
Desde o início do ano, a M&T vem procurando contemplar o som de cinema em algumas matérias. Começamos, como é de se imaginar, pela captação do som direto, e prosseguimos pela edição de som. Agora chegamos à terceira etapa do processo, a mixagem. É neste momento que não apenas o som fica pronto, mas o próprio filme ganha os contornos definitivos e já pode ser finalizado. Tudo o que foi pensado nas demais fases ganha corpo aqui, sendo, portanto, uma tarefa cheia de pressão. Para fazê-la é preciso muito conhecimento técnico e artístico e, acima de tudo, ter muita calma.
Para compreender o que um mixador de cinema faz, como é a profissão, a formação, o mercado e as suas técnicas, conversamos com alguns dos nomes mais importantes da área no Brasil: do Estúdio Mega, do Rio de Janeiro, Rodrigo Noronha; da Rob Digital, também do Rio, Roberto Carvalho; José Luiz Sasso, do seu Estúdio JLS, em São Paulo; o também paulista Armando Torres Jr.; e o carioca Roberto Melo Leite.
A ARTE DE MIXAR PARA CINEMA
Durante a fase de edição de som de um filme, o editor escolhe os sons e sincroniza-os com a imagem, colocando cada um no momento e com o efeito que considere adequado, que contribua para contar a história. "O editor de som vai procurar os melhores takes da gravação de som direto e editá-los, gravar e escolher os efeitos sonoros, entre outras tarefas. Ele tem todo o briefing com o diretor e com o montador do filme. Já a mixagem é a etapa em que o som do filme ganha uma forma ou um estilo ou um conceito, diz Armando Torres Jr. O carioca Rodrigo Noronha complementa: "É como se ele [o editor] preparasse os ingredientes que serão utilizados na mixagem".
Todo esse material sonoro, que engloba os diálogos, os efeitos, os ambientes e os ruídos de sala/foley são enviados para o mixador com a tarefa não somente de unificar mas harmonizar os sons de forma a dialogarem entre si e com o filme como um todo. "O mixador é responsável pela harmonização de todos os elementos de som do filme, obedecendo a um critério estético determinado pelo diretor", define Roberto Carvalho.
O trabalho, portanto, une o lado técnico e o artístico do profissional. "Alguém, para ser um mixador, não pode ser só um técnico, deve somar a técnica com a arte. Precisa entender muito de equalização, de compressão, de redutor de ruído, etc. Muita coisa da criação sonora é definida na edição do som; no entanto, o mixador também auxilia na criação. Dessa forma, ele reúne o trabalho do técnico de som direto, do editor de som e do músico, para então criar o som do filme ", diz Armando.

O mixador recebe o material do editor de som através de HD externo, DVD ou CD, com sessões de Pro Tools separadas por grupos: diálogos + efeitos + ambientes + ruídos de sala + música. A partir daí são realizadas pré-mixagens para cada grupo. Depois da pré-mixagem de diálogos pronta, esta serve de referência para as demais pré-mixagens. Em seguida vem a mixagem final, na qual participa não apenas o mixador, mas o diretor do filme, o montador, o editor de som e o músico compositor da trilha sonora e, claro, o sound designer, quando houver.
Para os entrevistados, essa colaboração é essencial. "Às vezes o montador lembra de algum detalhe que você não percebeu durante cinco semanas de mixagem", diz Armando. Para Roberto Carvalho, "o mixador precisa do editor de som para entender os conceitos que foram usados no trabalho", já que, como disse Roberto Melo Leite, "coube a ele escolher os sons, então é importante que ele esteja junto para discutir a função de cada som em cada cena".
Com tanta gente em uma sala de mixagem para pensar sobre uma mesmo material, opiniões divergentes são fáceis de surgir. Como o comando da mesa de som e do software está nas mãos do mixador, cabe a ele intermediar as relações e conseguir atender a todos, o que demanda muita paciência. "Tem que ter um controle emocional muito grande. Normalmente, quando você está mixando, o filme está na reta final, faltando pouco para ser lançado, ser exibido para um número grande de pessoas, e aí os nervos estão à flor da pele. Tem que tentar agradar todo mundo, e pensar também no filme", diz Armando.
