Quando os PCs (IBM compatíveis) passaram para o ambiente Windows, a Twelve Tones lançou o Cakewalk 3.0, que gravava áudio mas não o sincronizava com as pistas de MIDI. Em seguida veio o Cakewalk Pro Audio ou Cakewalk 4.0, já sincronizando áudio e MIDI internamente. Após o Pro Audio 9.0, houve um salto imenso: o Sonar 2.0 e XL.
Estas duas últimas versões tornaram-se muito populares e passaram a ser as mais utilizadas em home studios para seqüenciamento MIDI e gravação para HD no PC em nível mundial. O ambiente gráfico amoldável do 2.0 e do XL, juntamente com a profusão de recursos, fizeram com que o Sonar superasse seus principais concorrentes: Cubase e Logic Audio. Essa é uma briga que há muitos anos nos beneficia diretamente: quando um desses softwares apresenta algo diferente, imediatamente os outros fabricantes disponibilizam a novidade, de forma aprimorada.
Como os usuários de PC que preferem o Logic ficaram órfãos, o Sonar 2.0 decolou mais ainda. Para os que não sabem, o Logic agora só é produzido para a plataforma Apple. Logo, caro usuário de PC, não é uma boa idéia insistir em um software que estará defasado daqui a um ano. É hora de investir em outra solução para que você se torne expert em um novo seqüenciador/gravador quando o Logic tornar-se completamente obsoleto. Por exemplo, aqueles que insistiram na utilização do Encore (software de notação musical), ao invés de investir no aprendizado do Finale, agora estão profundamente arrependidos. Novos sistemas operacionais e drivers mais eficazes surgem a cada semestre. Quem insiste em utilizar um software descontinuado é deletado do mercado de trabalho.
Após o lançamento do Sonar 2, a Cakewalk disponibilizou em seu site o update para a versão 2.2. Nesta versão não houve mudanças ou correções significativas, salvo a inclusão do Loop Explorer. A meu ver, quando uma empresa lança uma versão com engenharia completamente modificada e, simultaneamente, disponibiliza um update, é sinal que ela deseja, apenas, que os usuários cadastrem o produto adquirido, já que o update só é possível quando o software é adquirido legalmente e registrado na fábrica, via Internet.
Após o update para 2.2, finalmente foi lançado o Sonar 3, que apresenta mudanças significativas na interface do usuário e na interatividade com os sintetizadores e samplers virtuais da tecnologia VST (adotada originalmente pela Steinberg - produtora do Cubase). Todas as facilidades na área de MIDI foram conservadas incluindo os filtros de eventos do Piano Roll e o providencial Event List, que agiliza consideravelmente o trabalho dos tecladistas que utilizam seqüenciadores desde 1983, quando as edições de MIDI só eram possíveis por intermédio de números.
O Sonar 3
O novo Sonar só roda no Windows XP e 2000 e possui duas versões: Producer e Studio. Como o próprio nome sugere, o Producer é o mais completo e, portanto, mais caro.
O Studio apresenta a mesma interface do Producer. O funcionamento geral e a navegabilidade são idênticos. Para baratear o custo, apenas alguns plug-ins de efeitos e instrumentos virtuais não são incluídos. Isto não quer dizer que você não poderá usá-los quando puder adquiri-los, posteriormente.
Os ítens incluídos no Producer são:
-Lexicon Pantheon Reverb - popular pacote de reverbs da Lexicon, totalmente no campo digital até 24 bits/96kHz. Possui 35 presets e editor de efeitos para criar novos presets, além de 16 parâmetros ajustáveis para alterar os efeitos.
-Ultrafunk Sonitus FX Suite - efeitos automatizáveis com tecnologia DirectX (compressor, gate, modulador, equalizador paramétrico, reverb, surround, etc.).
-Per-Channel EQ - equalizador paramétrico Ultrafunk de seis bandas com cinco tipos de filtros, que podem ser endereçados individualmente para cada canal de áudio. Possibilita acesso imediato aos parâmetros do efeito que estiver endereçado a uma pista, sem precisar abrir sua janela de propriedades.
-FX Controls assinaláveis - acesso aos parâmetros de qualquer efeito de áudio que estiver acoplado a um canal de áudio ou barramento auxiliar.
