Miguel Ratton
Publicado em 26/12/2011 - 16h41
Acho que eu tinha uns 11 anos quando assisti 2001: Uma Odisseia no Espaço pela primeira vez. Eu já gostava de ficção científica, mas aquele foi um filme que realmente me impressionou muito por causa das extraordinárias previsões que mostrava: telefone com imagem e cobrado por crédito, televisão com tela plana e superfina, computação com inteligência artificial, e, obviamente, a estação lunar e as viagens espaciais. Não foi à toa que recebeu o Oscar de melhores efeitos especiais.
O filme foi lançado em 1968, apenas um ano depois da primeira transmissão de TV ao vivo via satélite entre Europa e EUA (com os Beatles cantando All You Need Is Love para mais de 40 milhões de telespectadores), mas pela maneira extremamente realista como Stanley Kubrick apresentava as ideias imaginadas por Arthur Clarke, não era difícil acreditarmos que num futuro pouco distante dali teríamos desenvolvimentos tecnológicos tão espetaculares. Um ano depois o homem pisou na Lua.
Há cerca de 40 anos, no Brasil, João Augusto Gurgel idealizou e construiu um carro compacto e de baixo custo. Sua empresa foi a primeira a produzir no país um automóvel popular com características modernas (motor sem correias, ignição eletrônica), desenvolvendo a categoria de veículos que mais vende atualmente. Ele também criou um automóvel movido a eletricidade, o que agora é o foco das pesquisas de todos os grandes fabricantes mundiais. Lamentavelmente, sua capacidade inovadora não foi capaz de superar as dificuldades que teve, sobretudo pela falta de apoio dentro do próprio país.
A Apple Computers perdeu recentemente seu principal colaborador intelectual, Steve Jobs. Mais do que um bom projetista de computadores, Jobs era um grande pensador do mercado tecnológico. Tinha uma enorme capacidade de mudar o rumo das coisas, muitas vezes desenvolvendo tecnologias que supririam necessidades ainda não existentes. Além do primoroso design, seus produtos sempre estabeleceram novos padrões, que os concorrentes logo tratavam de perseguir. O iPad, mesmo sendo ainda um produto em evolução, conseguiu quebrar definitivamente o paradigma do teclado e mouse, que já perdurava há tantos anos.
Em 1947, Harry Olson, um dos maiores pesquisadores do áudio do século 20, apresentou estudos que contribuíram significativamente para o desenvolvimento dos sistemas de line array e de direcionamento digital - mesmo sem ainda dispor de tecnologia para implementá-los.
Algumas pessoas têm a fantástica capacidade de imaginar como as coisas que existem irão evoluir e quais as novas coisas que surgirão. No século 19, Jules Verne foi um que abusou desse talento, curiosamente na mesma época em que Lord Kelvin teria dito que não havia mais nada de novo a ser descoberto na Física.
E então: quem se anima a prever o futuro?
Miguel Ratton