UMA TAREFA EM ETAPAS
Para José Luiz Sasso, a mixagem de cinema "não é uma coisa que você faz de uma única vez, como acontece com a mixagem de música. A primeira grande etapa é a pré-mixagem dos diálogos. A gente recebe diálogo que é normalmente de som direto, captado no set de filmagem, e tem as variações de cada dia desse som direto, afinal cada cena é grava em um dia e em diferentes locações, e tem as dublagens. Então tem todo um trabalho que é uniformizar tudo o que envolve voz, para que todo o material fique com as mesmas características. Essa é a etapa mais importante de todas."
O mixador recebe cerca de 100 pistas de som, número que pode chegar a 300, segundo a complexidade do filme. Sasso diz que "uma pré de diálogos começa com 16 a 32 pistas, a de ambientes chega com algo entre 32, às vezes até 42 canais. Quanto aos ruídos, depende bastante do filme; o normal fica entre 50 e 60 pistas. Mas se é um filme de ação, um filme de guerra, ou um Star Wars, você chega a ter de 200 a 300 pistas, enquanto um filme normal, de diálogos, normalmente não ultrapassa 40. De foley são de 16 a 32 pistas antes da pré".
Com a pré-mixagem de cada sessão, as pistas são bastante condensadas para a mix final. "Os diálogos são reduzidos a seis ou oito canais, os ambientes a 5 ou 10, são sempre múltiplos, porque a gente sempre tenta intercalar para não ficar muito amarrado. Os ruídos ficam nos seis canais do 5.1 e em mais três pares de L-C-R para fazer complementações. Quando tem muito ruído acontecendo ao mesmo tempo, a gente prefere subdividir para que, se o diretor quiser mudar uma coisa, a gente não fique amarrado na frente. O foley é um L-C-R com mais dois ou três centros extras. A música normalmente já vem mixada para 5.1 duas vezes, em dois canais. A gente vai para a mixagem final normalmente com uns 40 canais", diz Sasso.
A trilha sonora costuma ser enviada no final do período da mixagem, e nem sempre já mixada. Para Armando, é preferível ele mesmo fazer a mix. "Nos últimos trabalhos, eu recebi a música em grupos separados de stems, que é um grupo de orquestra, um grupo de baixo, e um grupo de percussão. Pra mim isso é muito bom para o som do filme, porque quando você começa a somar ruído de gente andando, ruídos de carro, de gente falando, você consegue controlar mais a música embaixo desses ruídos. Se você bota uma música já mixada embaixo do filme, de repente vão sumir alguns elementos da música que se você tivesse separado conseguiria ganhar."
Rodrigo Noronha lembra que "no áudio para cinema não há masterização, como no fonograma. A mixagem é codificada, processo chamado de print master, pelo próprio mixador". Portanto, após a mix o material é enviado de volta ao montador, ou à casa de finalização, para unir imagem e som e enviar para a mídia a que se destinar o filme, seja uma fita BetaCam ou um DVD ou fazer um transfer para película, para exibição nos cinemas.
AS POSSIBILIDADES DA MIXAGEM
A mixagem de um filme leva em média quatro semanas, mas há filmes que demandam mais tempo, por contarem com mais efeitos, como Tropa de Elite, mixado por Armando. Segundo ele, foram necessárias seis semanas de trabalho. "No Tropa existem muitas cenas de ação, muitas cenas de tiroteio, e isso requer mais tempo, porque é um número elevado de canais. Eu tenho uma parte do filme com 170 pistas de mix final, com diálogos, música, efeitos, foley, tudo", diz.
