A vigésima edição da Broadcast & Cable - maior evento de multimídia da América Latina -, que ocorreu em São Paulo entre os dias 23 e 25 de agosto, registrou números que merecem destaque. Um deles diz respeito à quantidade de estandes, em número 40% superior ao verificado no ano passado. No total, foram 180 marcas expositoras vindas de diversas partes do mundo para um evento prestigiado por um público de quase 12 mil pessoas - quantidade 20% acima da expectativa inicial dos organizadores.
Além do tradicional Pavilhão Chinês, a feira, realizada no Centro de Exposições Imigrantes, contou pela primeira vez com um Pavilhão Inglês. No espaço, dedicado a 25 empresas britânicas, foram apresentadas tecnologias focadas na produção, captação e transmissão dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo.
Paralelamente à B&C, foi realizado, com grande sucesso, o SET Congresso 2011, palco de nada menos do que 220 palestras comandadas por engenheiros e profissionais de broadcasting.
CONSOLES E MICROFONES GANHAM DESTAQUE
Nos estandes foi possível encontrar equipamentos e materiais necessários para qualquer tipo de produção - do momento em que a câmera é ligada até quando o produto final chega ao espectador. Em meio a um labirinto de soluções inteligentes, softwares, consoles, câmeras, monitores e outros produtos ligados a imagem e transmissão, também foi possível conferir uma série de equipamentos de áudio profissional, entre clássicos e novidades.
Um dos destaques da Avid foi o console Icon D-Command, apresentado no evento por Emerson Jordão, gerente de contas da empresa para a América do Sul na divisão Pro Audio/Live Sound. "Esse produto é uma mesa de controle por meio da qual podemos comandar qualquer coisa dentro do Pro Tools. O sistema de mixagem e finalização que trouxemos para a feira consiste em um Pro Tools HD 9 sincronizado com o software de edição de vídeo Media Composer e a superfície de controle Icon D-Command", destacou o executivo, acrescentando que o sistema é atualmente usado tanto no cinema brasileiro quanto no mercado cinematográfico internacional.
Outra mesa que chamou a atenção foi a arrojada Vista 9, da Studer, exposta no estande da Libor. "Ela foi lançada no mercado internacional há poucos meses e traz um VU meter de barras e gráficos totalmente inovador. Com ela é possível ver o espectrograma da onda de cada canal em tempo real, além da figura do canal 5.1", afirmou José Luiz, especialista de produtos da empresa. "Além de toda a linha Vista permitir acesso rápido graças aos painéis sensíveis ao toque, seus faders podem ser coloridos em grupos por LEDs. Ou seja, podemos esquecer aquela coisa de ficar colando fitas coloridas", acrescentou ele, com bom humor.
O gerente de áudio e vídeo da Roland do Brasil, Alex Lameira, falou sobre os lançamentos da marca para a área de Broadcast, incluindo o do console M-480, que trabalha com o protocolo REAC. "O M-480 consegue transmitir a uma distância de até 100 metros por cabo de rede e de até dois quilômetros via fibra ótica. Aqui, por exemplo, estamos com dois consoles ligados em cascata, chegando a um total de 96 canais", revelou o gerente, que ainda teceu comentários sobre outro item presente no estande, o gravador R-1000.
"É um produto muito interessante, que permite gravações de 24 bits em até 48 pistas no formato BW, possui disco rígido removível e oferece integração com softwares de gravação. Com ele é possível reproduzir um show anteriormente registrado e fazer uma passagem de som virtual sem a presença dos músicos", completa.
Jon Lopes, especialista da Pride Music, mostrou o novo sistema de microfone Shure para aplicações em câmeras. "Temos um transmissor, o UR3, e o receptor UR5, que são totalmente compatíveis com o sistema UHF-R. O UR3 funciona com duas pilhas, tem alimentação phantom e oferece um setup variado de microfones, que podem ser escolhidos e conectados dependendo da produção. E para um acesso mais rápido, as características de ganho de cada microfone podem ser memorizadas", ressaltou Lopes.
