Compositora de sucesso, tendo sido gravada por artistas como Sandy & Jr, entre muitos outros, a paraense Liah acaba de dar forma a Quatro Cantos, seu quarto disco autoral. Ela, que já trabalhou com Marcelão e Zé Henrique, do Yahoo, Marcelo Sussekind, César Santos e Dan Sebastian, produtores de seus CDs anteriores, desta vez foi produzida por Alexandre Castilho e Victor Pozas, que já atuaram com artistas como Marjorie Estiano e Tiago Iorc.
O trio contou ainda com o auxílio de Daniel Musy, coprodutor do trabalho, que foi gravado e mixado pelo próprio Daniel e por Fabricio Matos nos estúdios Madre Música e Vital, ambos no Rio. A exceção fica por conta da faixa Casa Vazia, parceria de Liah com Ivan Lins, que foi mixada por Musy e Álvaro Alencar. Masterizado por Ricardo Garcia no Magic Master, também no Rio, o álbum, que tem características intimistas, será lançado pela Som Livre em fevereiro.
POUCOS INSTRUMENTOS PARA MANTER INTIMISMO
Alexandre Castilho: O conceito sonoro do disco da Liah foi traçado na primeira reunião de repertório que tivemos, na qual ela e o Victor me mostraram todas as canções candidatas a entrar no projeto. E foi muito difícil escolher o repertório, pois eram todas maravilhosas. Ouvindo a Liah interpretar as músicas, ali, na minha frente, senti que não podíamos fugir muito do clima arrebatador que ela sozinha transmitia, ou seja, tínhamos que criar uma sonoridade que não interferisse muito no seu intimismo. Por isso usamos poucos instrumentos. Basicamente violão, baixo elétrico e acústico, piano ou wurlitzer e bateria. Tudo muito suave.
Depois de alguns encontros, o Victor veio com a ideia de usarmos também o acordeon, que daria um "tempero" especial. Ficamos, então, com uma sonoridade limpa e quente, típica dos primeiros CDs da Norah Jones, misturada com a veia MPB da Liah. Das 14 canções que gravamos, optamos por 11.
GRAVAÇÃO NATURAL E MUSICAL
Daniel Musy: A captação dos instrumentos foi feita por "imagens" variadas. Aliás, o disco todo passou por um grande trabalho de pesquisa e busca de sonoridade, pois queríamos preservar o lado intimista das canções, da voz e das interpretações da Liah, ao mesmo tempo em que buscávamos uma imagem bem grande dos instrumentos.
Castilho: O disco possui uma particularidade: a simplicidade técnica. Tudo foi feito de forma muito "crua". O grande trabalho de pesquisa foi a busca pelo músico certo, o instrumento certo e a captação certa. Ou seja, tentamos ao máximo trabalhar para que não houvesse a necessidade de corrigir muito, equalizar muito. O grande lance foi tentar preservar a pureza dos sons e arranjos, o que, acredito, trouxe um "tamanho" e uma imagem sonora bem grandes. O processo de gravação foi muito natural e musical.
Nas gravações, usei um baixo Hofner 500/1, enquanto Mauricio Oliveira tocou um Fender Jazz Bass 1960 e um Eliezer e André Vasconcelos um Rickenbacker 1979. Os violões usados por Vinícius Rosa e Liah foram o Big Baby Taylor e o Martin Acoustic Electric. Vinicius usou, ainda, uma guitarra Fender Stratocaster 1989 e um amplificador Laney. Renato Fonseca tocou um Piano Yamaha C2, Roberto Pollo um Wurlitzer 200A e Marcelo Caldi um acordeon Scandalli.
Victor Pozas tocou um ukulele Lanikay e um bandolim Giannini e Daniel Gordon uma bateria Ludwig Classic Maple com bumbo de 20" e pratos Paiste. Por fim, Pedro Mamede tocou uma Grestch Catarina Club Jazz e uma New Classic, além de uma Korg Wave Drums Oriental e uma Roland Hand Sonic.
CAPTAÇÃO PASSA POR CONSOLES SSL
Musy: O disco foi gravado em duas plataformas. Todas as bases e a maior parte dos complementos foram feitos no Madre Música, em um sistema Pro Tools HD3 Accel rodando em um Mac Pro Dual Quad, com os conversores 192, da Digidesign, em 96 K 24 bits. Alguns complementos foram feitos no Vital Studio usando um Pro Tools HD Native, com conversores Apogee Symphony rodando também em um MacBook Pro Dual Quad. As mixagens do trabalho também foram feitas nos dois estúdios. No Madre usamos um console Matrix, da SSL, enquanto que no Vital optamos por um XDesk, também da SSL.
O bumbo da bateria recebeu um Shure Beta52 em seu interior e um AKG D12 na parte externa. A caixa ficou com um par de Shure SM 57 - um em cima e outro embaixo dela -, além de um Earthworks SR77 para suas nuances. O contratempo levou um AKG 451, os tons ficaram com os Sennheiser MD421, os overs foram feitos com os AKG 414 TLII e as ambiências receberam, alternadamente, os Neumann TLM 103 e U87, os Royer R122 e os AKG C12VR.
O baixo acústico foi captado por diversos Neumann, entre eles o M149, o U87 e o TLM103. Os violões também receberam alguns mics da mesma marca, como o M149 e o TLM103, além do Royer R122 e do Earthworks Z30X. O piano ficou com o AKG 414TLII e o Earthworks SR77. As guitarras, com os Shure SM 57, os Royer R122 e os Sennheiser MD421. O acordeon foi captado por um AKG 414 TLII, ao passo que as cordas receberam os Neumann U89 e U87, os TLM 170, os KM 104 e os B&K Stereo Pair. Para as vozes da Liah, optamos por dois modelos: os Neumann M149 e TLM 103. Já para a voz do Ivan usamos o TLM-103.
Alguns desses microfones receberam ainda o insert de poderosos pré-amplificadores. O Neve 1073, por exemplo, foi insertado nos microfones que captaram bumbo, overs, ambiências, baixo acústico, violões, pianos, guitarras e acordeon. O 1084, também da Neve, serviu exclusivamente às vozes da Liah e do Ivan, enquanto o SSL VHD foi utilizado na caixa de bateria e no contratempo e o Universal Audio 2-610 ficou para as ambiências.
Na masterização, feita pelo Ricardo Garcia, tivemos que ajustar alguns volumes, pois nem todas as mixagens estavam com o mesmo nível. Tomamos um cuidado grande para que as canções mixadas por mim e pelo Fabrício Matos tivessem uma unidade e, ao mesmo tempo, também preservassem, individualmente, a nossa personalidade.
PARCERIA COM IVAN LINS É UM DOS PONTOS ALTOS DA PRODUÇÃO
Pozas: Além de ser um dos compositores mais importantes do mundo, o Ivan [Lins] é um ídolo para mim e para a Liah. Tivemos a sorte de, através do Fernando Lobo e do Marcel Klemm, da Som Livre, fazer essa ponte para a Liah compor com ele a música Casa Vazia. No dia da gravação, a afinidade entre nós três ficou evidente e tudo correu muito bem.