O orçamento também é um importante fator na questão da duração de uma mixagem. "O ideal seria entrar no estúdio sem limitação de tempo, mas isso quase nunca acontece", diz Melo Leite. Ainda segundo ele, a qualidade do material sonoro também faz diferença. "Se for de qualidade, o trabalho é mais rápido. Mas se for preciso consertar, para equalizar, limpar, filtrar etc., o tempo de trabalho acaba sendo estendido."
A duração também vai variar de acordo com o que se deseja da mixagem, afinal são muitas as possibilidades. Elas são tanto opções criativas quanto ao meio a que o produto se destina. Por exemplo, um filme para cinema será tratado de uma forma bem diferente daquele produzido para exibição direta na televisão e home video. E a mix de um filme de ficção será distinta daquela para um documentário.
Sasso diz que "existe uma coisa que se chama a estética do áudio em relação à tela, a estética da própria sonoridade do filme em relação ao que o filme pede. Se você tem um filme documentário, em que você está entrevistando pessoas, ele necessariamente não é 5.1. Você pode ter um belíssimo filme com som digital, em que as entrevistas estão todas lá na frente, no canal central, e alguns ambientes e ruídos que complementam isso em L e R. Quem sabe, não tem nem música indo pro surround. Tem documentários no Brasil em que o som é Dolby Digital mono. Porque é entrevista, e você não tem entrevista no surround".
Para ele, saber a proporcionalidade da tela também é importante. Os formatos utilizados são o 1,33, "quadrado", de televisão; o 1,66; o 1,85, considerado semi-panorâmico; e a tela panorâmica (cinemascope) que é 2,39. Segundo Sasso, hoje no Brasil utiliza-se o 16:9, que está próximo do 1,77, e o 1,85.
Ele diz que "nesses filmes, a estética da imagem permite que você faça uma mixagem com uma estereofonia mais aberta. Porque fica muito feio fazer uma mixagem estereofônica, 5.1, bem aberta, e ter uma tela de 1,66. A distância de onde está a imagem na tela é muito longe de onde está a caixa de som, então você vai ter uma abertura de som maior do que a própria tela tem como imagem, e isso fica feio".
A mixagem também varia segundo o estilo do mixador. Para Armando, cada profissional tem uma maneira própria de fazer o trabalho. "Existe diferença entre entre mixadores, e de conceitos de edição de som, cada editor tem o seu conceito, que serve para determinados filmes."
Mas ele ressalta que isso não significa que os trabalhos de uma mixador são sempre iguais. "Para cada filme eu tento inventar uma coisa diferente, para mudar a característica um pouco, senão fica muito isso foi o Armando que mixou. Eu acho que tem que mudar, experimentar outras coisas, para o bem do nosso cinema. O trabalho já é cansativo, já é estressante, e se você ficar sempre fazendo a mesma coisa... Então eu procuro diversificar, senão fica chato o trabalho".
Além disso, o mixador não deve dar ao filme uma característica muito marcante, afinal o objetivo do som não é chamar a atenção. "O som bom é aquele que o espectador não percebe que foi muito manipulado. O cara tem que sentar e ter aquela sensação do filme a que ele está assistindo, não importa quem foi que fez", opina Armando. "Isso não quer dizer que o som tenha menos importância ou que só é importante quando ele domina a seqüência. Muitas vezes um som subliminar faz toda a diferença", diz Noronha.
PREDOMÍNIO DO PRO TOOLS
Assim como se dá entre os editores de som, o Pro Tools é unânime entre os mixadores entrevistados, seja com operação pelo próprio software ou por uma mesa controladora. "Eu trabalho sempre com Pro Tools e uso uma mesa de controle, a Control 24 ou a D-Control. E lá fora está meio assim também. Operacionalmente é um pouco diferente, mas para o som do filme, não. Tem recursos na console que realmente não tem no Pro Tools, mas também tem coisas no software e que não tem na console. Então é uma coisa meio equilibrada, vai muito da prática de operação mesmo", diz Armando.
