Conhecida mundialmente por fabricar consoles analógicos de grande porte, como os tradicionais modelos 4000 e 9000, a Solid State Logic, mais conhecida pela sigla SSL, lança agora um produto que traz boas novidades e deve surpreender a indústria do disco. Trata-se da Matrix, uma mesa analógica compacta, que pode ser utilizada como superfície de controle de diversas plataformas digitais de gravação, dentre elas, Pro Tools, Logic Audio e Nuendo.
Para falar um pouco sobre o equipamento, que em sua configuração original conta com 16 faders, 40 inputs e um patchbay interno, M&T conversou com os produtores musicais Alexandre Castilho e Rogério Vaz, os músicos e também produtores Torcuato Mariano e Daniel Musy e os engenheiros Fabrício Matos e Guilherme Tettamanti. Usuários frequentes da mesa, eles apontaram a sonoridade e a ergonomia como alguns de seus principais diferenciais.
Os profissionais destacaram ainda que o produto, mesmo não contando com pré-amplificadores de microfones - algo que muitos consideram essencial para a realização de uma gravação de qualidade -, tem se mostrado uma boa opção àqueles que desejam adquirir uma mesa de olho na relação custo-benefício. Com vocês, Matrix a nova mesa da SSL!
SONORIDADE É PRINCIPAL DIFERENCIAL

Sócios do Estúdio Madre Música, localizado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, Alexandre e Daniel compraram a Matrix em agosto deste ano. Para o primeiro, o som do equipamento é o aspecto que mais impressiona, "pois, além de sólido, tem um punch extremamente transparente, como aqueles 'impressos' em importantes gravações realizadas na história da música". Já o segundo destaca que, "dentre os projetos vencedores do último Grammy, 80% deles foram produzidos em consoles do gênero".
Proprietário do Studio 94, outra sala carioca situada na Barra, Guilherme Tettamanti "engorda" o coro encabeçado pela dupla e destaca a sonoridade da Matrix. Segundo ele, que trabalha com o equipamento desde maio deste ano, o resultado sonoro oferecido pela mesa é semelhante aos conquistados com as já citadas 4000 e 9000.
"As frequências respondem de uma forma diferente, principalmente os graves e agudos. Além disso, ela tem o pan mais 'aberto'", diz. "Na minha opinião, o [circuito] SuperAnalog é, sem dúvida, o seu grande segredo, pois nos permite tirar um som de verdade sem fazer bounce, passando os canais por dentro dela e gravando o L/R onde bem entendemos", completa.
"A Matrix reproduz com alta fidelidade o legítimo som de uma SSL clássica", Rogério Vaz
O engenheiro, que mixou o disco da cantora Georgeana Bonow utilizando a mesa, conta ainda que a dificuldade em ter um som quente, não plastificado, tornou-se uma constante desde que as mixagens passaram a ser feitas dentro das plataformas digitais de gravação. Porém, de acordo com o próprio Tettamanti, "a Matrix dá de ombros para este tipo de problema".
Rogério Vaz, que comprou sua Matrix em março deste ano, também faz elogios ao som da mesa. Segundo o produtor, "depois de usá-la em diversos projetos, como a gravação de uma faixa que estará no próximo disco do cantor Fábio Jr, a mixagem do primeiro CD da banda Welkome e a produção das trilhas-sonoras de Acampamento de Férias, Malhação, Araguaia e Tal Filho, Tal Pai, ficou claro que reproduz com alta fidelidade o legítimo som das clássicas SSL".

Já Fabrício Matos, com quem Rogério eventualmente trabalha, vai além ao dizer que as mesas fabricadas pela marca, em geral, são reconhecidas pelo aspecto sonoro grandioso. A Matrix, no entanto, ele chama de "interseção entre o som dos estúdios de médio e grande porte".
"Ela tem um headroom 'enorme' e um som claríssimo. Estou acostumado a usar o summing mixer Neve 8816, que é ótimo, mas posso dizer que este novo modelo da SSL, que tem, entre outras características interessantes, quatro mandadas de efeito e três subgrupos estéreo, além de uma construção bem robusta, está um passo além", conta.
Primeiro profissional a adquirir a Matrix no Brasil, Torcuato Mariano comprou a mesa para usar em seu home studio, o TM Station, também no Rio. Ele afirma que, mesmo diante da dificuldade pela qual a indústria fonográfica vem passando, é necessário acreditar em um padrão de qualidade de primeiro mundo.
"Resolvi ir na contramão da crise. Três das minhas últimas produções, dentre elas uma mixagem realizada ao lado de Moogie Canázio, no NRG, de Los Angeles, foram feitas em grandes consoles. Isso reafinou meu ouvido, que estava acostumado com a sonoridade do in the box. A Matrix trouxe para o meu estúdio o som dos grandes consoles, juntando o melhor dos dois mundos com a possibilidade do X-Patch de rotear e salvar todos os meus inserts. Com ela, agora, meus outboards se tornaram plug-ins", diz.
"Ela tem um headroom 'enorme' e um som claríssimo", Fabrício Matos
CONTROLE SIMULTÂNEO DE DAWS TAMBÉM É DESTAQUE

