Localizado no bairro residencial do Caxangá, centro do Recife, Pernambuco, o Parque de Exposições Professor Antônio Coelho foi palco de um grande festival de forró, o Recife Forró Fest.
Realizado no dia 29 de maio, o evento reuniu nomes como o dos grupos Limão com Mel, Mastruz com Leite, Companhia do Calypso e Banda da Loirinha, entre outros.A empresa responsável pela sonorização e iluminação foi a local Bizasom. A gravação dos DVDs de Mastruz com Leite e Companhia do Calypso, registrados ao vivo, ficou a cargo da Somax, outra empresa da região.
Tranqüilidade em logística incomum
Há mais de 20 anos atuando no mercado de locação de equipamentos, a Bizasom é uma empresa pernambucana que transcorre por duas gerações de profissionais. Começou na década de 80 com seu proprietário, Bizoga - técnico de som que atualmente cuida apenas de questões administrativas da companhia - e está sob responsabilidade de Ítalo e Felipe Santos, seus filhos.
Para dar conta da sonorização do festival, a família disponibilizou quatro torres de PA, posicionadas de maneira intercalada aos três palcos, sendo, da esquerda para a direita, uma torre (ou via esquerda), o primeiro palco, outra torre (servindo de via direita do primeiro e esquerda do segundo palco), o palco central, uma terceira torre (direita do segundo e esquerda do terceiro palco), o terceiro e último palco e, por fim, a quarta torre (direita).
O engenheiro Ítalo Silva: uso similar de periféricos garante a tranqüilidade do técnico em logística diferenciada
Cada uma dessas estruturas era composta por 12 caixas EAW, modelo KF-850 e oito caixas SB-800, para subs, da mesma marca. O sistema foi empurrado por amplificadores Crest Audio e gerenciado por um console Midas XL 200. O palco um, onde foi gravado o DVD do grupo Mastruz com Leite, usou uma Midas XL-3 e no palco três havia uma Allen & Heath, modelo ML 5000.
Para alinhar o PA, o técnico Ítalo Silva, responsável pelo áudio do evento, utilizou um analisador da Klark-Teknik, modelo DN 6000. No entanto, fez uso discreto do equipamento - lançando-o apenas para realizar pequenas correções de freqüências - e justificou a opção. "Não costumo entortar o som destas caixas. Prefiro explorá-lo naturalmente".
Aliás, de acordo com ele, o alinhamento das quatro torres foi facilitado graças à utilização de processadores de efeitos Yamaha SPX 990, equalizadores Klark-Teknik e amplificadores de potência Crest Audio, modelos CA18, CA9, CA12 e CA4 para todas as torres, nas mesmas posições.
Culto à pluralidade
Fora os equipamentos citados, a Bizasom atendeu a algumas solicitações técnicas individuais. Para garantir a qualidade das vozes dos cantores da Companhia do Calypso, por exemplo - que gravava seu DVD ao vivo -, a empresa disponibilizou um Delay D-Two, da TC Electronic e um compressor Drawmer, modelo 1969.
Já para a captação adequada dos tambores da bateria do grupo foram sugeridos e alocados os microfones Sennheiser, modelo MD 421 - utilizados nos tons 1, 2 e 3 do instrumento. "Num evento como este, é muito importante que se tenha bons microfones à mão. Em razão disto, disponibilizamos diversas marcas e modelos, como os UHFs da Shure [Beta 58] e os condensadores da AKG [C 1000], entre outros", explica Ítalo, que também aproveitou a oportunidade para testar novas cápsulas, adquiridas recentemente pela locadora. "Venho promovendo testes com os microfones Superlux [condensadores mais populares, utilizados para overs de bateria] e JTS [para captação de metais] e os resultados têm sido surpreendentes".
Além desse profissional, a Bizasom contou com a presença de mais 12 homens, divididos entre operadores de PA, operadores de monitor e assistentes técnicos. "Precisávamos garantir a tranqüilidade das equipes, principalmente durante as trocas de palco", justifica.