Há também quem una o digital com o analógico, como José Sasso, no seu estúdio JLS - Facilidades Sonoras. "Aqui nós trabalhos de duas formas. O estúdio 2 é totalmente Pro Tools, com a mesa Control 24. O estúdio 1 é híbrido, com um Pro Tools reproduzindo as pistas, e uma console analógica Cinemix 5.1, da D&R. Tudo que sai do Pro Tools entra nessa mesa, e dela gravo em uma workstation americana chamada WaveFrame. Eu prefiro assim, já que a minha maneira de raciocinar ainda está voltada para uma coisa um pouco mais antiga."
Rodrigo Noronha também trabalha misturando plataformas, valendo-se de Pro Tools rodado em Mac tanto para mixar algumas pistas quanto para alimentar uma mesa System 5, da Euphonix. Além disso, ele utiliza dois gravadores MX24242, da Tascam, e alguns periféricos.
Periféricos analógicos também são utilizados por Armando. "Apesar de ter bastantes plug-ins, eu ainda uso algumas coisas em análogo. Tem uns compressores da Neve que para fazer efeitos para subwoofers não tem pra ninguém. Para fazer efeitos em baixa freqüência o análogo ainda é muito bom. Mas de resto é tudo plug-in de Pro Tools, e para cada sessão eu utilizo um set de plug-ins diferente. Eu não uso os mesmos plug-ins para tratar diálogo e para tratar efeitos, são elementos sonoros muito diferentes", explica.
FORMAÇÃO TEÓRICA E PRÁTICA
O começo na carreira de mixador de cinema não tem uma regra. Há aqueles que já trabalhavam em cinema, mas em outras funções, e aqueles que atuavam em estúdio, mas na indústria fonográfica. Mas em comum está o interesse pela união de imagem e som."Comecei na carreira trabalhando com música. Cheguei ao cinema por ter me interessado muito pela associação de sons e imagens, algo que, logicamente, não existe quando se mixa apenas música", diz Roberto Melo Leite.
Outro que teve a música como início de tudo foi Rodrigo Noronha. "Comecei com música, fui assistente do Márcio Gama, do Marcus Adriano e do Ronaldo Lima, nos Estúdios Mega, em discos como do Lulu Santos e Marina Lima. Também trabalhei com o Luiz Paulo Serafim e com Greg Ladani. Eu estava começando a achar o meu caminho fazendo umas sessões como engenheiro quando recebi o convite para começar a pós-produção no Mega. Aceitei por sempre ter gostado de cinema, até mesmo quase cursei faculdade de cinema quando tinha 20 anos."
Os demais vieram de outras áreas do cinema. Por já estarem no ramo, a entrada para a mixagem foi aos poucos, com a prática. "Eu era editor de imagem de uma empresa, lá me convidaram para trabalhar em uma pós-produtora de imagem e som chamada NewVision, trabalhei na parte de sonorização e mixagem estéreo para comercial. Daí fui para a HBO trabalhar na mixagem de promos e chamadas e ao mesmo tempo comecei a editar e mixar curta-metragem em mono para cinema e depois fui para os Estúdios Mega SP cuidar do setor de sonorização. Comecei a fazer mixagem de filme, documentários, e continuei. Mas quando eu assisti O Beijo da Mulher Aranha e Apocalipse Now eu decidi que queria trabalhar com som de cinema mesmo", conta Armando.
Ele teve uma formação prática, assim como José Sasso. "Eu não concluí nenhum curso superior, nem tempo havia. Em cinema eu sou totalmente autodidata, porque inclusive quando comecei nem escola para isso havia. O que eu fiz foi um curso de eletrônica no Instituto Edson (SP) e sempre fui um pesquisador, sempre li e estudei muito".
