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Revista Luz & Cena
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Equipamentos para um home studio
Parte IV: Mais softwares de Áudio (Cubase, Digital Performer, Ableton Live e Sonar)
Lucas Ramos
Publicado em 26/12/2011 - 16h22
Na última edição iniciamos uma série sobre os melhores softwares de áudio para um home studio, começando pelo Pro Tools (Avid) e o Logic (Apple). Mas, como tudo na vida, a melhor escolha é sempre a que funciona melhor para você, e por isso é importante conhecer todas as opções disponíveis para então poder fazer uma escolha "educada". Por isso, vamos agora conhecer alguns dos outros DAWs mais populares do mercado: Cubase, Digital Performer, Live e Sonar.

CUBASE (STEINBERG/YAMAHA)

Um dos mais populares softwares de áudio do mundo, conhecido por ser o melhor software para a edição MIDI, o Cubase é capaz de encarar, com grande êxito, praticamente qualquer tarefa relacionada a áudio ou música. Além disso, o fato de "rodar" em ambos os sistemas operacionais (Mac/Windows) também ajuda a aumentar sua popularidade.

São três as versões do Cubase:

- Cubase Elements 6 - É a versão mais simples. O número de canais é reduzido, não é possível trabalhar em surround e não conta com diversas outras funcionalidades, como detecção de andamento.
- Cubase Artist 6 - Versão simples, porém muito potente, capaz de suprir todas as necessidades de um home studio. O número de canais é reduzido (mas ainda é bastante amplo) e não é possível trabalhar em surround. Não dispõe de algumas funções importantes, como VariAudio e VST Expression.
- Cubase 6 - É a versão mais completa e um pouco mais cara, que dispõe de todas as funções e vem com mais plug-ins e instrumentos do que as outras. Pela diferença de preço, e levando em conta todas vantagens que oferece, vale mais a pena.

O GIGANTE DA EXPRESSÃO

No Cubase, há quatro formas de visualizar e editar dados MIDI (Key Editor, Score Editor, Drum Editor e List Editor), que, juntas, suprem praticamente qualquer necessidade. Mas o Cubase possui duas ferramentas que somente ele dispõe e que são muito potentes para a edição MIDI: VST Expreesion e Note Expression.

O VST Expression permite editar e visualizar as articulações de um instrumento (staccato, tremolo, pizzicato etc.) de forma simples e prática, diretamente nos editores MIDI. É uma forma muito mais eficiente do que os convencionais "key switches", que utilizam notas MIDI para alterar as articulações. Isso traz um benefício enorme para trabalhar com instrumentos mais complexos e com muitas articulações (como os de orquestra), possibilitando criar facilmente uma dinâmica mais realista (e não somente volume).



Já o Note Expression permite ajustar os parâmetros de controle MIDI (volume, pitchbend, afinação etc.) nota por nota. Normalmente só é possível ajustar esses parâmetros em relação ao tempo e de forma global por canal, o que faz com que uma mudança de afinação afete todas as notas que estiverem tocando naquele canal, naquele momento. No Cubase é possível editar graficamente (como automação) esses controles MIDI em cada nota (como um Pitch Bend em uma única nota). Essa novidade ajuda, e muito, na criação de sequências MIDI realistas.

Outra grande vantagem é que, assim como acontece com Logic (e com o Sonar, como veremos), é possível "rodar" o Cubase nativamente em 64 bits, permitindo utilizar até 1 terabyte de RAM (em vez de somente 4 GB em 32 bits). Isso permite aumentar consideravelmente o número de instrumentos e plug-ins utilizados em um projeto. Além disso, não há limite para o número de canais utilizados em um projeto do Cubase (menos na versão Elements).

O Cubase também dispõe de excelentes ferramentas para "tempo mapping" (mapeamento das mudanças de andamento em uma gravação), além do Elastique Pro, que modifica o tempo do áudio sem alterar a afinação e sem resíduos indesejáveis. A cereja do bolo é o VariAudio, um editor para a correção de afinação (similar ao Auto-Tune). Tais ferramentas são, hoje, quase que essenciais para a produção musical, e o Cubase traz todas elas.

