Primeiramente, gostaria de desejar um feliz ano novo a todos os leitores da revista Áudio Música & Tecnologia. Vamos começar o ano dando continuidade ao tema "processamento de áudio". No ano passado abordamos diversos assuntos dentro de reverberação e codificação de áudio. Se o leitor ainda tiver alguma sugestão a respeito desses temas ou de novos, fique à vontade para entrar em contato. A coluna não tem uma sequência fechada e o objetivo é discutir os assuntos mais recorrentes, novidades e, principalmente, sugestões.
Nos últimos três anos vimos um novo tipo de plug-in ficar bastante popular: os "pilotos de faders", do termo em inglês "riders", representados pelos plug-ins Vocal Rider (Waves) e o Wave Rider (Quiet Arts), o último compatível apenas com Pro Tools em Mac OS X.
PARA QUE SERVEM?
Quando pensamos em uma ferramenta para controlar automaticamente a dinâmica de um sinal de áudio, como, por exemplo, um canal de voz em uma mixagem de música, de forma que ela não fique "escondida" nem sobressaia demais na base instrumental, a resposta é imediata: compressor!
Alguns, no entanto, podem alertar para artefatos e alterações indesejadas no timbre que um compressor pode gerar. E isso é verdade. O compressor é um processador de dinâmica que, dependendo da sua forma de implementação, pode afetar características do som que vão além da faixa dinâmica. Nesse sentido, eles são usados para dar "punch" ou até mesmo alterar propositalmente o envelope dos sinais, mudando características como ataque e decaimento dos mesmos. Todavia, se o objetivo é apenas controlar a dinâmica, preservando a integridade de todas as demais características do sinal, nada melhor do que apenas "pilotar faders".
Historicamente, antes mesmo da existência dos primeiros compressores, a arte de pilotar faders para controlar a dinâmica de instrumentos e vozes foi desenvolvida justamente para dar conta de imperfeições de dinâmica consideradas não-musicais pelos produtores. Para isso, um bom conhecimento da estrutura da música em questão unido a ouvidos atentos e talentosos eram as únicas ferramentas disponíveis. Com o surgimento dos primeiros consoles com automação, no início dos anos 1970, essa técnica foi apurada e se tornou mais viável, sendo possível registrar os movimentos feitos no fader de um canal em uma "passada" e repeti-los cada vez que o mesmo trecho fosse tocado.
Para isso, consoles de grande porte equipados com verdadeiros "computadores de bordo" eram utilizados. Com o advento das DAW, os usuários atuais de softwares de áudio já têm esse processo "no sangue". Desenhar linhas de automação de volume em softwares como Pro Tools, Logic, Cubase e Sonar, entre outros, ou gravar os movimentos dos faders através de uma superfície de controle são umas das primeiras e mais divertidas lições. Contudo, operar automações manuais de volume para o controle de toda a dinâmica da voz principal em uma música ou, em casos ainda mais complexos, diálogos em programas de TV ou filmes, é um processo bastante trabalhoso, que consome boas horas de dedicação e paciência.
Podemos elencar, portanto, as principais vantagens e desvantagens na utilização da compressão e da automação de volume para o controle da dinâmica de um sinal de áudio, como resumido na tabela abaixo:
Sendo assim, como forma de reunir o melhor de cada mundo em um único tipo de ferramenta, desenvolvedores como a Waves e a Quiet Arts resolveram lançar o que chamamos de "pilotos automáticos de faders". Dessa forma, o Vocal Rider e o Wave Rider são plug-ins que processam automaticamente a operação de automação de volume que seria manual. Ou seja, fazem um controle virtual ("pilotam") dos faders para o usuário com base em informações do próprio sinal ou da relação entre o canal escolhido e outros elementos da mixagem.
PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO
O princípio de funcionamento desses plug-ins é relativamente simples. Através da análise do comportamento da dinâmica do sinal escolhido é gerada a variação de volume correspondente em um fader que atua no canal. Diferentemente de um compressor, que usa (ou simula) componentes eletrônicos que geram artefatos para o processamento, os riders utilizam apenas ganho e dão a possibilidade de editar, a posteriori, o que ele fez e como ele fez. Desse modo, é possível não somente ouvir a atuação final do controle de volume como também escrever a linha de automação no software host. No caso do Vocal Rider, a linha de automação escrita é referente ao fader de sua interface gráfica, enquanto que no caso do Wave Rider o plug-in escreve a própria automação de volume do software no qual está hospedado.
Além disso, assim como acontece com os compressores, o sinal analisado pode ser diferente daquele no qual o plug-in está inserido. Nesse caso ("side chain"), é possível ter recursos interessantes, como controlar variações em uma voz, por exemplo, com base nas variações da parte instrumental da música. O resultado final pode ser bem mais eficiente dessa forma. É assim a operação padrão do Vocal Rider, por exemplo.
APLICAÇÕES
Além da já citada aplicação de controle da dinâmica da voz principal em relação à base instrumental durante uma mixagem em estúdio, o controle virtual de faders é muito bem-vindo em performances ao vivo. Se utilizado com maior ponderação nos parâmetros para evitar surpresas desagradáveis, é uma ferramenta fantástica que poupa bastante trabalho de quem mixa ao vivo. O Vocal Rider, por exemplo, tem em sua versão Live um parâmetro adicional chamado SPILL, que controla a forma como seu algoritmo identifica a diferença entre a voz e os ruídos indesejados do palco. A Waves também tem uma ferramenta, Bass Rider, criada com propósito similar, porém otimizada para a região de frequências e que envelope características dos baixos, sejam eles acústicos, amplificados, ligados em DI etc.
Como também já citamos, narrações e diálogos de filmes e programas de TV também costumam demandar bastante trabalho de automação. Nesse sentido, os riders são grandes aliados da pós-produção de áudio para vídeo, pois economizam bastante tempo de trabalho e possibilitam que ajustes finos sejam feitos manualmente apenas nas partes de maior atenção ou em que o plug-in não atuou da forma esperada.
Vale ainda ressaltar que os plug-ins "pilotos" de faders não devem ser considerados a única solução para o controle de dinâmica, e sim mais uma ferramenta disponível. Os compressores, devido justamente às suas características peculiares, são considerados ferramentas essenciais em mixagens de muitos estilos musicais, e a automação manual de volume ainda pode, e deve, ser usada mesmo quando se tem disponíveis os "pilotos automáticos", como forma de ajuste fino e alternativa para edições de performances que vão além das limitações tecnológicas dos riders.
Além disso, vale a pena experimentar o uso simultâneo de compressores e riders no mesmo canal: um para fazer o processamento de faixa dinâmica via compressão e o outro para atuar de forma transparente no controle de volume. Aguardo os comentários com as experiências dos leitores.
Continuaremos com esse tema na próxima edição, estudando alguns parâmetros e conhecendo mais detalhes do funcionamento dessas ferramentas. Para informações sobre o Vocal Rider e o Wave Rider, visitem, respectivamente, www.waves.com e www.automaticmixing.com.
Até a próxima!
Rodrigo Meirelles é engenheiro eletrônico, mestre em educação e professor universitário. Atua como coordenador de engenharia de áudio na pós-produção da TV Globo (CGp) e professor dos cursos de
produção fonográfica e cinema da uNeSA. É sócio do centro de treinamentos e tecnologia proClass.
Contato: rodrigo@proclass.com.br