizado por Ben Findlay, que trabalha com Jeff Beck, Paul McCartney e Peter Gabriel, Discurso Romântico Com Finalidade Erótica há de ser, na minha opinião, o disco independente do ano. Sem mais.
 
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