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Revista Luz & Cena
Primeira Vista
Shure UHF-R
Sistema de microfone sem fio
Sólon do Valle
Publicado em 04/01/2006 - 00h00
Longe se vai o tempo em que era quase uma aventura usar microfones sem fio. A banda de VHF, sempre cheia de interferências, era uma espécie de rio povoado por jacarés - um mergulho poderia ser fatal! A estabilidade dos sistemas era mínima, as baterias duravam pouco tempo, os aparelhos eram frágeis como taças de cristal. O lugar onde mais se viam os sistemas sem fio era a oficina de manutenção! Passaram-se os anos, o mundo mudou, e muito mais mudaram os microfones sem fio.

Operando na banda de UHF - um pouco mais limpa que a de VHF -, se livrando automaticamente das interferências, se entendendo com seus semelhantes e praticamente à prova de choque, os microfones sem fio hoje são pouco vistos nas oficinas, mas numerosos nos palcos e sets de filmagem e vídeo. O novíssimo sistema Shure UHF-R é a expressão perfeita destes novos tempos.

A linha Shure de microfones sem fio é bastante extensa, indo desde modelos "populares" e de custo acessível a pequenas bandas até sistemas extremamente sofisticados em tecnologia. O novo sistema UHF-R vem coroar essa linha, com tecnologia digital e analógica - como se diz - "de última geração". Dado o nível de desenvolvimento atingido neste modelo, a palavra última soa mais como "a definitiva" do que como "a mais recente".

De cara, a robustez do produto foi testada - de forma realista - na apresentação do produto, promovida pela Pride: o microfone foi, "sem querer querendo", atirado no chão a grande distância. Depois do impacto e do susto geral, o alívio e muitas risadas: o transmissor funcionou de forma absolutamente normal. Se isso fosse feito há 20 anos... melhor nem pensar.

A linha UHF-R se compõe de transmissores handheld (de mão) e bodypack (de corpo), e de receptores com diversidade. Para os modelos handheld, estão disponíveis várias opções de cápsulas Shure: SM58, SM86, SM87, Beta 58, Beta 87A ou Beta 87C. Certamente, entre essas várias opções de dinâmicos e condensadores, cardióides e supercardióides, cada uma se adapta melhor à voz e situação de trabalho.

O ganho pode ser ajustado sobre uma gama de 30 dB, de forma que qualquer voz ou tipo de interpretação pode ser reproduzida sem risco de saturação ou de baixo ganho.

Todos os modelos contam com um pequeno display onde se podem checar os parâmetros principais de operação, como grupo, canal, freqüência e ganho de áudio.

Handheld: várias opções entre cápsulas Shure

O modelo bodypack é uma bela caixinha, feita de magnésio para pouco peso (94 gramas mais as pilhas) com boa resistência. Suas dimensões reduzidas - a espessura é de apenas 17 milímetros - facilitam a colocação discreta em atores.

Permite a utilização de microfones de lapela, como usual, usando conector de segurança de quatro pinos, mas aceita também o cabo para conexão de instrumentos.

Economia
Os transmissores UHF-R só gastam pilhas quando precisam delas. Um ovo de Colombo foi introduzido com esta linha de transmissores: a chave de seleção de potência de transmissão. Quando o transmissor está próximo ao receptor, a potência pode ser reduzida para 10 mW, estendendo consideravelmente a vida útil das pilhas (duas alcalinas comuns, tamanho AA) e ainda evitando a possível saturação do estágio de entrada do receptor. Quando as condições de recepção são mais críticas, basta liberar a plena potência de 50 mW.



O modelo bodypack tem caixa em magnésio


Os receptores usam a sistema de diversidade (duas antenas) e vêm em dois modelos: o UR4S (simples) e UR4D (duplo). Exceto pela duplicidade do segundo, os modelos são idênticos.

Estes receptores têm extensa gama de freqüências de recepção, de 518 a 865 MHz, divididos em nove bandas. Ao adquirir um sistema, o comprador se decide por uma banda onde haja menor risco de interferências, em função da área de utilização. Com isso, é fácil conseguir algum espaço para operar mesmo em cidades grandes, onde a banda geralmente é bastante lotada.


Os receptores: acima, o UR4S; abaixo, o UR4D

Configuração automática
O receptor funciona como um computador, podendo ser interligado a outros semelhantes para otimização das características visando um melhor desempenho em conjunto. Várias funções são acessíveis do painel frontal do receptor, com display LCD e navegação por menus. A navegação é fácil, usando quatro soft keys (teclas) com funções sindicadas no display ao lado, mais um encoder rotativo denominado Control e suas teclas Enter e Exit. O nome da banda e a freqüência escolhida aparecem no display.