-Vsampler 3.0 DXi - sampler virtual com interface para edição de cada sample. Responde até 128 vozes (notas simultâneas) e possui 16 canais estéreo de saída. Suporta os formatos WAV, AIF, Akai (S1000 / 3000 / S5000 / S6000), GIG (GigaStudio / Giga Sampler), SF2 (SoundFonts). São fornecidos dois CDs com vários samples que podem ser utilizados nas músicas. Possui quatro LFOs e quatro EGs (geradores de envelope) editáveis.
Visão geral do Sonar 3
O Sonar 3 trabalha com qualquer placa de som compatível com Windows e está apto para funcionar com drivers ASIO ou WDM. Preferencialmente, o usuário deve optar por placas de áudio compatíveis com o driver ASIO, para que a latência (atraso) na gravação de áudio e na execução em tempo real de sintetizadores virtuais seja imperceptível.
Alguns instrumentos virtuais em DXi disponibilizados desde a versão 2.0 continuam presentes: DreamStation, Cyclone, Roland VSC Virtual Sound Canvas e o simulador de amplificação valvulada Revalver.
O Sonar, ao meu ver, continua sendo o programa mais completo e flexível para MIDI. Além disso, permite gravação em diversas pistas simultâneas; transferência de projetos entre diversas plataformas; composição baseada em loops; controle gráfico dos envelopes de automação de áudio, MIDI, sintetizadores virtuais e efeitos; criação e utilização de Groove Clips (o correspondente ao arquivo ACID da Sonic Foundry, o qual permite mudança de afinação sem alterar o andamento e vice-versa); visualização dos VUs em peak, RMS ou peak/RMS; acoplamento de synths, efeitos e seqüenciadores DXi, VSTi e ReWire 1.0 e 2.0; construção de ilimitadas disposições de tela que são guardadas juntamente com o conteúdo de cada projeto; seleção de Key Bindings (atalhos de teclado personalizados); edição da bateria e da percussão no campo de MIDI por intermédio do Pattern Brush (pincel que insere notas quando arrastado no Piano Roll); impressão de partituras das execuções das pistas de MIDI incluindo letra, cifras e tablatura de guitarra; edição e entrada de eventos por números na tela de Event List.
Tela principal do Sonar 3
Algumas das superfícies de controle suportadas são as dos fabricantes CM Labs, JL Cooper, Mackie, Tascam, Roland, etc. Assim, na gravação e na mixagem, funções como volume, pan e mute de cada pista podem ser alteradas diretamente na superfície de controle em vez de se utilizar o mouse.
Já que a Roland agora é parceira da Cakewalk, a superfície modelo SI-24 (Roland) e o Sonar 3 formam um pacote de produção musical informatizada muito eficaz para pequenos e médios estúdios. A SI-24 possui 12 canais com faders motorizados, conectores MIDI, joystick para mixagem Surround 5.1, placa de áudio PCI, oito entradas para microfone com conector XLR, phantom power e trabalha com resoluções até 24 bits/96kHz.
Novidades
Track Inspector - visualizador vertical de cada pista. Disponibiliza o acesso visual de todo o conteúdo da pista, por intermédio de uma barra vertical alinhada à esquerda do Track View. Os seguintes ítens podem ser visualizados e alterados: Input Settings; Trim (ajuste de ganho); Per Track Equalizer (filtro por canal do equalizador Ultrafunk - versão Producer); FX Bin; Assignable FX (efeitos de plug-in inseridos); Inserted Busses (barramentos); Phase, Pan, Mono/Stereo, Input Echo. Os meters (medidores) são mostrados ao lado dos faders e, na seção de baixo, aparecem os botões de cada tipo de informação a ser alterada. O Track Inspector é, sem dúvida, uma novidade muito providencial, pois apresenta tudo que está ocorrendo em cada pista.
VSTi Client - além do suporte para acoplar instrumentos virtuais DXi e Rewire (desde a versão 2.0), agora foi incorporada a tecnologia VST através do Cakewalk Adapter. Assim, os synths e seqüenciadores virtuais disponibilizados para o Cubase podem ser usados com o Sonar 3.
