Sólon do Valle
Publicado em 01/08/2004 - 00h00
No fim dos anos 50, quando eu ainda era menino pequeno, os carros de auto-escola eram velhos Ford 29 e outros do gênero. É engraçado como naquele tempo os carros evoluíam mais rapidamente do que hoje. Em 1957, um Ford 29 tinha 28 anos de idade, e mais parecia uma carroça engraçada; em 2004, um Passat 76 não parece tão distante assim dos modelos atuais.
Voltando aos anos 50, eu sentia uma estranha piedade daqueles velhos e dignos carri-nhos, sofrendo nas mãos e pés pouco hábeis daqueles aprendizes de motoristas. Como devia ser difícil dirigir um daqueles automóveis, com poucos HP e câmbios não sincroni-zados! E como os carros deviam sofrer também!
Quarenta e poucos anos depois, ainda acredito que os objetos, e em particular os apare-lhos, têm alguma espécie de vida e de alma. Sofrem com nossos maus tratos e muitas vezes reagem a eles. Funcionam mil vezes melhor quando pensamos em vendê-los, certamente tentando não perder seu lugar de honra. Enguiçam, o que é tecnicamente explicável, mas às vezes também se consertam sozinhos de maneira absolutamente incrível.
Dentre os aparelhos com alma, os computadores são, sem dúvida, os mais humanos e, porque não dizer, os mais frescos. Mudam de idéia - digo, de configuração - sozinhos com o correr do tempo, têm bons e maus dias, ficam lentos sem razão e, depois, voltam a ficar rápidos sem motivo aparente. Pegam até vírus e vermes!
O mais estranho aconteceu comigo: um disco rígido, contendo projetos, artigos da M&T, catálogos, tudo sem backup, parou de funcionar. Desliguei o computador, concentrei a mente na máquina e pensei: "vai funcionar, nem que seja só uma vez", e liguei novamen-te o sistema. Funcionou mesmo, e consegui salvar todos os dados. No dia seguinte, liguei novamente o computador e o tal disco não funcionou mais. Que é isso??? Controle mental sobre uma máquina? Essa coisa existe?
Cada vez mais me convenço de que o relacionamento homem-máquina não é unilateral como possa parecer - "faça isso!", "calcule para mim!". Melhor seria pedirmos: "poderia, por favor, fazer isso?" ou "por gentileza, faça este cálculo para mim".
Sou o único louco, ou já aconteceu algo estranho com você também?