Burocracias à parte
De acordo com a produção do Recife Forró Fest, o maior problema encontrado durante a montagem do evento não foi de origem tecnológica e, sim, burocrática. Como o Parque de Exposições é localizado em uma área residencial da cidade, os cuidados com o vazamento do som com alto SPL não foram poupados, bem como a rígida fiscalização do espaço.
Para estar dentro das normas e leis estabelecidas pelo CREA, Ítalo precisou fazer algumas manobras técnicas. A primeira e mais importante delas foi trabalhar com o PA posicionado num nível mais baixo que o eventual. "Rebaixamos as estruturas em aproximadamente 2 metros. O sistema permaneceu fly. No entanto, desta maneira, o som não vazava para a área externa do parque. Além disso, utilizamos três torres de delay, dispostas em diferentes pontos, que fizeram a cobertura complementar do local. Este sistema era formado por quatro caixas EAW, modelo KF-850 e quatro SB-800, por torre", conta.
Três torres de delay como esta foram suficientes para equacionar o nível sonoro dentro da área do evento
Legenda: três torres de delay como esta foram suficientes para equacionar o nível sonoro dentro da área do evento
Outras questões, como o aterramento da área, também foram discutidas em reuniões com o CREA, pois tradicionalmente em qualquer grande evento realizado na cidade o órgão exige a apresentação de um projeto de segurança assinado por representantes da organização. "Tivemos os mesmos cuidados com aterramento, som, luz e estruturas. Num evento como este não existe prioridade. Tudo tem que estar impecável e dentro dos padrões estabelecidos", explica o técnico, que utilizou um gerador de 450kVA, sublocado pela empresa A Geradora, para garantir o agito nos palcos em mais de cinco horas de show.
Companhia do Calypso
Em meio à correria da montagem dos palcos e à ansiedade pela gravação do DVD, o operador de PA da Companhia do Calypso, Dinho Silva, ainda encontrava tempo para comemorar. E motivos para isso tinha de sobra: "hoje estou completando um ano como integrante da equipe técnica do grupo. Dá para imaginar o quanto isto é gratificante para mim? Somos uma verdadeira família e convivemos em total harmonia na estrada", vibrava ele, que, anteriormente, havia trabalhado com Beto Barbosa e Fafá de Belém.
Dinho explicou a origem e o significado real do nome Calypso. "O Calypso é um ritmo regional que tem pontos em comum e díspares com o forró tradicional. A grande diferença está em suas prioridades sonoras. No forró, quem dita o ritmo é a sanfona; no Calypso, quem manda é a guitarra", ensina o técnico, destacando que a presença viva do contrabaixo e a levada de caixa de bateria diferenciada também são característicos do gênero.
Com a mão na massa, ele utilizou 36 inputs e fez a Companhia falar sem sair do ritmo. A maioria destes canais se destinou a instrumentos como bateria (nove) e percussão (oito). O restante foi distribuído entre vozes, baixo, teclados e guitarras. Estas últimas, trabalhando em linha e insertadas em duas pedaleiras Korg, modelo GT-6. A opção pelo sistema diferenciado, segundo Dinho, se dá pela busca de uma sonoridade mais suja do instrumento. "Os timbres que utilizamos são muito pesados e geralmente o associamos a efeitos particulares como o Phaser e o Flanger. Desta maneira, o melhor é trabalhar sempre com as guitarras em linha", diz. "Até mesmo os técnicos que gravam o ritmo Calypso, em estúdio, optam pelo recurso", emenda.