Além da leitura, alguns recorreram a cursos para complementar a formação prática, principalmente depois da migração para o sistema digital. "Comecei a atuar na área como assistente de som há mais de trinta anos, época em que não havia cursos sobre o assunto. Depois disso fui me especializando, na prática, através de leitura e de cursos e estágios, como o do National Film Board do Canadá. Com a chegada do som digital, houve a necessidade de uma reciclagem em termos de equipamentos e tecnologia", diz Roberto Melo Leite.
Já Noronha começou com uma formação teórica, sendo formado em engenharia de áudio pelo instituto Full Sail, nos EUA. "Não cheguei a estudar faculdade de cinema, mas leio sobre o assunto, inclusive a parte técnica, e vejo muitos filmes."
Para Armando, ir ao cinema é essencial. "Eu tento ir pelo menos uma vez por semana ao cinema, tanto para ver coisas minhas quanto para assistir a filmes dos colegas, ou de fora. Com isso você vai tendo idéias, vai tendo uma referência do que se pode fazer. Você pensa 'pô, isso que estou ouvindo aqui eu posso tentar no filme que eu vou mixar'. E aí vai criando a sua personalidade. Eu acho que isso é bacana na mixagem", conta.
MERCADO AINDA OSCILANTE
Desde 1995, considerado o ano da retomada, o cinema brasileiro vem produzindo um bom número de filmes. Mesmo assim, ainda é uma produção sazonal, já que é dependente de recursos públicos. "Ter trabalho ou não ainda depende de leis de incentivo fiscal e cultural", diz Noronha. "Com a chegada do digital, que facilitou a produção audiovisual, a quantidade e qualidade de trabalho tem aumentado, mas a atividade continua sujeita a oscilações", diz Melo Leite.
Os orçamentos do cinema nacional são baixos, o que se reflete no momento da mixagem, como diz Armando. "Às vezes o valor que a pessoa diz que tem pra lhe pagar é incompatível com o seu orçamento para viver mesmo. As produções deveriam pensar mais no som do filme, porque o som é tão importante quanto a imagem, não adianta ver um filme com imagem bonita e o som estar ruim. Às vezes eu fico um pouco chateado, porque não vejo tanta importância assim, tanto financeiro quanto de investir mesmo, de tentar fazer uma coisa diferente".
Para Roberto Carvalho, "os preços dos estúdios no Brasil estão defasados da média internacional, mas esta é a realidade dos nossos custos de produção, tanto no cinema quanto na música". Mesmo assim, "atualmente tem aumentado a quantidade de pessoas trabalhando nessa área, assim como tem aumentado o número de estúdios", diz Melo Leite.
O baixo orçamento para o som pode ser verificado nos subprodutos dos filmes, como os DVDs e versões para televisão. Afinal, para cada mídia há uma mixagem específica. "Nos EUA e em algumas produções européias, quando se termina de mixar um filme vai ter uma outra pessoa preocupada em gerar um produto que soe bem em 5.1 em DVD, idem na versão 2.0, uma mix estéreo para televisão, e até uma mono. Eu, quando entrego uma mixagem, faço uma revisão do 5.1 e já prevejo uma 2.0 para que a pessoa que for assistir na TV não tenha problemas. Eu descobri que tem filmes que nem isso eles usam, o próprio aparelho de DVD faz um downmix do 5.1 eletronicamente, e aí é qualquer coisa.", diz Sasso.
Para ele, "o certo seria, a partir da minha mixagem 5.1, eu ou outra pessoa gerar uma mixagem ou remasterizar essa mixagem visando especificamente o DVD em 5.1. Mas aí vai ter outro custo. Como também já rever e reestudar uma mixagem em 2.0, para que quem for assistir àquele filme em 5.1 em uma televisão que só tem som estéreo tradicional não tenha uma somatória de sons que vá prejudicar a intelegibilidade do filme, que é o que normalmente tem acontecido. Tem filme que eu mixei a que às vezes assisto na TV e tenho que mudar de canal. Fico irritadíssimo, porque o que chegou lá não é o que eu fiz".
