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Revista Luz & Cena
Show
Após 35 anos, Dom Salvador grava disco brasileiro e se apresenta no Rio
Tatiana Queiroz
Publicado em 27/07/2007 - 00h00
Caçula de uma família de 11 irmãos, Salvador da Silva Filho saiu de Rio Claro (SP) para se tornar um dos grandes pianistas do samba-jazz. Do interior, foi para a capital paulista, onde teve a sorte de ser visto ao piano por Flora Plurim e Dom Um Romão, que o convidaram a integrar o Copa Trio. Ao lado do baterista Dom Um e do baixista Manuel Gusmão, atuou em muitos dos lendários shows realizados no Beco das Garrafas, reduto da bossa nova no Rio de Janeiro.

Em 1965, formou, com Édison Machado (bateria) e Sérgio Barroso (baixo), o Rio 65 Trio, com o qual gravou dois discos. Em seguida, formou, com Edson Lobo (baixo) e Victor Manga (bateria), o Salvador Trio, que lançou apenas um disco homônimo. Com o Rio 65 excursionou pela Europa, com Edu Lobo, Sylvia Telles, Rubens Bassini e Rosinha de Valença.

Acompanhou Jorge Ben (hoje Jorge Benjor), Quarteto em Cy, Wilson Simonal, entre outros. Durante alguns anos, foi músico contratado da EMI Odeon, tocando piano e arranjando discos do elenco de artistas da gravadora. Entre eles, discos de Elizeth Cardoso, Mário Reis, Isaura Garcia, Ataulfo Alves, Doris Monteiro, Toni Tornado, Elza Soares e o último de Pinxiguinha.

Em 1969, Dom Salvador incorporou o soul e funk ao seu estilo, marcando a história da música negra no Brasil com seu disco Dom Salvador. O som desenvolvido naquela época pelo músico foi o embrião do que viria a fazer com a banda Abolição. Depois, desiludido com o rumo que as coisas estavam tomando no Brasil, em 1973, Salvador partiu definitivamente para Nova York, onde toca há 30 anos no River Cafe.

No Brasil em janeiro deste ano, Dom Salvador entrou em estúdio, apresentou-se no espaço Modern Sound em Copacabana (RJ) e deu entrevistas, como a que vem a seguir. Nela, ele relembra alguns momentos de sua carreira e conta um pouco do novo disco, gravado em plataforma digital pelo técnico Marco Caminha no estúdio Zaga, dos músicos Leo Gandelman e Nico Resende. A mixagem e masterização foram realizadas em Nova York. A produção ficou por conta do antigo amigo Marco Versiani.

O novo disco traz de volta o formato do Rio 65 Trio, com Sérgio Barroso, baixista original do grupo, e Duduka da Fonseca, baterista, também radicado em Nova York. São 12 faixas, incluindo homenagens ao trompetista Cláudio Roditi, ao gaitista Maurício Einhorn e a Elis Regina, com quem tocou na primeira apresentação da cantora gaúcha no Beco das Garrafas e gravou o disco Samba, eu canto assim. Ao contrário da maioria dos trabalhos gravados por ele nos EUA, o novo disco, intitulado Dom Salvador Trio, acaba de ser lançado no Brasil pela gravadora Biscoito Fino.

QUANDO COMEÇOU A TOCAR? TEVE INFLUÊNCIAS DA FAMÍLIA?

Comecei a estudar piano aos 9 anos. Mas antes de começar a estudar piano, o meu instrumento era a bateria. Eu comecei a estudar música para tocar bateria porque antigamente eram poucos os bateristas que liam música. Meus pais não eram músicos, mas ouvíamos muita música em casa e todos os meus dez irmãos eram envolvidos com música. As minhas irmãs tinham um quarteto vocal chamado Quarteto de Ouro das irmãs Silva. Os ensaios eram todos na minha casa.

Depois, o professor que me dava aula de bateria foi para São Carlos e, como vim de uma cidade pequena, praticamente só havia um professor de cada instrumento... Então o meu irmão falou para mim: "Por que você não pega um outro instrumento até a gente encontrar um outro professor de bateria? Instrumento de sopro você deixa pra lá porque você tem hérnia". Eu então disse para ele me dar um piano.

E ELE TE DEU UM PIANO?

