INTRODUÇÃO
As interfaces de áudio USB passaram a desempenhar o papel de verdadeiros estúdios embutidos em pequenas caixinhas. Uma boa interface, um laptop, um bom técnico e pronto: CD ou DVD de qualidade à vista. E não há como menosprezar as interfaces externas, já que as placas PCIs passaram a apresentar problemas de funcionamento nos computadores desktop devido à introdução dos slots PCI Express nas placas-mãe atuais. O processamento do slot PCI-Express é tão "violento" que chega a comprometer o fluxo de dados do barramento PCI comum, o qual, inclusive, está com os dias contados.
Então, para aqueles que utilizam interface PCI, a saída é limitar o potencial do PCI Express (no CMOS) de forma que a PCI possa desempenhar seu papel sem truncagens na gravação de áudio, ou, por outro lado, migrar definitivamente para as interfaces externas. Também, no caso do usuário ter somente um laptop, a única opção é a interface USB ou Firewire, sendo que esta segunda é segura no Mac, mas não em alguns PCs.
Escolher a interface externa ideal é uma empreitada complicada, já que diversos fatores devem ser levados em consideração: custo, flexibilidade, expansibilidade, qualidade dos conversores AD, número de entradas e saídas, tipo dos conectores, recursos do driver de áudio etc. Por experiência própria, posso assegurar que pesquisar e escolher a interface ideal pode demandar até um mês. Afinal, em se tratando de investimento no home studio, buscamos sempre o máximo de eficiência pelo custo mais "honesto" possível.
É aqui que entra a interface USB UA-1010 Octa-Capture, da Roland. O custo-benefício deste periférico é incomparável com os demais, pois o mesmo proporciona gravação em 24bit/192kHz, oito canais de entrada (com pré-amp) e oito de saída, dois canais digitais, phantom power por canal, mixer interno, saída para fone de ouvido e, principalmente, disponibiliza um dos melhores painéis de controle para computador que já vi nestes quase 30 anos de convivência com interfaces para produção musical.
RECURSOS DA OCTA-CAPTURE
Oito entradas analógicas com conectores combo XLR/TSR, sendo que todas possuem os mesmos pré-amps para microfone utilizados no V-Studio 700. As entradas TRS 1 e 2 permitem regulagem de impedância (Hi-Z ou Lo-Z).
Todas as entradas XLR possuem phantom power de 48V. O phantom pode ser ligado ou desligado em cada canal.
Oito saídas analógicas TRS, sendo as 1 e 2 principais (esquerda e direita). Estas saídas são balanceadas, mas aceitam também conexão desbalanceada.
Display de LCD que mostra todas as funções da interface.
Botão Input Mix para regular o nível de audição de cada entrada. Através deste botão é possível monitorar o volume direto do instrumento que está entrando na interface ou o som após todo o processamento. Este recurso é importantíssimo, pois praticamente elimina a necessidade de um mixer físico.
Botão Direct Mixer para controlar os quatro mixers independentes (de A a D). Estas quatro saídas podem ser, também, controladas via software (painel de controle), de forma a criar mixagens independentes para os músicos. Nos testes realizados, comprovei que os fones de ouvido podem, inclusive, ser conectados diretamente nas saídas, eliminando, assim, as caixas ou racks distribuidores de fone.
Botão de regulagem do volume da saída principal e do fone de ouvido (jack frontal).
Entrada e saída digitais coaxiais para conectar equipamentos digitais estéreo. Estes dois jacks RCA (9 e 10) funcionam também para acoplar outra Octa-Capture, duplicando, assim, o número de entradas e saídas do sistema de gravação.
MIDI In para conectar teclados ou superfícies de controle e MIDI Out para ligar módulos que respondam a mensagens de MIDI (teclados, baterias eletrônicas, iluminação etc.).
Função Auto-Sens (sensibilidade automática), que ajusta automaticamente os níveis de entrada em função dos sinais das fontes sonoras. Basta tocar o instrumento e o Auto-Sens ajusta o ganho. Ideal para gravar bateria ou uma pequena banda de forma instantânea.
Filtro Low Cut, inversão de fase e compressor digital em cada canal.
Efeitos DSP internos (reverber e echo).
Latência imperceptível proporcionada pelo driver VS Streaming Roland.
Gravação em 24bit com sample rate de até 192kHz. Nesta resolução máxima (adequada para produção de DVD), a interface passa a apresentar algumas limitações: disponibiliza só as entradas e saídas de 1 a 4, desabilita o reverber e o patchbay e impede o acoplamento de outra Octa-Capture, entre outras.
Driver ASIO 2.0 e WDM para PC 32 ou 64 bits (Windows 7, Vista, XP) e Core Audio para Mac (incluindo OS X 10.6).
Pode ser montada em rack com os suportes laterais já inclusos no pacote.
Software Cakewalk Production Plus incluso (Sonar LE e instrumentos virtuais). Infelizmente esta versão do Sonar não permite gravação em 192kHz.
Fonte de alimentação e cabo USB inclusos.
Permite gravar a performance de vários instrumentos simultaneamente, com mixagens em até quatro vias separadas.
OPERAÇÃO VIA PAINEL FRONTAL
Operar a interface através de seu painel frontal é extremamente fácil. O painel da Octa-Capture apresenta dois botões (com setas) para navegar pelos canais. Para regular o ganho de entrada de um canal utiliza-se o knob Sens. Para usar o Auto Sens, basta pressionar este mesmo knob. Se o ganho de entrada estiver clipando, as setas piscam para avisar.