A possibilidade de controlar simultaneamente diversos softwares de gravação, edição e mixagem de áudio é também apontada por alguns dos entrevistados como outro grande ponto favorável da Matrix. Para Castilho, que em seu estúdio trabalha com três Pro Tools HD, a relação do programa com os faders motorizados da mesa é a melhor possível.
"Ela utiliza o formato ipMIDI, que se comunica com as DAWs (Digital Audio WorkStation) via cabo de rede, e, por trabalhar com os protocolos HUI e MCU, também acaba se comunicando com a maioria dos softwares disponíveis no mercado. A diferença é que, quando abrimos uma mix nela, o som já vem quente, do jeito que gostamos", afirma.
Assim como o produtor, Tettamanti é outro que utiliza o Pro Tools HD em seu estúdio. Porém, justamente por saber da necessidade de muitos técnicos em trabalhar com várias plataformas digitais de gravação ao mesmo tempo, ele aponta a Matrix como uma boa opção.
"Costumo trabalhar apenas com o sistema da Digi, mas sei que muita gente gosta de começar um trabalho em um programa e finalizá-lo em outro. Com a Matrix, você pode controlar até quatro plataformas de gravação sem ter de alterná-las, afinal de contas, todas elas funcionam ao mesmo tempo", explica Guilherme.
"Quando abrimos uma mix nela, o som já vem quente", Alexandre Castilho
Torcuato e Fabrício pensam como os demais. Para o músico, que acredita ter trabalhado com 90% dos controladores disponíveis no mercado, a mesa é uma das mais intuitivas e fáceis de operar. "Ela tem um user que permite ao técnico endereçar qualquer shortcut ou sequência deles para cada switch. Com isso, por exemplo, você consegue fazer sound replace em poucos segundos", diz ele, enquanto o engenheiro ressalta que "os V-pots do equipamento têm uma ótima sensibilidade".
BOA ERGONOMIA DÁ CONFORTO AOS USUÁRIOS

O fato de ser uma mesa compacta - característica que vai de encontro ao conceito das grandiosas fabricadas pela SSL - não faz da Matrix um equipamento menos confortável. Na opinião de Torcuato, "essa característica a torna mais simples do ponto de vista operacional, pois os técnicos, assim que se acostumam com suas funções, passam a usá-la com maior agilidade".
Daniel Musy endossa o comentário do amigo e diz que a ergonomia confortável da mesa facilita o acesso dos profissionais, permitindo que trabalhem nela durante longos períodos. "Aqueles que estão acostumados com o processo de mixar in the box e, basicamente, têm sua DAW como estúdio, não vão se sentir desconfortáveis. A mesa é bastante intuitiva", observa.
Seu companheiro de empreitada, Castilho, também partilha desta opinião. Segundo o próprio, "a diagramação da Matrix, a flexibilidade do signal flow e a versatilidade em ser tanto uma pequena SSL quanto um tremendo controlador de DAW, fazem dela uma opção 'única' no mercado".
"Aqueles que estão acostumados com o processo de mixar 'in the box' e, basicamente, têm sua DAW como estúdio, não vão se sentir desconfortáveis com a Matrix", Daniel Musy
SOFTWARE FACILITA A VIDA DE TÉCNICOS

Para Guilherme Tettamanti, o software de controle da Matrix é outro aspecto que merece destaque. Segundo o engenheiro, a facilidade de a mesa fazer o recall, que possibilita rapidez aos técnicos quando estes precisam abrir uma mixagem, se deve, em parte, ao software.
"O grande problema", diz, "é que os únicos outboards que escrevem o recall são os do X-Rack. Ou seja, é preciso voltar no tempo e usar papel e caneta para anotar parâmetros como equalizadores, reverbs e delays, entre outros. Por outro lado, colocar a mão na mix como se fazia na época da fita e usar a DAW somente para play, stop e edit é algo sensacional".
Fabrício Matos lembra que, na hora da gravação, é possível conectar 16 periféricos à Matrix. Segundo o engenheiro, "inserts são feitos rapidamente via software e essa operação é mais rápida do que conectar cabos em um patch. Além disso, os inserts da Matrix evitam o uso dos inserts de hardware do Pro Tools e, consequentemente, evita mais conversões DA-AD", afirma.
E por falar em conexões, Guilherme lembra que apesar de o patch da Matrix ser controlado via software, seu sinal é totalmente analógico. Para ele, "não ter de usar o patch cord e fazer isso com um simples toque no mouse, no mínimo, deixa a superfície de trabalho mais limpa".
"Colocar a mão na mix como se fazia na época da fita e usar a DAW somente para play, stop e edit é algo sensacional", Guilherme Tettamanti