Justamente para evitar esses problemas, Armando diz que já procura incluir no seu orçamento a mixagem para os subprodutos. "Há um tempo eu assistia a meus trabalhos em outras mídias, como em TV, e não ficava satisfeito, e a partir do inicio do ano passado eu comecei a fazer a mix dos subprodutos. Eu faço uma master específica para DVD e uma master estéreo para TV a partir da mixagem já feita pro filme, para que não se perca muito daquilo que foi para o cinema".
QUEM É QUEM
Armando Torres Jr.: Ele começou por acaso no processo de sonorização e mixagem para comerciais em uma pós-produtora como estagiário. De lá trabalhou no canal HBO e depois nos Estúdio Mega, quando começou a fazer mixagem de cinema para valer. Atualmente trabalha como freelancer. Na sua filmografia produções importantes, como Cidade dos Homems¸ Antônia e Tropa de Elite. Ganhou o Prêmio ABC de Melhor Som 2007 com A Concepção.
Roberto Carvalho: Proprietário da Rob Digital, no Rio de Janeiro, ele começou no cinema em outras funções, como assistente de direção e produção. Foi quando morava em Londres que começou a trabalhar em estúdio e a se dedicar à mixagem. Trabalhou em mais de 90 longa-metragens, como O Quatrilho, além de curtas, comerciais e discos, como Pixinguinha, de Paulo Moura.
Rodrigo Noronha: Graduado em Engenharia de Aúdio pelo Full Sail, nos EUA, ele é um dos mais recentes na carreira. Mesmo assim, Rodrigo já soma um grande número de filmes no seu currículo, como Casa de Areia, Cazuza, Vinícius de Moraes e Zuzu Angel. Começou na profissão com a música, como assistente de mixagem nos Estúdios Mega, no Rio de Janeiro. Foi com um convite da empresa que ele começou a trabalhar com o audiovisual, e não parou mais. Atualmente é mixador fixo do Mega.
Roberto Melo Leite: Com mais de 40 anos de profissão, ele também começou com a música, e com o tempo foi se especializando em cinema. Já realizou a mixagem de diversos longas, médias e curtas-metragens. Dentre eles Idade da Terra, O Veneno da Madrugada e Cartola. Já ganhou alguns prêmios, como no Festival de Gramado e no Festival de Brasília. Além dos filmes, ele é mixador titular do Centro Técnico Audiovisual desde 1987.
José Luiz Sasso: Proprietário da JLS Facilidades Sonoras, em São Paulo, José tem mais de 39 anos de carreira e cerca de 370 longas mixados. Já trabalhou como projecionista e ma manutenção de estúdio, quando pode ter mais contato com a área e se apaixonou. Foi do Estúdio Álamo por mais de 15 anos, até 1993, quando abriu sua própria empresa. Dentre os seus trabalhos estão O Primeiro Dia, O Homem que Copiava, Maria - A Mãe do Filho de Deus.
SOM DE CINEMA PARA TV
A série de TV Mandrake, cuja segunda temporada está sendo produzida agora pela HBO, está inovando ao ser mixada em uma grande estúdio, o Mega, no Rio. Rodrigo Noronha é o responsável pelo trabalho, segundo ele uma inovação. "Nos Estados Unidos, é muito comum mixarem programas de TV em grandes estúdios, mas no Brasil isso ainda é raro", diz. Ela conta que em cinema ele gasta 5 dias apenas com os diálogos. "Neste seriado, faço o episódio inteiro - 45 a 50 minutos - em uma semana."
Como será lançado também em DVD, a série está sendo mixada em 5.1 e em estéreo, cada versão com uma masterização específica, que já sai pronta do Mega. De acordo com Rodrigo, a maior especificidade de uma mixagem para TV é a dinâmica reduzida. "O pico para TV não pode ser maior que - 8 fs. Então tento um meio termo para poder ter alguma dinâmica mesmo em um equipamento não tão bom, que é o que a maioria das pessoas tem", afirma.