VÍDEO: O PROBLEMA

O ponto fraco do Cubase é vídeo, pois o seu foco é a produção de música (gravação, edição, MIDI e mixagem). É possível importar um vídeo (assim como arquivos OMF) para trabalhar de forma simples, como, por exemplo, produzir uma trilha sonora. Porém, faltam algumas ferramentas mais avançadas, que outros softwares do mercado dispõem (como o Pro Tools ou o Digital Performer). Há, inclusive, outro software da Steinberg, o Nuendo, que vem equipado com diversas ferramentas avançadas para a pós-produção de áudio (som para filme e TV) mas que é consideravelmente mais caro (por isso está ausente desta lista). Há também algumas outras pequenas funções que fazem falta (como grupos de canais para mixagem), mas, no geral, o Cubase é um pacote completo e versátil para a produção musical.

DIGITAL PERFORMER (MOTU)

Um dos softwares mais usados para a produção de trilhas nos EUA é o Digital Performer. Conhecido por sua facilidade para trabalhar com vídeo e MIDI, no Brasil ainda é pouco popular talvez pelo fato de "rodar" somente no sistema operacional OSX (Mac). E isso é uma pena, pois o Digital Performer é realmente um software muito potente, repleto de ferramentas únicas para a produção de musica para imagem. Não é à toa que os "gringos" o adoram.



Só há uma versão do Digital Performer, o que é raro para softwares de áudio. Apesar de vir completo, com alguns plug-ins e instrumentos, o forte do Digital Performer 7 são as ferramentas e funções que ele dispõe, incluindo surround até 10.2!

FEITO PARA TRILHAS SONORAS

O Digital Performer é equipado com muitas ferramentas populares, como um sequenciador de step MIDI e uma ferramenta para a correção de afinação, além de ser compatível com Apple Loops e ter um número ilimitado de canais. Mas não é uma mera coincidência o Digital Performer ser o software mais popular para a produção de trilhas sonoras nos EUA: ele dispõe de ferramentas e funções únicas, que auxiliam bastante na hora de compor, gravar, editar e mixar uma trilha sonora.

O Find Tempo ajuda a encontrar o melhor andamento para uma música através de marcadores inseridos no timeline. Você insere os marcadores baseados nos pontos de referência de um vídeo e ele calcula automaticamente qual andamento se encaixa melhor. Também é possível inserir marcações visuais no vídeo para facilitar uma performance, foley ou dublagem (é possível até inserir um metrônomo visual para marcar o andamento da música). Outra função, chamada Quickscribe Notation, elaborada em conjunto com o compositor Howard Shore durante a produção da trilha do filme Senhor dos Anéis, permite criar e imprimir a partitura de uma trilha junto com as marcações (cues) de pontos importantes e com o timecode (SMPTE) correspondente, o que ajuda, e muito, os compositores.

Há também uma integração com o Final Cut Pro (líder de mercado para vídeo) que possibilita importar/exportar arquivos XML. Assim, edições feitas no Final Cut podem ser exportadas e importadas para o DP. As edições no vídeo são automaticamente atualizadas, e o mais impressionante é que o material de áudio e MIDI, com base nas mudanças feitas no vídeo, também é reposicionado. E se o Digital Performer estiver rodando no mesmo computador que o Final Cut, é possível exportar todos os canais diretamente entre os softwares, tornando a transferência de material muito prática e fácil. Também é possível importar e exportar arquivos de OMF e AAF que permitem transferir canais de áudio para outros softwares, como Pro Tools, Logic, Media Composer e Final Cut.

UM POUCO COMPLICADO

O Digital Performer sempre teve a má fama de ser complicado, muito devido à sua interface gráfica, considerada complexa para quem não estava acostumado. No entanto, sua versão atual (7) está mais "limpa" e compreensível, facilitando a vida de quem está iniciando. Outra lacuna no Digital Performer é a falta de uma ferramenta de "time stretching" (como o Elastic Audio, do Pro Tools, ou o Elastique, do Cubase) que permita modificar o áudio no tempo sem alterar a afinação.

LIVE (ABLETON)

Mais um software muito utilizado no exterior e que vem ganhando muita popularidade no Brasil é o Live. Famoso no meio da música eletrônica, o Live não é só uma ferramenta para DJs, e sim um completo software de áudio para composição, gravação, produção, mixagem e performance de músicas. Se a sua "praia" for mesmo o som eletrônico (ainda mais se gostar de Live PA), aí o Live é praticamente imbatível!



