Sólon do Valle

Publicado em 29/10/2007 - 14h49

Já faz quase vinte anos que comprei o meu primeiro PC. Era um 386sx, com clock de 16 MHz, memória de 2 MB e disco rígido de 42 MB. Era uma bonita máquina, numa época em que muita gente penava com as carroças XT de 4,77 MHz, com 640 MB de memória e disco de 10 MB.

Esse computador, de procedência duvidosa, me custou, na época, US$ 3 mil. Ou seja, quase R$ 6 mil de hoje. O monitor era de 14 polegadas e era colorido, mas a resolução deixava bastante a desejar. Naquela época, foi lançado o Windows 3.0 e eu, é claro, o instalei na minha máquina. Era preciso bastante paciência, porque tudo era lento e quase tudo travava. mas era lindo, trabalhar com aquelas 16 cores!

Nesta semana, estive vendo preços para um computador novo. Um PC de 5 GHz, com 4 GB de memória, 640 GB de discos rígidos, com monitor de 22 polegadas, sai por pouco mais de R$ 4 mil. Mas isso com porta de rede, portas USB, FireWire, som de 24 bits on-board, e vídeo de alta resolução em 16 milhões de cores.

Há vinte anos, meu carro 2.0, com 96 cavalos de potência, fazia 9 km por litro de gasolina, e eu até achava razoável. Meu carro atual, com motor 1.8, tem 136 cavalos e faz 10 km por litro. As lâmpadas aqui de casa são fluorescentes de luz natural, e gastam a quinta parte da energia elétrica que as antigas incandescentes.

Tiramos fotos digitais e não precisamos mandar revelar para ver os resultados - só imprimimos (se for o caso) as que ficaram boas. O resto, apagamos!
Tá certo que há 20 anos não ocupávamos o telefone por horas com a internet como há dez anos atrás, mas hoje também não ocupamos o telefone - usamos a banda larga!

Bem, confesso que continuo tomando banhos diários, comendo todos os dias, bebendo água e pagando meus (vários) impostos. Isso não mudou, nem os preços dessas necessidades básicas. Faça compras numa farmácia, e me diga se alguma coisa ficou mais barata! Mas pode-se montar um estúdio bem legal por 30% do que se gastaria em 1987.

Valorização imobiliária? Especulação? Vamos mudar de assunto, manter um bom astral?

Agora a pergunta: por que algumas coisas evoluíram numa razão de um pra mil, e outras não?

Bem que um belo carro poderia custar R$ 10 mil, ter motor 0.4 com 170 cavalos e fazer 40 quilômetros por litro, não? Bem que tudo poderia ter evoluído por igual, e de um pra mil, não é mesmo?

Não. A lei da oferta e da procura que o diga. Enquanto a disputa pelo consumidor de informática e de tecnologia em geral obriga a indústria a progredir aos saltos, a indústria automotiva trabalha com mais calma, o governo torra dinheiro e a indústria de bens básicos relaxa e.