Da esquerda para a direita: Dinho Silva, Carlos André, o Careca (técnico de PA da Banda da Loirinha) e Johnny "Da Lua", técnico de monitor da Companhia: amizade além da estrada
O técnico de PA revelou ainda que sua mixagem, ao vivo, é bastante incrementada, com naipe de metais, bateria e guitarras totalmente abertos em pan e vozes, violões e baixos tradicionalmente dispostos ao centro. Porém, para esta apresentação, que seria registrada em DVD, a operação teve de ser contida. "Hoje estamos sendo super econômicos nos trabalhos manuais. Temos um projeto importante a realizar e não podemos falhar", admite Dinho, que, geralmente, utiliza delays programados em tempos diferentes para enriquecer as vozes dos cantores do grupo. "Procuro trabalhar com estes efeitos num timing entre 540 a 600ms, variando de acordo com o BPM [batidas por minuto] das músicas. Em momentos como o set de baladas, por exemplo, procuro utilizar um gate reverse na caixa de bateria, assim como disparo delays em algumas peças do instrumento", completa.
O operador de monitor da Companhia do Calypso Johnny "Da Lua" Veloso forma com Dinho uma dupla profissional vitoriosa, numa parceria que já dura alguns anos. "Conheci Dinho quando ainda trabalhávamos com o grupo de Beto Barbosa. Reencontrá-lo na Companhia [do Calypso] foi um grande prazer. Juntos, realizamos um trabalho digno e competente", sorria.
Rápido nas respostas, Da Lua revela a maior peculiaridade em seu sistema de monitoração. "Ao contrário da maioria dos artistas contemporâneos, os cantores da Companhia não utilizam monitores in-ear. Toda a referência é tomada através do uso dos sides, que recebem um mix de todos os instrumentos, exceto da percussão. Esta é uma exigência que procuramos seguir à risca. O restante da banda segue normalmente com uma mixagem semelhante, distribuída em fones individuais", diz.
Banda da Loirinha
Sensação local e referência quando o assunto é o forró, a Banda da Loirinha foi ovacionada no Recife Forró Fest. Com um som impecável graças à atuação do operador de PA Carlos André, o Careca, o grupo deu conta do recado e apresentou um show dinâmico e competente.
Ex-funcionário da empresa de sonorização Company Som - sediada em Belém do Pará -, Careca trabalha há dois anos com a banda. Hoje operador de PA, o profissional conta que saiu da empresa para acompanhar artistas locais na estrada. "Percebi que poderia atuar no mercado de diversas maneiras e optei por esta. Espero ter feito uma boa escolha", diz ele, que traz seu mapa na ponta da língua. "Geralmente utilizo 32 inputs, sendo nove para bateria, seis para percussão, um para o baixo, dois para as guitarras, dois para teclados, três para as vozes principais e os demais [canais] divididos entre backing vocals e outros instrumentos", dispara.
Assim como ocorre com a mixagem de Dinho, técnico de PA da Companhia do Calypso e seu companheiro, Careca utiliza boa parte dos instrumentos abertos em pan, mantendo vozes e contrabaixo ao centro. "Seguimos a tradição sem inventar muito", justifica ele, que não tem o hábito de utilizar efeitos ao vivo, lançando mão apenas de um reverb na bateria e um compressor nas vozes. "Esta é nossa cultura", completa o técnico, um entre tantos outros que utilizavam a linha de microfones JTS para vozes e metais.
Limão com Mel
A sonoridade do grupo Limão com Mel pode ser considerada o resultado marcante de uma mistura inusitada de elementos rítmico-culturais. Unindo a tradição do forró nordestino a uma levada moderna e popular, eles chegaram ao décimo-segundo disco de carreira e, hoje, ostentam o título de uma das mais importantes bandas da região Norte/Nordeste.
O técnico de monitor Sorriso: side para os cantores facilita contato com o público
Para garantir a segurança de seus músicos, o técnico de monitor Ribamar Freitas, o Sorriso - que está há 10 anos com a equipe técnica da banda - conta que coloca em prática tudo o que sabe sobre áudio, fruto do aprendizado conquistado na estrada. "Sou cria da casa. Estou aqui desde o início", conta.
Com o som rolando, Sorriso opera cuidadosamente as dez vias de monitor do Limão. Na banda, com a exceção dos cantores, todos os músicos utilizam o sistema in-ear. Não há monitores de chão e o side fill atua como referência exclusiva dos cantores e como preenchimento das laterais do palco. "Eles gostam de escutar o público num nível bem próximo ao de suas vozes. Primam por esta espécie de contato. Por isso, preferem o side aos monitores de chão e in-ears", explica.