São três as versões do Live:

- Live Intro - Versão mais simples, com algumas limitações.
- Live 8 - É uma versão completa do software, que dispõe de todas as funções mas oferece menos instrumentos e conta com uma biblioteca de loops e samples menor.
- Suite 8 - É a versão mais completa, sem limitações de software, com maior número de instrumentos (11 a mais) e uma biblioteca maior de loops e samples.

"O CARA" DA MÚSICA ELETRÔNICA

O Live foi criado por artistas de música eletrônica para artistas de música eletrônica, mas isso não significa que não é possível fazer outro tipo de som com ele. O Live também é capaz de gravar, editar e mixar instrumentos acústicos como qualquer outro software de áudio. Na verdade, ele é um DAW completo, com praticamente todas as ferramentas disponíveis para a produção musical.

Talvez o maior chamativo do Live seja a forma como ele permite trabalhar com loops. Loops (ou clips) podem ser inseridos nos canais e disparados (reproduzidos) manualmente, como um sampler. Isso é mais útil para performances, porém também pode ajudar na composição e produção de uma música. Há também uma ferramenta de time stretching muito boa, chamada Warp, que permite alterar a duração de um áudio sem afetar a afinação e sem resíduos indesejáveis. O Warp é bem similar ao Elastic Audio, do Pro Tools, e ao Elastique Pro, do Cubase, em termos de qualidade sonora. No entanto, a forma de aplicação é mais prática e musical, pois ele foi criado especificamente para "casar" o andamento de duas músicas ou loops diferentes. E funciona muitíssimo bem.

Os instrumentos e plug-ins do Live são de excelente qualidade, porém mais voltados para a música eletrônica em relação aos timbres. Excelentes sintetizadores e samplers, além de efeitos de áudio e MIDI, para deixar qualquer produtor satisfeito. E são todos muito leves e estáveis, o que permite abrir diversas instâncias dos plug-ins e instrumentos sem "travar". Além disso, não há limite para o número de canais criados. Na verdade, o Live é provavelmente o software mais estável e leve de todos, até porque é direcionado para a performance "ao vivo", e, nela, "travar" não é uma opção.

Se quiserem mais informações a respeito do software, há uma coluna bem legal sobre Live escrita por um tal de Lucas Ramos naquela revista maravilhosa chamada Áudio Música e Tecnologia!

MUITO ELETRÔNICO

O Live, como todos, também tem suas deficiências. Algumas pessoas criticam a interface gráfica simplista, apesar de eu, pessoalmente, achar que beleza não deveria ser levada em conta quando estamos falando de um software. Outros reclamam que os plug-ins e instrumentos são muito "eletrônicos". A realidade é que o Live é feito para música eletrônica, e não há como negar isso. A maioria dos seus pontos fortes tem aplicações para a música eletrônica, e com isso ele revolucionou a forma de produção e performance desse tipo de som. Mas também dá pra gravar e editar áudio normalmente, assim como trabalhar com vídeo. É um software de áudio completo e muito potente.

SONAR (CAKEWALK/ROLAND)

O Sonar é provavelmente o software mais popular do mundo. Começou somente como um sequenciador MIDI que rodava em DOS (você sabe o que é DOS?), quando ainda se chamava Cakewalk. Depois mudou para Sonar (Cakewalk virou o nome da empresa, posteriormente comprada pela Roland) e passou a trabalhar também com áudio. Parte de sua popularidade vem do fato de - ao contrário do Digital Performer e do Logic - "rodar" somente em Windows (o que significa 90% do mercado, e não 10%). O preço também ajuda, já que se trata de um dos mais baratos DAWs do mercado. Mas não se engane: o mais barato não quer dizer, de forma alguma, o pior.



São cinco as versões do Sonar:

- Sonar X1 Essential - É a versão mais simples. O número de canais é reduzido e não é possível trabalhar em surround. Além disso, não dispõe de diversas outras funcionalidades, como detecção de andamento.
- Sonar X1 Studio - É uma versão completa do software, que dispõe de todas as funções, mas com menos instrumentos e plug-ins.
- Sonar X1 Producer - É a versão mais completa e um pouco mais cara. Dispõe de todas as funções e vem com mais plug-ins e instrumentos do que as outras.
- Sonar X1 Producer Expanded - X1 Producer com algumas pequenas funções a mais.
- Sonar X1 Production Suite - X1 Poducer Expanded com mais alguns plug-ins e um sintetizador a mais.