Não. Comecei a estudar piano com uma professora, mas sem ter o instrumento na minha casa para praticar por mais de um ano. Tinha um papel com o teclado desenhado para poder praticar e de vez em quando eu ia à casa de alguém que tinha piano. Mais tarde eu descobri uma igreja que tinha um piano, e me deixavam ensaiar lá. Um ano e meio depois meu irmão comprou um piano. Desisti de tocar bateria, mas eu gosto muito de ritmos, geralmente as minhas músicas são muito baseadas em ritmo. Os bateristas gostam muito de tocar as minhas músicas, pois quando componho já penso na bateria.


QUAL FOI A SUA FORMAÇÃO MUSICAL?

Tive aulas de piano com duas professoras em Rio Claro e depois estudei dois anos no Conservatório Carlos Gomes, em Campinas. Com 10 anos, já tocava em orquestras e bandas, mas profissionalmente comecei a tocar com 12 anos, com a Orquestra Excelsior do Mário Florim. Eu já tocava na noite, escondido da minha professora.
 
QUANDO VOCÊ SE MUDOU PARA SÃO PAULO?

Em 1961. Fui levado por uma cantora, Marita Luizi, que era muito conhecida em São Paulo, e me arrumou um trabalho no trio Jacó e seu conjunto. Depois, fui convidado para trabalhar num grupo só de negros, o Oliveira e seus Black Boys, uma banda de baile. Cheguei a gravar uns quatro discos com eles.

QUANDO VOCÊ VEIO MORAR NO RIO?

Um dia dei uma canja na boate Baiúca, em São Paulo, e naquela época a bossa nova estava começando a ficar realmente forte. O Dom Um (Romão) e a Flora Purim estavam na boate. A Flora me chamou na mesa e me perguntou se eu gostaria de ir para o Rio tocar com o grupo do Dom Um, o Copa Trio. Eu topei na hora. Uma semana depois, estava no Beco das Garrafas, onde conheci todo aquele pessoal de quem eu era fã: Jorge Ben, Sérgio Mendes, Grupo Meirelles, Paulo Moura...

COM QUEM VOCÊ ENTROU EM ESTÚDIO PARA GRAVAR NESSA ÉPOCA?

Quando cheguei ao Rio, logo fui convidado para gravar o disco que o Dom Um estava fazendo, não com o Copa Trio, mas um dele solo, com orquestra grande e arranjos do Waltel Branco e Paulo Moura. Eu até fiquei meio nervoso porque eu só tinha gravado com o grupo Black Boys em São Paulo, pois tinha muita panelinha e eu nunca consegui entrar nela. Eu cheguei de ônibus ao Rio e fui morar com o baixista Manuel Gusmão, que trabalhava com o Dom Um. Quando cheguei, já tinha um papelzinho na porta que ia ter gravação. No estúdio, fiquei mais nervoso. Estava todo mundo lá: Cipó, Paulo Moura, Maciel... Toda a nata da MPB.

VOCÊ FOI O PRIMEIRO PIANISTA A ACOMPANHAR A ENTÃO DESCONHECIDA ELIS REGINA QUANDO ELA VEIO PARA O RIO. COMO VOCÊ A CONHECEU?

Depois do show com o Quarteto & Cy, o Gusmão, que trabalhava na TV Tupi, conheceu a Elis Regina, que tinha recém-chegado de Porto Alegre. Quando ele voltou para casa, comentou que queria levá-la para conhecer o Giovani, dono do Bottle's, no Beco das Garrafas. Quando a gente estava falando da Elis, tocou o telefone e era ela. A mulher dele que atendeu e disse: "É uma tal de Elis Regina". O Gusmão então marcou com a Elis de ir naquela noite ao Bottle's, onde deu uma canja com a gente, só que o Giovani não gostou. Ela estava nervosíssima. Depois de muito tempo, o Dom Um e o Gusmão convenceram o Giovani a dar uma oportunidade a Elis de fazer um show, acompanhada pelo Copa Trio. Depois dali, fomos fazer o primeiro show na TV Record. Ninguém conhecia a Elis em São Paulo e ela estava muito nervosa, mas quando entrou no palco arrebentou. Foi uma coisa imediata. Ela era muito nervosa, mas só até abrir a boca para cantar.

DEPOIS DO COPA TRIO VOCÊ INTEGROU O RIO 65 TRIO. COMO FOI FORMADO O GRUPO?