Para tentar quebrar a dureza das vias, o técnico ainda utiliza um processador SPX 990, da Yamaha, em que recorre a efeitos como reverb e compressores.
Os bastidores da gravação
Com tudo rolando tranqüilamente na frente, restava saber como andavam os preparativos para a gravação dos DVDs de Mastruz com Leite e Companhia do Calypso. Atrás do palco principal do festival estava localizado o estúdio móvel da empresa responsável pelo registro, a Somax. Coordenando a parte de áudio do projeto estava o engenheiro de som e um dos sócios da empresa, Antônio Mariano, o Tovinho.
Segundo o técnico, a logística da gravação não foi complicada e seguiu os padrões normais de captação. Os 48 inputs de áudio que saíam dos dois palcos que seriam gravados foram para um console Midas modelo XL-200 - que serviu de pré-amplificador para os gravadores do estúdio -, através de um multicabo. De lá, estas vias seguiram para uma mesa de monitor e retornaram ao PA.
Todo o material foi extraído dos direct outs e gravado num Tascam DA-88, com back-ups feitos em dois ADATs XT, não existindo relação direta alguma do sistema de gravação com os demais. "Tivemos que optar pelo DA [gravador], pois não dispúnhamos de um Pro Tools com 48 inputs no local do evento. No entanto, a mixagem será feita numa plataforma HD3, nos estúdios da Somax", conta Tovinho, que ainda não decidiu com que resolução irá trabalhar. "Após descarregar o projeto no computador, decidiremos se o formato será 48 ou 96kHz".
Antônio Mariano, o Tovinho, coordenou toda a gravação de áudio dos DVDs de Mastruz com Leite e Companhia do Calypso
Ainda de acordo com o profissional, o relacionamento entre equipe de gravação e técnica das bandas foi facilitado, não ocorrendo maiores problemas. Tovinho somente pediu aos operadores que não utilizassem muitos efeitos e trabalhassem com um nível sonoro mais baixo, a fim de não prejudicarem o registro das apresentações. No entanto, a solicitação foi justificada pelo profissional. "Tratando-se de um projeto completo como este, que tem a gravação de dois DVDs, o ideal é que haja uma economia dos efeitos, principalmente nos delays, pois estes podem ser determinantes para o resultado final da gravação. Um simples vazamento de repetição pode causar um problema quase que irremediável para o áudio captado. Por isso, procuramos manter o PA um pouco mais clean, com menos trabalhos de pan e efeitos em geral. Fora isso, o volume também deve ser delicado. Os efeitos ao vivo são muito bacanas, enriquecem o show, porém, se por acaso ocorrer algum problema, como o cálculo de um delay, por exemplo, certamente condenará a gravação. Além do mais, nossa mixagem será feita em 5.1. Não podemos bobear", encerra.
Soluções locais
A Somax é hoje responsável por boa parte dos trabalhos de gravação, mixagem e masterização de projetos realizados no Recife. Há vinte anos no mercado, a empresa pernambucana sempre buscou a excelência de qualidade. Para isso investiu pesado na aquisição de equipamentos de ponta e no corpo técnico de seus funcionários. Ao longo de sua história, a Somax produziu trabalhos para importantes clientes como as bandas Magníficos, Líbanos e Pau & Corda, entre outros, e para as gravadoras Indie Records, Sony Music, Paradoxx e Atração Fonográfica.
A estrutura da empresa é de grande porte. O projeto acústico dos estúdios foi desenvolvido por Rui Nakano - profissional especializado em otimização de acústica para estúdios de gravação profissional - e as salas contam com o que há de melhor em tecnologia: monitores Genelec 1031A; subwoofer Genelec 1092a; equalizador paramétrico digital Weiss EQ1 e Sonic Solutions com NoNoise, são apenas alguns destes indicativos.
No detalhe, o monitor Genelec, dos estúdios da Somax