O MAIS POPULAR DO MUNDO

Não é à toa que o Sonar é o mais popular do mundo. Trata-se de um software bastante estável e leve, que permite abrir diversos plug-ins e instrumentos sem travar. Além disso, não há limite para o número de canais criados (exceto na versão Essential). As versões mais caras (Producer, Producer Expanded e Production Suite) vêm equipadas com uma extensa biblioteca de plug-ins e instrumentos, capaz de satisfazer todas as necessidades de uma produção.

Há também algumas funções interessantes, como o Matrix View, que permite criar músicas baseadas em uma matriz de loops. Há um sequenciador de step (MIDI) que pode ser muito útil para a criação de sequências rítmicas. O V-Vocal permite fazer correções na afinação de um áudio e o AudioSnap altera a duração de um áudio sem afetar a afinação e sem aqueles resíduos indesejáveis (como o Warp, do Live, o Elastic Audio, do Pro Tools, e o Elastique, do Cubase). Também é possível importar um vídeo para a criação de uma trilha sonora (ou para a pós-produção do áudio), assim como importar e exportar arquivos de OMF.

Assim como o Cubase e o Logic, é possível rodar o Sonar nativamente em 64 bits, utilizar até 1 terabyte de RAM (em vez de somente 4 GB em 32 bits) e aumentar consideravelmente a capacidade de memória para plug-ins e instrumentos. Além disso, é o único software que dispõe de processamento de áudio em 64 bits com ponto flutuante, o que aumenta muito o headroom, além de melhorar a precisão no processamento. No entanto, há controvérsias sobre haver realmente uma diferença audível. Teoricamente, a precisão do processamento aumenta bastante, mas se isso surte uma melhora que pode ser percebida por nós, meros humanos, é outra história. Mas, pior, com certeza, não é.

SÓ PARA WINDOWS

"O mais popular" definitivamente não quer dizer "o melhor", mas, definitivamente, também não quer dizer "o pior". O Sonar é um software muito potente e bem equipado que rivaliza de igual para igual com qualquer outro DAW do mercado. Dependendo da aplicação, outros softwares dispõem de algumas funções e ferramentas que o Sonar não tem, como o Find Tempo (do Digital Performer) ou o Note Expression (do Cubase). Mas, na minha opinião, seu maior defeito é não rodar em Macs, apesar disso não incomodar a maioria das pessoas. Mas não dá pra negar que o Sonar é um dos grandes.

CONCLUSÃO

Se for para trabalhar com trilhas sonoras, o Digital Performer pode ser a melhor escolha. Para a produção de música eletrônica (ainda mais se você também pretende fazer performances), o Live pode ser a melhor escolha. Já para a produção e gravação musical em geral, o Cubase e o Sonar (além do Logic e do Pro Tools) são excelentes opções. A escolha de um DAW ideal para um home studio depende muito da aplicação. Afinal de contas, tudo na vida é relativo. É importante que você saiba as necessidades do seu estúdio e quais tarefas você pretende exercer, para, então, poder fazer a escolha certa.

E não se esqueça de que praticamente todos os softwares (menos o Digital Performer) vêm em versões diferentes - algumas com limitações, porém mais baratas, e outras mais caras e mais completas. Dependendo do uso, não é necessário ter o pacote mais caro, pois muitas vezes as funções oferecidas nem serão utilizadas (ainda mais por iniciantes). Evite comprar o mais caro só porque é melhor: fazendo assim, você pode economizar um dinheiro e investi-lo em outro item para o estúdio, como, por exemplo, um microfone.

Na próxima edição vamos finalizar esse assunto de softwares de áudio. E vamos fechar falando dos "barateiros", aqueles softwares que são praticamente de graça (e alguns são até de graça mesmo!) para quando o orçamento está baixo. Softwares como Traverso, Ardour e Reaper, que estão crescendo cada vez mais no mercado. E vamos descobrir que muitos desses ditos "baratos" são, na realidade, excelentes DAWs, capazes de brigar com os grandes. Nem sempre é preciso gastar muito para ganhar muito.

Mês que vem tem mais...
Até lá!

Lucas Ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do IaTec. e-mail:lucas@musitec.com.br
 
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