O knob principal é o Cursor/Value, por intermédio do qual é possível acessar a regulagem de impedância, fase e low-cut (corte de baixas frequências). Após selecionar um destes itens, basta pressioná-lo novamente para tornar a nova opção ativa.
Para acionar o phantom power do canal selecionado, o usuário deve pressionar o botão 48V, enquanto que para ligar o compressor o botão Comp é que deve ser apertado. Para ajustar os parâmetros do compressor utiliza-se o knob Cursor/Value. Em outras interfaces, o botão phantom power é válido para os diversos canais, mas, por precaução, na Octa-Capture o botão deve ser pressionado para o canal desejado.
O botão Display mostra as 10 entradas simultaneamente. Pressionado-o por mais de um segundo, entra-se na página dos parâmetros LCD Contrast (contraste do display LCD), Sample Freq (taxa de amostragem - 44.1, 48, 96, 192kHz), Reverber de cada canal (Hall, Room, Echo etc.), Patchbay (roteamento das 10 saídas) e Power Off (tempo para desligamento automático da interface), entre outros.
O botão Mix Sel funciona conjugado ao knob Cursor/Value (rodando e pressionando) e serve para acessar os volumes, mutar, solar e regular o pan de cada canal. Já o knob Main Out regula o volume das saídas principais (1 e 2), enquanto o Direct Mix ajusta o balanço entre o som que está entrando e o processado pelo sistema. A melhor opção é monitorar o sinal após todo o processamento (interface, efeitos DSP e computador). Desta forma, é fácil perceber se ocorrerem falhas (truncagens) durante a gravação do instrumento. Nos testes realizados não houve um problema sequer, mesmo gravando em altas resoluções.
OPERAÇÃO VIA SOFTWARE
Para instalar os drivers é necessário que a interface não esteja ligada ao computador. Apenas por precaução é recomendável criar um ponto de restauração do sistema. Em seguida, basta rodar o CD Octa-Capture (Drivers, Samples and Songs) e escolher a versão correspondente ao sistema operacional do computador. A instalação requer apenas três minutos. Para criar um atalho do driver no PC, localize-o no Painel de Controle do sistema e copie um atalho para o desktop. No Mac, o atalho fica no Applications Folder. O driver pode ser lançado na tela também a partir do software de gravação (o hospedeiro do driver).
Para que não haja latência entre a fonte sonora e o que se ouve, é necessário acessar o Control Panel da Octa-Capture (Drivers > Driver Settings) e mudar o Audio Buffer Size para 5, que corresponde a 128 samples.
O Control Panel do driver mostra todos os recursos já descritos, com a vantagem de apresentar diversas opções simultaneamente. O Painel é dividido em duas seções: Mic Pre, com as regulagens de entrada, e Direct Mix, que trata das saídas. Infelizmente, as duas janelas não podem ser abertas simultaneamente. Portanto, para diminuir o volume geral é necessário mudar diretamente no knob da interface ou selecionar o Direct Mix do Control Panel e regular os faders do Output Mixer. Outro problema é a falta de VUs que mostrem os níveis de entrada e de saída no Control Panel (o que facilitaria o processo de alinhamento geral do equipamento de gravação). A monitoração visual é feita apenas através do Display da interface ou dos VUs do programa de gravação hospedeiro. Portanto, fica aqui registrada minha sugestão para que o time da Roland implemente VUs na próxima versão do Control Panel.
No Mic Pre, as oito entradas analógicas estão agregadas em pares, o que facilita a localização das opções pertinentes a cada uma. Os parâmetros do compressor (Gate, Attack, Release, Threshold, Ratio, Gain) são de fácil compreensão e ajuste. O botão de Link proporciona acoplagem dos canais em pares.
O Direct Mix (com seus quatro barramentos independentes) é muito lógico e simples de configurar. As opções de ajustes incluem níveis de entrada e de saída, panorâmicos, efeitos, solo e mute. Todas as configurações para as mais diversas finalidades podem ser salvas através do caminho Menu > Device > Save Settings. O diagrama de fluxo da Octa-Capture facilita a compreensão do caminho percorrido pelo sinal.
CONCLUSÃO
A Octa-Capture apresenta todos os requisitos necessários para obter sucesso na área das interfaces USB para home studios, estúdios de médio porte e estúdios portáteis. Proporciona uma sonoridade cristalina (graças aos excelentes conversores A-D e D-A e aos pré-amps da VS), possui um manual compacto, mas muito funcional, e não produz ruído exagerado ao ser ligada e desligada com os monitores de áudio funcionando.
A princípio, pode parecer incômodo operar os níveis através de um único knob (Cursor/Value) do painel frontal (outras interfaces disponibilizam knob de entrada e de saída para cada canal). Contudo, é exatamente esta redução que possibilitou a minimização do tamanho da Octa-Capture. Além disso, ao controlá-la através do software (Control Panel), ter um ou vários knobs físicos não fará nenhuma diferença.
Baseado na resposta geral e nos recursos disponíveis, a Octa-Capture é uma ótima opção para todos os interessados em implementar uma plataforma segura e eficaz para gravação em oito canais simultâneos e para pré-produções via MIDI. Aqueles que desejarem pesquisar mais sobre esta excelente interface podem acessar os diversos vídeos de demonstração que estão disponíveis no YouTube. Outras informações, inclusive sobre pontos de venda, podem ser obtidas no site da Roland (www.roland.com.br).
Luciano Alves é autor do livro Fazendo Música no Computador e fundador do CTMLA - Centro de Tecnologia Musical Luciano Alves, localizado no Rio de Janeiro. Na AM&T, escreve mensalmente a seção Sonar.