Dom Um foi para os EUA. Aí tinha um show que havia sido montado no Beco das Garrafas, que era a primeira apresentação do Marcos Valle, com Doris Monteiro e o trio do Édison Machado, que era o Édison, o Tenório, um argentino e José Alvez, que chamavam de Zezinho. Mas tinha uns músicos meio irresponsáveis, como o Tenório, que nunca chegava na hora. No dia da estréia, não apareceram nem o Tenório, nem a Doris Monteiro e nem o Zezinho. Aí não teve show.

No dia seguinte o Édison Machado chamou o Sérgio Barroso e perguntou qual pianista poderia usar. Aí me chamaram. A Lenny Andrade entrou no lugar da Doris Monteiro e o Sérgio, no lugar do Zezinho, e fizemos o show. O Armando Pittigliani, que era produtor da gravadora Philips, ia lá assistir a gente toda noite e via o sucesso que o trio estava fazendo. Naquela noite, o Rio 65 estreou, mas não com esse nome ainda. Só surgiu depois que o Armando convidou a gente para gravar um disco. Com o Rio 65 Trio gravei dois discos. Depois, gravei o meu primeiro disco do Salvador Trio. Gravei dois discos, um em 66, com Victor Manga e Edson Lobo e o segundo Salvador Trio foi com os mesmos músicos do Rio 65 Trio, o Édison Machado e Sergio Barroso. Depois gravei o meu primeiro disco antes da Abolição , como Dom Salvador, em 69.

COMO SURGIU O APELIDO DOM?

O Hélcio Milito, baterista do Tamba Trio, foi quem me deu esse apelido. Ele é um cara visionário, muito inteligente. Disse que eu deveria procurar um nome mais artístico e sugeriu Dom. Eu gostei e assim ficou.

ALÉM DE ACOMPANHAR DIVERSOS ARTISTAS EM SHOWS, VOCÊ GRAVOU COM VÁRIOS DELES.

Fui diretor musical da Elza Soares. Fizemos uma excursão em 68 pelos EUA e México. Gravei e fiz todos os arranjos do disco Elza pede passagem. Com a Elis Regina gravei o disco Samba eu canto assim. Com o Edu Lobo, fiz a primeira turnê que ele fez pela Europa, foi a minha primeira também e gravamos um disco na Alemanha, lançado somente lá, como Música e Folclore do Brasil. Trabalhei com Elizeth Cardoso. Mário Reis, Isaura Garcia com Noite Ilustrada, Ataulfo Alves, Doris Monteiro, e gravei o último disco do Pinxiguinha. Fui pianista da gravadora Odeon por cerca de cinco anos, no fim da década de 60 e início de 70. Eu gravava todos os dias e não era só lá. Essa época eu gravava em três estúdios. Vivia só de gravação.

NA DÉCADA DE 70, VOCÊ COMEÇOU A INCORPORAR ELEMENTOS DO SOUL E FUNK AMERICANOS EM SEUS TRABALHOS.
COMO FOI ESSA EXPLOSÃO DO MOVIMENTO BLACK NO BRASIL?


Antes disso veio o movimento Música Nossa, que era na época dos festivais. Eu participei de dois Festivais Internacionais da Canção. Em 67, com uma música minha cantada pela minha mulher, a Mariá, que fez a letra. Minha mulher ganhou como a revelação do Festival. Depois, fiz o disco Dom Salvador em 69, em que participaram alguns músicos como o Cassiano, o baixista Paulo César Barros, o Laércio de Freitas e o Durval Ferreira. Nessa época, o Hélcio tinha recém-chegado dos EUA. Estava tendo um movimento lá fora da black music e ele voltou com a idéia de que eu era o cara que poderia fazer um negócio desse no Brasil. Ele me mostrou um discos do Sly & The Family Stone, Blood Sweat & Tears, Chicago e Kool & The Gang. Eu achei que poderia fazer uma mistura. Aí surgiu o Abolição, a concepção foi dele e a idéia foi minha. Eu fiz uma mistura, até choro a gente tocava.


POR QUE VOCÊ RESOLVEU IR PARA NOVA YORK EM 73?

Porque eu dei de tudo paro o grupo Abolição, que só durou dois anos. Alguns músicos começaram a não ter responsabilidade, a não chegar na hora dos espetáculos, a se envolver com drogas e eu ficava nervoso com aquilo. Fui me cansando e o grupo terminou. Nessa época, eu tinha uma sobrinha que morava nos EUA e me chamou para passar um mês durante as minhas férias da Odeon. Fui para ficar um mês e estou há 33 anos.

E OS TRABALHOS, COMO FORAM SURGINDO?