Já no estande da Eurobrás, um dos produtos que despertou mais interesse entre os visitantes foi o microfone MKH 800 Twin, da Sennheiser. "Esse microfone é muito especial porque você decide seu padrão polar durante a mixagem. Você conecta o cabo e ele oferece duas saídas completamente independentes para as duas cápsulas cardióides", apontou Daniel Reis, especialista de produtos da companhia de origem alemã. "Se estou gravando uma sala de bateria com ele, posso deixar a cápsula frontal em 0 dB e a traseira em menos infinito. Caso o som não fique legal, posso mudar para figura 8, colocando a cápsula traseira também em zero e invertendo a fase. Isso aumenta muito as possibilidades criativas na mixagem", explicou Daniel.
O gerente de marketing da CV Audio, Ricardo Kawasaki, destacou os lançamentos em acessórios e equipamentos da marca para estúdios de rádio e televisão, como varas e pedestais de boom da metalúrgica alemã König & Meyer, que, segundo ele, foram alvo de bastante procura. "A König & Meyer está há mais de 60 anos no mercado e seus produtos seguem os melhores padrões europeus de qualidade", ressaltou o gerente, acrescentando que toda a linha de itens da K&M é fabricada na Alemanha.
AMADURECIMENTO DO MERCADO
Considerado um mercado em expansão, principalmente no setor de broadcast, o Brasil também possui um know-how em produção e transmissão de TV reconhecido mundialmente por seu profissionalismo e originalidade. No que diz respeito a estoques, tecnologia e capacitação técnica, as empresas brasileiras também demonstram estar bem preparadas. Como se não bastasse, eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 aquecem e aceleram ainda mais o mercado.
Diante de um cenário tão favorável, Alex Lameira, da Roland do Brasil, comemorou o retorno da empresa à feira após dois anos. "A Roland está sendo reconhecida mundialmente também na parte de broadcast devido às suas soluções integradas, inovadoras e de baixo custo. Para nós, é importante estarmos aqui mostrando todo o poder dos nossos produtos, que englobam as diferentes etapas da produção."
José Reveles Gonzalez, diretor de vendas da Avid latino-americana, comentou que, além das linhas HD e Icon para mixagem e finalização, a empresa, com o objetivo de alcançar também o mercado de broadcast, incluiu em sua família consoles Euphonix. "Os mercados de consoles de pós-produção e broadcast são nosso principal foco. Outra linha muito importante, e que obteve grande sucesso no Brasil, é a de mesas para sonorização ao vivo da Venue", destacou, satisfeito.
Segundo Ricardo Kawasaki, da CV Audio, já é possível notar um amadurecimento do mercado. "Essa maturidade é importante, sobretudo para a melhoria da imagem do Brasil no cenário de eventos internacionais. Estamos vendo um constante crescimento do mercado, mas não é apenas a Copa, as Olimpíadas ou a Fórmula Indy que trazem esse otimismo e esse grau de investimento. Nossa visão é a longo prazo. Vai além desses importantes eventos", afirmou o gerente.
Aldo Werner, subgerente de produtos da Yamaha, revelou que a empresa está vivendo um momento muito bom. "Existe uma demanda crescente agora, e, por isso, estamos oferecendo a nossa linha completa de produtos. As empresas da área de broadcasting estão procurando equipamentos voltados para a parte de transmissão de áudio, mídias de áudio e conversores como os da nossa linha AuviTran, que transmitem áudio a 20 km de distância por cabos ópticos, com redundância. Outro item que atende às necessidades desse mercado é o console M7CL ES, que se comunica com seu Stage Box via cabo de rede e pode utilizar o pacote de plug-ins Waves", afirmou Werner.
O vice-presidente da Solid State Logic na América Latina, George Horton, vem ao Brasil desde 1996, quando atuava como técnico e desenvolvia trabalhos em grandes estúdios. Segundo ele, conhecer o país apenas torna mais fácil perceber os evidentes sinais de aquecimento do mercado e de avanço econômico.