O receptor transmite dados de configuração ao respectivo transmissor através de um emissor infravermelho, sendo necessário para isso remover a tampa do compartimento de pilhas do transmissor para expor o seu sensor óptico.

Vários receptores podem ser interligados em rede Ethernet para ajustes em comum. Isso é fundamental para que os sistemas não se interfiram mutuamente, degradando o desempenho geral.

Seleção automática de freqüências
Um grande número de freqüências é necessário para a operação de vários sistemas sem fio, mas é necessária uma seleção cuidadosa de freqüências para que trabalhe em canais abertos, isto é, totalmente livres de interferência de canais de TV, aparelhos eletrônicos e outros microfones sem fio. Para a seleção, é preciso examinar (scan) toda a banda em busca de canais abertos. Para isso, o sistema conta com duas funções:

Group Scan: encontra o grupo com maior número de canais abertos, e então ajusta os receptores ligados na rede para usarem canais nesse grupo.
Channel Scan: encontra o primeiro canal aberto no grupo escolhido e sintoniza o receptor nessa freqüência.

Se houver outros sistemas não interligados, ou mesmo de outros fabricantes, é necessário ligar os transmissores para que os receptores UR4 identifiquem seus canais e fujam deles.

Outras funções
Automatic Transmitter Sync: efetua a transmissão via infravermelho das configurações de grupo e canal do receptor para o transmissor. Outras programações do transmissor são também feitas no receptor e transferidas, da mesma forma, para o transmissor.

Interface Lock: trava todos os comandos do transmissor - inclusive a chave liga-desliga - para evitar sua operação acidental ou inadequada.

Estrutura de Ganho: permite ajustes de ganho em vários pontos do sistema, para total otimização contra distorção e ruído. Os seguintes ajustes são disponíveis:

- Sensibilidade (apenas para bodypack): ajuste do ganho de entrada (trim) do transmissor, com gama de 25 dB;
- Ganho do transmissor: ajusta o nível de modulação do transmissor, com gama de 30 dB;
- Nível de saída: ajusta o nível de saída do receptor (não muda a modulação), com gama de 32dB;
- Chave Line/Mic: atenuador (pad) de 30 dB para a saída XLR do receptor.
 
O compander Audio Reference
Boa parcela da qualidade de áudio do sistema UHF-R deve ser creditada ao compander (compressor/expander) Audio Reference. Todo sistema sem fio utiliza compressão do sinal durante a transmissão e expansão simétrica à compressão no receptor. Isto, em princípio, mantém as características dinâmicas do sinal, reduzindo, porém, o nível audível de ruído - como o velho Dolby B usado nos gravadores cassete.

Mas a dinâmica é mantida inalterada, como eu disse, apenas em princípio. Nos transientes, a súbita variação de ganho nos lados compressor e expansor produz artefatos estranhos, como deformação do transiente e chiados momentâneos. Quem ainda se lembra das gravações em cassete sabe do que estou falando.

No UHF-R, o compander não atua em níveis altos de sinal (em que não é necessário), evitando assim o surgimento dessas deformações - o que se traduz num som virtualmente idêntico ao de um microfone com fio do mesmo tipo. Compare os gráficos: o transiente original aparece quase inalterado através do Audio Reference e bastante distorcido através de um compander convencional.








 Comparação entre o transiente original (imag.1), reproduzido através do compander Audio Reference (imag.2) e de um compander convencional (imag.3)



Software Wireless Workbench
O software Wireless Workbench, fornecido com os produtos da linha UHH-R, adiciona conforto e precisão à operação do sistema, com a utilização de um PC notebook no comando do sistema.

Todos os controles do sistema podem ser feitos de maneira segura e rápida usando o notebook. Além disso, o computador permite a criação e aplicação de bases de dados de grupos e canais, agilizando a operação para quem opera o sistema em diferentes localidades. Basta arquivar as propriedades do local, e depois partir delas para um ajuste rápido, a cada volta àquela área.

Além disso, o software permite a análise gráfica detalhada das bandas de freqüências, e ainda o mapeamento do nível de sinal de RF a várias distâncias e posições relativas entre transmissor e receptor. Várias outras possibilidades são acrescentadas com o software.

Como em outros modelos Shure, muitos acessórios estão disponíveis, como antenas de diferentes diretividades, distribuidores de RF, racks para montagem de redes de receptores e outros.



Rack com um total de 18 canais de recepção, e antenas com distribuição para todos os receptores
      
 
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