Fui conhecendo as pessoas e dando canjas em bares. Levei mais de um ano para começar de fato a me entrosar. O mais difícil para mim era ficar sem ver meus filhos e a minha mulher. Tive a ajuda do baixista americano Major Holley, que veio várias vezes ao Brasil. A primeira vez, veio em turnê com Woody Herman. Ele fez amizade com o pianista Moacir Peixoto, irmão de Cauby. Quando eu fui para Nova York, falei com o Moacir, que me disse para procurar o Major, que me apresentou a um monte de gente.

NO DIA SEGUINTE, ELE COMPROU UM PIANO PARA MIM, O ÚLTIMO MODELO FENDER RHODES, E, NA MESMA NOITE, EU LEVEI O PIANO PARA TOCAR NO TIN PALAC

QUANDO VOCÊ GRAVOU PELA PRIMEIRA VEZ NOS EUA?

Foi em 1976, quando gravei o meu disco My Family pela gravadora Muse Records. Depois, me envolvi num projeto do produtor Jimmy Miller, que tinha muito dinheiro. Ele me conheceu quando eu tocava no Tin Palace, no grupo do flautista Lloyd McNeill. Foi um dos meus primeiros trabalhos nos EUA. O Tin Palace era uma casa badalada, onde os músicos de jazz se encontravam quando terminavam os seus trabalhos. Conheci muita gente nessa época, como Pharoah Sanders e Woody Shaw. No grupo estavam o baterista Buddy Williams e o baixista Cecil Mcbee. Então, nessa época conheci o produtor Jimmy Miller, que ficou impressionado ao me ver tocar. Me chamou na mesa e me perguntou se eu não gostaria de ter um grupo. Disse que eu poderia ensaiar na casa dele, que era enorme. Eu não tinha piano e ele também não, mas disse que compraria um se eu quisesse. O Loyd me alertou para não entrar nesse, pois a coisa estava esquisita. No dia seguinte, ele comprou um piano para mim, o último modelo Fender Rhodes, e, na mesma noite, eu levei o piano para tocar no Tin Palace. Depois, montei uma banda que tinha piano, baixo, guitarra, bateria e quatro cantoras para tocar disco music. Não tinha letras, apenas alguns vocais. Chegamos a gravar algumas músicas, mas não foi lançado o disco porque eu briguei com o produtor. Ele me fez assinar um contrato de sete anos e meio e tentou me processar. Naquela época ele gastou 52 mil dólares nas gravações. Fiquei impossibilitado de gravar com o meu nome durante a vigência do contrato. Mas logo depois gravei como sideman com o Robin Kennyatta e fiz um grupo com o Charlie Rouse, saxofonista do quarteto de Thelonious Monk, que se chamava Cinnamon Flower, com o baterista Billy Hart, o trompetista Cláudio Roditti e o trombonista Clifford Adams, que mais tarde foi trabalhar com o Kool & The Gang.

ALÉM DO ROBIN KENNYATTA E CHARLIE ROUSE, COM QUEM MAIS VOCÊ GRAVOU NO EXTERIROR?

Paul Horn, Ron Carter, Egberto Gismonti, Dom Um Romão....


COMO SURGIU O CONVITE PARA TRABALHAR COM HARRY BELAFONTE?

Um dia ele me ligou, mas eu não estava em casa. A minha mulher atendeu e achou que fosse trote, mas ela ficou em dúvida, porque reconheceu a voz. Eu estava sem trabalho e, quando cheguei em casa, ela me contou sobre a ligação e eu também mal acreditei. Até hoje não sei direito quem me indicou para ele. Só sei que foram dois violonistas, mas antes de me chamar, Sivuca era o diretor musical do Belafonte. Fiz um disco para a CBS com o Belafonte chamado Turn the world around [1977], excursionei com ele pela Europa e cheguei a tocar no 25º Jubileu da Rainha Elizabeth.

QUAL FOI O SEU TRABALHO SEGUINTE?

Na época que trabalhei com o Belafonte, surgiu a oportunidade de tocar no River Cafe, onde toco até hoje.

QUANTOS DISCOS SEUS FORAM LANÇADOS NO EXTERIOR?

Acho que uns nove. O último foi o Transitions, que antes de sair no Brasil foi lançado no Japão

DEPOIS QUE VOCÊ FOI PARA OS EUA, TOCOU SÓ UMA VEZ NO BRASIL, NO CHIVAS JAZZ DE 2003. POR QUE VOCÊ FICOU TANTO TEMPO SEM SE APRESENTAR NO PAÍS?