"Nos últimos dois anos, notei uma energia no Brasil, um sentimento de crescimento. Muitos eventos acontecendo, uma atitude positiva, boa economia... Enfim, é um país mudado. Tem sido uma revelação para mim", declarou o executivo, bastante entusiasmado. "Acho que é uma sorte nossa ter negócios aqui, poder participar da feira e fazer tantos contatos. Definitivamente estaremos na Broadcast & Cable no ano que vem", garantiu Horton, transformando em palavras um pensamento de diversos outros executivos presentes ao evento.
SET CONGRESSO 2011
OS CAMINHOS DO ÁUDIO NA VISÃO DE PROFISSIONAIS
Dividindo espaço com a feira, de 22 a 25 de agosto o SET Congresso 2011 discutiu e apresentou inovações tecnológicas que em breve serão parte do cotidiano dos profissionais presentes ao evento. Em 220 palestras, engenheiros e profissionais do setor de broadcasting promoveram uma verdadeira maratona de conhecimento, destrinchando temas como áudio multicanal, loudness e acústica, entre outros.
O painel sobre áudio multicanal discutiu todas as etapas da produção do som, desde a captação até a finalização, e contou com a presença de Luiz Fausto, da TV Globo; Clement Zular, da Áudio Portátil; Fernando Hidalgo da Harris; e de Rodrigo Meirelles, também da TV Globo e colaborador da Áudio Música & Tecnologia. Meirelles falou sobre as especificidades da produção surround para a TV digital aberta brasileira, com foco em mixagem e nos processos de finalização.
De acordo com ele, é necessário saber os reais impactos na produção, bem como as necessidades e aplicabilidades deste sistema. "É preciso derrubar alguns mitos. Os profissionais não precisam reaprender o áudio, mas sim aplicar os conceitos básicos e seus recursos com um novo tipo de concepção sonora", afirmou o responsável pela seção Plug-ins etc., da AM&T.
Também sobre o tema, os autores Rafael Cruz, Raquel Cymrot e José Roberto Soares, da Universidade Mackenzie, apresentaram o trabalho acadêmico A reprodução de áudio multicanal em ambientes domésticos. O grupo analisou o padrão multicanal com maior aceitação de mercado, 5.1, comparou com o estéreo e também ao padrão 10.2, proposto no projeto, por meio de testes subjetivos. Com as informações coletadas, foi possível verificar a eficácia e aplicações dos sistemas, além de observar novos horizontes e caminhos de pesquisa relacionados ao áudio doméstico.
Outro painel importante tratou de um tema delicado: o loudness. Alexandre Sano, do SBT; Jean Paul Moerman, da Stagetec; Sergio Santoro, da Rede Record; Almir Pollig, representante do Ministério das Comunicações; e Thomas Lund, da TC Electronic/Libor, levantaram questões sobre os padrões e soluções para o melhor aproveitamento da banda sonora. Segundo Thomas, o EBU R128 e o recém-atualizado padrão BS.1770-2 permitem melhoria no nível de comerciais e chamadas sem sacrificar o loudness range da transmissão de conteúdos como dramaturgia, cinema e música.
O painel Acústica e eletroacústica para estúdios de televisão na era da TV digital se aprofundou no tema e contou com as presenças do engenheiro Anderson Fernandes, de Renato Cipriano, diretor da WSDG Brasil, e de Luiz Fernando Cysne, consultor da Telem. A palestra de Anderson abordou os principais aspectos da acústica e eletroacústica de estúdios de TV, considerando os mais variados portes destes espaços, capazes de receber desde talk-shows intimistas a programas musicais com altos níveis de pressão sonora.
Cipriano abordou tópicos como geometria das salas e controle de baixas frequências em salas de pós-produção de rádio e televisão. Já Cysne fez um breve histórico da acústica e eletroacústica nos estúdios para, em seguida, tratar de temas como energia, aterramento, isolamento e condicionamento acústico, sistemas de reforço sonoro flexíveis e ferramentas de predição e auralização.