
No dia 19 de agosto aconteceu, no aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, a etapa carioca da 5ª edição do Bourbon Street Fest. O evento, que tradicionalmente acontece em São Paulo, neste ano também movimentou a Cidade Maravilhosa, contando com a presença de gênios da música soul e black de Nova Orleans: Erica Falls, Wild Magnolias e The Dixie Square Jazz Band.
As pessoas que passeavam no aterro no dia ouviam de longe o CD da cantora Joss Stone, que serviu para alinhamento do PA. Outras estavam na exposição sobre tropicalismo no MAM e queriam saber o porquê da movimentação do lado de fora. Aos poucos, todas foram chegando e se aconchegando à sombra das árvores do parque, à espera do início do espetáculo.
O PA do evento foi comandado pelo técnico de som Festa, que assegurou a qualidade do áudio mesmo com o imenso paredão de concreto e vidro do MAM. O técnico disse que a diretividade do line array da D&B Audiotechnik era suficiente para que as reflexões não atrapalhassem - quem forneceu o sistema de som para o show foi a empresa paulista Transasom, responsável pelo sistema de áudio do interior do Vivo Rio (casa de shows anexa ao MAM). O monitor ficou a cargo de Jorginho Carvalho, que trabalhou para dar conforto a todos os músicos, mesmo com tantas diferenças nas formações das bandas.
A bateria foi microfonada com: um Shure Beta 52 no bumbo, dois Shure Beta 57 na caixa e na esteira, três Shure SM 81 no hi-hat e overheads e dois Sennheiser MD 421 nos tons. Nos instrumentos de base e melódicos: o baixo, os teclados e o banjo foram captados por DIs ativos Countryman, enquanto as guitarras levaram dois Sennheiser MD 409. Nos metais usaram-se: no trompete e no trombone dois Sennheiser MD 421, no saxofone um SM 98 e na tuba um Electro-Voice RE 20. Nos vocais, foram utilizados os Shure modelo SM 58 e U4S (wireless).
O sistema de PA escolhido foi o mesmo da sonorização do Vivo Rio, composto por sete caixas Q1, duas caixas Q7 e três caixas Qsub por lado, todas da D&B. Ainda foram adicionadas 16 caixas EAW SB850 no chão para que os graves ficassem mais encorpados e presentes. Segundo Festa, o PA é um dos melhores que já teve a oportunidade de operar. Ele disse que as caixas são tão lineares que nem foi preciso equalizar. O único ajuste que fez foi em relação à fase das caixas de subgraves.
YAMAHA NO PA E NO MONITOR
A mesa utilizada, tanto no PA quanto no monitor, foi a Yamaha PM5D, devido à sua versatilidade, o que fez com que poucos periféricos tenham sido necessários. No PA, foram apenas dois Avalon 737-sp e um processador Lexicon 480L. E no monitor havia 12 equalizadores Klark-Teknik DN360 que não chegaram a ser usados. As caixas escolhidas para a monitoração foram as EAW 222, amplificadas por Crest 7001. E para side fill, foram duas EAW SB850 e duas Electro-Voice Delta Max.
Outro equipamento utilizado no PA foi o Yamaha ADARH. Na verdade, foram usados dois deles, que converteram 16 canais da mesa em PM5DRH, mandando o sinal de volta para o mixer através de cabos óticos. Festa afirmou que a pré-amplificação do módulo é excelente. Muito melhor que a original da PM5D.
Com cinco minutos de atraso, durante o line check, os empolgados músicos da primeira banda, The Dixie Square Jazz Band, resolveram não esperar mais. Desceram até a platéia e começaram a tocar sem PA mesmo. Passados uns 15 minutos, eles subiram de volta para o palco e continuaram o show, tocando o standard Cantaloupe Island, de Herbie Hancock, que levou o público à loucura.
Com apenas banjo, trombone, trompete, tuba e percussão, a banda conseguiu tirar as pessoas de baixo das árvores, num calor de 32°C, e fez todo mundo dançar, se aquecendo para a segunda atração, o Wild Magnolias, que agregando ótima música com performances carnavalescas, mostrou-se como a apresentação mais diferente do dia, surpreendendo os mais céticos. O conjunto agitou a platéia com toda a sua vibração e cativou a todos, distribuindo colares de contas (tradição das festividades de New Orleans) para público, técnicos, produtores e funcionários.
O último show do dia foi o da cantora Erica Falls, que com muito feeling, suíngue e criatividade, mostrou interpretações incríveis de hits de Michael Jackson, Maroon 5, Marvin Gaye e Lauryn Hill. Com um repertório essencialmente pop, e grooves bem estruturados, criou uma atmosfera muito positiva com o público, que dançou sem parar do início ao fim de sua apresentação.
SEM CABOS
Outro ponto interessante do evento foi a falta de cabos. Os canais simplesmente entravam no mixer e saiam prontos. Praticamente todos os processamentos foram digitais e internos, o que evitou perdas de sinal com cabos e conexões. Até mesmo no PA, que normalmente é um ninho de rato de cabos e equipamentos para todos os lados, o sinal foi mandado diretamente para os amplificadores e para as caixas.
Segundo Eduardo Lemos Júnior, diretor da Transasom, o sistema da D&B realiza todo o processamento internamente. Toda a parte de amplificação, equalização, filtros, delay e proteção (limiter) é feita dentro do hardware, que só pode ser usado com as respectivas caixas e vice-versa. Esse fato é revertido em maior qualidade do som que sai das caixas, melhor relação caixa-amplificador e em uma maior durabilidade do equipamento.
Ele ainda acrescentou algumas outras funções do sistema. Uma é que o hardware cria automaticamente um histórico de utilização, que permite a visualização de, por exemplo, o número de vezes em que houve sobrecarga, ou quantas vezes ele ficou em stand-by. Além disso, tem um gerador de ruídos próprio e que pode ser operado remotamente via rede ou Midi.
Ao ser parabenizado por Paulo Amorim Tedesco, dono do Vivo Rio, como tendo realizado o melhor som de PA ao vivo que já havia escutado, Eduardo transferiu as honrarias ao sistema de line array. Disse ainda que estava usando apenas metade da potência disponível. Mesmo assim, a cobertura das caixas foi tanta que do palco para frente não tinha um só lugar em que desse para falar ao telefone.
Ao mesmo tempo, o dono do Bourbon Street, Edgard Radesca, avaliou o evento como tendo obtido "saldo mais que positivo", havendo a intenção de dar continuidade ao projeto. Disse ainda que no ano que vem poderá haver mais bandas e mais dias de festival. E que não julgava importante o número de pessoas na platéia, mas sim o astral delas, que tinha sido excepcional.
A produtora do Vivo Rio, Maria Gil, também aprovou a realização do festival e afirmou que, como o evento foi marcado de última hora, não havia dado tempo para uma divulgação eficiente. Surpresa com a presença do público - aproximadamente quatro mil pessoas - e com a aceitação do espaço, nunca antes utilizado (varanda e parte externa do MAM), disse que a casa fará mais shows como esse.