Castilho completa seu raciocínio ao dizer que o fato de existir o patch interno, expansível por meio de X-Patchs, permite que o usuário tenha o estúdio totalmente integrado, com periféricos externos e plataformas de gravação sendo controlados pela Matrix.
De acordo com ele, "o patch funciona muito bem. E, apesar de não ser tão simples de configurá-lo, dependendo da quantidade de outboards que o usuário possui, é muito fácil acessá-lo. A relação de ruído do patch interno, bem como a dos X-Patchs, é incrível, e fazer o recall é algo muito prático e rápido".
O produtor, no entanto, acha que a mesa deveria ter mais canais. Na sua opinião, "se o patch interno fosse um pouco maior, com 24 ou até 32 canais de insert, seria melhor Mas a ideia do fabricante é ajustar a mesa ao novo conceito de estúdios de gravação, que, nos últimos anos, diminuíram de tamanho".
AUSÊNCIA DE PRÉS NÃO CHEGA A SER PROBLEMA
Os elogios à Matrix são muitos, como vimos ao longo da matéria, mas existe um ponto que se não chega a dividir opiniões, pelo menos mostra alguma divergência entre o que dizem nossos entrevistados. Castilho, por exemplo, acha que a Matrix não é a opção mais indicada para quem não dispõe de uma boa coleção de outboards.

De qualquer forma, o produtor lembra que a SSL desenvolveu os prés (X-Racks) de microfone, equalizadores e compressores, facilitando bastante a integração com o console e adicionando inputs à mesa.
"No Madre Música tenho diversos prés, como os analógicos Neve 1073, Universal Audio 610, API 312 e 512, além dos compressores API 525, Urei LA4 e dbx 160. Mesmo assim, fiz questão de investir nos X-Racks. Ao adquirir oito unidades deles, hoje posso aumentar nossos lines e, naturalmente, mixar os trabalhos usando até 40 canais", afirma.
A exemplo de Castilho, Guilherme também tem em seu estúdio uma série de pré-amplificadores externos, como os Neve 1064, os API 512 e os SSL 4000. Por isso, o engenheiro desconhece a limitação apresentada pela mesa, que, segundo o próprio, se comunica muito bem com os outboards por meio do Matrix Remote e dos seus inserts.
Torcuato é outro que não enfrenta dificuldades por conta da ausência dos prés da mesa. O produtor, que revela fazer suas gravações de dois em dois canais, costuma trabalhar apenas com quatro prés externos, sendo dois Neve 1073 e dois SSL 9000.
"Se, por acaso, alguém precisar de mais prés, é possível comprá-los separadamente", Torcuato Mariano
"Eu não preciso de quantidade, mas, se, por acaso, alguém precisar de mais prés, é possível comprá-los separadamente. Para mim, isso é até uma vantagem, pois, se tivesse 24 canais de pré, eu estaria pagando por algo que, de fato, utilizo em momentos pontuais da produção. Afinal de contas, quando tenho que gravar base, acabo utilizando outro estúdio", encerra.
Matrix SSL - recursos principais
16 canais Line mono com duas entradas separadas por módulo de fader
Insert para até 16 dispositivos externos de processamento
1 mandada Aux estéreo e 4 mandadas mono por canal
'Input to Cue Stereo' dobra a quantidade de canais de mixagem
Monitoração direta do software de gravação com o modo de fone 'SuperCue'
2 buses estéreo com inserts e re-endereçamento
4 retornos estéreo com roteamento total de bus
Entrada/saída digital estéreo (S/PDIF, AES/EBU) conversão com tecnologia SSL
Monitoração em estéreo com saídas independentes para monitor Main e Mini
3 entradas de monitor externo com soma
Conector iJack no painel superior
Saída de monitor para músico com EQ independente e seletor de sinal
de monitor
16 faders motorizados com múltiplas camadas para controle de software de gravação
Modo genérico de controle MIDI
Fader motorizado adicional (Focus) para controle simultâneo do software de gravação/console
Teclas de funções programáveis
Controle da automação do software de gravação
Conectividade MIDI via Ethernet e interface PC/MAC
Fonte de alimentação externa