Transport Controls - a janela de transporte engloba diversas funções como: Record Options, Punch-in/out, Record Mode, Looping Controls, Tempo, Metronome, Meter Key Settings. Na versão 2.2, esses recursos ficavam espalhados nos menus de funções, ocupando muito espaço da área de trabalho.
Per-Track Input Monitoring - em vez de ser uma função global, agora a monitoração do sinal de áudio após o Sonar pode ser acionada individualmente em cada pista.
MIDI Routing - possibilita tocar vários sintetizadores ou um sintetizador dividido em diversas zonas, a partir de um único teclado master. Também, redireciona vários teclados masters para diferentes aparelhos de MIDI.
Import/Export OMFI & Broadcast Wave - a importação e exportação de projetos foi aprimorada de forma que os trabalhos produzidos no Sonar rodem em outros softwares e plataformas. Igualmente, os projetos feitos no Logic, Performer, Nuendo, ProTools, etc., podem ser importados e finalizados com todos os recursos do Sonar 3. Os formatos suportados são: ASF, AU, AVI, Broadcast Wave, MIDI, MP3, MPEG, OMFI, WAV, ACID, CWB, CWP.
Gravação de áudio com visualização em tempo real - a forma de onda do áudio, conteúdo de MIDI e automação são disponibilizados em tempo real ao gravar ou seqüenciar.
Acoplamento de efeitos plug-in e trim audio - agora, ao se acoplar um efeito plug-in, o Sonar não interrompe a execução do áudio.
Conclusão
Se você exige flexibilidade e agilidade na hora do batente, provavelmente desejará experimentar o Sonar 3. A versão demo está disponível no site
www.cakewalk.com. Apesar das limitações impostas na demo, tem-se uma boa idéia do que o Sonar 3 é capaz de realizar.
O Sonar é extremamente fácil e prazeroso de se trabalhar. Das produções rápidas de jingles às mais complexas de CD, vídeo ou CDROM o Sonar 3 Producer (versão utilizada para esta análise) é extremamente eficiente, preciso e seguro. Trata-se de uma ferramenta poderosa para músicos, compositores, produtores ou DJs.
Das novidades, destacam-se a integração com instrumentos VST, a inclusão do Track Inspector e o set de efeitos da Lexicon, que possui reverbs espetaculares. A resolução dos medidores (meters) e das formas de onda do áudio foi aperfeiçoada imensamente. O novo display e as cores da tela principal exigem um período de adaptação, pois ficaram com um ar ligeiramente soturno (como o do ProTools). A meu ver, comparando-se com o Nuendo e com o próprio Sonar 2, a nova interface com o usuário não chega a impressionar.
Este software não impõe utilização de hardwares específicos de áudio e não possui artifícios de proteção que dificultam a reinstalação em caso de perda do HD. A instalação é rápida e o programa reconhece todos os hardwares de MIDI e de áudio presentes, assim como os plug-ins já residentes no computador.
A partir do próximo número, estaremos inaugurando a coluna
Desvendando o Sonar, na qual detalharei todos os recursos de seqüenciamento, gravação de áudio, aplicação de plug-ins, edição e mixagem com este software super musical.
Por ora, segue uma dica para uma dúvida muito comum entre os usuários: para que os clips de áudio ou de MIDI inseridos ou colados fiquem perfeitamente amarrados nas cabeças de tempo e em sync com outras pistas, é necessário ajustar o Snap to Grid para semínima (Quarter), clicando no ícone do Snap to Grid (quadriculado logo acima do Track View) e selecionado Musical Time / Quarter. Após esse ajuste, arraste o clip inserido para o tempo desejado (geralmente, o primeiro tempo do compasso). Se o clip de MIDI, de áudio ou loop tiver sido bem produzido (sem espaço antes de começar a soar) não há a mínima possibilidade de as pistas saírem de sync.
Luciano Alves é tecladista, compositor e autor do livro "Fazendo Música no Computador". Inaugurou, em 2003, a escola de música e tecnologia CTMLA - Centro de Tecnologia Musical Luciano Alves (
www.ctmla.com.br) que oferece aulas presenciais e virtuais.