Um pouco por acomodação minha, mas antes do Chivas, estava quase tudo acertado para fazer uma temporada no hotel Maksound Plaza em São Paulo, só que a produção cancelou em cima da hora, o que me deixou chateado na época.

POR QUE VOCÊ ESCOLHEU GRAVAR O NOVO DISCO NO BRASIL?

Primeiro porque eu sempre tive em mente voltar a gravar um disco com o Sérgio Barroso, que era baixista do Rio 65 Trio. Além de ele ser um grande músico, é muito meu amigo. Pra você ter uma idéia, ele é padrinho da minha filha e eu de seu casamento. E o Duduka da Fonseca sempre foi muito admirador do Rio 65 Trio, inclusive ele é seguidor do Édison Machado, que revolucionou na maneira de tocar bateria. E eu sempre gostei do Édison tocando, e o único que toca naquela onda é o Duduka.

QUAL É A SONORIDADE DESSE NOVO DISCO?

É como se fosse a continuação do Rio 65 Trio, mas mais solto e desenvolvido. As composições são todas minhas.

VOCÊ É LIGADO EM EQUIPAMENTOS DE ÁUDIO E NOS NOVOS INSTRUMENTOS?

Mais ou menos. Eu não entendo muito, não, mas admiro muito que entende. Hoje há vários recursos. Antigamente gravávamos em dois canais e o som era fantástico. As gravações na Odeon eram feitas com a fita Ampex e cortadas com gilete.

QUAL O PIANO QUE VOCÊ USA?

O piano que tenho em casa é um Steinway. No novo disco, gravei com um Yamaha C2.


NO ESTÚDIO: DOM SALVADOR TRIO
Por Marco Caminha

Tive toda a liberdade, tanto por parte dos músicos quanto de Dom Salvador, para a escolha e posicionamento dos microfones. A comunicação entre nós foi facilitada ainda mais depois de um bate-papo informal, em que descobrimos que tínhamos uma admiração por um técnico em comum, chamado Célio Martins, que gravou um disco com o Dom Salvador anos atrás e que tem até hoje um resultado sonoro muito bom. O Celinho foi quem me colocou no meio musical, ao me levar, com 17 anos, para trabalhar nos estúdios da Som Livre.

A gravação do novo disco do Dom Salvador foi realizada com Pro Tools TDM. A captação foi feita de maneira muito simples. Bateria, baixo e piano acústicos foram os elementos gravados de base. O piano ficou em uma sala maior, onde foi gravado junto com o baixo acústico. Em outra sala, ficou a bateria. Gravamos piano e baixo na mesma sala para que a comunicação e o entrosamento musical fossem facilitados. Gravamos 12 faixas. Em algumas, foram acrescentados violão e percussão.

O bumbo da bateria foi captado com um microfone AKG D112 com um pré Universal Audio 117; na caixa, em cima, foi colocado um Shure SM 57, passando por um pré Sonor; na esteira, um Shure SM 57 também com um pré Sonor; no hi-hat, um Neumann KM 85, mais um pré Sonor, no tom e surdo, usamos um Sennheiser MD421 com um pré Sonor e para captar os pratos, um AKG 414 com um pré Art.

Para o piano, foi usado um mic Neumann U87 para captar mais as notas graves e um Neumann TLM 103. Ambos os microfones ficaram afastados, aproximadamente, de 80 cm a 1 m de distância. Começamos a passagem com os microfones mais próximos das cordas e fomos afastando, pois Dom Salvador estava querendo uma sonoridade um pouco mais macia e menos brilhante. O pré usado para o piano foi um Universal Audio 1176.

Para o baixo acústico, foi utilizado um pré Fishman no captador e um mic Neumann TLM 103, passando por um pré Art Audio. Já o violão do Zé Carlos foi gravado com dois microfones: um Neumann KM 85 e um Neumann TLM 103. O KM eu coloquei para pegar mais as freqüências altas e o TLM 103 para pegar as baixas freqüências.

Para a percussão, foram utilizados vários mics, pois foram usados vários instrumentos. Os mics foram alternando-se durante a gravação, pois os instrumentos foram sendo tocados de formas aleatórias. Usamos dois Sennheiser MD421 para tamborim, agogô, etc, um AKG 414 para pandeiro e ganzá e dois Neumann TLM 103 para efeitos e ambiente. A gaita do Maurício Enhorn foi captada com um AKG 414 com um pré Universal Audio 1176.    
 
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